SEGUIR A ESTRELA RUMO A JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Profunda a mensagem teológica da solenidade da Epifania do Senhor. O trecho do Evangelho narrado por São Mateus (2,1-12) reporta à profecia de Isaias (60,1-6) e é explanado magnificamente por São Paulo na sua Carta aos Efésios, (3,2-3;5-6) mostrando tais passagens bíblicas que o Messias que os judeus aguardavam a tantos séculos, veio a este mundo para trazer a salvação para todos os povos. Isaías convida vivamente Jerusalém a uma verdadeira eclosão de júbilo perante todas as nações às quais chega a luz redentora. Os Magos vindos do Oriente experimentam um júbilo inefável, após estarem com Herodes e verem novamente a estrela que os guiava e os levou até onde se encontrava Jesus, com Maria sua mãe. Idêntica alegria partilha todo cristão, pois a salvação apareceu para todos de boa vontade. Cumpre, porém, irradiar esta felicidade, precisamente enquanto seguidor de Cristo, pois como mostra São Paulo é necessário ser por toda parte mensageiro da boa nova. Todos devem se associar à mesma promessa em Jesus por meio do evangelho que é preciso seja anunciado. Será sempre em Jesus que se encontrará a luminosidade para não se perder nas trevas e a força para superar as inúmeras dificuldades por esta passagem por um exílio terreno. A longa viagem realizada pelos Magos mostra que para encontrar Cristo é preciso esforço pessoal e desejo ardente de estar com o Redentor. Na verdade aqueles Sábios procuravam um Deus que, por primeiro, veio ao encontro do homem. De fato, é sempre o Ser Supremo que vem ao encontro daquele que foi criado à sua imagem e semelhança. Há, contudo maneiras bem diferentes de O acolher. Com efeito, de um lado, o rei Herodes que « foi tomado de inquietude e toda Jerusalém com ele ». Herodes queria ir até Jesus para o matar. De outra parte, os Magos que « experimentaram uma grande alegria ». Ontem, hoje e sempre, a humanidade se divide entre os que amam a Cristo e os que O rejeitam. Herodes era o tipo do tirano que via seu poder não como serviço, mas como dominação. Ele era a imagem de toda autoridade totalitária que não só massacra os outros, como arrogantemente se volta contra Deus. Os sumos sacerdotes e os mestres da lei sabiam que o Messias devia nascer em Belém, mas não fizeram esforço para ir procurá-lo. Tinham dele um conhecimento puramente livresco, acadêmico, mas isto não os movia a caminhar para junto do Salvador. A Bíblia será sempre estéril se não há fé e o ardor do desejo da revelação do Ser Supremo. Ela é uma linguagem de fogo incandescente, mas para quem abre o seu coração e sua inteligência para Deus. Os doutores da Lei conheciam as Escrituras, mas seu coração estava fechado e eles não tinham sede da Verdade. Esta, contudo, impulsionava os Magos e os levou a seguir a Estrela até o fim. Aquele que foi batizado, crismado, fez a primeira Eucaristia deve se manter em contato permanente com a luz divina e trihar a rota da vida verdadeira. Por vezes, Deus se esconde, como aconteceu com a estrela dos Magos e podem surgir dúvidas, interrogações, mas quem tem fé persevera e sabe que as luzes do Alto de novo o envolverão. Cumpre não desanimar nunca. O conhecimento da Bíblia, fundamenal embora, não basta para dar acesso a Deus. É necessária o claro-escuro da fé, que leva à total confiança neste Deus que se revela não nos palácios dos reis, mas na pequenez de um pobre Menino. Pelo fato de ser cristão, de ter reconhecido, a exemplo dos Magos, a divindade de Jesus, não significa que se possui um bilhete de entrada para o céu, o qual Cristo veio abrir para a humanidade. A fé tem que ser operosa e transformante, ou seja, deve impregnar toda a vida do cristão que precisa crescer continuamante no conhecimento do Mestre divino, procurando sempre novos caminhos da perfeição. Cumpre se ajoelhar diante do Deus Menino e acolher plenamente sua mensagem salvadora, deixando-se cada um guiar pela luz de seus ensinamentos compediados no Evangelho, acatando seu domínio sobre a existência individual numa renovação constante de propósitos e de metas. O que o Redentor quer está bem simbolizado nos presentes que recebeu daqueles sábios orientais, isto é, o ouro de um amor sincero, a mirra de uma mortificação contínua e o incenso de uma adoração que leve a uma submissão completa aos desígnios divinos. Para isto mister se faz fugir de todos os perigos, como fizeram os Magos que não voltaram a Herodes, traindo o Deus que encontraram. Hoje mais do que nunca é preciso que o cristão esteja consciente de que « quem ama o perigo nele perecerá » e cumpre fugir de tudo que possa conspurcar a própria consciencia, afastando-o dos caminhos de Jesus, seguindo apenas a estrela luminosa da fé. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sábado, 24 de dezembro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
O CELIBATO ECLESIÁSTICO
O CELIBATO ECLESIÁSTICO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muita celeuma causa a questão do celibato eclesiástico, ou seja, o fato de os sacerdotes não contraírem matrimônio. Trata-se de uma disciplina da Igreja que longe de ser uma imposição é um estado de vida abraçado livre e conscientemente por quem deseja o estado sacerdotal. Sociedade bem estruturada, a Igreja tem o direito de estabelecer normas disciplinares. Como não se trata de um preceito divino, é a História Eclesiástica que deve ser consultada quando se ventila tão importante questão. Em primeiro lugar é bom que se ressalte que Jesus Cristo não se casou e que o Apóstolo Paulo levou vida celibatária e a recomendou. Aos Coríntios assim se expressou: “Digo aos solteiros e às viúvas que lhes é bom se permanecerem assim, como também eu (1 Cor 7,8). O celibato voluntário começou a ser fielmente praticado praticamente desde o começo do século II, quer no Oriente, quer no Ocidente. Na Síria, na Ásia Menor, na Grécia e em Roma inúmeros os que anteciparam a vida futura, vivendo como anjos de Deus. Entre os testemunhos desta verdade está o relato de São Justino (I Apolog. 29; 14,2;15,6). Cristo foi muito claro: “Os filhos deste século casam e são dados em casamento, mas os que forem julgados dignos daquele (outro) século, e da (ditosa) ressurreição dos mortos, nem os homens desposarão mulheres, nem as mulheres homens; porque não poderão jamais morrer; porquanto são semelhantes aos anjos e são filhos de Deus, visto serem filhos da ressurreição” (Lc 20, 34-36). Mencionam o celibato no século IV Eusébio ( Dem. Evang. I,9; 260-340), S. Cirilo de Jerusalém (Cat. 12, 25;315-386; São Jerônimo ( Ad Vig. 2. 340-420; Santo Epifânio ( Adv. Haer. 59,4; 315-493). O Concílio de Elvira no Cânon 33, na Espanha estabeleceu pela vez primeira o preceito do celibato eclesiástico por volta do ano 300, consagrando uma prática que já tinha se estendido amplamente e dado opimos frutos espirituais. O Concílio Romano, celebrado sob o Papa Sirício (384-399) mandou documento para a Espanha e para a África urgindo a observância do celibato por parte dos sacerdotes e bispos. Na época de São Leão Magno (440-461) esta disposição disciplinar já era obrigatória em todo o Ocidente. O Concílio de Nicéia (325), ainda que não fale abertamente da lei celibatária, proibia que o clero tivesse em sua casa mulher que pudesse motivar suspeitas de imoralidade e lembrava que os sacerdotes tivessem junto a si sua mãe, irmãs ou outros familiares. A Constituição Apostólica do ano de 400 vedava aos Bispos, Sacerdotes e Diáconos casar depois de ordenados. A Igreja russa e armênia, que admite Clero secular casado, escolhe os bispos dentre os monges que são celibatários. Nos períodos posteriores o Espírito Santo suscitou sempre papas que pugnaram pela consagração total do clero ao serviço do Altar. Assim Leão X (1049-1054), Gregório VII (1073-1085), Urbano II (1088-1099), Calisto II (1119-1124), entre tantos outros. Todos os papas deste século XX, de São Pio X a João Paulo II, têm encarecido o significado e a importância do celibato. O sacerdote, de fato, tem necessidade de estar inteiramente disponível ao serviço das almas, sendo o evangelizador privilegiado da Palavra de Deus. O celibato não é impossível, dado que Deus concede sua graça abundantemente a todo aquele que lhe implora favores especiais para viver esta condição de vida. Uma das armas espirituais mais poderosas é a Liturgia das Horas a alimentar uma vida de oração intensa. Aqueles sacerdotes que foram dispensados pela Igreja dos votos e contraíram o Santo Sacramento do Matrimônio têm podido demonstrar na sociedade seu espírito de fé profunda e fazem de sua cultura, de seu saber instrumento de edificação do Reino dos Céus no novo estado de vida que abraçaram. O celibato, porém, há de continuar sendo uma das glórias do Clero com dedicação exclusiva à união profunda com Deus, anunciando as realidades do mundo que há de vir!
• Professor No Seminário de Mariana durante 40 anos
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muita celeuma causa a questão do celibato eclesiástico, ou seja, o fato de os sacerdotes não contraírem matrimônio. Trata-se de uma disciplina da Igreja que longe de ser uma imposição é um estado de vida abraçado livre e conscientemente por quem deseja o estado sacerdotal. Sociedade bem estruturada, a Igreja tem o direito de estabelecer normas disciplinares. Como não se trata de um preceito divino, é a História Eclesiástica que deve ser consultada quando se ventila tão importante questão. Em primeiro lugar é bom que se ressalte que Jesus Cristo não se casou e que o Apóstolo Paulo levou vida celibatária e a recomendou. Aos Coríntios assim se expressou: “Digo aos solteiros e às viúvas que lhes é bom se permanecerem assim, como também eu (1 Cor 7,8). O celibato voluntário começou a ser fielmente praticado praticamente desde o começo do século II, quer no Oriente, quer no Ocidente. Na Síria, na Ásia Menor, na Grécia e em Roma inúmeros os que anteciparam a vida futura, vivendo como anjos de Deus. Entre os testemunhos desta verdade está o relato de São Justino (I Apolog. 29; 14,2;15,6). Cristo foi muito claro: “Os filhos deste século casam e são dados em casamento, mas os que forem julgados dignos daquele (outro) século, e da (ditosa) ressurreição dos mortos, nem os homens desposarão mulheres, nem as mulheres homens; porque não poderão jamais morrer; porquanto são semelhantes aos anjos e são filhos de Deus, visto serem filhos da ressurreição” (Lc 20, 34-36). Mencionam o celibato no século IV Eusébio ( Dem. Evang. I,9; 260-340), S. Cirilo de Jerusalém (Cat. 12, 25;315-386; São Jerônimo ( Ad Vig. 2. 340-420; Santo Epifânio ( Adv. Haer. 59,4; 315-493). O Concílio de Elvira no Cânon 33, na Espanha estabeleceu pela vez primeira o preceito do celibato eclesiástico por volta do ano 300, consagrando uma prática que já tinha se estendido amplamente e dado opimos frutos espirituais. O Concílio Romano, celebrado sob o Papa Sirício (384-399) mandou documento para a Espanha e para a África urgindo a observância do celibato por parte dos sacerdotes e bispos. Na época de São Leão Magno (440-461) esta disposição disciplinar já era obrigatória em todo o Ocidente. O Concílio de Nicéia (325), ainda que não fale abertamente da lei celibatária, proibia que o clero tivesse em sua casa mulher que pudesse motivar suspeitas de imoralidade e lembrava que os sacerdotes tivessem junto a si sua mãe, irmãs ou outros familiares. A Constituição Apostólica do ano de 400 vedava aos Bispos, Sacerdotes e Diáconos casar depois de ordenados. A Igreja russa e armênia, que admite Clero secular casado, escolhe os bispos dentre os monges que são celibatários. Nos períodos posteriores o Espírito Santo suscitou sempre papas que pugnaram pela consagração total do clero ao serviço do Altar. Assim Leão X (1049-1054), Gregório VII (1073-1085), Urbano II (1088-1099), Calisto II (1119-1124), entre tantos outros. Todos os papas deste século XX, de São Pio X a João Paulo II, têm encarecido o significado e a importância do celibato. O sacerdote, de fato, tem necessidade de estar inteiramente disponível ao serviço das almas, sendo o evangelizador privilegiado da Palavra de Deus. O celibato não é impossível, dado que Deus concede sua graça abundantemente a todo aquele que lhe implora favores especiais para viver esta condição de vida. Uma das armas espirituais mais poderosas é a Liturgia das Horas a alimentar uma vida de oração intensa. Aqueles sacerdotes que foram dispensados pela Igreja dos votos e contraíram o Santo Sacramento do Matrimônio têm podido demonstrar na sociedade seu espírito de fé profunda e fazem de sua cultura, de seu saber instrumento de edificação do Reino dos Céus no novo estado de vida que abraçaram. O celibato, porém, há de continuar sendo uma das glórias do Clero com dedicação exclusiva à união profunda com Deus, anunciando as realidades do mundo que há de vir!
• Professor No Seminário de Mariana durante 40 anos
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Dignidade do Sacramento do Matrimônio
A DIGNIDADE DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O matrimônio é o alicerce da família, é o suporte da primeira sociedade humana do planeta terra, é o vínculo sublime que, prendendo duas pessoas, perpetua neste mundo a humanidade. Não há instituição mais admirável, nem mais importante e respeitável. Em todos os tempos e para todos os povos o matrimônio teve sempre um caráter religioso, porque a família é uma sociedade indissolúvel e santa, que não se pode privar das bênçãos divinas. Cristo firmou esta verdade quando declarou que a união do homem com a mulher é uma união legítima e perpétua, que está acima do abalo das paixões, e, sendo instituída pelo próprio Deus, não pode estar sujeita aos caprichos dos homens. Jesus fez do matrimônio um dos sacramentos de sua Igreja. O que muitas vezes se esquece é que o matrimônio é da esfera da família e do indivíduo; o matrimônio se inaugura dentro da família; os nubentes saem da família e saem para constituir nova família. É pois um ato que se realiza em função da família e dentro da família e aí produz os seus efeitos. O contrato civil é mera formalidade legal para regularizar os interesses materiais dos esposos, mas não pode ser considerado como matrimônio. É apenas sob este ângulo que os fiéis cumprem rigorosamente as leis do Estado. Eis porque as pessoas, que se contentam unicamente com essa formalidade legal, não podem receber os sacramentos da penitência e da comunhão. O matrimônio de fato, é uma instituição santa. Sua origem é divina, como lemos nas primeiras páginas da Bíblia: “Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, e criou-os homem e mulher. E Deus abençoou-os, dizendo-lhes: “Proliferai e multiplicai-vos, e povoai a terra” (Gên 1,27-28). Deste modo, o Ser Supremo querendo consagrar o primeiro casamento, estendeu a mão sobre a fronte do homem e da mulher e os santificou impondo-lhes a lei da fecundidade. Bênção que outorgou ao homem vigor e fez de Adão e Eva os pais de toda a raça humana. Um dia interrogado pelos Fariseus se era permitido despedir a esposa por qualquer motivo, Jesus, claramente, respondeu: “Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: - Por isso deixa o homem pai e mãe e une-se com sua mulher e os dois formam uma só carne? – Portanto, já não são dois, mas uma só carne. “Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Mt 19,3-7). Jesus não se contentou em restituir ao matrimônio a sua forma primitiva, mas ainda quis purificá-lo de todas as manchas (Mt 18, 8-10). São Paulo, comparando a união dos esposos com a união que existe entre Cristo e a Igreja declarou: “Grande mistério é este; mas digo-o referindo-me a Cristo e à Igreja. Resta, portanto, que ame também cada um de vós sua mulher como a si próprio e que a mulher respeite o marido (Ef 5, 32-33). Como a união de Cristo com a Igreja é santa, imaculada e permanente, também a união matrimonial deve ser santa, religiosa e perpétua. Uma não seria a imagem, a figura e a representação da outra, se não houvesse uma virtude santificante, que somente o sacramento pode conferir. Concede aos esposos a graça de se amarem com o mesmo amor com que Cristo amou a sua Igreja. A graça do sacramento leva à perfeição o amor humano dos esposos, consolida sua unidade indissolúvel e os santifica no caminho da vida eterna. O homem não amaria a sua esposa como o Cristo ama a Igreja, nem a mulher amaria o esposo como a Igreja ama Cristo, sem uma graça especial que purifique e sobrenaturalize o amor conjugal. O Salvador, entregando-se à sua Igreja, a santifica; o homem e a mulher, dando-se um ao outro, devem mutuamente santificar-se. Eis porque o matrimônio é um grande sacramento. O matrimônio é, realmente, algo sublime, um ato da vida ao qual Deus deve presidir e deve comunicar suas graças poderosas, a fim de que os esposos se conservem na mesma dileção e guardem fidelidade um ao outro até o último momento da vida. A essência natural do matrimônio é o amor que principia pela misteriosa simpatia e elevada empatia que surge entre duas pessoas. A bênção sacramental santifica este amor. A graça conferida pelo sacramento purifica a união, torna toleráveis as naturais dificuldades da existência neste vale de lágrimas até os últimos dias de vida de cada um dos esposos. A força do sacramento confere a perseverança e transforma os desgostos em virtudes; confere coragem para que suportem mutuamente as imperfeições um do outro, garantindo a fidelidade absoluta em qualquer circunstância da vida, garantindo uma grande recompensa no céu pela dedicação aos filhos, pelo amparo mútuo, pelos grandes triunfos que juntos conquistam para o tempo e a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O matrimônio é o alicerce da família, é o suporte da primeira sociedade humana do planeta terra, é o vínculo sublime que, prendendo duas pessoas, perpetua neste mundo a humanidade. Não há instituição mais admirável, nem mais importante e respeitável. Em todos os tempos e para todos os povos o matrimônio teve sempre um caráter religioso, porque a família é uma sociedade indissolúvel e santa, que não se pode privar das bênçãos divinas. Cristo firmou esta verdade quando declarou que a união do homem com a mulher é uma união legítima e perpétua, que está acima do abalo das paixões, e, sendo instituída pelo próprio Deus, não pode estar sujeita aos caprichos dos homens. Jesus fez do matrimônio um dos sacramentos de sua Igreja. O que muitas vezes se esquece é que o matrimônio é da esfera da família e do indivíduo; o matrimônio se inaugura dentro da família; os nubentes saem da família e saem para constituir nova família. É pois um ato que se realiza em função da família e dentro da família e aí produz os seus efeitos. O contrato civil é mera formalidade legal para regularizar os interesses materiais dos esposos, mas não pode ser considerado como matrimônio. É apenas sob este ângulo que os fiéis cumprem rigorosamente as leis do Estado. Eis porque as pessoas, que se contentam unicamente com essa formalidade legal, não podem receber os sacramentos da penitência e da comunhão. O matrimônio de fato, é uma instituição santa. Sua origem é divina, como lemos nas primeiras páginas da Bíblia: “Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, e criou-os homem e mulher. E Deus abençoou-os, dizendo-lhes: “Proliferai e multiplicai-vos, e povoai a terra” (Gên 1,27-28). Deste modo, o Ser Supremo querendo consagrar o primeiro casamento, estendeu a mão sobre a fronte do homem e da mulher e os santificou impondo-lhes a lei da fecundidade. Bênção que outorgou ao homem vigor e fez de Adão e Eva os pais de toda a raça humana. Um dia interrogado pelos Fariseus se era permitido despedir a esposa por qualquer motivo, Jesus, claramente, respondeu: “Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: - Por isso deixa o homem pai e mãe e une-se com sua mulher e os dois formam uma só carne? – Portanto, já não são dois, mas uma só carne. “Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Mt 19,3-7). Jesus não se contentou em restituir ao matrimônio a sua forma primitiva, mas ainda quis purificá-lo de todas as manchas (Mt 18, 8-10). São Paulo, comparando a união dos esposos com a união que existe entre Cristo e a Igreja declarou: “Grande mistério é este; mas digo-o referindo-me a Cristo e à Igreja. Resta, portanto, que ame também cada um de vós sua mulher como a si próprio e que a mulher respeite o marido (Ef 5, 32-33). Como a união de Cristo com a Igreja é santa, imaculada e permanente, também a união matrimonial deve ser santa, religiosa e perpétua. Uma não seria a imagem, a figura e a representação da outra, se não houvesse uma virtude santificante, que somente o sacramento pode conferir. Concede aos esposos a graça de se amarem com o mesmo amor com que Cristo amou a sua Igreja. A graça do sacramento leva à perfeição o amor humano dos esposos, consolida sua unidade indissolúvel e os santifica no caminho da vida eterna. O homem não amaria a sua esposa como o Cristo ama a Igreja, nem a mulher amaria o esposo como a Igreja ama Cristo, sem uma graça especial que purifique e sobrenaturalize o amor conjugal. O Salvador, entregando-se à sua Igreja, a santifica; o homem e a mulher, dando-se um ao outro, devem mutuamente santificar-se. Eis porque o matrimônio é um grande sacramento. O matrimônio é, realmente, algo sublime, um ato da vida ao qual Deus deve presidir e deve comunicar suas graças poderosas, a fim de que os esposos se conservem na mesma dileção e guardem fidelidade um ao outro até o último momento da vida. A essência natural do matrimônio é o amor que principia pela misteriosa simpatia e elevada empatia que surge entre duas pessoas. A bênção sacramental santifica este amor. A graça conferida pelo sacramento purifica a união, torna toleráveis as naturais dificuldades da existência neste vale de lágrimas até os últimos dias de vida de cada um dos esposos. A força do sacramento confere a perseverança e transforma os desgostos em virtudes; confere coragem para que suportem mutuamente as imperfeições um do outro, garantindo a fidelidade absoluta em qualquer circunstância da vida, garantindo uma grande recompensa no céu pela dedicação aos filhos, pelo amparo mútuo, pelos grandes triunfos que juntos conquistam para o tempo e a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sábado, 10 de dezembro de 2011
Louvores à Mãe de Família
LOUVORES Á MÃE DE FAMÍLIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais sobre a grandeza da mãe. Em maio o dia das mães fica instrumentalizado pelo comércio e nem sempre se reflete profundamente sobre o papel deste anjo de bondade. O próprio Filho de Deus, vindo a este mundo não dispensou os cuidados maternos. Do presépio até sua morte no alto da Cruz Maria esteve a seu lado, tendo os evangelistas registrado lances maravilhosos da presença desta mãe admirável.
A mãe é a expressão mais perfeita da dileção. Pelos engenho do seu amor, pelos afetos de sua ternura, ela apodera-se do coração e do espírito, de sorte que pode comunicar à alma dos filhos os melhores anseios da virtude, do bem, do temor e do amor a Deus. Ela transmite uma fé viva e forte e faz a alma abrir-se aos fulgores da religião, como a flor aos raios do sol. Desde o alvorecer da sua existência, o ser pensante, junto do seu berço, percebe a afeição materna, que vela sobre sua vida. Eis porque ao lado dos grandes personagens e dos mais ilustres santos, contemplamos, geralmente, uma mulher extraordinária, a mãe de família, que os guiou com a fulgor dos suas recomendações e das suas exortações, como o farol sobre os rochedos guia o navio na rota dos mares. Quando se percorre a vida dos homens, que mais ilustraram a humanidade e a Igreja logo se indaga quem foi sua mãe. Ao lado de S. Basílio vemos Emélia, sua carinhosa genitora; com S. Agostinho aparece S. Mônica, que se sacrificou dia e noite para obter a conversão do filho; junto ao berço de S. Luis está Branca de Castela a inspirar-lhe a aversão do pecado; ao lado de São João Bosco surge a figura humilde e simpática de Margarida Occhiena; de Santo Afonso de Ligório, Ana Cavalieri; de São João Berchmans, Elizabeth Hove; de Santa Luzia, Eutíquia; de Santa Maria Goretti, Assunta. Estas piedosas mães, entre milhares de outras, se fizeram exemplo a serem imitado. As mães cristãs se parecem com a Igreja, que também é mãe. A Igreja trabalha, luta e sofre, para salvar os seus filhos que, neste mundo, estão expostos a muitos perigos; não esquece aqueles que morreram na graça divina e, por causa de algumas imperfeições, purificam-se no purgatório antes de entrarem no reino celeste. Recorda-se ainda dos que exultam na eternidade junto de Deus, gozando das delícias eternas. Por causa destas várias maneiras de sua existência, a Igreja recebe os títulos de Igreja militante, padecente e triunfante. A mãe de família também muito trabalha e muito sofre pelos seus filhos. Algumas vezes trás o coração dilacerado pelo filho que se desviou e se entrega às drogas e outros vícios; outras vezes se imerge na verdadeira alegria, vendo o filho, já homem, seguir o bom caminho, de sorte que o amor materno é também um amor militante, padecente e triunfante. O mistério materno é uma pugna contínua. Antes de tudo é um ministério de consagração. Ainda não nasceu a criança e as mães imitando a Virgem Santíssima, quando em seu seio trazia o menino Jesus, já repetem o mesmo cântico: “Minha alma glorifica o Senhor, exulta o meu espírito em Deus meu salvador”, pois degusta desde a concepção do filho a grandeza da maternidade. Quantas mães poderiam repetir com estas ou outras palavras o que Madalena d’Aguesseau escreveu para o seu filho: “Ainda te trazia em meu seio e já tinha te consagrado a Deus. Quando te apresentaram a mim, depois do batismo, dirigi ao céu esta oração: Confirmai, Senhor, o que fizestes em vosso santo templo. Eu vos dou graças de todo o bem que fizestes a esta criança, e vo-la ofereço de todo coração. Mais do que a mim ela vos pertence”. Santa Isabel da Hungria, depois do batismo de seus filhos, tinha o costume de ir visitar qualquer igreja da cidade. Colocava então o filhinho sobre o altar, dizendo: “Senhor Jesus, eu vos ofereço assim como à vossa santa mãe, a Virgem Maria, esta criança, fruto do meu seio. Eu vo-la entrego como vós me destes. Sois o soberano e o pai carinhoso da mãe e do filho. A única oração que hoje vos dirijo, a única graça que vos peço, é de receber este menino, ainda banhado com minhas lágrimas e com o vosso santo batismo, no número dos vossos amigos e de dar-lhe vossa santa bênção”. Assim são as mães cristãs que depois se dedicam à formação, educação e formação do corpo e da alma de seus filhos. Pela sua dedicação, pelos seus sacrifícios, pela suas provas de ternura as mães merecem todas as atenções de seus filhos. Nada mais desagrada a Deus do que a falta de amor e respeito àquela que o gerou. Mormente no final de suas existências elas devem receber toda assistência, todo carinho. Muitos filhos desalmados, porém, não dão assistência a suas mães na doença e, tantas vezes, a jogam num asilo e nem as vão visitar. Venturosos, contudo, os filhos que sabem honrar suas mães e as alegram com uma vida nobre e digna. Terão sempre de Deus as melhores bênçãos e graças! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais sobre a grandeza da mãe. Em maio o dia das mães fica instrumentalizado pelo comércio e nem sempre se reflete profundamente sobre o papel deste anjo de bondade. O próprio Filho de Deus, vindo a este mundo não dispensou os cuidados maternos. Do presépio até sua morte no alto da Cruz Maria esteve a seu lado, tendo os evangelistas registrado lances maravilhosos da presença desta mãe admirável.
A mãe é a expressão mais perfeita da dileção. Pelos engenho do seu amor, pelos afetos de sua ternura, ela apodera-se do coração e do espírito, de sorte que pode comunicar à alma dos filhos os melhores anseios da virtude, do bem, do temor e do amor a Deus. Ela transmite uma fé viva e forte e faz a alma abrir-se aos fulgores da religião, como a flor aos raios do sol. Desde o alvorecer da sua existência, o ser pensante, junto do seu berço, percebe a afeição materna, que vela sobre sua vida. Eis porque ao lado dos grandes personagens e dos mais ilustres santos, contemplamos, geralmente, uma mulher extraordinária, a mãe de família, que os guiou com a fulgor dos suas recomendações e das suas exortações, como o farol sobre os rochedos guia o navio na rota dos mares. Quando se percorre a vida dos homens, que mais ilustraram a humanidade e a Igreja logo se indaga quem foi sua mãe. Ao lado de S. Basílio vemos Emélia, sua carinhosa genitora; com S. Agostinho aparece S. Mônica, que se sacrificou dia e noite para obter a conversão do filho; junto ao berço de S. Luis está Branca de Castela a inspirar-lhe a aversão do pecado; ao lado de São João Bosco surge a figura humilde e simpática de Margarida Occhiena; de Santo Afonso de Ligório, Ana Cavalieri; de São João Berchmans, Elizabeth Hove; de Santa Luzia, Eutíquia; de Santa Maria Goretti, Assunta. Estas piedosas mães, entre milhares de outras, se fizeram exemplo a serem imitado. As mães cristãs se parecem com a Igreja, que também é mãe. A Igreja trabalha, luta e sofre, para salvar os seus filhos que, neste mundo, estão expostos a muitos perigos; não esquece aqueles que morreram na graça divina e, por causa de algumas imperfeições, purificam-se no purgatório antes de entrarem no reino celeste. Recorda-se ainda dos que exultam na eternidade junto de Deus, gozando das delícias eternas. Por causa destas várias maneiras de sua existência, a Igreja recebe os títulos de Igreja militante, padecente e triunfante. A mãe de família também muito trabalha e muito sofre pelos seus filhos. Algumas vezes trás o coração dilacerado pelo filho que se desviou e se entrega às drogas e outros vícios; outras vezes se imerge na verdadeira alegria, vendo o filho, já homem, seguir o bom caminho, de sorte que o amor materno é também um amor militante, padecente e triunfante. O mistério materno é uma pugna contínua. Antes de tudo é um ministério de consagração. Ainda não nasceu a criança e as mães imitando a Virgem Santíssima, quando em seu seio trazia o menino Jesus, já repetem o mesmo cântico: “Minha alma glorifica o Senhor, exulta o meu espírito em Deus meu salvador”, pois degusta desde a concepção do filho a grandeza da maternidade. Quantas mães poderiam repetir com estas ou outras palavras o que Madalena d’Aguesseau escreveu para o seu filho: “Ainda te trazia em meu seio e já tinha te consagrado a Deus. Quando te apresentaram a mim, depois do batismo, dirigi ao céu esta oração: Confirmai, Senhor, o que fizestes em vosso santo templo. Eu vos dou graças de todo o bem que fizestes a esta criança, e vo-la ofereço de todo coração. Mais do que a mim ela vos pertence”. Santa Isabel da Hungria, depois do batismo de seus filhos, tinha o costume de ir visitar qualquer igreja da cidade. Colocava então o filhinho sobre o altar, dizendo: “Senhor Jesus, eu vos ofereço assim como à vossa santa mãe, a Virgem Maria, esta criança, fruto do meu seio. Eu vo-la entrego como vós me destes. Sois o soberano e o pai carinhoso da mãe e do filho. A única oração que hoje vos dirijo, a única graça que vos peço, é de receber este menino, ainda banhado com minhas lágrimas e com o vosso santo batismo, no número dos vossos amigos e de dar-lhe vossa santa bênção”. Assim são as mães cristãs que depois se dedicam à formação, educação e formação do corpo e da alma de seus filhos. Pela sua dedicação, pelos seus sacrifícios, pela suas provas de ternura as mães merecem todas as atenções de seus filhos. Nada mais desagrada a Deus do que a falta de amor e respeito àquela que o gerou. Mormente no final de suas existências elas devem receber toda assistência, todo carinho. Muitos filhos desalmados, porém, não dão assistência a suas mães na doença e, tantas vezes, a jogam num asilo e nem as vão visitar. Venturosos, contudo, os filhos que sabem honrar suas mães e as alegram com uma vida nobre e digna. Terão sempre de Deus as melhores bênçãos e graças! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Imenso valor das preces dos pais
IMENSO VALOR DAS PRECES DOS PAIS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais sobre a importância das preces e bênçãos do pai e da mãe. Num mundo conturbado como o de hoje, mais do que nunca, os pais precisam ter confiança plena, total. absoluta no valor de suas orações pelos filhos, procurando abençoá-los na certeza de que são, de fato, os representantes de Deus, responsáveis pela felicidade daqueles que trouxeram a este mundo. O capítulo 49 de Gênesis narra como Jacó, reunidos os seus filhos e após lhes falar, abençoou-os cada um dos doze com uma bênção peculiar. A bênção dos patriarcas não só assegurava aos seus descendentes a herança temporal, mas ainda dava-lhes a esperança do Messias que nasceria numa família humana. Do mesmo modo a bênção dos pais confere a proteção divina, e atrai as graças divinas para aqueles que devem ser herdeiros do reino dos céus. Lê-se no Livro do Eclesiástico: “A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces. (Ecl 3,11). Grande responsabilidade dos pais! Em outros tempos, os filhos pela manhã e à noite pediam a bênção de seus pais, costume que ainda reina, venturosamente, porém, em muitos lares. Mesmo que os filhos não tomem explicitamente esta atitude, cumpre a seus progenitores nas suas ardentes preces pedirem a Deus proteção tão necessária, mormente, no contexto atual no qual se multiplicam os perigos que levam à perdição eterna. Como é belo o gesto de um pai e de uma mãe a traçar o sinal da cruz no seu filhinho! É que a casa paterna é um santuário sagrado onde tudo se alcança do Todo-Poderoso. A família, sendo uma instituição santa e divina, torna o lar doméstico é, realmente, um lugar sagrado, no qual um ato religioso exercido pelo pai e pela mãe de família é de vital necessidade. Pode ser que pelas estradas da vida este ou aquele filho se extravie, mas, um dia, mais hora menos hora, voltará ao bom caminho. Os genitores receberam de Deus o poder de abençoar e, como o Ser Supremo abençoou o cosmos, a criação e a humanidade, os pais abençoam os filhos e a família que são, por assim dizer, a sua criação. Na hagiografia lemos que os mártires pediam a bênção paterna, e os pais, muitas vezes, com os braços carregados de cadeias, caminhando ao suplício, abençoavam os filhos nas prisões ou na rota que levava ao martírio. Santa Felicidade, em Cartago, abençoou sua filha nascida na prisão e morreu tranqüila e uma senhora cristã tomou a guarda da menina e educou. São Basílio de Cesárea pedia e recebia sempre a bênção de sua venerável mãe Emélia. Na história das nações aparece o imperador romano do Ocidente, Teodósio, abençoando publicamente, antes de partir para a guerra, os seus dois filhos, aos quais iria entregar o governo do império. S. Luis, Rei de França, morrendo entre as ruínas da cidade de Cartago, deu a bênção suprema ao filho que lhe devia suceder no trono. O guerreiro francês Pierre Terrail, senhor de Bayard, antes de partir para o campo militar inclinou-se respeitosamente diante de seu pai e tomou-lhe a bênção, a fim de que nunca ousasse praticar o mal. Entre os sábios se encontra, por exemplo, João Gerson, Chanceler da Universidade de Paris, vindo todos os dias rogar a seu pai e a sua mãe que o abençoassem. Entre os magistrados e os grandes homens de Estado cita-se Thomaz Morus, ilustre ministro inglês, não faltando um só dia, mesmo no tempo de sua maior glória, de pedir a bênção paterna. A idade não dispensa a prática deste gesto filial, porque, em qualquer tempo, as graças divinas são necessárias através destes seus representantes. A bênção é um augúrio de ventura, é a vontade paterna suplicando a vontade divina para que os filhos sejam ditosos. Não é uma simples saudação, como aquela que se verifica entre amigos, mas é um ato santo que atrai sobre os que são abençoados as graças do céu. Quando o pai ou a mãe aproximam-se de um filho para abençoá-lo, oram a Deus, e o simples ato de abençoar equivale, segundo grandes teólogos a esta oração: “Sê feliz, ó meu filho! Seja Deus a tua guarda e a tua defesa contra o mal. Não sendo eu o senhor do tempo, nem tão pouco sabendo o que te possa acontecer, entrego-te àquele que te ama muito mais do que eu, que sabe mais do que eu e pode mais do que eu. Minha vigilância não poderá te acompanhar por toda parte, nem o meu braço te proteger, mas Deus está presente em todo lugar, e o sinal da cruz, que faço sobre a tua fronte, será, longe de mim, tua força e tua proteção. Que Deus pois te abençoe”. Trata-se de um voto e de uma oração que infalivelmente sobe até o céu. O pai e a mãe de família, tendo obrigação de abençoar e de orar, têm o direito de serem atendidos. A bênção, por conseguinte, dada em nome de Deus, de quem são os lugar-tenentes no lar doméstico, possui uma eficácia divina. Que os pais sempre abençoem seus filhos, rezem por eles e que os filhos confiem nesta bênção e nestas preces e o mundo será melhor! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais sobre a importância das preces e bênçãos do pai e da mãe. Num mundo conturbado como o de hoje, mais do que nunca, os pais precisam ter confiança plena, total. absoluta no valor de suas orações pelos filhos, procurando abençoá-los na certeza de que são, de fato, os representantes de Deus, responsáveis pela felicidade daqueles que trouxeram a este mundo. O capítulo 49 de Gênesis narra como Jacó, reunidos os seus filhos e após lhes falar, abençoou-os cada um dos doze com uma bênção peculiar. A bênção dos patriarcas não só assegurava aos seus descendentes a herança temporal, mas ainda dava-lhes a esperança do Messias que nasceria numa família humana. Do mesmo modo a bênção dos pais confere a proteção divina, e atrai as graças divinas para aqueles que devem ser herdeiros do reino dos céus. Lê-se no Livro do Eclesiástico: “A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces. (Ecl 3,11). Grande responsabilidade dos pais! Em outros tempos, os filhos pela manhã e à noite pediam a bênção de seus pais, costume que ainda reina, venturosamente, porém, em muitos lares. Mesmo que os filhos não tomem explicitamente esta atitude, cumpre a seus progenitores nas suas ardentes preces pedirem a Deus proteção tão necessária, mormente, no contexto atual no qual se multiplicam os perigos que levam à perdição eterna. Como é belo o gesto de um pai e de uma mãe a traçar o sinal da cruz no seu filhinho! É que a casa paterna é um santuário sagrado onde tudo se alcança do Todo-Poderoso. A família, sendo uma instituição santa e divina, torna o lar doméstico é, realmente, um lugar sagrado, no qual um ato religioso exercido pelo pai e pela mãe de família é de vital necessidade. Pode ser que pelas estradas da vida este ou aquele filho se extravie, mas, um dia, mais hora menos hora, voltará ao bom caminho. Os genitores receberam de Deus o poder de abençoar e, como o Ser Supremo abençoou o cosmos, a criação e a humanidade, os pais abençoam os filhos e a família que são, por assim dizer, a sua criação. Na hagiografia lemos que os mártires pediam a bênção paterna, e os pais, muitas vezes, com os braços carregados de cadeias, caminhando ao suplício, abençoavam os filhos nas prisões ou na rota que levava ao martírio. Santa Felicidade, em Cartago, abençoou sua filha nascida na prisão e morreu tranqüila e uma senhora cristã tomou a guarda da menina e educou. São Basílio de Cesárea pedia e recebia sempre a bênção de sua venerável mãe Emélia. Na história das nações aparece o imperador romano do Ocidente, Teodósio, abençoando publicamente, antes de partir para a guerra, os seus dois filhos, aos quais iria entregar o governo do império. S. Luis, Rei de França, morrendo entre as ruínas da cidade de Cartago, deu a bênção suprema ao filho que lhe devia suceder no trono. O guerreiro francês Pierre Terrail, senhor de Bayard, antes de partir para o campo militar inclinou-se respeitosamente diante de seu pai e tomou-lhe a bênção, a fim de que nunca ousasse praticar o mal. Entre os sábios se encontra, por exemplo, João Gerson, Chanceler da Universidade de Paris, vindo todos os dias rogar a seu pai e a sua mãe que o abençoassem. Entre os magistrados e os grandes homens de Estado cita-se Thomaz Morus, ilustre ministro inglês, não faltando um só dia, mesmo no tempo de sua maior glória, de pedir a bênção paterna. A idade não dispensa a prática deste gesto filial, porque, em qualquer tempo, as graças divinas são necessárias através destes seus representantes. A bênção é um augúrio de ventura, é a vontade paterna suplicando a vontade divina para que os filhos sejam ditosos. Não é uma simples saudação, como aquela que se verifica entre amigos, mas é um ato santo que atrai sobre os que são abençoados as graças do céu. Quando o pai ou a mãe aproximam-se de um filho para abençoá-lo, oram a Deus, e o simples ato de abençoar equivale, segundo grandes teólogos a esta oração: “Sê feliz, ó meu filho! Seja Deus a tua guarda e a tua defesa contra o mal. Não sendo eu o senhor do tempo, nem tão pouco sabendo o que te possa acontecer, entrego-te àquele que te ama muito mais do que eu, que sabe mais do que eu e pode mais do que eu. Minha vigilância não poderá te acompanhar por toda parte, nem o meu braço te proteger, mas Deus está presente em todo lugar, e o sinal da cruz, que faço sobre a tua fronte, será, longe de mim, tua força e tua proteção. Que Deus pois te abençoe”. Trata-se de um voto e de uma oração que infalivelmente sobe até o céu. O pai e a mãe de família, tendo obrigação de abençoar e de orar, têm o direito de serem atendidos. A bênção, por conseguinte, dada em nome de Deus, de quem são os lugar-tenentes no lar doméstico, possui uma eficácia divina. Que os pais sempre abençoem seus filhos, rezem por eles e que os filhos confiem nesta bênção e nestas preces e o mundo será melhor! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
IMACULADA CONCEIÇÃO
IMACULADA CONCEIÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo, mas esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em redor do título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas as perfeições que nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher singular fulge a Imaculada Conceição, ou seja, a isenção do pecado original no mesmo momento em que a sua alma foi criada e unida ao corpo. Todos nós nascemos privados da graça santificante, da pureza primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura, imaculada, como outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles desobedeceram a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original. Para a Rainha das Virgens, entretanto, tudo é luz. Ela entrou no mundo destinada a ser a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com todos os esplendores da divindade de Cristo a quem conceberia pelo poder do Espírito Santo. Eis porque todas as belas-artes, cujo ideal é a beleza sem mancha e sem defeitos, inclinaram-se diante da Virgem imaculada, prestando-lhe homenagens, proclamando-a a sua rainha e procurando reproduzir-lhe os traços nos mais primorosos trabalhos humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do gênio de Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da virtude de Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de Maria que fez vibrar a alma de Mozart e de Gounod, entoando a Ave-Maria; foi a beleza imaculada de Maria que guiou o buril dos artistas na pureza das linhas, na graciosidade dos contornos, na harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o encanto de nossas igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza imaculada de Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de reformar os seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a beleza imaculada de Maria que suscitou através dos tempos as virgens cristãs em sua radiante pureza e na sublimidade do seu heroísmo. Foi quem depositou na fronte de nossas mães a modéstia, a graça, uma doce majestade que são ao mesmo tempo a honra, a segurança e a felicidade da família. Ela é a cheia de graça, a bendita entre todas as mulheres. Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em que ela estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os séculos cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, por uma graça especial e um privilégio do Altíssimo, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada da mancha do pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem igual, lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que em seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da tarde reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios solares, quando o astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim Maria, recebendo a eficácia dos méritos do Redentor, apareceu na terra iluminada e foi sempre pura, santa, sem mancha, original. Jesus é realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte, a humanidade lhe é tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos salvíficos do Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da vida de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio dessa vida não poderia ser viciado. A Virgem santa, que apresenta ao mundo o vencedor do pecado, não poderia estar um instante sequer sob a lei do pecado. Aquela por cujo intermédio a graça divina derrama-se sobre a criatura não viveria, ainda que um só momento, fora da graça. A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do Filho, e ainda que Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma sombra em sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, não teria podido vencer o mal em sua santa Mãe, e a graça, que tudo purifica, teria sido impotente na Conceição de Maria. Não nos basta, porém, recordar toda a grandeza da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua pureza sem mancha numa pugna constante contra tudo que possa conspurcar a alma numa fuga perseverante das ocasiões de pecado, das novelas obscenas, dos sites pornográficos, enfim de tudo que a mídia sob inspiração do Maligno oferece para perdição eterna. Observância total, absoluta do sexto e do nono mandamentos sagrados da Lei de Deus. Por isto, o cristão está sempre a repetir: “O Maria concebida sem pecado original, rogai a Deus por nós que recorremos a vós”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo, mas esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em redor do título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas as perfeições que nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher singular fulge a Imaculada Conceição, ou seja, a isenção do pecado original no mesmo momento em que a sua alma foi criada e unida ao corpo. Todos nós nascemos privados da graça santificante, da pureza primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura, imaculada, como outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles desobedeceram a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original. Para a Rainha das Virgens, entretanto, tudo é luz. Ela entrou no mundo destinada a ser a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com todos os esplendores da divindade de Cristo a quem conceberia pelo poder do Espírito Santo. Eis porque todas as belas-artes, cujo ideal é a beleza sem mancha e sem defeitos, inclinaram-se diante da Virgem imaculada, prestando-lhe homenagens, proclamando-a a sua rainha e procurando reproduzir-lhe os traços nos mais primorosos trabalhos humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do gênio de Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da virtude de Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de Maria que fez vibrar a alma de Mozart e de Gounod, entoando a Ave-Maria; foi a beleza imaculada de Maria que guiou o buril dos artistas na pureza das linhas, na graciosidade dos contornos, na harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o encanto de nossas igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza imaculada de Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de reformar os seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a beleza imaculada de Maria que suscitou através dos tempos as virgens cristãs em sua radiante pureza e na sublimidade do seu heroísmo. Foi quem depositou na fronte de nossas mães a modéstia, a graça, uma doce majestade que são ao mesmo tempo a honra, a segurança e a felicidade da família. Ela é a cheia de graça, a bendita entre todas as mulheres. Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em que ela estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os séculos cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, por uma graça especial e um privilégio do Altíssimo, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada da mancha do pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem igual, lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que em seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da tarde reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios solares, quando o astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim Maria, recebendo a eficácia dos méritos do Redentor, apareceu na terra iluminada e foi sempre pura, santa, sem mancha, original. Jesus é realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte, a humanidade lhe é tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos salvíficos do Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da vida de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio dessa vida não poderia ser viciado. A Virgem santa, que apresenta ao mundo o vencedor do pecado, não poderia estar um instante sequer sob a lei do pecado. Aquela por cujo intermédio a graça divina derrama-se sobre a criatura não viveria, ainda que um só momento, fora da graça. A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do Filho, e ainda que Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma sombra em sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, não teria podido vencer o mal em sua santa Mãe, e a graça, que tudo purifica, teria sido impotente na Conceição de Maria. Não nos basta, porém, recordar toda a grandeza da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua pureza sem mancha numa pugna constante contra tudo que possa conspurcar a alma numa fuga perseverante das ocasiões de pecado, das novelas obscenas, dos sites pornográficos, enfim de tudo que a mídia sob inspiração do Maligno oferece para perdição eterna. Observância total, absoluta do sexto e do nono mandamentos sagrados da Lei de Deus. Por isto, o cristão está sempre a repetir: “O Maria concebida sem pecado original, rogai a Deus por nós que recorremos a vós”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
A verdadeira fraternidade
A VERDADEIRA FRATERNIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto histórico atual, conturbado e no qual muitos valores são desprezados cumpre se recorde a necessidade da fraternidade nos lares. O respeito e a dileção entre os irmãos devem ser sempre mais incrementados. Jesus honrou de um modo especial a companhia fraterna. O Mestre divino tendo escolhido doze apóstolos, entre esses doze há seis irmãos: Pedro e André; Judas e Tiago o menor; João e Tiago o maior, de sorte que a metade do colégio apostólico estava unida pelos laços da fraternidade. Esta união entre irmãos, que Deus fez tão profunda, mostra claramente quão esplêndido é este laço familiar. Fraternidade é a associação das mesmas convicções, dos mesmos ideais e interesses. Os irmãos têm o dever de se amarem, de se santificarem e de se protegerem. Afeição, santificação e auxílio mútuo, eis o que precisa fulgir na sociedade fraterna. Antes de tudo entre irmãos e irmãs deve haver a união dos corações. Ninguém pode verdadeiramente amar se não ama em casa o seu irmão ou sua irmã. A força do laço que Deus formou entre irmãos, dando-lhes os mesmos pais, fazendo-os sair da mesma família, nutrindo-os com o mesmo leite, honrando-os com o mesmo nome familiar, os une completa e intimamente. Nada pode quebrar e destruir esses vínculos de sangue. Há, porém, outros não menos fortes, formados pela vida em comum, a saber: a companhia da infância e da adolescência, os mesmos brinquedos, as mesmas alegrias, as mesmas tristezas, os mesmos estudos primários e, mais tarde, a recordação desses dias vividos em comum, são recordações influentes que levam conservar a união entre esses que descendem dos mesmos pais. A Bíblia encontra imagens vivas para exprimir a graça, a beleza e a doçura que há na amizade fraterna. Diz Davi: “Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. (Sl 132,1) Deus lhes dará a sua bênção, e essa bênção os acompanhará nesta vida e na outra. O Livro santo declara dignos do reino dos céus os irmãos que, se protegendo mutuamente, atravessam a vida ligada por um laço invisível que os prenderá na eternidade. A família vê neles um tesouro e Deus do alto do céu os espera e os abençoa. A história da Igreja mostra muitos destes modelos. Apresenta os irmãos mártires João e Paulo, Donaciano e Rogaciano, Cosme e Damião, marchando alegres para o suplicio, animando-se para que soubessem sofrer por Cristo. Lembra na cidade de Nazianzo Gregório, Cesário e a sua jovem irmã Gorgonia, ternamente a amarem seus velhos pais, e não consentindo que o luxo e a indolência penetrassem na casa paterna. Na cidade de Cesareia vemos São Basílio e, entre seus nove irmãos que viviam a autêntica fraternidade, figuraram Gregório de Nissa, Macrina, a Jovem e Pedro de Sebaste, todos canonizados pela Igreja. Em Milão, Santo Ambrósio e a virgem Marcelina viviam da mesma vida, das mesmas virtudes e da mesma santidade. A História patenteia infelizmente também o espantoso espetáculo de irmãos inimigos. A humanidade começava apenas, e já o fratricídio ensangüentava a terra. Caim assassinava o seu irmão Abel. Desde esse dia a guerra não desapareceu mais do seio da família, como do grêmio das nações. José foi vendido pelos seus irmãos; Jacó foi perseguido por Esaú. Tudo isto fruto da inveja e da devassidão. Foi a invídia que levou Caim a assassinar o seu irmão; a inveja e a ambição foram as causas de José ser vendido por seus irmãos. Ainda hoje dá-se o mesmo espetáculo reproduzido pelos mesmos vícios. Alguém, vendo o seu irmão mais conceituado, mais estimado, ocupando na sociedade posição mais saliente, o detesta. Uma irmã virtuosa, delicada e amável, só encontra repulsão junto de um irmão que ela desejaria conservar puro e bom. Os conselhos fraternos são mal recebidos. Tudo isto porque a invídia e sobretudo a corrupção já destruíram o verdadeiro amor, único laço que pode conservar unidos os corações. Os mesmos sentimentos, o mesmo pensar, as mesmas alegrias desaparecem e lá onde não há união dos corações não pode haver amizade. Como é triste o desespero de tantas mães a se queixarem que seus filhos estão em pé de guerra por causa das drogas e outros desvios morais! Corações nobres, honestos, delicados não chegam jamais a tais aberrações. Tudo isto por falta do temor de Deus que é o início da sabedoria. Mais do que nunca a santidade precisa reinar nos lares. A fé, a prática cristã, os bons princípios, os bons exemplos devem existir no tesouro da amizade fraterna. Irmãos, não por um dia, mas para sempre, e seria um desgosto, um desespero, para a verdadeira fraternidade, se o seu destino não fosse a eternidade feliz. Todos os irmãos um dia na Casa do Pai, eis o projeto de vida dos que foram criados na mesma casa e pelos mesmos pais. Quando é impossível corrigir os defeitos e os erros do irmão com os conselhos, cumpre mostrar-lhe o exemplo. Além de tudo, isto é preciso a proteção mutua. Os irmãos que se protegem mutuamente são como uma cidade forte e bem defendida. A família revela assim um novo vigor, mostra a sua grande força de coesão dentro do plano divino * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto histórico atual, conturbado e no qual muitos valores são desprezados cumpre se recorde a necessidade da fraternidade nos lares. O respeito e a dileção entre os irmãos devem ser sempre mais incrementados. Jesus honrou de um modo especial a companhia fraterna. O Mestre divino tendo escolhido doze apóstolos, entre esses doze há seis irmãos: Pedro e André; Judas e Tiago o menor; João e Tiago o maior, de sorte que a metade do colégio apostólico estava unida pelos laços da fraternidade. Esta união entre irmãos, que Deus fez tão profunda, mostra claramente quão esplêndido é este laço familiar. Fraternidade é a associação das mesmas convicções, dos mesmos ideais e interesses. Os irmãos têm o dever de se amarem, de se santificarem e de se protegerem. Afeição, santificação e auxílio mútuo, eis o que precisa fulgir na sociedade fraterna. Antes de tudo entre irmãos e irmãs deve haver a união dos corações. Ninguém pode verdadeiramente amar se não ama em casa o seu irmão ou sua irmã. A força do laço que Deus formou entre irmãos, dando-lhes os mesmos pais, fazendo-os sair da mesma família, nutrindo-os com o mesmo leite, honrando-os com o mesmo nome familiar, os une completa e intimamente. Nada pode quebrar e destruir esses vínculos de sangue. Há, porém, outros não menos fortes, formados pela vida em comum, a saber: a companhia da infância e da adolescência, os mesmos brinquedos, as mesmas alegrias, as mesmas tristezas, os mesmos estudos primários e, mais tarde, a recordação desses dias vividos em comum, são recordações influentes que levam conservar a união entre esses que descendem dos mesmos pais. A Bíblia encontra imagens vivas para exprimir a graça, a beleza e a doçura que há na amizade fraterna. Diz Davi: “Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. (Sl 132,1) Deus lhes dará a sua bênção, e essa bênção os acompanhará nesta vida e na outra. O Livro santo declara dignos do reino dos céus os irmãos que, se protegendo mutuamente, atravessam a vida ligada por um laço invisível que os prenderá na eternidade. A família vê neles um tesouro e Deus do alto do céu os espera e os abençoa. A história da Igreja mostra muitos destes modelos. Apresenta os irmãos mártires João e Paulo, Donaciano e Rogaciano, Cosme e Damião, marchando alegres para o suplicio, animando-se para que soubessem sofrer por Cristo. Lembra na cidade de Nazianzo Gregório, Cesário e a sua jovem irmã Gorgonia, ternamente a amarem seus velhos pais, e não consentindo que o luxo e a indolência penetrassem na casa paterna. Na cidade de Cesareia vemos São Basílio e, entre seus nove irmãos que viviam a autêntica fraternidade, figuraram Gregório de Nissa, Macrina, a Jovem e Pedro de Sebaste, todos canonizados pela Igreja. Em Milão, Santo Ambrósio e a virgem Marcelina viviam da mesma vida, das mesmas virtudes e da mesma santidade. A História patenteia infelizmente também o espantoso espetáculo de irmãos inimigos. A humanidade começava apenas, e já o fratricídio ensangüentava a terra. Caim assassinava o seu irmão Abel. Desde esse dia a guerra não desapareceu mais do seio da família, como do grêmio das nações. José foi vendido pelos seus irmãos; Jacó foi perseguido por Esaú. Tudo isto fruto da inveja e da devassidão. Foi a invídia que levou Caim a assassinar o seu irmão; a inveja e a ambição foram as causas de José ser vendido por seus irmãos. Ainda hoje dá-se o mesmo espetáculo reproduzido pelos mesmos vícios. Alguém, vendo o seu irmão mais conceituado, mais estimado, ocupando na sociedade posição mais saliente, o detesta. Uma irmã virtuosa, delicada e amável, só encontra repulsão junto de um irmão que ela desejaria conservar puro e bom. Os conselhos fraternos são mal recebidos. Tudo isto porque a invídia e sobretudo a corrupção já destruíram o verdadeiro amor, único laço que pode conservar unidos os corações. Os mesmos sentimentos, o mesmo pensar, as mesmas alegrias desaparecem e lá onde não há união dos corações não pode haver amizade. Como é triste o desespero de tantas mães a se queixarem que seus filhos estão em pé de guerra por causa das drogas e outros desvios morais! Corações nobres, honestos, delicados não chegam jamais a tais aberrações. Tudo isto por falta do temor de Deus que é o início da sabedoria. Mais do que nunca a santidade precisa reinar nos lares. A fé, a prática cristã, os bons princípios, os bons exemplos devem existir no tesouro da amizade fraterna. Irmãos, não por um dia, mas para sempre, e seria um desgosto, um desespero, para a verdadeira fraternidade, se o seu destino não fosse a eternidade feliz. Todos os irmãos um dia na Casa do Pai, eis o projeto de vida dos que foram criados na mesma casa e pelos mesmos pais. Quando é impossível corrigir os defeitos e os erros do irmão com os conselhos, cumpre mostrar-lhe o exemplo. Além de tudo, isto é preciso a proteção mutua. Os irmãos que se protegem mutuamente são como uma cidade forte e bem defendida. A família revela assim um novo vigor, mostra a sua grande força de coesão dentro do plano divino * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
O FIM DO ANO E OS EMPREGADOS DOMÉSTICOS
O
O FIM DO ANO E OS FUNCIONÁRIOS DO LAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No lar doméstico há pessoas que, sem estarem unidas pelos laços do parentesco, fazem, entretanto, parte da família. Eram antigamente chamados de criados ou empregados, mas agora foram promovidos a funcionários (as) ou secretários (as) do lar. São domésticos, isto é, pessoas da casa, embora hoje com as leis empregatícias cumpram um horário que lhes permite retornar a suas moradias. Eles inspiram confiança, granjeando e estima dos que os contratam. Seus bons serviços deixam vestígios que geram gratidão. A Bíblia se refere aos que exercem esta atividade com sumo respeito, grande delicadeza e caridade peculiar. Assim aconteceu com o servo de Abraão, Eliezer, cujas ocupações fizeram prosperar a casa do seu amo; Judith que tomou parte na heróica expedição de sua senhora; a dedicada assistente do leproso Naaman que tanto trabalhou pela saúde de seu senhor. A lei mosaica sobre os deveres dos empregadores é toda cheia de equidade e de mansidão, mas foi sobrepujada pela a lei do Evangelho, que é a norma da dileção, ainda mais delicada e mais caritativa. Aliás, o Filho de Deus foi visto como um simples serviçal, lavando os pés dos seus discípulos. Nota-se mesmo alguma preferência do divino Mestre para com aqueles que prestam tais misteres. Um dia, um nobre da sinagoga, um ilustre de Israel vem suplicar-lhe que tenha dele compaixão e restitua a saúde ao seu filho que está agonizando. O Mestre divino acata o pedido, mas ele não vai à casa do enfermo. Um outro dia, porém, não é mais um príncipe, um poderoso do mundo, que vem implorar a sua proteção divina, é um empregado do centurião romano. Jesus não somente atende a suplica, mas vai em pessoa ver o doente à beira da morte. O mesmo amor divino brilha em um e outro caso, porém, há mais atenção ainda no segundo, patenteando uma preferência especial do Redentor pelos humildes e pequeninos. Grandes, contudo, os deveres daqueles que se relacionam como empregadores e os que acatam lhes prestarem préstimos. Antes de tudo convém notar que estes devem respeitar os que os aceitam como colaboradores, realizando todas as tarefas com competência, se adaptando ao perfil caracteriológico de quem os contratou e, outrossim, às recomendações do mesmo. Muitas vezes, ficar falando o tempo todo acaba por aborrecer, sobretudo se o dono da casa se entrega a trabalhos intelectuais que exigem concentração contínua. Se assim não procedem, não fazem jus aos seus salários, porque ninguém paga o outro para ser molestado ou mal servido por ele. Para que algo seja devido é necessário merecê-lo ou ganhá-lo, cumprindo escrupulosamente o que foi estipulado entre aquele que serve e aquele que é servido. O dever conhecido e observado pelos que foram contratados e a bondade por parte do contratante. Todos somos irmãos em Cristo. Eles poderiam responder como uma personagem da corte do rei francês Luiz XV rebatendo à princesa Luiza. A jovem senhora, em um ímpeto de impertinência, lhe tinha dito: “Não sabeis que sou a filha do vosso rei?” — “E não sabeis, replicou a outra, que eu sou a filha do vosso Deus?” É que empregados e empregadores devem ver no outro a figura de Cristo. Pode-se dizer que os dois são úteis e necessários não sendo um mais útil e mais indispensável do que o outro, ou seja, aquele que serve ou aquele que é servido. Felizes aqueles que podem contar os serviços de pessoas competentes, educadas e de fina sensibilidade, como venturosos aqueles que mourejam numa casa onde seus direitos são respeitados e valorizado tudo o que fazem. Uns não valem mais que outros. Ambos devem praticar as virtudes do bom cristão. Henri Lacordaire dominicano, sacerdote, jornalista, educador, deputado e acadêmico e restaurador em França da Ordem dos Pregadores, escrevendo a um amigo, dizia-lhe: “Felicito-te por saber que encontraste um bom e digno empregado. Não esqueças que um servo fiel e dedicado é um dos grandes benefícios de Deus e um elemento poderoso de alegria”. Um elemento primordial é o respeito mútuo segundo os ditames do Evangelho e da boa educação. Há uma hierarquia a ser considerada. A divina Providencia estabeleceu a hierarquia entre os homens, e esta é a base da sociedade doméstica, onde a ordem não pode existir sem que cada individuo ocupe o seu lugar. Ora, o lugar dos empregadores é de dirigir e de governar, fazendo-se respeitar e obedecer, como o dos contratados é de executar fielmente as obrigações que lhes competem, acatando as diretrizes dos seus superiores e se esforçando para que nada se lhes possa censurar. O cumprimento do dever mútuo é a garantia da harmonia dentro de uma casa. Ao findar do ano uma reflexão como esta é importante para empregadores e secretários (as) do lar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
O FIM DO ANO E OS FUNCIONÁRIOS DO LAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No lar doméstico há pessoas que, sem estarem unidas pelos laços do parentesco, fazem, entretanto, parte da família. Eram antigamente chamados de criados ou empregados, mas agora foram promovidos a funcionários (as) ou secretários (as) do lar. São domésticos, isto é, pessoas da casa, embora hoje com as leis empregatícias cumpram um horário que lhes permite retornar a suas moradias. Eles inspiram confiança, granjeando e estima dos que os contratam. Seus bons serviços deixam vestígios que geram gratidão. A Bíblia se refere aos que exercem esta atividade com sumo respeito, grande delicadeza e caridade peculiar. Assim aconteceu com o servo de Abraão, Eliezer, cujas ocupações fizeram prosperar a casa do seu amo; Judith que tomou parte na heróica expedição de sua senhora; a dedicada assistente do leproso Naaman que tanto trabalhou pela saúde de seu senhor. A lei mosaica sobre os deveres dos empregadores é toda cheia de equidade e de mansidão, mas foi sobrepujada pela a lei do Evangelho, que é a norma da dileção, ainda mais delicada e mais caritativa. Aliás, o Filho de Deus foi visto como um simples serviçal, lavando os pés dos seus discípulos. Nota-se mesmo alguma preferência do divino Mestre para com aqueles que prestam tais misteres. Um dia, um nobre da sinagoga, um ilustre de Israel vem suplicar-lhe que tenha dele compaixão e restitua a saúde ao seu filho que está agonizando. O Mestre divino acata o pedido, mas ele não vai à casa do enfermo. Um outro dia, porém, não é mais um príncipe, um poderoso do mundo, que vem implorar a sua proteção divina, é um empregado do centurião romano. Jesus não somente atende a suplica, mas vai em pessoa ver o doente à beira da morte. O mesmo amor divino brilha em um e outro caso, porém, há mais atenção ainda no segundo, patenteando uma preferência especial do Redentor pelos humildes e pequeninos. Grandes, contudo, os deveres daqueles que se relacionam como empregadores e os que acatam lhes prestarem préstimos. Antes de tudo convém notar que estes devem respeitar os que os aceitam como colaboradores, realizando todas as tarefas com competência, se adaptando ao perfil caracteriológico de quem os contratou e, outrossim, às recomendações do mesmo. Muitas vezes, ficar falando o tempo todo acaba por aborrecer, sobretudo se o dono da casa se entrega a trabalhos intelectuais que exigem concentração contínua. Se assim não procedem, não fazem jus aos seus salários, porque ninguém paga o outro para ser molestado ou mal servido por ele. Para que algo seja devido é necessário merecê-lo ou ganhá-lo, cumprindo escrupulosamente o que foi estipulado entre aquele que serve e aquele que é servido. O dever conhecido e observado pelos que foram contratados e a bondade por parte do contratante. Todos somos irmãos em Cristo. Eles poderiam responder como uma personagem da corte do rei francês Luiz XV rebatendo à princesa Luiza. A jovem senhora, em um ímpeto de impertinência, lhe tinha dito: “Não sabeis que sou a filha do vosso rei?” — “E não sabeis, replicou a outra, que eu sou a filha do vosso Deus?” É que empregados e empregadores devem ver no outro a figura de Cristo. Pode-se dizer que os dois são úteis e necessários não sendo um mais útil e mais indispensável do que o outro, ou seja, aquele que serve ou aquele que é servido. Felizes aqueles que podem contar os serviços de pessoas competentes, educadas e de fina sensibilidade, como venturosos aqueles que mourejam numa casa onde seus direitos são respeitados e valorizado tudo o que fazem. Uns não valem mais que outros. Ambos devem praticar as virtudes do bom cristão. Henri Lacordaire dominicano, sacerdote, jornalista, educador, deputado e acadêmico e restaurador em França da Ordem dos Pregadores, escrevendo a um amigo, dizia-lhe: “Felicito-te por saber que encontraste um bom e digno empregado. Não esqueças que um servo fiel e dedicado é um dos grandes benefícios de Deus e um elemento poderoso de alegria”. Um elemento primordial é o respeito mútuo segundo os ditames do Evangelho e da boa educação. Há uma hierarquia a ser considerada. A divina Providencia estabeleceu a hierarquia entre os homens, e esta é a base da sociedade doméstica, onde a ordem não pode existir sem que cada individuo ocupe o seu lugar. Ora, o lugar dos empregadores é de dirigir e de governar, fazendo-se respeitar e obedecer, como o dos contratados é de executar fielmente as obrigações que lhes competem, acatando as diretrizes dos seus superiores e se esforçando para que nada se lhes possa censurar. O cumprimento do dever mútuo é a garantia da harmonia dentro de uma casa. Ao findar do ano uma reflexão como esta é importante para empregadores e secretários (as) do lar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
O VERBO DE DEUS HABITOU ENTRE NÓS
O VERBO DE DEUS HABITOU ENTRE NÓS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto materializado de hoje o que se esquece muitas vezes é que o Natal é por excelência o dia de festa, de perdão e de alegria, mas isto porque o Verbo de Deus nasceu e habitou entre nós. Há na mídia em geral o direcionamento da atenção para aspectos inteiramente deslocados da figura do Redentor. Numa emissora de televisão se escutou um absurdo como este: “Há falta de pessoas para representarem o Papai Noel e sem Papai Noel não há Natal” (sic). Adite-se a ceia do Natal, não como uma reunião familiar para se festejar o Menino Deus, mas para gastos gastronômicos exorbitantes regados com as mais requintadas bebidas, o que é também ocasião para lucro dos supermercados que instrumentalizam a data sagrada A grande preocupação do comércio é o ganho que deverá ser maior do que no ano precedente. Jesus, que precisa ser homenageado, fica em segundo plano. A humanidade recebeu do Divino Infante uma palavra que purificou e salvou e, contudo, muitos deixam de lhe preparar o coração para uma fervorosa, piedosa, celebração natalina. Tudo renasceu com Cristo, de sorte que o Natal do Jesus necessita ser ao mesmo tempo sua presença na existência de cada um de seus discípulos. Dia venturoso, de fato, no qual o Deus humanado para nós nasceu. Natal tem que ser o nosso dia de festa cristã e não pagã. A salvação não veio do palácio, nem do exército, nem da ciência, nem da força. Ela veio de um presépio, da pobreza, do que há de mais humilde e de mais fraco. Os anjos aos pastores de Belém, anunciando-lhes o nascimento de Cristo, lhes comunicou: “Não temais, pois vos anuncio um grande júbilo, para todo o povo. Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal:encontrareis um menino envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,10-13.). Os homens carecem de um pedestal suntuoso para que possam ser distinguidos por outros. Jesus procurou a humilhação. Sua grandeza, porém, é tãoverdadeira, o seu poder tão grande, a sua glória, tão sublime, que nem a pobreza, nem o abandono, nem os sofrimentos, podem ofuscar-lhe o fulgor. Ele nasce em um estábulo, mas a sua mãe é uma virgem; escolhe o silêncio da noite, mas uma estrela, iluminando o espaço, revela ao longe o nascimento do Salvador do mundo; apenas José e Maria presenciam fato tão maravilhoso, mas os pastores vêm adorá-lo e apresentar-lhe as primícias do amor da humanidade. Porque é Deus, Ele procede como Deus. A sua modéstia vai indicar aos homens o caminho da reabilitação e da virtude; a sua humilhação dir-lhes-á que na terra tudo é vaidade e soberba; os seus sofrimentos ensinarão que os prazeres terrenos corrompem e desvirtuam. Se, em vez da obscuridade de uma gruta e da pobreza do presépio, Jesus buscasse o esplendor e a opulência, suas mensagens não teriam penetrado tão fundo na consciência humana, o povo estaria dele afastado, os infelizes viveriam sem esperanças e os homens não teriam um Salvador. Assim a penúria de Jesus é um sinal, como disseram os anjos, mas um penhor de salvação. Escreveu François René Auguste de Chateaubriand, célebre escritor, diplomata e político francês que “quando o mundo inteiro levantasse a voz contra Jesus Cristo, quando todas as luzes da ciência se reunissem contra os seus dogmas, nunca nos persuadiriam que uma religião fundada sobre semelhante base seja uma religião humana. Aquele que nasce em um estábulo e vai morrer depois sobre uma cruz, oferece aos homens, como digno de um culto especial, a humanidade padecente, a virtude perseguida, aquele, nós juramos, não pode ser senão um Deus”. Foi, realmente,com seu despojamento que Cristo se tornou o Redentor dos homens. Quando o mundo pagão, com o seu cortejo de devassidões e de vícios, encontrou-se frente a frente com Ele, parou atônito e confuso, e Jesus soube lançar através da corrupção reinante os raios do seu amor, de sua verdade. Quando os bárbaros invadiram a Europa, levando por toda parte a violência e a desordem, Cristo soube ainda comover aqueles corações de ferro, fazendo-se amar por eles. Quando os missionários percorreram a terra, os selvagens admirados, ouviram então falar desse Filho de Deus, que veio arrancá-los das sombras da morte, e O adoraram. Hoje, mais do que nunca mister se faz reabilitar a grandeza do Natal e refletir sobre tudo isto, deixando de lado aquilo que é secundário na celebração de solenidade tão fulgente. Os corações devem a Ele pertencerem. Ele ensina-nos a sofrer, a lutar e a esperar. Mostra como suportar o peso da vida apoiados em sua misericórdia. Seja o dia do seu nascimento o verdadeiro natal da humanidade, o dia de salvação. A participação na Missa deste dia, a reflexão sobre as grandes mensagens bíblicas natalinas, a aproximação da Mesa Eucarística, o júbilo de uma consciência em paz com Deus devem ser a característica do glorioso 25 de dezembro. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto materializado de hoje o que se esquece muitas vezes é que o Natal é por excelência o dia de festa, de perdão e de alegria, mas isto porque o Verbo de Deus nasceu e habitou entre nós. Há na mídia em geral o direcionamento da atenção para aspectos inteiramente deslocados da figura do Redentor. Numa emissora de televisão se escutou um absurdo como este: “Há falta de pessoas para representarem o Papai Noel e sem Papai Noel não há Natal” (sic). Adite-se a ceia do Natal, não como uma reunião familiar para se festejar o Menino Deus, mas para gastos gastronômicos exorbitantes regados com as mais requintadas bebidas, o que é também ocasião para lucro dos supermercados que instrumentalizam a data sagrada A grande preocupação do comércio é o ganho que deverá ser maior do que no ano precedente. Jesus, que precisa ser homenageado, fica em segundo plano. A humanidade recebeu do Divino Infante uma palavra que purificou e salvou e, contudo, muitos deixam de lhe preparar o coração para uma fervorosa, piedosa, celebração natalina. Tudo renasceu com Cristo, de sorte que o Natal do Jesus necessita ser ao mesmo tempo sua presença na existência de cada um de seus discípulos. Dia venturoso, de fato, no qual o Deus humanado para nós nasceu. Natal tem que ser o nosso dia de festa cristã e não pagã. A salvação não veio do palácio, nem do exército, nem da ciência, nem da força. Ela veio de um presépio, da pobreza, do que há de mais humilde e de mais fraco. Os anjos aos pastores de Belém, anunciando-lhes o nascimento de Cristo, lhes comunicou: “Não temais, pois vos anuncio um grande júbilo, para todo o povo. Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal:encontrareis um menino envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,10-13.). Os homens carecem de um pedestal suntuoso para que possam ser distinguidos por outros. Jesus procurou a humilhação. Sua grandeza, porém, é tãoverdadeira, o seu poder tão grande, a sua glória, tão sublime, que nem a pobreza, nem o abandono, nem os sofrimentos, podem ofuscar-lhe o fulgor. Ele nasce em um estábulo, mas a sua mãe é uma virgem; escolhe o silêncio da noite, mas uma estrela, iluminando o espaço, revela ao longe o nascimento do Salvador do mundo; apenas José e Maria presenciam fato tão maravilhoso, mas os pastores vêm adorá-lo e apresentar-lhe as primícias do amor da humanidade. Porque é Deus, Ele procede como Deus. A sua modéstia vai indicar aos homens o caminho da reabilitação e da virtude; a sua humilhação dir-lhes-á que na terra tudo é vaidade e soberba; os seus sofrimentos ensinarão que os prazeres terrenos corrompem e desvirtuam. Se, em vez da obscuridade de uma gruta e da pobreza do presépio, Jesus buscasse o esplendor e a opulência, suas mensagens não teriam penetrado tão fundo na consciência humana, o povo estaria dele afastado, os infelizes viveriam sem esperanças e os homens não teriam um Salvador. Assim a penúria de Jesus é um sinal, como disseram os anjos, mas um penhor de salvação. Escreveu François René Auguste de Chateaubriand, célebre escritor, diplomata e político francês que “quando o mundo inteiro levantasse a voz contra Jesus Cristo, quando todas as luzes da ciência se reunissem contra os seus dogmas, nunca nos persuadiriam que uma religião fundada sobre semelhante base seja uma religião humana. Aquele que nasce em um estábulo e vai morrer depois sobre uma cruz, oferece aos homens, como digno de um culto especial, a humanidade padecente, a virtude perseguida, aquele, nós juramos, não pode ser senão um Deus”. Foi, realmente,com seu despojamento que Cristo se tornou o Redentor dos homens. Quando o mundo pagão, com o seu cortejo de devassidões e de vícios, encontrou-se frente a frente com Ele, parou atônito e confuso, e Jesus soube lançar através da corrupção reinante os raios do seu amor, de sua verdade. Quando os bárbaros invadiram a Europa, levando por toda parte a violência e a desordem, Cristo soube ainda comover aqueles corações de ferro, fazendo-se amar por eles. Quando os missionários percorreram a terra, os selvagens admirados, ouviram então falar desse Filho de Deus, que veio arrancá-los das sombras da morte, e O adoraram. Hoje, mais do que nunca mister se faz reabilitar a grandeza do Natal e refletir sobre tudo isto, deixando de lado aquilo que é secundário na celebração de solenidade tão fulgente. Os corações devem a Ele pertencerem. Ele ensina-nos a sofrer, a lutar e a esperar. Mostra como suportar o peso da vida apoiados em sua misericórdia. Seja o dia do seu nascimento o verdadeiro natal da humanidade, o dia de salvação. A participação na Missa deste dia, a reflexão sobre as grandes mensagens bíblicas natalinas, a aproximação da Mesa Eucarística, o júbilo de uma consciência em paz com Deus devem ser a característica do glorioso 25 de dezembro. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
NASCEU DA VIRGEM MARIA
NASCEU DA VIRGEM MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das verdades mais importantes que o Natal de Jesus oferece é o fato de que sua mãe, é, verdadeiramente, Mãe de Deus. Com efeito, a maternidade diz ordem á pessoa e não à natureza e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que já possuía a natureza divina com o Pai e o Espírito Santo, assumiu no seio puríssimo de Maria a natureza humana. Deus e homem verdadeiro é aquele divino Infante que se contempla numa manjedoura! Daí todas as justas honras que a cristandade tem prestado a esta mulher bendita à qual São Paulo assim se refere: “Mas ao chegar a plenitude dos tempos enviou Deus o seu Filho, nascido duma mulher, nascido sob a lei, a fim de resgatar os que estavam sujeito à lei e para que nós recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4, 4-5).
Em todos os séculos posteriores as letras, as artes, os monumentos, as preces haveriam de render homenagens a essa mãe privilegiada. Ela mesma lançou sobre os séculos futuros esta profecia: “Todas as gerações vão me proclamar bem-aventurada” (Lc 1,48). Uma pobre donzela conjeturar assim o porvir só pode ter sido uma mulher inspirada por Deus, dado que ela sempre ostentava um perfeito equilíbrio em todas as suas palavras e ações. O que é mais sublime, porém, é que a predição se realizou como o comprova toda a História da Igreja.
Maria, não obstante ser mãe, é também virgem. Assim, de fato, se deu, porque puríssima devia ser a mãe do Verbo de Deus Encarnado cujo berço é o ponto inicial do processo soteriológico: “Nasceu o Salvador” (Lc 2,11). Os anjos entoaram hinos ao seu aparecimento na terra, os pastores e os reis Magos lhe trouxeram os primeiros dons e as primeiras reverências da humanidade. No presépio soprou à primeira brisa da salvação da humanidade, graças à cooperação daquela que disse ao Arcanjo Gabriel ser a serva do Senhor. Toda sua glória viria exatamente do fato maravilhoso de sua maternidade divina.
Jesus, o filho de Maria, nasceu pobre. O seu berço não estava ao lado de um trono e uma gruta, onde se refugiavam os rebanhos, foi o seu palácio. Nesta indigência, porém, não desapareceu Sua majestade divina. Tanto isto é verdade que 2011 anos depois reina uma alegria universal! Um frêmito geral de doce satisfação agita a humanidade. Todas as nações cristãs em festa, celebrando este fato único e encantador: o nascimento do Filho de Deus na terra.
Antes os Patriarcas O anunciaram, os Profetas O retrataram, os Justos o representaram, os povos ardentemente O desejaram e O aguardaram com grande expectativa.
Depois, os Apóstolos O fizeram conhecido pelo mundo afora, os Mártires morreram por Ele, as Virgens O seguiram, os Teólogos escreveram sobre Ele páginas encantadoras, os Santos imitaram as suas virtudes, as nações, purificadas pela Sua luz, se regeneraram, e vinte e um séculos de civilização nasceram do seu berço. A História passou a se dividir antes e depois dele! Ele é o ponto de chegada do mundo antigo e o ponto de partida do novo mundo, é o centro da História humana. Cristo nascido em Belém é a verdadeira luz do mundo. Por isto ele vem a cada cristão a toda hora a todo instante para derramar nos corações sinceros, retos, puros a abundância de suas graças. Todos que são por Ele, todos os que participam da redenção que Ele veio oferecer, reinarão por toda uma eternidade venturosa na Casa do Pai. Todos que O contradizem, mais dia menos dia, ruem por terra. Passam os grandes homens, dão-se as grandes transformações sociais, operaram-se progressos científicos inimagináveis, mas o divino Redentor permanece e permanecerá sempre como a única fonte da verdadeira felicidade e longe dele apenas decepções, falsas alegrias, aparentes conquistas. Ele, ontem, amanhã e sempre, o Rei imortal dos corações que buscam aquela ventura que o mundo e seus sequazes jamais poderão oferecer. Por tudo isto no Seu Natal honras são prestadas também à sua Mãe Santíssima que se tornou o caminho seguro para se ir até Ele, como aconteceu com os Magos que, segundo São Mateus, O “encontraram com Maria sua mãe” (Mt 2,11).* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das verdades mais importantes que o Natal de Jesus oferece é o fato de que sua mãe, é, verdadeiramente, Mãe de Deus. Com efeito, a maternidade diz ordem á pessoa e não à natureza e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que já possuía a natureza divina com o Pai e o Espírito Santo, assumiu no seio puríssimo de Maria a natureza humana. Deus e homem verdadeiro é aquele divino Infante que se contempla numa manjedoura! Daí todas as justas honras que a cristandade tem prestado a esta mulher bendita à qual São Paulo assim se refere: “Mas ao chegar a plenitude dos tempos enviou Deus o seu Filho, nascido duma mulher, nascido sob a lei, a fim de resgatar os que estavam sujeito à lei e para que nós recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4, 4-5).
Em todos os séculos posteriores as letras, as artes, os monumentos, as preces haveriam de render homenagens a essa mãe privilegiada. Ela mesma lançou sobre os séculos futuros esta profecia: “Todas as gerações vão me proclamar bem-aventurada” (Lc 1,48). Uma pobre donzela conjeturar assim o porvir só pode ter sido uma mulher inspirada por Deus, dado que ela sempre ostentava um perfeito equilíbrio em todas as suas palavras e ações. O que é mais sublime, porém, é que a predição se realizou como o comprova toda a História da Igreja.
Maria, não obstante ser mãe, é também virgem. Assim, de fato, se deu, porque puríssima devia ser a mãe do Verbo de Deus Encarnado cujo berço é o ponto inicial do processo soteriológico: “Nasceu o Salvador” (Lc 2,11). Os anjos entoaram hinos ao seu aparecimento na terra, os pastores e os reis Magos lhe trouxeram os primeiros dons e as primeiras reverências da humanidade. No presépio soprou à primeira brisa da salvação da humanidade, graças à cooperação daquela que disse ao Arcanjo Gabriel ser a serva do Senhor. Toda sua glória viria exatamente do fato maravilhoso de sua maternidade divina.
Jesus, o filho de Maria, nasceu pobre. O seu berço não estava ao lado de um trono e uma gruta, onde se refugiavam os rebanhos, foi o seu palácio. Nesta indigência, porém, não desapareceu Sua majestade divina. Tanto isto é verdade que 2011 anos depois reina uma alegria universal! Um frêmito geral de doce satisfação agita a humanidade. Todas as nações cristãs em festa, celebrando este fato único e encantador: o nascimento do Filho de Deus na terra.
Antes os Patriarcas O anunciaram, os Profetas O retrataram, os Justos o representaram, os povos ardentemente O desejaram e O aguardaram com grande expectativa.
Depois, os Apóstolos O fizeram conhecido pelo mundo afora, os Mártires morreram por Ele, as Virgens O seguiram, os Teólogos escreveram sobre Ele páginas encantadoras, os Santos imitaram as suas virtudes, as nações, purificadas pela Sua luz, se regeneraram, e vinte e um séculos de civilização nasceram do seu berço. A História passou a se dividir antes e depois dele! Ele é o ponto de chegada do mundo antigo e o ponto de partida do novo mundo, é o centro da História humana. Cristo nascido em Belém é a verdadeira luz do mundo. Por isto ele vem a cada cristão a toda hora a todo instante para derramar nos corações sinceros, retos, puros a abundância de suas graças. Todos que são por Ele, todos os que participam da redenção que Ele veio oferecer, reinarão por toda uma eternidade venturosa na Casa do Pai. Todos que O contradizem, mais dia menos dia, ruem por terra. Passam os grandes homens, dão-se as grandes transformações sociais, operaram-se progressos científicos inimagináveis, mas o divino Redentor permanece e permanecerá sempre como a única fonte da verdadeira felicidade e longe dele apenas decepções, falsas alegrias, aparentes conquistas. Ele, ontem, amanhã e sempre, o Rei imortal dos corações que buscam aquela ventura que o mundo e seus sequazes jamais poderão oferecer. Por tudo isto no Seu Natal honras são prestadas também à sua Mãe Santíssima que se tornou o caminho seguro para se ir até Ele, como aconteceu com os Magos que, segundo São Mateus, O “encontraram com Maria sua mãe” (Mt 2,11).* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Concebida sem pecado original
CONCEBIDA SEM PECADO ORIGINAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Prefácio da Missa da solenidade da Imaculada Conceição de Maria apresenta uma síntese admirável sobre esta verdade. Nele são rendidas graças ao Pai, porque Ele preservou a Virgem Maria de toda a mancha do pecado original, para que, enriquecida com a plenitude da graça divina, fosse a digna Mãe do seu Filho. Nela Ele deu início à santa Igreja, esposa de Cristo, sem mancha e sem ruga, resplandecente de beleza e santidade. Dela, Virgem puríssima, devia nascer o seu Filho, Cordeiro inocente que tira o pecado do mundo. Ele a destinou acima de todas as criaturas, a fim de ser, para todo o povo, advogada da graça e modelo de santidade. Foi, exatamente, por tudo isto que Maria é, na verdade, a filha amada do Ser Supremo. Quando o Pai, desde toda a eternidade, determinou salvar o mundo pela encarnação do Verbo Divino, e que este inefável mistério se realizaria no seio de uma Virgem por obra do Espírito Santo, Ele a predestinou, escolheu, adotou como a mais predileta dos seres racionais, isto, porém, de um modo especial e com uma ternura sem igual. Ela, verdadeiramente, devia ser, no tempo, a esposa do Espírito Santo, a mãe venerada do seu Filho, a mãe, outrossim, por uma misteriosa extensão, de todos os filhos da Igreja, Corpo Místico do Redentor. Uma vez que a Santíssima Trindade determinou a salvação da humanidade, esta mulher bendita esteve sempre no pensamento divino. O amor do Pai para com o Filho, esse eterno e incomparável objeto de suas complacências, se estendeu também, desde então, sobre Maria como um princípio da santa humanidade do Redentor. O poder desse amor e a liberalidade dos dons do Senhor de tudo deviam ser sem limites. Donde podemos julgar quanto foi excelente essa adoção, que derivava de tão grande dileção. Daí podemos julgar a eficácia da graça divina, não deixando um só instante o pecado introduzir-se nessa alma tão pura, que conceberia pelo poder do Espírito Santo. Maria foi, portanto, adotada como filha bem-amada de Deus desde o instante em que foi formada no seio materno e, imediatamente, ornada da graça santificante, da santidade e da justiça. A sua concepção foi sem pecado, foi imaculada. Eis o mistério celebrado no dia oito de dezembro. É evidente que destinando uma criatura para tão grande missão, o Onipotente não podia consentir que coisa alguma faltasse à perfeição daquela que fora escolhida, bendita entre todas as mulheres. O Todo-Poderoso quis reviver em Maria toda a beleza, toda a pureza primitiva de sua imagem, conspurcada pelo pecado de Adão, e, por isso, Maria foi criada imaculada, sem mancha original, para que nessa filha muito amada rebrilhassem todas as virtudes, todos os privilégios, sendo puras e santas todas as suas ações, e Ele pudesse contemplá-la sem cessar com amor e satisfação. Por ser, de fato, a filha predileta do Pai, a esposa do Espírito Santo e Mãe do Verbo Eterno com laços tão grandiosos com a Santíssima Trindade, o embaixador celeste a ela enviado à cidade de Nazaré, além de lhe explicar todo o processo inicial do plano salvífico que teria início na Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade Santa a chamou de “cheia de graças”. Plenitude esta que inclui naturalmente a prerrogativa de sua conceição sem a mácula original. Os acontecimentos estão registrados no Evangelho, oferecendo-nos elementos grandiosos da fé cristã, alicerçando a doutrina da Igreja. O que se esquece muitas vezes é que há na religião verdades, que iluminando a nossa razão, a deixam abismada na contemplação de conhecimentos que vão além de todas as suas forças e de todas as suas luzes. O que se conhece, contudo, pela fé não é luz que cega e fulmina, mas luz que ilumina, encanta e alegra. O espírito aí se apraz, e a razão clarificada pela crença se sente enriquecida. O Cristianismo recebe a verdade revelada por um ato de simples obediência à autoridade de Deus e de sua Igreja, mas não há nenhuma verdade revelada, nenhum dogma que exige a adesão a um absurdo. O mistério ultrapassa a inteligência, mas esta pode captar uma coerência intrínseca na verdade revelada. No Cristianismo os grandes teólogos não foram menos filósofos do que crédulos submissos, e isto até os nossos dias. Esses elevados e belos estudos sobre as questões da fé foram a origem da filosofia cristã, filosofia ao mesmo tempo divina e humana, onde se vêem reunidas em um admirável esplendor todas as luzes naturais e sobrenaturais que iluminam a humanidade. Assim se expressou Santo Anselmo: “Crer, nada mais é senão pensar consentido [...] Todo o que crê, pensa; crendo pensa, e pensando crê [ ...] A fé, se não for pensada, nada é [ ...] quando se tira o assentimento, tira-se a fé, pois, sem o assentimento, realmente não se crê” [...] E notável a sentença deste sábio santo: “Creio para entender; eu entendo para crer”. Estas considerações devem também reforçar então a fé daqueles que crêem na Imaculada Conceição de Maria, verdade tão cara aos cristãos de todos os tempos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Prefácio da Missa da solenidade da Imaculada Conceição de Maria apresenta uma síntese admirável sobre esta verdade. Nele são rendidas graças ao Pai, porque Ele preservou a Virgem Maria de toda a mancha do pecado original, para que, enriquecida com a plenitude da graça divina, fosse a digna Mãe do seu Filho. Nela Ele deu início à santa Igreja, esposa de Cristo, sem mancha e sem ruga, resplandecente de beleza e santidade. Dela, Virgem puríssima, devia nascer o seu Filho, Cordeiro inocente que tira o pecado do mundo. Ele a destinou acima de todas as criaturas, a fim de ser, para todo o povo, advogada da graça e modelo de santidade. Foi, exatamente, por tudo isto que Maria é, na verdade, a filha amada do Ser Supremo. Quando o Pai, desde toda a eternidade, determinou salvar o mundo pela encarnação do Verbo Divino, e que este inefável mistério se realizaria no seio de uma Virgem por obra do Espírito Santo, Ele a predestinou, escolheu, adotou como a mais predileta dos seres racionais, isto, porém, de um modo especial e com uma ternura sem igual. Ela, verdadeiramente, devia ser, no tempo, a esposa do Espírito Santo, a mãe venerada do seu Filho, a mãe, outrossim, por uma misteriosa extensão, de todos os filhos da Igreja, Corpo Místico do Redentor. Uma vez que a Santíssima Trindade determinou a salvação da humanidade, esta mulher bendita esteve sempre no pensamento divino. O amor do Pai para com o Filho, esse eterno e incomparável objeto de suas complacências, se estendeu também, desde então, sobre Maria como um princípio da santa humanidade do Redentor. O poder desse amor e a liberalidade dos dons do Senhor de tudo deviam ser sem limites. Donde podemos julgar quanto foi excelente essa adoção, que derivava de tão grande dileção. Daí podemos julgar a eficácia da graça divina, não deixando um só instante o pecado introduzir-se nessa alma tão pura, que conceberia pelo poder do Espírito Santo. Maria foi, portanto, adotada como filha bem-amada de Deus desde o instante em que foi formada no seio materno e, imediatamente, ornada da graça santificante, da santidade e da justiça. A sua concepção foi sem pecado, foi imaculada. Eis o mistério celebrado no dia oito de dezembro. É evidente que destinando uma criatura para tão grande missão, o Onipotente não podia consentir que coisa alguma faltasse à perfeição daquela que fora escolhida, bendita entre todas as mulheres. O Todo-Poderoso quis reviver em Maria toda a beleza, toda a pureza primitiva de sua imagem, conspurcada pelo pecado de Adão, e, por isso, Maria foi criada imaculada, sem mancha original, para que nessa filha muito amada rebrilhassem todas as virtudes, todos os privilégios, sendo puras e santas todas as suas ações, e Ele pudesse contemplá-la sem cessar com amor e satisfação. Por ser, de fato, a filha predileta do Pai, a esposa do Espírito Santo e Mãe do Verbo Eterno com laços tão grandiosos com a Santíssima Trindade, o embaixador celeste a ela enviado à cidade de Nazaré, além de lhe explicar todo o processo inicial do plano salvífico que teria início na Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade Santa a chamou de “cheia de graças”. Plenitude esta que inclui naturalmente a prerrogativa de sua conceição sem a mácula original. Os acontecimentos estão registrados no Evangelho, oferecendo-nos elementos grandiosos da fé cristã, alicerçando a doutrina da Igreja. O que se esquece muitas vezes é que há na religião verdades, que iluminando a nossa razão, a deixam abismada na contemplação de conhecimentos que vão além de todas as suas forças e de todas as suas luzes. O que se conhece, contudo, pela fé não é luz que cega e fulmina, mas luz que ilumina, encanta e alegra. O espírito aí se apraz, e a razão clarificada pela crença se sente enriquecida. O Cristianismo recebe a verdade revelada por um ato de simples obediência à autoridade de Deus e de sua Igreja, mas não há nenhuma verdade revelada, nenhum dogma que exige a adesão a um absurdo. O mistério ultrapassa a inteligência, mas esta pode captar uma coerência intrínseca na verdade revelada. No Cristianismo os grandes teólogos não foram menos filósofos do que crédulos submissos, e isto até os nossos dias. Esses elevados e belos estudos sobre as questões da fé foram a origem da filosofia cristã, filosofia ao mesmo tempo divina e humana, onde se vêem reunidas em um admirável esplendor todas as luzes naturais e sobrenaturais que iluminam a humanidade. Assim se expressou Santo Anselmo: “Crer, nada mais é senão pensar consentido [...] Todo o que crê, pensa; crendo pensa, e pensando crê [ ...] A fé, se não for pensada, nada é [ ...] quando se tira o assentimento, tira-se a fé, pois, sem o assentimento, realmente não se crê” [...] E notável a sentença deste sábio santo: “Creio para entender; eu entendo para crer”. Estas considerações devem também reforçar então a fé daqueles que crêem na Imaculada Conceição de Maria, verdade tão cara aos cristãos de todos os tempos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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