ONDAS
GRAVITACIONAIS, O TEMPO E A ETERNIDADE.
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O
fato dos cientistas terem detectado as ondas gravitacionais previstas por
Einstein em 1915 vem suscitando inúmeras especulações. Trata-se de um campo inteiramente novo da
astrofísica e “esse novo olhar sobre a vastidão celeste vai aprofundar nossa
compreensão do cosmos e levar a descobertas inesperadas”, segundo France
Cordova, Diretora da Fundação Nacional Americana de Ciências. No que tange à Teologia
e a Filosofia, volta à baila a questão da criação do mundo por Deus. Para quem
tem fé a Bíblia não deixa dúvidas sobre a imanência e a transcendência do
Criador de tudo. Lemos nos Atos dos Apóstolos: “Nele
vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17,27). Como mostra a Filosofia, a imanência
do mundo em Deus e de Deus no mundo não suprime, porém, sua transcendência,
antes, necessariamente, a inclui. A supramundanidade de Deus, cuja grandeza
infinita sobrepuja, de maneira inexprimível, o mundo e tudo quanto é finito,
limitado, contingente está unida à imanência igualmente incomparável. Deus é presente a todos os tempos e coisas na
medida em que as conserva. Não haverá nunca nenhuma descoberta científica que
venha a provar a não existência do Ser Supremo. O salmista proclamou: “Os céus
declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19,1).
O homem, como muito bem se expressou Bossuet, “foi colocado à frente da
natureza visível para ser o adorador da Natureza Invisível”. Através da oração, que é “a elevação da alma a
Deus”, o ser racional entra em contato com Ele. Os grandes místicos através de
uma experiência espiritual acendrada já neste mundo tiveram uma extraordinária
relação com a divindade, como ocorreu com São João da Cruz, Santa Tereza de
Ávila. No tempo degustaram um pouco da vida eterna. Eternidade, como a definiu
Boécio, ou seja, “posse total, simultânea e perfeita de uma vida interminável”
só convém ao Ser Supremo. Este na sua bondade infinita faz aqueles que O amaram
e serviram neste mundo, participar para sempre da perene ventura na Casa do Pai
celeste. Até lá ondas gravitacionais espirituais percorrem o mundo através
daqueles que vivem em união com Deus. Bem se expressou Elizabeth Leseur: “Uma
alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Além disto, ondas gravitacionais
espirituais unem todos os fiéis na admirável Comunhão dos Santos. São ondas que
ultrapassam o tempo e penetram na eternidade. A Liturgia firma esta verdade no
Prefácio da Missa, dizendo que por Jesus Cristo “os anjos celebram a grandeza
divina os santos proclamam Sua glória” e pede: “Concedei-nos também a nós
associar-nos a seus louvores dizendo a uma só voz: Santo, Santo, santo, Senhor
Deus do universo. O céu e a terra proclamam a vossa glória”. Pela prece quem
tem fé ultrapassa o espaço-tempo num louvor universal e na mais perfeita união
entre a Igreja que caminha no tempo e a Igreja triunfante já na eternidade.
Deste modo, pode irradiar plenamente por toda parte ondas de felicidade e
compreensão. “Realiza tudo que se solicita na prece de São Francisco:” Senhor,
fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde
houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a
união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a
verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza,
que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, fazei
que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser
compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que
se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna”. Ondas gravitacionais espirituais percorrem então toda a terra.
São milhares que fazem esta oração, tantas vezes cantada com unção nas Igrejas,
nas reuniões comunitárias. É por tudo isto que se deve olhar um mundo cheio de
misérias, mas também envolto em tanta luminosidade, tanto é verdade que o bem é
muito mais forte e superior do que o mal. Que todo cristão se conscientize de
sua sublime missão nesta terra, pois se Ele está unido a Deus tem fatalmente o
mundo nas mãos. Da oração de São Patrício este precioso trecho: “Hoje eu me
revestirei da força do amor dos serafins, da obediência dos anjos, do serviço
dos arcanjos, da esperança da ressurreição em vista da recompensa graças às
preces dos patriarcas, das profecias dos profetas, da pregação dos apóstolos,
da fidelidade dos confessores, da inocência das virgens santas, das ações de
todos os justos”. É a referida admirável Comunhão dos Santos lançando vagas
gravitacionais espirituais na terra, no céu e por toda parte!*
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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