quinta-feira, 23 de março de 2023

 

PASCOA DO SENHOR

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Pedro e João viram o túmulo vazio (jo 20,1-9).  Pela manhã, com efeito, dois homens correram para o túmulo de Jesus, a saber, Pedro que bem se recompusera depois da traição, e João que tudo havia vivido bem de perto ao pé da cruz com Maria a mãe de Jesus João tinha ainda nos olhos as cenas trágicas da sexta feira e estas imagens de sofrimento e de morte se misturavam às lembranças de três anos nos quais os discípulos viveram cada dia com o Mestre divino, partilhando suas refeições, suas fadigas, sua sublime missão.  Reencontrar Jesus era cada vez qualquer coisa de muito simples, mas também cada dia um acontecimento que se gravava nos seus olhos e no seu coração. Ei-los chegados, após atravessarem um pequeno jardim, em nível inferior ao Gólgota, e João se inclina, olha rapidamente, depois se afasta para deixar entrar Pedro que era mais idoso e digno de respeito. Pedro olha pausadamente:  as roupas brancas que estão lá no lugar do corpo: o sudário está lá também, no lugar da cabeça bem enrolado à parte. Ele se diz: “As mulheres têm razão: “Levaram o Senhor. Onde está Ele agora:”. É então, diz o Evangelho, que João entrou por sua vez: ele vu e acreditou”. O que é que ele viu? As mesmas coisas que Pedro, as mesmas roupas, no mesmo lugar, e o tumulo estranhamente quieto, inexplicavelmente vazio. “Ele viu e acreditou”. Na Galileia e na Judeia João não tinha ainda senão pressentido o mistério de Jesus. Ele via, ele percebia muitas coisas, frequentemente seu olhar, seguindo Jesus, lhe propunha   questões silenciosas. Nesta manhã, porém, simplesmente João viu e acreditou. Ele viu os sinais da ausência e ele teve a certeza de que Jesus era o vencedor. O túmulo vazio, sim, mas ninguém havia roubado o corpo de seu Senhor; o túmulo vazio, mas Jesus estava vivo com seu corpo não em qualquer parte no nosso mundo, mas Ele vivo junto de Deus. João acreditou. Na penumbra do túmulo uma luz muito suave penetrou nele e como uma espécie de evidência feliz o submergiu: Jesus estava vivo para sempre, fonte de vida que Ele é.  Lá estão os dois, João e Pedro, maravilhados, sós, ambos na sepulcral pedra fria, mas jamais Jesus esteve tão presente para eles, cuja fé acabava de eclodir impetuosamente como um grito de triunfo, um clamor que ressoava do fundo do coração, lá onde nenhuma palavra era suficientemente bela, nem assaz verdadeira: um grito de triunfo que sai do silêncio e que para aí volta: “O Senhor ressuscitou”! Entretanto, esta alegria que   se irradia é de tal maneira que ela enriqueceu os corações e de Pedro e João no momento mesmo em que eles reconhecem em Jesus ausente seu Senhor e seu Deus, descobrindo então sua missão sublime, a saber, no coração da comunidade de Jesus, pois eles serão o testemunho de sua presença. Entremos então neste dia de Páscoa no túmulo vazio. Nós não nos sentimos tão estupefatos talvez porque não tenhamos mais a força, ou o gosto, ou a coragem de procurar verdadeiramente o Senhor e de nos regorjearmos pela sua vitória sobre a morte.  Entretanto, é na pedra fria do túmulo vazio que o júbilo da Páscoa nos aguarda como nós somos e onde nós estamos com o peso de nossas essências, de nossas fraquezas, com os enganos de nosso coração, com nossas lentidões e com nossas esperança tão pequenina. No entanto na mesma pedra do túmulo a alegria da Páscoa nos aguarda tais como nós somos.  A todos a alegria do divino Ressuscitado é prometida e é Ele que este gaudio nos dá. Não se pode conceder a si mesmo o júbilo pascal, a felicidade da vida de Deus. Não se pode depositar em si mesmo artificialmente a alegria de Jesus Triunfante, porque ela seria ou por demais ofuscante, ou forte demais para quem sofre. É preciso recebê-lo abrindo os olhos, o coração, todo o ser. Este júbilo do dia da grande vitória é Jesus quem a oferece a nós, mas para poder degustar este gozo é necessário nele se imergir. Não é uma alegria separada de tudo mais, nem ao lado da vida real como um parêntesis no cotidiano. É uma alegria que malgrado todo o resto, não obstante o cotidiano que reencontramos no constato com o mundo, precisa ser o motor de nossa existência. É uma alegria que deve preencher toda vida do cristão, o passado e o presente, para tudo reconduzir a Deus. Isto porque alegria da Páscoa é a única que atravessa a morte! Vivamos assim nosso júbilo pascal, Cristo ressuscitou! Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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