DOMINGO DE
RAMOS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus entrou
solenemente em Jerusalém com todo o alvoroço
“de uma numerosa multidão a lhe estender suas vestes pelo caminho,
enquanto outros cortavam ramos das árvores
e os espalhava” por onde Jesus passava (Mt 21, 8). O evangelista ainda
registrou que “as multidões que iam na
frente de Cristo e os que os seguiam, gritavam: "Hosana ao Filho de Davi! Bendito
o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus”! (Mt 21,9). Ao
entrarem na capital surgiu a pergunta: “Quem é este homem”? E respondiam: “Este
é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia” (Mt 21,10). São Mateus.na sua narrativa sobre a Paixão de
Cristo na mesma Jerusalém anotou o que o
oficial e os soldados que estavam no
Calvário diante do terremoto e de tudo que havia acontecido, ficaram com muito
medo e disseram: “Ele era mesmo Filho de Deus”! ( Mt 27, 54). Estes dois episódios levam a uma
profunda reflexão. Aqueles mesmos que aclamaram o divino Redentor, depois
pediriam a sua morte. Proclamaram Jesus como o grande Profeta que depois eles
crucificariam. Nas quebradas História, porém, ressoaria para sempre a confissão
de fé na divindade do Crucificado, vinda
dos membros da milícia presente no Gólgota. O entusiasmo popular foi frágil, volúvel,
passageiro, porque os que aclamaram a Cristo
não reconheceram sua missão divina, como fizeram os soldados que
souberam interpretar os sinais de toda turbulência que se seguiu à morte do
grande Profeta. Foram bem mais perspicazes do que aqueles que presenciaram os
milagres estupendos realizados por Jesus, mas que não captaram o sentido agudo
dos mesmos. Isto demonstra que não basta escutar a palavra, recordar os grandes feitos de Cristo, cumpre
compreender o significado da vida e obras do Salvador, colocando em prática o
que Ele ensinou, crendo, de fato, que
Ele é verdadeiramente Deus, sob pena de se repetir o gesto infeliz daqueles que
O aplaudiram e depois O negaram. Não basta aceitar o Mestre divino apenas nos
momentos de euforia, porque Ele mesmo advertiu que quem o quisesse seguir
deveria tomar sua cruz e ir com Ele até
o Calvário. Ele foi fiel até a morte, fiel a seu amor infinito pelo Pai, fiel a
sua dileção sem limites pelos homens. Ele venceu o dinamismo da volubilidade,
da inconstância daqueles que entoaram louvores e depois o levaram à morte como
acontece com tantos batizados através dos tempos, dizendo-se cristãos, mas não
vivendo como cristãos. Porque, porém, Ele é o Filho de Deus que veio para
salvar uma multidão, Ele lança a todos os homens um olhar de amor que convida a
viver do amor e pelo amor a Deus e ao próximo numa constância que obsta
lamentáveis traições. Apenas aqueles que penetram na lógica deste amor que conduz ao dom de si mesmo pode ser
fiel durante toda sua vida. Domingo de Ramos deve levar o cristão não tanto a
recriminar um povo volúvel que aplaude e depois despreza, renega, crucifica,
mas é um convite que se chore como Pedro e sem imitar Pilatos, lavando as mãos,
se julgando melhor do que aqueles que imolaram Jesus na cruz. Cumpre clamar com
o oficial e os soldados: “Verdadeiramente Ele é o Filho de Deus”, mas viver
plenamente dentro deste ato de fé numa perseverança inabalável nos momentos de
alegria como nos instantes das provações. Cada cristão precisa ser, sobretudo
no mundo de hoje, o proclamador coerente da divindade de Jesus. Nele somos
reconciliados com Deus e com os outros, mas isto deve esplender no dia a dia. Eis
a Boa Nova que hoje se celebra neste Domingo de Ramos, passando pelo Tríduo
Pascal até o júbilo do dia da Ressurreição, prova definitiva de que Jesus era
realmente o Messias, o Filho de Deus. A Semana Santa que se inicia leva ao
cerne de nossa fé, o mistério da Paixão, Morte e Triunfo do Senhor e as graças destes dias abençoados
não podem ser desprezadas. Esta é a hora da conversão, de uma reforma interior,
para se viver intensamente o Mistério Pascal, para se demonstrar ao mundo que
Jesus Cristo é o Senhor da glória, diante de quem todo joelho deve se dobrar no
céu, na terra e nos infernos. Então poderemos proclamar com o oficial e os
soldados: “Verdadeiramente Ele é o Filho de Deus”, não com palavras, mas o
esplendor de uma existência que entendeu o que um dia se deu em Jerusalém. *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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