quarta-feira, 28 de agosto de 2013

TOMAR A CRUZ E SEGUIR JESUS

TOMAR A CRUZ E SEGUIR JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A seus seguidores Cristo não podia ser mais claro e direto: “Quem não carrega a sua cruz e me segue não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27).. Ele deu o exemplo e levou a sua cruz do Presépio ao Calvário. Quem o quer acompanhar precisa renunciar a si mesmo e cumprir fielmente suas obrigações. Toda e qualquer atividade, inclusive a profissional, exige muito esforço e abnegação. Quando se colocam os passos nos passos de Jesus tudo fica mais fácil, porque repleto de merecimentos para a eternidade. Trata-se de uma luta que durará até a morte, além das naturais provações físicas e psicológicas inevitáveis neste exílio terreno. Entretanto, o cristão não se sente só, desamparado, porque Deus está presente na sua vida, sustentando-o no combate diário. Adite-se que em qualquer circunstância cada um está a serviço do próximo e o dom de si mesmo através da reta intenção de ajudar os outros é de suma valia diante daquele que disse: “O que fizestes a um destes  meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 24,40). Quem tem fé sobrenaturaliza deste modo todas as suas ações e o fardo cotidiano se torna menos pesado.  É um redimensionamento de objetivos e de projetos que ilumina a tarefa por mais árdua que seja. Portanto, a ordem de Jesus de carregar a cruz após Ele, determinação que poderia parecer um convite excessivo e reservado a algumas almas privilegiadas, surge como uma orientação pedagógica de suma valia para si e para o próximo. Deus nunca torna a cruz de cada um desproporcionada a suas forças. O que se deve fazer não é limitar os objetivos, mas ajustar os meios aos objetivos que se têm em vista dentro dos planos divinos. Estes recursos são a luta contra a inércia, a oração que é a fortaleza do cristão, a perseverança nos afazeres e não desejar aquilo que ultrapassa as condições intelectuais e psicossomáticas pessoais. Cumpre um modo de vida de acordo com as possibilidades viáveis sem a busca de uma penitência excepcional e sem a entrega a procedimentos irracionais. Não é fácil por vezes encontrar o equilíbrio necessário para não abandonar o sacrifício, malbaratando os dons recebidos do Criador. Os santos souberam sempre fazer de maneira extraordinária as coisas ordinárias da vida.  É desta maneira que se depara a liberdade interior com relação ao labor diário, ao engajamento social e às obrigações familiares. É preciso saber encontrar a verdadeira sabedoria do viver apesar das amarguras imprevisíveis que surgem e que parecem tornar a cruz mais pesada. O amor ao divino Crucificado sustenta seu discípulo na caminhada pela vida afora, balanceando deveres indeclináveis com a restauração das forças nos divertimentos sadios e louváveis. Assim todas as energias interiores ficam sempre mobilizadas e se pode usufruir melhor dos bens recebidos de Deus. Carregar a cruz é saber se conhecer, se aceitar e não se submeter a condicionamentos advindos da sociedade de consumo, que é hedonista, materialista. Eis porque o cristão que entende bem o que Jesus disse sobre carregar a cruz, seguindo-o,  não a vê como uma deformação à  sensibilidade humana. Não se trata de se comprazer no sofrimento, de procurar mortificações descabíveis. Um verdadeiro seguidor de Cristo não tem o gosto malsão da dor. Viver o Evangelho não significa ter desgosto da vida. Como, porém, o ser humano na sua fraqueza comete faltas, as angústias, as aflições, os aborrecimentos se tornam instrumento de purificação. O segredo é, pois, dar uma aplicação transcendental a tudo que se faz e se padece. Assim, não há nenhum masoquismo no caminho da cruz, nenhum desprezo por tudo de bom que há no mundo. São Paulo ensinou: “Alegremo-nos todos no Senhor” (Fl 4,4). Ele que afirmou se regozijar  no meio de suas provações e estas não foram poucas . Assim sendo, não se pode interpretar a aceitação da cruz como uma mera psicoterapia. Com efeito, a compreensão da cruz leva, isto sim, o cristão à plena maturidade espiritual, uma vez que ele não negligencia  suas obrigações, mas  se entrega às tarefas mais árduas que a existência lhe impõe tendo como guia Aquele que, tendo assumido a missão salvadora, a realizou de uma maneira tão extraordinária até o sacrifício supremo no Gólgota para ser um exemplo a ser seguido e, na verdade, com muito menor sofrimento do que aquele inerente a cada um na sua trajetória terrena.  Eis porque é preciso também se lembrem sempre as palavras de São Paulo: “O leve peso de nossa tribulação do momento presente, prepara-nos, além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória” (2 Cor 4,17), Vale a pena tomar a cruz de cada dia e seguir a Jesus.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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