43 DOMINGOS
DE RAMOS E DA PAIXÃO DE JESUS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho
O domingo de Ramos e da
Paixão do Senhor marca hoje o começo da Grande Semana, a Semana Santa, durante
a qual serão revividos em detalhes derradeiros dias da vida do divino Redentor.
Deve reter nossa atenção o abandono total de Jesus à vontade de seu Pai que o
faz carregar os pecados do mundo. Cumpre fixar as palavras de Blaise Pascal:
“Eu pensei em ti em minha agonia”. Toda a liturgia desta Semana, se bem vivida,
leva, em consequência, a uma maravilhosa transformação da vida espiritual do
cristão. É que os últimos momentos da vida do divino Salvador se desenrolam à
luz da sua gloriosa Ressurreição a ser comemorada no próximo domingo de Páscoa.
Isto porque a vida de Cristo não
conduzem a um nada. Sua entrega incondicional
aos planos divinos da redenção humana O levará à exaltação de Páscoa
quando a manifestação de seu poder, deve envolver a quantos O reconhecem como
seu Senhor e Salvador não a sentimentos pueris, mas a uma dileção profunda,
traduzida em atitudes concretas. Eis por que é preciso entrar na Semana Santa
com uma fé profunda e não menor humildade, inspirados pelo Espírito Santo e,
deste modo, impregnados pelas luzes celestiais nos envolveremos nos dons
especiais destes dias benditos. A liturgia oferece momentos pessoais de
profícua meditação, poia Jesus se nos apresentará como o servidor por excelência.
Como Ele mesmo advertiu, “não é aquele que diz Senhor, Senhor que entrará no
reino que Ele nos oferece com seus sofrimentos, mas aquele que faz em tudo a
vontade do Pai. Ele que é a Palavra de Deus ele se fez carne e habitou entre
nós se cala ante os gritos de seus inimigos. Não revida aos ultrajes de seus
opressores, ante aqueles que o tratam como um escravo. A humilhação da Paixão o
tornou a inda mais próximo de todos os infelizes e sofredores. Pensemos então,
nestes dias também naqueles que estão reduzidos à miséria, nos abandonados a
sua triste sorte, naqueles que fielmente inclusive testemunham sua fé até o
martírio. Sobre a cruz, braços estendidos, Jesus abraçou todos os humilhados da
terra. Os cristãos sempre reconheceram
Jesus como um mártir, um testemunho do amor de Deus mais forte do que a morte.
Desfigurado pelas violências dos homens, fora já transfigurado pelo Pai, Ele
foi elevado na glória. Doravante toda língua pode e é preciso proclamar: “Jesus
Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai”. A Semana Santa nos faz assim entrar
nas horas sombrias e trevosas da Paixão e nos conduzirá para a luminosidade da
gloriosa vitória de Jesus sobre a morte e o pecado. Foi terrível a atitude de
Judas, “um dos doze”, que desiludido sem dúvida pela figura paradoxal do
Messias, por não o ter bem compreendido, entregou o Mestre nas mãos de seus
inimigos. Notemos, porém, que Jesus não era um rabi ordinário: Ele foi vendida
pelo preço de escravo, uma quantia irrisória, eles pesaram seu salário, a saber
trinta ciclos de prata. São Mateus,
contudo, nos leva a considerar a ternura e a vulnerabilidade de Deus em
Jesus. Este declara a seu povo: " Não temas eu te libertei, eu sou teu
salvador. Tu contas muito aos meus olhos (Si 43, 1-3). Este Deus ei-lo
desprezado, reduzido à impotência por esta ruptura da Aliança, sempre ferido
pela ingratidão, sempre, porém, também envolvo na ternura e no amor louco de
dileção por nós. Cumpre fixar estas realidades marcantes nesta semana singular
e lembrar-nos sobretudo que Jesus é uma passagem para o Pai, fazendo-se,
realmente o caminho, a verdade rumo às verdades eternas. A
Semana Santa nos deve levar, deste modo, ao crescimento de nossa gratidão a
Jesus nos mantendo unidos Àquele que tanto nos amou, seguindo fielmente todos
os seus ensinamentos. Judas pensou esconder seu crime diante da presença onisciente
de um Deus que conhece o íntimo dos corações, mas em vão. Entretanto, Deus
antes de se tornar nosso juiz inexorável
é nosso Pai e leva sempre sua misericórdia e seu perdão até o fim. O Coração de Jesus se encheu de dor não porque
Ele foi traído, mas sobretudo porque um de seus apóstolos se afastava
definitivamente dele por um vil dinheiro. Assim a Semana Santa nos deve
conduzir a uma revisão se nossa condição de remidos por um sangue
preciosíssimo. Assim sendo, se evitará uma simples reconstituição histórica
artificial dos momentos tocantes da vida de Cristo. É preciso nestes dias, mais
do que nunca, colocar em prática o conselho de São Paulo aos Filipenses: “Tende
em vós os sentimentos que foram aqueles de Cristo Jesus”, ou seja, trata-se de
nos deixar habitar pelo Espírito de Cristo, colocando nossos passos nos passos
do Redentor. Abordar estas etapas com as disposições do Mestre divino que
operou uma obra formidável pela humanidade, uma redenção a ser vivida em
plenitude. * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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