A SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Assunção de Maria aos céus é o coroamento da glória daquela que é Mãe de Deus por ser a mãe de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Por isto, logo após sua morte, ela conheceu a ressurreição gloriosa e foi elevada aos céus pelo poder divino. Aí a diferença radical entre sua Assunção e a Ascensão de seu Filho, o qual foi para o céu pelas suas próprias forças. Hoje contemplamos a Virgem Mãe em uma outra dimensão da existência que ainda não é dado aos mortais conhecer por lhes ser inacessível. Dá-se exatamente o que ela mesma disse no seu Cântico, o “Magnificat”, ou seja, “O poderoso fez em mim maravilhas”. O poder de Deus é sua Palavra e esta Palavra vive em Maria, visibilizando nela prodígios extraordinários que culminam com sua Assunção. Este dogma da fé católica vem, entretanto, lembrar que todos os cristãos estão destinados à mesma glorificação. No Oriente e no Ocidente, nos textos mais antigos deparamos à crença firme nesta verdade teológica e no seu esplêndido apelo. Maria, a nova Eva, sem a mancha do pecado original tinha todas as condições para partilhar a glória de seu divino Filho Ressuscitado. Ela, já na Jerusalém celeste de corpo e alma, é um convite vivo a que o batizado se eleve espiritualmente muito além de suas preocupações puramente terrestres Ela nos torna atentos aos valores importantes que tantas vezes são negligenciados. Incita a que se coloque no céu toda esperança. Tudo isto o Papa Pio XII quis recordar ao proclamar dia 10 de novembro de 1950 na Constituição Apostólica “Munificentissimus Deus” este dogma de fé. Era a expressão legitima e necessária daquilo em que sempre acreditaram os fiéis. A Assunção foi um ato de Deus que contribui para firmar o desejo de estar com Ele por toda a eternidade, como aconteceu com Maria logo após sua morte. Maria morreu a exemplo de Jesus, mas foi imediatamente transfigurada, ela a Mãe da Luz, a Teotokos, Mãe de Deus que é luz, e por isto ela logo entrou no gloria que vai além do esplendor das hierarquias celestes. Vitoriosa sobre o pecado, venceu a própria morte. Transfigurada, ressuscitada, ela já realizou o objetivo pelo qual Deus criou e salvou o ser racional, criado à sua imagem e semelhança. A Assunção é um penhor da união do batizado com seu Filho glorificado. Por tudo isto, esta celebração é, igualmente, um louvor ao divino Redentor, pois a Assunção de Maria não foi senão uma extensão especial de tudo que Ele mereceu para a humanidade. Maria é a perfeita imagem da Igreja triunfante do céu. Deus quis antecipar o fim dos tempos para ela e isto é um sinal para todos os fiéis e para toda sua Igreja peregrina nesta terra. De fato, o corpo humano sujeito à fragilidade e a tantos sofrimentos no dia da ressurreição dos mortos conhecerá o mesmo destino da Mãe de Jesus, quando ressurgir espiritualizado Neste dia é bem que se recordem as palavras de São Paulo: “Ao clangor da última trombeta, pois soará a trombeta, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados. É de fato necessário que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade, e que este corpo mortal se cubra da imortalidade” (1 Cor 15,53). Desta inefável realidade a Assunção de Maria é o luminoso indício. Ela já conheceu a plena vitória sobre a morte, como acontecerá a todos que aderirem plenamente a Deus. A salvação não é algo ilusório, mas real, concreto. Como aconteceu com Maria, também para os verdadeiros seguidores de Cristo os limites de sua condição humana, de sua debilidade, cessarão, sua fronteira será ultrapassada na ventura perene do esplendor do Paraíso. Isto então não apenas para a alma que já gozava da visão beatífica, mas também para o corpo glorioso que se unirá novamente à alma. Corpo e alma reunidos para o festim da eternidade junto com a Rainha de todos os anjos e santos. Tudo isto deve encorajar o cristão para que não se deixe levar pelas ilusões terrenas, procurando sempre viver de acordo com os preceitos divinos, ajudados pela proteção daquela que lá do céu acompanha cada um de seus filhos que por ela clamam neste vale de lágrimas. Uma vida ajustada à Palavra de Deus é a grande mensagem desta solenidade na qual todos os corações se voltam para o céu. Ela deseja que cada um se enraíze na escuta e no acolhimento das inspirações celestes. Porque sempre viveu na certeza da presença de Deus, intensamente unida a Ele, Maria mereceu uma honra antecipada. Dela se aprende o sentido do poder do amor que Deus manifestou na vida de Jesus. Com ela seus filhos se tornam capazes de degustar o louvor ao Ser Supremo, pois ela proclamou: “Minha alma exulta no Senhor, rejubila meu e espírito em Deus meu salvador” Ela entoou um cântico magnífico porque “Deus olhou para a humildade de sua serva”, este Deus que resiste aos soberbos, mas aos humildes oferece a sua graça”. Que a figura da Virgem Assunta aos céus esteja em cada um de nós para que com Ela saibamos exaltar o Senhor. Ela a todos aguarda para os gozos eternos. Magna expectativa, mas fulgente alerta para que não se perca tamanha felicidade! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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