SCADORES
DE HOMENS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dentre as
lições que a pesca milagrosa que se deu no lago de Genezaré apresenta, cumpre,
em primeiro lugar, salientar que Simão Pedro e seus companheiros simbolizam bem
o apostolado no grêmio da Igreja (Lc r,1-11). Os apóstolos seriam pescadores de
almas. No episódio em tela aqueles homens experientes num mister que lhes era
familiar nada tinham conseguido, apesar de seus ingentes esforços. Jesus, após
ensina do barco as multidões, orienta-aqueles pescadores e uma prodigiosa pesca se deu então. As redes
já não podiam ser tiradas devido à grande quantidade de peixes. Aquelas redes
representavam bem a pregação do Evangelho e os peixes a universalidade dos
fiéis. Entretanto, sem a graça de Cristo nada, de fato, se consegue. Houve uma
obediência à ordem recebida, pois lançaram as redes para a pesca e o sucesso foi absoluto. Por vezes, não se
compreende bem o plano divino da salvação e as tarefas podem parecer
impossíveis. Entretanto, todas as vezes que a voz de Cristo é escutada e
seguida, sua graça age maravilhosamente na vida do cristão e na trajetória da
Igreja neste mundo. Isto significa que na obra da evangelização não se deve
contar nunca com a capacidade pessoal, mas é preciso sempre a ajuda
divina. Os limites da inteligência
humana são inegáveis e muitos desanimam, pois não confiam inteiramente na
proteção do Mestre poderoso. A colaboração de Jesus é, aliás, indispensável
quer na vida espiritual, quer na vida profissional. O ideal de todo batizado é
que a vida material seja sempre uma expressão de sua vida espiritual, porque em
qualquer circunstância se está sempre a serviço dos outros e quem vê no próximo
a figura de Cristo cresce sempre em todo sentido. O essencial neste episódio da pesca milagrosa
não é que os apóstolos estivessem a pescar para vender peixe e se alimentar. O
fundamental neste caso foi que o Senhor os reencontra no cerne mesmo de sua
ação, de seu trabalho, de seu ofício. É de se notar que Jesus quer que cada um
se lance à sua tarefa cotidiana, mas Ele deseja vir igualmente se associar ao
trabalho de cada um. Foi quando Ele se faz reconhecer pelos apóstolos. Felizes
aqueles que captam as sugestões do sábio Rabi, se deixam guiar por elas e são
capazes de reconhecer o influxo da graça nas suas ações. Esta atitude de
perceber o Senhor no labor cotidiano faz subitamente alargar a atividade de
cada um a dimensões quase infinitas. Uma vez que há o esforço humano, a ação da
graça vai sempre operar maravilhas. Quando oferecemos qualquer coisa ao Senhor,
na medida em que nós O agradamos, é Ele quem se torna o doador que retribui cem
por um. Toda a vida do cristão pode ser concebida como a repetição e uma
extrapolação da cena da pesca milagrosa. Participando pelo batismo do múnus
sacerdotal, profético e régio do Redentor, quem é batizado vai à pesca.
Trabalha com a certeza de agir por Deus e para pescar almas para o céu. Os
planos humanos se tornam então realizações maravilhosas das graças de Deus que
operam prodígios, afervorando os bons, iluminando os tíbios, convertendo os
pecadores. È Jesus agindo sempre através
de seu epígono, multiplicando os seus carismas. A vida do cristão se torna
deste modo um dom contínuo para glória de Deus e bem das almas. Tudo isto fruto
da experiência da fidelidade de Jesus que nunca abandona os que nele confiam.
Felizes os que apreendem Sua influência ainda que escondida aos olhos humanos
atrás das situações dolorosas e incompreensíveis. São os que têm sempre os
corações fixos em Jesus, Ele presente em todos os momentos da existência do
cristão. Então, quando as redes da palavra, dos exemplos, até mesmo das preces,
parecem vazias, quando as iniciativas evangélicas enfrentam dificuldades e
suscitam decepções, Jesus surge, desde que não se desanime e se continue a
lançar as redes. Os aparentes fracassos humanos fazem compreender melhor que é
o Mestre, o Salvador, aquele que realmente pode fazer frutificar qualquer tipo
de apostolado. É ele quem transforma os corações. O que Ele deseja é que jamais
não se desestimule. A pesca milagrosa, o resultado de todos os esforços depende
somente dele. Por tudo isto, a cena da pesca milagrosa traz mensagem fulgurante
de esperança. É preciso perseverar, ser humildes no trabalho da evangelização e
não duvidar nunca da ajuda divina. Jesus transformou pescadores que pescavam
peixes em pescadores de homens. Colocou mesmo Pedro à frente do barco da Igreja
e esta Igreja é o espaço no qual a terra encontra o céu, para que o Redentor
possa conduzir multidões à Casa do Pai. Multiplica Ele sua ação redentora
através de outros Apóstolos, ministros ordenados ou leigos engajados num
apostolado contínuo, perseverante, que se torna imensamente frutuoso. *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário