terça-feira, 8 de março de 2016

PERDÃO DO DEUS MISERICORDIOSO

PERDÃO DO DEUS MISERICORDIOSO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Escribas e fariseus várias vezes armaram ciladas, visando comprometer o Mestre divino. Este com perspicácia refutou sempre o dilema de seus adversários. Uma destas armadilhas foi quando trouxeram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério (Jo 8,1-11). Capciosa a pergunta que fizeram então: “Mestre, na Lei Moisés nos mandou lapidar tais mulheres. Tu que dizes”? O estratagema estava bem montado. Se Jesus respondesse: “Deixem-na ir”, seus inimigos poderiam retorquir: “Tu contradizes a Lei de Moisés”. Se, porém, concordasse com a lapidação à qual seguiria a morte daquela pecadora, Ele estaria indo contra a autoridade romana que reservava para si todas as execuções capitais. A resposta desejada não veio. Cristo, entretanto, inclinando-se escrevia no chão com o dedo sem olhar a ninguém como que absorvido em seus pensamentos. Através dos tempos inúmeras as suposições sobre o que estaria escrevendo o famoso Rabi da Galileia. Isto, contudo, não importa uma vez que os evangelistas nada registraram a respeito. Os fariseus ficaram agitados, nervosos, e persistiam em interrogá-lo. Pedagogo divino, sabiamente, Jesus lança sua sentença: “Quem de vós estiver sem pecado, lançe-lhe a primeira pedra”. Solução maravilhosa, surpreendente. Agora eram os escribas e fariseus que estavam sem saída. Com efeito, segundo o Deuteronômio ao ser pronunciada a sentença de morte a Lei ordenava: “A mão das testemunhas será a primeira sobre o acusado para o fazer morrer e a mão de todo povo em seguida”. (Deut 17, 5-7). Ao mesmo tempo, porém, Jesus coloca seus inimigos na sua própria condição de pecadores. Eles só poderiam punir se eles mesmos fossem isentos de pecado. Cristo, então, de novo começou a escrever no chão. Um após outro os acusadores se retiraram a começar pelos mais velhos. Conforme observou o frade Jean-Christian Lévêque. “provavelmente os menos inocentes ou os mais lúcidos no que tange o coração humano”.  O certo é que se retiraram. Cena admirável ocorreu: lá estavam somente a mulher e Jesus, a miséria e a misericórdia, a desgraça e a comiseração, o pecado e o perdão. Diálogo sublime se dá, pois Jesus pergunta à pecadora: “Mulher, ninguém te condenou?” Rápida e incisa a resposta, sem circunlóquios: “Ninguém, Senhor”. Como deve neste ano da misericórdia ressoar em cada coração a sentença final de Cristo: “Nem eu te condenarei; vai e doravante não tornes a pecar”! Deus é Pai anistia todas as vezes que há um arrependimento sincero. Este deve necessariamente incluir a disposição firme de não cometer os mesmos pecados, fugindo de todas as ocasiões que levam aos mesmos. Renúncia corajosa às paixões desordenadas e fidelidade destemida para não recair nas mesmas faltas nas mesmas circunstâncias. Não se pode abusar da bondade divina. A Deus ninguém pode enganar. O arrependimento não torna o ser humano impecável, mas exige que se evite tudo que possa levar a ofender ao Ser Supremo. Programas imorais da internet devem ser abolidos; relações pecaminosas, apagadas; maledicências, delidas; injustiças, reparadas; injúrias, perdoadas. Jesus que anistia o pecador quer ver o que este pode fazer para mudar sinceramente de vida. Cumpre olhar a Cruz de Jesus e não ser um paralítico espiritual. Crer na misericórdia de Deus, lutando, contudo contra as ocasiões de pecado. Nada, todavia, de se condenar a si mesmo, correndo o risco de não alcançar os efeitos da bondade do Senhor Onipotente. Este perdoará todas as vezes que houver uma recaída no mal, mas estará continuamente a alertar: “Não tornes mais a pecar”! Apenas assim raiará a “esperança de Deus” com relação ao futuro de cada um. Deus, entretanto, quer perceber a capacidade  de transformação da própria vida do cristão. Ninguém está perdido para Ele, desde que haja sinceridade e disposição para triunfar das ciladas do demônio. Até o último minuto de vida o Criador crê na capacidade de conversão daquele que erra. Compreende a condição humana, a fragilidade inata à natureza pecadora. O sacramento da confissão abre sem cessar a porta da liberalidade divina que exige, porém, o corte daquilo que leva a novamente ao pecado. Deus, porém, perdoará sempre ao que erra, quantas vezes for necessário este perdão, mas estará sempre dizendo: “Vai, não tornes mais a pecar” *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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