quarta-feira, 29 de março de 2023

 

FELIZES OS QUE NÃO VIRAM E CRERAM

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No domingo da oitava de Páscoa, cada ano, a liturgia nos apresenta o episódio da incredulidade do Apostolo Tomé. A Igreja nos propõe este fato para nos ajudar no nosso próprio caminhamento espiritual, para firmar nossa fé na ressurreição de Jesus dentre os mortos.  Nossa fé em Cristo ressuscitado se apoia na experiência dos apóstolos que viram e tocaram no divino vitorioso, realidade que atravessa as gerações de cristãos que se sucedem século após século e que fundamenta nossa crença na divindade do Filho de Deus. Celebramos além disto o domingo da misericórdia como estabeleceu o papa João Paulo II, nos submergindo no admirável diálogo entre Jesus e Tomé. Melhor que Tomé nós temos três pilares para apoiar nossa fé: o testemunho e a experiência dos apóstolos, nossa própria experiência espiritual vivida na Igreja e a luz do Evangelho que aclaram nossa vida. Nossa fé se apoia sobre o testemunho e vivência dos apóstolos que viveram com Jesus, viram-no morrer sobre uma cruz, depois o reviram ressuscitado. Os discípulos contemplaram, Jesus falecido e estavam completamente desorientados e até pensavam que tudo estava acabado. Depois no terceiro dia após seu falecimento, eis que o túmulo estava vazio e eles também reviram com seus próprios olhos o Mestre vivo. Aquele que eles criam morto ei-lo no meio deles, eles o podiam tocar, partilhar com ele sua refeição. Fato surpreendente para eles e até podiam supor que fosse uma miragem. Mais de 2023 anos depois da constatação dos primeiro apóstolos porque crer ainda em seu testemunhos? É ele ainda verdadeiramente crível para nós em nossos dias? Não seria ele um mito, uma reconstrução inventada para esconder um fracasso? Duas características dos testemunhos e da experiência dos apóstolos nos permitem afastar tal interpretação segundo a qual a ressurreição de Cristo seria uma invenção dos discípulos. Inicialmente os Evangelhos nos mostram que os apóstolos foram os primeiros surpreendidos pela ressurreição de Jesus, mesmo que estivessem de uma certa maneira prevenidos disto. As narrativas do Novo Testamento nos falam que eles tinham mal crido nisto. Se eles tivessem por eles mesmos tido a vontade de fundar uma nova religião e desenvolver sua própria Igreja, eles teriam exercido um belo papel, eles teriam colocado antes de tudo não a sua incredulidade, mas sua fé e sua própria capacidade e competência. Ora, os textos evangélicos e o Novo Testamento em geral, nos mostram suas fraquezas e debilidades, particularmente ao ensejo da paixão de Cristo e depois o medo que os tomou e que os fez fugir até o dia de Pentecostes. Além do mais para fazer este pequeno grupo se transformar do medo em ardentes apóstolos a proclamar o incrível, seria preciso que um acontecimento extraordinário que os pudesse modificar completamente. Além disto, em suas experiências e nas narrativas que nos transmitiram estes apóstolos não cessaram todas de mostrar que Jesus havia ressuscitado dos mortos. Para convencer os homens, para lhes partilhar sua fé, os apóstolos não construíram entre eles uma narrativa unificada e harmonizada como se construíssem um cenário entre eles para manipular os incrédulos, eles simplesmente narraram o que cada um havia visto e vivido. Não houve tentativas visando estabelecer a vitória de Jesus sobre a morte.  Depois as gerações dos cristãos transmitiram fielmente as narrativas dos apóstolos para poder afirmar por sua vez que Jesus está bem vivo hoje em dia. Cada geração cristã tem podido experimentar a presença viva e atuante de Jesus ressuscitado no coração de nossa vida pessoal. A ressurreição significa então assim a primazia do amor gratuito de Deus para cada um de nós em relação a nossa capacidade pessoal visando a construção de nossa salvação eterna, nossa felicidade graças aos nossos esforços pessoais, baseando nosso fé no testemunho dos apóstolos, aclarando nossa vida, tudo baseado em nossa fé na ressurreição de Jesus que garante a nossa própria ressurreição. Isto dá sentido à nossa vida e nos leva a partilhar sua vida divina a esperar a plena realização de suas promessas Eis aí a Boa Nova da comemoração pascal. Todas estas considerações devem nos imergir na mais absoluta misericórdia de quem nos deu tantas provas de amor, revelando-se, de fato, nosso Redentor que é Deus e homem verdadeiro, aquele que morreu sobre a cruz e ressuscito ao terceiro dia imortal e impassível. Ele a nos dizer como a Tomé: “Bem-aventurados os que não viram e creram” * Professor no Seminário de Mariana durante 40

 

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