quinta-feira, 1 de agosto de 2013

DESAPEGO DOS BENS TERRENOS

DESAPEGO DOS BENS TERRENOS
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável o alerta de Jesus: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância” (Lc 12,16). O cupidez é uma espécie de idolatria (Gl 3,5). A avidez, a ambição desmedida, querer bens materiais com imoderação está condenado veementemente nas diretrizes do Mestre divino.  Cumpre, segundo Jesus, isto sim, ser “rico diante de Deus”. As coisas terrenas devem estar a serviço da realização pessoal sem qualquer excesso condenável. Este afasta o ser racional de Deus e ocasiona a ruína espiritual. São Paulo foi taxativo: “Nem os idólatras, nem os ambiciosos herdarão o reino de Deus” (1 Cor 6,10). Acumulação de riquezas sem dar ao dinheiro uma aplicação transcendental é estabelecer um empecilho na caminhada para a felicidade eterna. Cristo aconselhou a ajuntar um tesouro no céu (Mt 6,19) e acrescentou: “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” (Mt 6,21). Ensinou também que a vida de um homem não depende de seus bens (Lc 12,15). Todo cuidado então é pouco para não cair nas armadilhas do demônio só pensando em ajuntar valores materiais o que é inclusive fonte de inúmeros outros pecados atinentes à justiça. É que o dinheiro pode ser um servo útil e até necessário, mas é possível também se tornar um senhor implacável. O que é uma bênção divina não deve ser transformado em maldição. A advertência de Jesus é clara: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). A cobiça se torna para muitos um ditador inexorável, afastando o ser racional de seu Senhor verdadeiro. No Antigo Testamento inúmeros os personagens que se entregaram a crimes nefandos para possuir mais e Cristo por meio de sábios ensinamentos orientou sabiamente a seus seguidores. Na hora da morte cada um se sentirá feliz não pela opulência obtida, mas pelas virtudes praticadas. Muitos vivem como se nunca tivessem que deixar este mundo. O atual Papa tomou o nome de Francisco exatamente para lembrar o desapego do Santo de Assis. Jesus havia ensinado: “Procurai antes de tudo o reino e a justiça de Deus e todas as coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6,33). Embora as coisas materiais sejam até necessárias para a subsistência elas não devem impedir o progresso espiritual do cristão. A confiança do autêntico discípulo de Cristo o leva a confiar na Providência de Deus, fazendo, contudo, o que estiver a seu alcance para que nada lhe falte para seu sustento e o alimento dos que dependem de seu trabalho. Orientando durante mais de cinqüenta anos grupos jovens o autor desta reflexão sempre incentivou a serem eles ótimos profissionais para poderem sustentar a si e a sua família. Quando algum jovem idealista vem dizer que está preocupado por pensar em ganhar dinheiro na sua profissão, o que é dito é o seguinte “Parabéns, jovem, pois com isto você fará um bem imenso a sua casa, a seus filhos nada deixando lhes faltar, mas não se esqueça nunca de ajudar os mais necessitados, os pobres que nada possuem”. Se algum deles, por exemplo, quer ser médico ou advogado, o conselho é este: “Não deixe de atender de graça, na medida do possível, os indigentes, porque grande será a recompensa lá no céu”. São advertidos, porém, de que, quando o dinheiro fala mais alto, a caridade se estiola. A mais triste condição é a daquele que tendo recursos passa estupidamente por necessidades só para se aumentar o que possui.  A arguição de Jesus é esta: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” (Lc 12,20). Tudo na vida, porém, exige o meio termo e ai também daqueles que gastam a torto e a direito levados pela sociedade de consumo. É que o dinheiro é difícil de entrar, mas muito fácil para sair. A previdência não vai nunca contra a providência de Deus. O ideal é ter sem reter o que serve para ajudar a si e aos outros. Então, sim, o cristão depara em Deus sua única riqueza e lhe é grato pelo que possui sem ambicionar o desnecessário e supérfluo. Foi a ambição que fez de um Apóstolo um traidor e Judas vendeu Jesus por trinta peças de prata. Entretanto, se o amor e a fé tomam conta do coração, varrida a ganância, o próprio bem material ajuda a chegar ao céu. Fruto de um trabalho honesto, abrindo as portas da caridade, à ajuda às obras sociais da Igreja, ao culto divino, o que cada um ganha pode render para o tempo e para a eternidade. O principal é, portanto, o desapego das riquezas e o desejo de “ser rico diante de Deus”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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