“O GALO NÃO CANTARÁ ANTES QUE ME TENHAS NEGADO TRÊS VEZES” (Jo 12, 38)
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A negação de Pedro é um dos episódios chocantes da Paixão de Jesus. Fora advertido e falho. Um galo cantou e o discípulo negou, olhou depois para Jesus e chorou. Pedro no meio de toda sua debilidade tinha, porém, uma certeza: ele amava Jesus. Por isto, apesar de duvidar como aconteceu com Moisés, de ter sido intempestivo como Esaú, ele era bondoso como Booz e vai se retratar como Jonas, pranteando como Jeremias. É mau e é bom, fraco e forte, sinuoso e retilíneo, contraditório e coerente. É um ser humano sujeito a grandes erros. Naquele instante, porém, sua afirmativa de que não conhecia Jesus era o símbolo de todas negações dos cristãos através do tempo, daqueles que se dizem discípulos do Filho de Deus, mas que não praticam o que Ele ensinou. Ser cristão na fé e epicureu na prática eis aí a grande aberração que multiplica o gesto infeliz de Pedro. Autenticidade é e será sempre o clamor da Igreja através dos tempos, pois na vida do epígono de Cristo o Credo e o Decálogo, o ato de fé e a observância dos preceitos evangélicos devem se unir harmoniosamente, coerentemente. O Apóstolo Tiago proclamará: “Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? .Mostra-me a tua fé sem as obras e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras” ( Tg 3,14. 18). Tal a triste sina de Pedro naquele momento: suas palavras contradisseram a fé que depositava na divindade do Mestre. Entretanto, a culpa de Pedro seja advertência para todos, mesmo porque suas lágrimas de arrependimento repararam a grande falha. Condenado já pelo tribunal religioso, os judeus querem que Pilatos não apenas ratifique a sentença de morte, mas fazem uma armação para transformar o crime de Jesus numa subversão política: Ele se diz rei dos judeus. Diante, porém, das explicações de Cristo que com tanta sinceridade mostra ao Procurador Romano que seu reino não era deste mundo e que Ele apenas dava testemunho da verdade Pilatos declara que não via nele culpa alguma que justificasse uma sentença de morte. Arguto, porém, como era, ao ouvir o povo gritar que amotinara todo o povo da Galiléia, Pilatos logo se lembra que o governador da Galiléia e da Peréia se encontrava em Jerusalém para as festas da Páscoa e remete Jesus a Herodes Antipas, filho do velho tetrarca Herodes. Pilatos queria ganhar tempo, pois não desejava se envolver numa situação de condenação de um inocente. Ele sabia que Herodes não podia julgar fora da fronteira de seu Estado, que limitava a sua competência jurisdicional. Pilatos sabia perfeitamente que Jesus deveria ser julgado na Judéia e não na Galiléia. A competência era dele e não de Herodes. Ao ver Jesus, Herodes ficou muito contente. Tinha curiosidade em conhecê-lo por causa de sua fama. Eis por que não levantou a hipótese de conflito de jurisdição. Fez a Cristo “muitas perguntas”; ele, porém, nada lhe respondeu” (Lc 23 8-9). A história da família de Herodes é uma história de violência e de terror. O silêncio de Jesus é uma das repreensões mais severas e significativas da Bíblia. Era uma repulsa veemente a todos aqueles que torturam, matam, violentam, massacram. Condenação de todo morticínio em guerras fratricidas, de todos os absurdos de extermínio do tipo nazista, da impiedade desumana que sempre manchou as páginas da História. Herodes trata então a Jesus como um louco e o reveste de uma túnica branca a indicar que, segundo ele, se tratava de um insensato, de um irresponsável. Naquele momento Jesus também dava uma lição a todos os seus seguidores através dos tempos. Ele preferiu ser considerado um louco do que mostrar com uma condescendência condenável qualquer aprovação dos desacertos herodianos. Quantos infelizmente por respeito humano ou por interesses escusos preferem trair a verdade do que expressar a repulsa a atos ignominiosos, injustos, desleais. A firmeza de Jesus é um exemplo e um encorajamento na luta contra o mal e seus patrocinadores. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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