segunda-feira, 14 de março de 2016

DOMINGO DE RAMOS

DOMINGO DE RAMOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus entrou solenemente em Jerusalém com todo o alvoroço  “de uma numerosa multidão a lhe estender suas vestes pelo caminho, enquanto outros  cortavam ramos das árvores e os espalhava” por onde Jesus passava (Mt 21, 8). O evangelista ainda registrou que  “as multidões que iam na frente de Cristo e os que os seguiam, gritavam: "Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus”! (Mt 21,9). Ao entrarem na capital surgiu a pergunta: “Quem é este homem”? E respondiam: “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia” (Mt 21,10).  São Mateus.na sua narrativa sobre a Paixão de Cristo na mesma Jerusalém  anotou o que o oficial e  os soldados que estavam no Calvário diante do terremoto e de tudo que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: “Ele era mesmo Filho de Deus”! ( Mt  27, 54). Estes dois episódios levam a uma profunda reflexão. Aqueles mesmos que aclamaram o divino Redentor, depois pediriam a sua morte. Proclamaram Jesus como o grande Profeta que depois eles crucificariam. Nas quebradas História, porém, ressoaria para sempre a confissão de fé na divindade do Crucificado,  vinda dos membros da milícia presente no Gólgota. O entusiasmo popular foi frágil, volúvel, passageiro, porque os que aclamaram a Cristo  não reconheceram sua missão divina, como fizeram os soldados que souberam interpretar os sinais de toda turbulência que se seguiu à morte do grande Profeta. Foram bem mais perspicazes do que aqueles que presenciaram os milagres estupendos realizados por Jesus, mas que não captaram o sentido agudo dos mesmos. Isto demonstra que não basta escutar a palavra,  recordar os grandes feitos de Cristo, cumpre compreender o significado da vida e obras do Salvador, colocando em prática o que Ele ensinou, crendo, de fato,  que Ele é verdadeiramente Deus, sob pena de se repetir o gesto infeliz daqueles que O aplaudiram e depois O negaram. Não basta aceitar o Mestre divino apenas nos momentos de euforia, porque Ele mesmo advertiu que quem o quisesse seguir deveria tomar sua cruz e  ir com Ele até o Calvário. Ele foi fiel até a morte, fiel a seu amor infinito pelo Pai, fiel a sua dileção sem limites pelos homens. Ele venceu o dinamismo da volubilidade, da inconstância daqueles que entoaram louvores e depois o levaram à morte como acontece com tantos batizados através dos tempos, dizendo-se cristãos, mas não vivendo como cristãos. Porque, porém, Ele é o Filho de Deus que veio para salvar uma multidão, Ele lança a todos os homens um olhar de amor que convida a viver do amor e pelo amor a Deus e ao próximo numa constância que obsta lamentáveis traições. Apenas aqueles que penetram na lógica deste  amor que conduz ao dom de si mesmo pode ser fiel durante toda sua vida. Domingo de Ramos deve levar o cristão não tanto a recriminar um povo volúvel que aplaude e depois despreza, renega, crucifica, mas é um convite que se chore como Pedro e sem imitar Pilatos, lavando as mãos, se julgando melhor do que aqueles que imolaram Jesus na cruz. Cumpre clamar com o oficial e os soldados: “Verdadeiramente Ele é o Filho de Deus”, mas viver plenamente dentro deste ato de fé numa perseverança inabalável nos momentos de alegria como nos instantes das provações. Cada cristão precisa ser, sobretudo no mundo de hoje, o proclamador coerente da divindade de Jesus. Nele somos reconciliados com Deus e com os outros, mas isto deve esplender no dia a dia. Eis a Boa Nova que hoje se celebra neste Domingo de Ramos, passando pelo Tríduo Pascal até o júbilo do dia da Ressurreição, prova definitiva de que Jesus era realmente o Messias, o Filho de Deus. A Semana Santa que se inicia leva ao cerne de nossa fé, o mistério da Paixão, Morte e Triunfo  do Senhor e as graças destes dias abençoados não podem ser desprezadas. Esta é a hora da conversão, de uma reforma interior, para se viver intensamente o Mistério Pascal, para se demonstrar ao mundo que Jesus Cristo é o Senhor da glória, diante de quem todo joelho deve se dobrar no céu, na terra e nos infernos. Então poderemos proclamar com o oficial e os soldados: “Verdadeiramente Ele é o Filho de Deus”, não com palavras, mas o esplendor de uma existência que entendeu o que um dia se deu em Jerusalém. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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