RETORNO
À CASA PATERNA
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Neste
Ano da Misericórdia cumpre captar ainda mais profundamente as mensagens que
Jesus propôs na Parábola do Filho Pródigo. Esta poderia também ser chamada de
Parábola do Pai misericordioso ou da rivalidade fraterna (Lc 15, 11-32). Chama
a atenção, em primeiro lugar, a alienação do filho mais novo. Este deixa a casa
paterna e vai para um país longínquo. Coloca-se ao serviço de um estranho ao
qual se une após ter perdido toda fortuna que lhe coube por partilha. Um
tríplice erro: abandono do lar, dissipação dos bens, e contato com um
estrangeiro, o que era uma falta grave na mentalidade dos judeus, como bem está
registrado nos Atos dos Apóstolos: “Vós sabeis que é ilícito para um judeu
entrar em contato com um estrangeiro” (Atos 10,28). Maior se tornou seu
desacerto quando ele foi guardar os porcos, animal impuro por excelência e,
pior ainda, quando comeu da própria comida destes animais. Ele rompeu assim com
todos os princípios de sua origem. Ele havia, antes de partir, exigido a parte que
lhe cabia na sua herança, a qual ao invés de lhe servir para uma vida tranquila
acabou lhe trazendo a morte, como diria o pai no seu regresso à casa paterna: “Este
meu filho estava morto e voltou a existir, tinha-se perdido e foi encontrado”.
Esta parábola ressalta assim a oposição entre vida e morte e mostra o júbilo do
Pai ante o arrependimento do filho desatinado, mas, agora, inteiramente
arrependido de seus desvarios. .Eis aí um dos temas principais desta narrativa.
O jovem desatinado vivia sem salvação, privado dela, numa existência
malbaratada. O gesto do Pai anistiando este filho insensato patenteia de um
modo sublime a clemência de Deus, sempre pronto a perdoar, quando raia o
remorso e a disposição de uma mudança de vida. Surge então a reação do irmão mais
velho diante da festa que o pai providenciou para comemorar a volta de seu
filho. Observe-se que ao contrário do pai ele ficou indignado e, esquecido dos
laços da fraternidade, condenou aquela recepção festiva, dizendo a seu
progenitor: “Logo que chegou este teu filho que consumiu os teus bens com as
meretrizes, mataste para ele um vitelo gordo”. Já não o considerava, portanto,
como irmão. Era a mesma história de Cain e Abel (Gn 4), de Isaac e Ismael (Gn
21), de Jacó e Esaú (Gn 27-28), de José e seus irmãos (Gn 37-50), passagens que
revelam o contraste entre o caçula e o primogênito, maculando este a irmandade
que devia prevalecer. Jesus vindo a este mundo iria iluminar a questão relativa
à paternidade e à filiação. Ensinaria a todos a rezar ao Pai que está nos céus
e Ele, o Filho primogênito deste Pai era também Filho do homem, que se
sacrificaria por todos os homens. Eis porque São Paulo diria aos Coríntios: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação, que
nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os
que estivarem em alguma aflição pela consolação com nós mesmo somos consolados
por Deus “ (2 Cor 13,3-4). Adite-se que Jesus deixou em aberto se o Filho mais
velho, convencido pelas palavras do pai, entrou para o banquete em honra de seu
irmão regenerado. No banquete eucarístico, porém, Cristo abriu as portas para todos, mesmo os
maiores pecadores que. perdoados através do
Sacramento da Penitência. poderiam participar deste ágape de amor. O
Filho mais velho que não tinha noção da verdadeira fraternidade, ignorava
também tudo de bom que havia em seu derredor. O Pai precisou lhe dizer: “Filho
tu estás sempre comigo e tudo que é meu é teu”. Muitos não são agradecidos a
Deus por tantos benefícios recebidos e se julgam melhor do que os outros, e,
assim, não sabem usufruir de toda a
felicidade que significa viver na graça divina e poder desfrutar da convivência
com o Pai, através de Jesus, irmão de todos. O filho mais velho tomou uma
postura de juiz de seu irmão e não tinha
uma relação filial com seu Pai. Somos todos irmãos filhos do mesmo Pai do Céu,
que nos dá a verdadeira vida em seu Filho, Jesus Cristo.
Muitas, portanto as lições da Parábola do Filho Pródigo. Que alguma delas ou
todas elas toquem o coração dos que se
preparam para a Páscoa que se aproxima. * Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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