quinta-feira, 1 de março de 2012

Não perder o rumo do céu

NÃO PERDER O RUMO DO CÉU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Pedro, Tiago e João ao contemplarem o rosto de Cristo transfigurado no Tabor, resplandecente como o sol, e suas vestes alvas como a neve não mais queriam abandonar aquela visão (Mc 9, 2-10). Bastou uma gota do mar imenso do esplendor celeste para os arrebatar. Quando, então, após a morte imergir no oceano sem fim da beleza divina, o ser racional ver-se-á num interminável êxtase. O candor e a brancura da luz eterna farão esta delícia perenal. Segundo São João no céu nós veremos a Deus “como ele é”(1 João 3,2) O mesmo ensina São Paulo: “Nós agora, vemos (a Deus) como por espelho em enigma; mas então face a face” (1 Cor 13,12). Santo Agostinho acrescenta que O contemplaremos como O vêem os anjos. Esta visão, ainda que imediata não é absoluta. Porque o bem-aventurado não se converte em Deus; permanece sempre finito e limitado, incapaz de compreender totalmente o objeto infinito. O bem infinito, porém, é sempre novo. Onde a novidade não acaba e sempre atrai, o amor e o gosto nunca diminuem. Assim, embora participada, a glória eterna é fonte de ininterrupto e perfeito gozo. A teologia ensina que além da felicidade essencial, provinda da visão beatífica, existe ainda no céu a glória secundária ou acidental, advinda dos mistérios da fé, professados na terra pelos eleitos, e de todas as maravilhas da obra criada por Deus. A vida eterna será ao mesmo tempo o êxtase e a existência comunitária com Cristo, com Maria, com os Apóstolos e todos os concidadãos dos Santos. Êxtase de Deus e perfeita vida fraternal. Santo Tomás assim se expressou sobre esta realidade: “Consiste ainda na suave companhia de todos os santos; sociedade agradável a mais não poder, porque cada um terá, em companhia todos os bem-aventurados, todos os bens. Um amará o outro como a si mesmo, então se alegrará com o bem do outro como se fosse próprio. O que terá por resultado que crescerá a alegria e o gáudio de um na medida do gáudio de todos”. A glória do céu será proporcionada aos méritos de cada um e as palavras de Cristo são claras: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14,12). São Paulo asseverou: “... Uma é a claridade do sol, e outra a claridade da lua e outra a claridade das estrelas. E ainda há diferença de estrela para estrela na claridade. Assim também a ressurreição dos mortos” (1 Cor 15,4). O Pe. Antônio Vieira pondera que “a alegria do céu é sem tristeza, o gosto é sem pesar, o descanso é sem trabalho, a segurança é sem receio, o sossego sem sobressalto, a paz sem perturbação, a honra sem agravo, a riqueza sem cuidado, a fartura sem fastio, a grandeza sem inveja, a abundância sem míngua, a companhia sem emulação, a amizade sem cautela, a saúde sem enfermidade, a vida sem temor da morte, enfim todos os bens puros e sem mistura de mal, e por isso verdadeiros bens”.O importante, portanto, é nunca perder o rumo do céu. Adverte,. Porém, o mesmo Pe. Vieira: “Este é o negócio de todos os negócios, este o interesse de todos os interesses, esta a importância de todas as importâncias, porque este é o meio de todos os fins e o fim de todos os meios; morrer em graça e ver assegurada a bem-aventurança”. Cristo não deixou ilusões a seus discípulos, pois afirmou que o reino dos céus sofre violências. Apenas os corajosos, os que vencem suas paixões, praticam a virtude e abominam os vícios entrarão no reino dos céus. Até lá grande, sem dúvida, a misericórdia de Deus que perdoa sempre. É necessário, contudo, que não se passe para aquela margem da vida donde todo retorno se torna impossível. Para isto o senso do eterno é meio eficaz bem como a invocação constante da Maria, porque, como a invocamos na Ladainha Lauretana, ela é a porta do céu. Por meio dela recebemos o autor da vida, sendo ela, assim, a porta pela qual o Filho de Deus entrou na nossa existência terrena para possibilitar ao homem gozar um dia, na glória eterna da Jerusalém celeste, as delícias que Deus preparou para os que Lhe forem fiéis nesta vida passageira.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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