UMA LIÇÃO DE HUMILDADE
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Durante toda sua vida Jesus nunca deixou de passar uma oportunidade para ensinar os caminhos da reta conduta humana. Assim é que, estando na casa de um dos principais fariseus para uma refeição, observava a conduta dos convivas. Os que chegavam procuravam os primeiros lugares e isto Lhe proporcionou ocasião para mostrar que toda jactância deve ser evitada. Tomar vaidosamente os assentos de honra sem a anuência do anfitrião é correr o risco de passar por um vexame, ao passo estando no último lugar e ser chamado para cima é uma distinção diante de todos os outros. Lançou então sua notável sentença: “Aquele que por si mesmo se exalta será humilhado e o que se humilha será exaltado” (Lc 14, 14). A humildade é, realmente, um padrão de uma luminosa disposição moral e intelectual da pessoa humana, ao passo que o orgulho é indício certo de sua mediocridade. Julgar-se mais importante que os outros pelo que se possui, pelos títulos que tenham sido obtidos, pelos louvores recebidos é uma demonstração de pobreza interior. Com efeito, cada um vale não pela riqueza, ou pelas suas conquistas intelectuais, ou pelos elogios alheios, mas, sim, pela virtude que cultiva. Esta coloca numa escala superior. O humilde, inclusive, reconhece sempre que, se vale alguma coisa, é pela graça de Deus a qual pode ter sido sempre muito mais proveitosa por outros a sua volta. Aliás, a soberba é o maior óbice para se receber os dons divinos, dado que “Deus resiste aos orgulhosos” (Tg 4,6). Jesus inúmeras vezes mostrou que a arrogância deve ser reprimida. Eis porque cumpre combater os movimentos nocivos da empáfia e cultivar os sentimentos tão vantajosos da simplicidade. Lemos o Livro dos Provérbios: "Vindo a soberba, virá também a afronta; mas com os humildes está a sabedoria (Pv 11:2)". Na medida em que a humildade é valorizada o seguidor de Cristo se dispõe a afastar todos os laivos da vaidade, da presunção extrema, da falsa superioridade. Modelado pela humildade o cristão impregna todo seu exterior, todo seu modo de ser com uma tal marca que ele se torna, de fato, discípulo daquele que determinou: “Aprendei de mim que sou e humilde de coração” (Mt 11,29). A naturalidade e a modéstia passam a reinar na existência deste batizado. Nas suas atitudes, nas suas conversas não aparece nada que é presunção, fatuidade. Não impõe jamais sua opinião, mas escuta atentamente o que os outros falam, atinando com aquilo que há de positivo e correto, sem censuras descabidas. O humilde se torna amável, paciente, humano. É capaz de consolar os aflitos e não despreza a ninguém. Fala com doçura e responde a todos de uma maneira cortez. Polido e afável não conta nunca vantagens que podem ferir a sensibilidade alheia. Por isso mesmo aborrece tudo que prejudica o próximo no qual detecta em todas as ocasiões qualidades. Não se sente superior a quem quer que seja. Quando há necessidade de alguma observação esta é feita pelo humilde sem dureza, sem severidade ou rigor desmesurado, Praticante do que ensinou Cristo: “Não julgueis e não sereis julgados”, o humilde não condena os outros pelas pequenas faltas como se ele fosse um justo perfeito e o outro um grande pecador. Se alguém comete deslizes graves é com espírito de compreensão que o humilde procura tratá-lo, refletindo consigo mesmo que sem a graça de Deus poderia cometer pecados maiores ainda. Não procura nunca o aplauso dos homens, lembrado do que ensinou Jesus, ou seja, o que correr atrás do prestígio humano e pratica o bem para ser visto, perde a recompensa que vem de Deus, pois já receberam o seu prêmio (Mt 6,2). O humilde tem consciência de que o Ser Supremo é o grande testemunho de suas ações. O Mestre divino ordenou que quem quer ser o primeiro seja o servidor de todos (Mc 10,44). Amar a humildade é ser glorificado por Deus, recebendo um dia “a coroa sempre verde da glória” (1 Pd 5,6). Matriculado na Escola do Mestre da humildade o verdadeiro cristão afasta corajosamente o orgulho, este sentimento maligno que leva a se sentir superior aos outros, a desprezar o próximo, a ser independente, arrogante, auto-suficiente, desvios estes sempre reprovados por Deus. A fonte da soberba é o demônio, “pai da mentira” (Jo 8,44). Por isto, ensinam os santos que a arma mais poderosa para vencer o diabo é a humildade. É que esta virtude prospera nos corações que bem conhecem sua própria miséria e indigência, persuadidos intimamente de que todo bem procede de Deus. A humildade é o condutor de todas as graças e o timbre da verdadeira honra pessoal. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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