segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A FACE DE JESUS TRANSFIGURADO

A FACE DE JESUS TRANSFIGURADO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A Transfiguração é um dos fatos mais marcantes da vida de Cristo (Lc 9,28-36). Hermeneutas, os fiéis de todas as classes, sobretudo os místicos sempre procuraram penetrar o âmago deste acontecimento. Este episódio está envolto em luminosidade, mas também nas sombras dos sofrimentos redentores sobre os quais Jesus conversou com Moisés e Elias. O episódio ocorrido no Tabor, ainda que narrado por São Mateus e São Marcos, tem em São Lucas peculiaridades que merecem especial atenção. Segundo este evangelista se trata de mais um instante da vida de prece de Jesus.  Enquanto Ele rezava é que se deu a Transfiguração. A prece sempre foi para Cristo o encontro íntimo com o Pai e ali então se deu a hora da notável diafania, ou seja, uma transparência e luminosidade fundamentais e globais e os discípulos contemplaram Jesus envolto na sua glória. Foi para Pedro, Tiago e João uma contemplação antecipada do Mestre Ressuscitado. São Lucas sublinha que Cristo conversava com o célebre Legislador e um notável Profeta sobre seu “trânsito”, isto é, sobre sua partida, seu êxodo que ia ocorrer em Jerusalém. Trata-se da passagem pela morte do Redentor para seu triunfo, resultando a redenção do gênero humano. Deste modo, a Transfiguração é o ícone e a promessa da Ressurreição após os sofrimentos do Calvário. Ressalta São Lucas que “Veio então da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho, o eleito, escutai-o”. Estas palavras confirmavam que Jesus era “o servidor de Deus” anunciado por Isaías (Is 42,1; 49), o qual devia cumprir sua missão salvadora até os padecimentos expiadores do Gólgota. Ele o eleito do Pai e o excluído dos homens. “Escutai-o”, foi a ordem dada vinda do céu e calhava bem naquela circunstância, dado que, antes de contemplarem Jesus transfigurado, relatou o evangelista que os três discípulos estavam “oprimidos pelo sono”. Depois, maravilhado Pedro não mais desejava descer da montanha. Estava agora não entregue à sonolência, mas ofuscado pela manifestação gloriosa e, assim, bem longe de captar a mensagem daquele acontecimento. Isto chama a atenção de todos os seguidores de Cristo através dos tempos, os quais muitas vezes como Pedro, Tiago e João não percebem o sentido mais profundo do encontro com Cristo e, desta maneira, em consequência não O escutam. Dá-se uma fé sonolenta, uma esperança opaca, um débil amor a Deus e ao próximo. Eis porque cumpre viver intensamente a quaresma para comemorar a Ressurreição não com um deslumbramento fútil, mas recebendo na glória de Jesus o antídoto para se estar sempre desperto para as realidades celestes. Isto levará o cristão a entrar na luz transfigurante da Páscoa do Senhor. A Transfiguração no monte Tabor foi passageira, mas anunciava a glória definitiva do divino Salvador. glória da Aliança nova e eterna que deve levar a todos a procurar “as coisas do alto, lá onde se encontra Cristo, assentado à direita de Deus”. É preciso ir fundo no mistério da Transfiguração que é iluminação e metamorfose, como lembra Fr. Jean-Christian Lévêque. Iluminação porque Deus é luz e se fez luz por nós e, iluminando-nos, nos transfigura na imagem de seu próprio Filho. É que falou São Paulo aos Coríntios: “Quanto a nós todos que com o rosto descoberto refletimos como num espelho a glória do Senhor, somos transformados nesta mesma imagem, cada vez mais fulgida como obra do Senhor, o qual é espírito” (2 Cor 3, 18). Imagem do Eleito transfigurado no Tabor, imagem do Senhor glorificado que já se acha lá no céu. Imagem de Jesus transfigurado que maravilhou São Pedro e que deve nos fascinar a vida toda para que possamos dizer com o salmista: “É a tua Face Senhor que eu procuro; não me ocultes esta tua Face” (Sl 27,8). Pela contemplação da divindade de Jesus se afasta o medo das cruzes de cada dia e brilha o esplendor da esperança da vida futura junto dele por toda a eternidade. Isto, porém, só será possível obedecendo a voz do Pai, escutando sempre a Cristo, perscrutando suas mensagens nos acontecimentos cotidianos. Muitos só escutam a voz do consumismo e do prazer imediato. Escutar a Jesus é tomar permanentemente decisões livres e firmes, para não se deixar escravizar pelas paixões desordenadas que tornam o ser humano surdo à voz do Eleito do Pai. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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