segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

VITA MUTATUR NON TOLLITUR

VITA MUTATA, NON TOLLITUR –
A VIDA NÃO É TIRADA, MAS APENAS TRANSFORMADA.  

ORAÇÃO FÚNEBRE PROFERIDA PELO CÕNEGO JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO NA MISSA DE CORPO PRESENTE DE LÉA MARIA ARAÚJO DE OSÓRIO, NO SANTUÁRIO SANTA RITA DE CÁSSIA, DIA 26 DE JANEIRO DE 2016.

Pesa sobre nós a separação de alguém que muito amamos.
 Desapareceu de nosso meio a estimada Léa Maria Araújo de Osório, filha de Maria de Carvalho Araújo, Da. Naná, e do Dr. Octávio Silva Araújo, deixando com sua sentida ausência o vazio de uma presença que a todos trazia real alegria, esfuziante otimismo. Seu sorriso, que expressava a nobreza de sua alma, há de ser sempre lembrado por todos que a conheceram.
Em hora de tanta dor e pesar tão grande, nesta Santa Missa de Corpo Presente, na qual sufragamos sua piedosa alma, é bem que recordemos seu falecimento nesta celebração litúrgica, porque é verídica a célebre expressão de Bossuet, célebre pelas suas Orações Fúnebres: “Ó morte, nós te damos graças pelas luzes que esparges sobre nossa ignorância. Tu somente nos convences de nossa fraqueza e nos fazes conhecer nossa dignidade” (1).

                     UMA CRISTÃ EXEMPLAR

O último mês de sua existência a paciência de Léa Maria fez aflorar em plenitude a grandeza de um coração do qual já se admiravam qualidades raras, sobretudo uma bondade irradiante, uma tranquilidade inalterável, que cativavam quantos dela se aproximavam, cercada pelos carinhos de seus entes queridos.
Espírito profundamente religioso, era uma cristã exemplar;
Devotíssima de Nossa Senhora, cujo nome ostentava com santo orgulho, viu firmada sua devoção à Mãe de Deus na Escola Normal “Nossa Senhora do Carmo”, onde estudou. Rezava diariamente o Terço e não terminava o dia sem fazer suas Orações no seu Devocionário Particular.
São Paulo era o santo de sua predileção e eis que ela veio a falecer no dia 25 de janeiro, tendo morado 30 anos no Estado e na Cidade de São Paulo e será hoje sepultada nesta data dedicada a Timóteo e Tito, dois notáveis epígonos do Apóstolo das Gentes, sendo suas exéquias nesta Paróquia de Santa Rita de Cássia, cujo Pároco se chama Paulo.
Léa Maria foi professora no Patronato Agrícola “Arthur Bernardes”, que depois foi incorporado à Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - FUNABEM. Exerceu também o cargo de funcionária do Ministério da Educação e Cultura – MEC em São Paulo, onde vivia há mais de 30 anos.
Era casada com o Engenheiro peruano Rolo Sabino Osório Bryson, formado aqui na Universidade Federal de Viçosa. Foram morar em Cuzco, no Peru, onde viveu até sua primeira gravidez.
De volta ao Brasil residiram em Itajubá, onde nasceu sua segunda filha.
Tiveram duas filhas inteligetíssimas, Mônica que é Executiva em São Paulo, casada com o Engenheiro Sidney Chaves e Célika, arquiteta, esposa do diplomata César Bonamigo, pais de Otávio, que recebeu este nome em homenagem ao avô.
Léa Maria ficou viúva em 2011, depois de 45 anos de uma união feliz, na qual viveu plenamente com seu marido a grandeza do Sacramento do Matrimônio.
Léa Maria sempre foi conhecida por sua serenidade, amabilidade e religiosidade.
Por onde passava, no Brasil e em outros países que visitou, como na Índia, nos Estados Unidos, a todos encantava com sua delicadeza e generosidade. Fluía de seu coração uma espiritualidade contagiante.      
Tudo isto fruto de sua fé profunda. A fé é a base adamantina de toda a grandeza humana, condição primordial e possantima da genuína nobreza do ser racional.

           PRECES ESPECIAIS

Por entre tantas manifestações de pesar, preces especiais são feitas pela alma de Léa Maria, sobretudo, nesta Missa, celebrada pelo seu irmão Pe. José Eudes de Carvalho Araújo e concelebrada por sete outros sacerdotes2.
 Desde a mais remota antiguidade cristã, foi oferecido o Santo Sacrifício da Missa em sufrágio das almas.
Registre-se, porém, que unido sempre a suas ovelhas, D. Geraldo Lyrio Rocha, o estimado Arcebispo de Mariana, comunicou ao Pároco Pe. Paulo Dionê Quintão que está em união com toda a família enlutada. Não podendo o estimado Pastor se achar presente aqui, por motivo de força maior, celebrará, também ele, pela alma desta cujo falecimento pranteamos.
  Adite-se que a Oração Eucarística das Missas oferece sempre a todos muito conforto, pois nunca, após a sua saída deste mundo, o fiel que deixou esta terra ficará sem as poderosas preces da Igreja.
 Enquanto uma Missa for celebrada, se pedirá sempre ao Pai que se lembre de todos os que adormeceram na paz de Cristo, de todos os falecidos, cuja fé só Ele conhece, acolhendo-os na luz de Sua face e concedendo-lhes, no dia da ressurreição, a plenitude da vida.




CRISTO, E SOMENTE ELE, PODIA NOS DAR O SIGNIFICADO DA
                                               MORTE

Ao vir a este mundo o ser racional inicia também sua viagem para deixar um dia esta terra num venturoso retorno para Deus.
         É esta volta feliz para junto do Criador que gera esta certeza de que somente depois da morte é que há luz, descanso, recompensa, gozo, a ventura sem fel. É lá no reino do Pai que impera a justiça para sempre. Lá, sim, a colheita abundante dos atos virtuosos. Na visão beatífica uma alegria sem fim. O homem anoitece no sepulcro para amanhecer numa eternidade feliz, se ele soube, como Léa Maria, esposa fiel, sábia mãe, cristã sem jaça, viver em função das realidades eternas.
         A morte não derrota o cristão verdadeiro, mas, pelo contrário, é sua vitória, pois ela abre uma porta para uma existência ditosa junto do Ser Supremo.
Para além da sepultura horizontes luzentes se estendem.
Em momento de tanta dor, essa doutrina bíblica tão sublime conforta e alivia. É lenitivo e bálsamo.
A morte é, de fato, a lúcida aurora da eterna vida. Para os justos, os bons, conduz ao trono da glória. É o suave sono que à dor sucede, do qual se desperta no Éden do Senhor.
Hoje aqui no Santuário Santa Rita damos a Léa Maria o último adeus em nome de todos que a admiravam e  que nos raptos da gratidão continuaremos a exaltar porque vimos na sua existência cinzelados os timbres primaciais dos seguidores de Cristo, filigranados os florões mais primorosos das virtudes contidas no Evangelho.
Nós nascemos para morrer, mas morremos para viver eternamente junto de Deus. Não encerram as tábuas de uma urna o fim da existência humana, nem as lousas de um túmulo o destino final da criatura.
Ao chegar aos extremos limites de sua carreira nesta terra, a criatura não se assemelha, de fato, a uma árvore tombada, sem vida. Sua alma imortal sobe ao encontro de seu Criador.
 Se o ser racional foi temente a Deus, como Léa Maria, ascende a receber o prêmio de seus méritos.
Ela já se encontrou lá no céu com seus pais, irmãos, parentes e amigos e junto do trono de Deus há de interceder por todos nós. É a maravilhosa a Comunhão dos Santos - Communio Sanctorum, união espiritual de todos os cristãos vivos e mortos.
Como ensinou o Papa Francisco, "trata-se de uma verdade entre as mais consoladoras da nossa fé, pois nos recorda que não estamos sozinhos, mas existe uma comunhão de vida entre todos aqueles que pertencem a Cristo". Disse ainda o Papa,  que "a comunhão dos santos vai além da vida terrena, vai além da morte e dura para sempre" [...] "Todos os batizados aqui na terra, as almas do Purgatório e todos os beatos que estão já no Paraíso formam uma só grande família. Esta comunhão entre terra e céu se realiza especialmente na oração de intercessão"3
Ressoam, ainda, consoladoras, nesta hora de dor, as palavras vibrantes do Mestre divino: “Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em mim ainda que esteja morto, viverá...” (Jo 11,25).  “Eu sou o pão vivo que desci do céu. Se alguém comer deste pão viverá eternamente (Jo 6,21)”.
Repercute, repleta de conforto, a afirmativa luminosa da Liturgia Sagrada: “... a vossos fiéis, Senhor, a vida não é tirada, apenas transformada - vita mutatur, non tollitur4.
.        Até a vinda de Cristo a este mundo, mestres religiosos, filósofos, todos aqueles que se entregaram, a uma reflexão mais profunda sobre si mesmos pararam quedos e confusos ante a morte, muitos desviando-se de seu semblante austero.
         Grande enigma para Sócrates, Platão e Aristóteles!
Ananda o famoso discípulo de Buda indagou deste o que pensar do além e nenhuma esperança fagueira lhe foi dada pelo mestre.
No Calvário, porém, novo destino, e para sempre, foi anunciado para a humanidade.
  Sina sublime a do ser racional, pois ele caminha nesta terra rumo à casa do Pai.
Que consoladora verdade diante da inexorabilidade da morte!
Após a destruição desta mansão terrena esperamos no paraíso uma morada eterna.
Nos termos desta misteriosa troca, que a fé ilumina com divina claridade, contemplamos a alma sempre a viver e, finalmente também o corpo que ressuscitará glorioso na volta triunfante de Cristo a este mundo.
Tudo isto porque cremos na vida eterna!




 Notas
1 Bossuet, Sermon sur la mort in Oraisons Funèbres et Sermons,
         Tomo I, Paris.  Librairie Larousse, 1949, p. 10
2 Pe. Paulo Dionê Quintão, Pároco da Paróquia de Santa Rita de Cássia; Mons.
Osmar Raimundo Mateus, Vigário Geral de Itabuna na Bahia;  Pe. Roberto  Francisco de Rezende, da diocese de Petrópolis; Pe. Walter Jorge Pinto, Pároco da Paróquia de São João Batista; Côn. Lauro Sérgio Versiani Barbosa, Pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima; Pe. Tiago da Silva Gomes e Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Paróquia de Santa Rita de Cássia. Presente também nesta Missa o Diácono Luiz Carlos Lopes.

3  PAPA FRANCISCO AUDIÊNCIA GERAL Praça de São Pedro,  Quarta-feira,          30 de Outubro de 2013.  Copyright - Libreria Editrice Vaticana
4  Prefácio da Missa dos fiéis falecidos.

















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