PASCOA DO SENHOR
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Pedro e João viram o túmulo vazio (jo
20,1-9). Pela manhã, com efeito, dois homens
correram para o túmulo de Jesus, a saber, Pedro que bem se recompusera depois
da traição, e João que tudo havia vivido bem de perto ao pé da cruz com Maria a
mãe de Jesus João tinha ainda nos olhos as cenas trágicas da sexta feira e
estas imagens de sofrimento e de morte se misturavam às lembranças de três anos
nos quais os discípulos viveram cada dia com o Mestre divino, partilhando suas
refeições, suas fadigas, sua sublime missão.
Reencontrar Jesus era cada vez qualquer coisa de muito simples, mas
também cada dia um acontecimento que se gravava nos seus olhos e no seu
coração. Ei-los chegados, após atravessarem um pequeno jardim, em nível inferior
ao Gólgota, e João se inclina, olha rapidamente, depois se afasta para deixar
entrar Pedro que era mais idoso e digno de respeito. Pedro olha pausadamente: as roupas brancas que estão lá no lugar do corpo:
o sudário está lá também, no lugar da cabeça bem enrolado à parte. Ele se diz:
“As mulheres têm razão: “Levaram o Senhor. Onde está Ele agora:”. É então, diz
o Evangelho, que João entrou por sua vez: ele vu e acreditou”. O que é que ele
viu? As mesmas coisas que Pedro, as mesmas roupas, no mesmo lugar, e o tumulo
estranhamente quieto, inexplicavelmente vazio. “Ele viu e acreditou”. Na
Galileia e na Judeia João não tinha ainda senão pressentido o mistério de
Jesus. Ele via, ele percebia muitas coisas, frequentemente seu olhar, seguindo Jesus,
lhe propunha questões silenciosas.
Nesta manhã, porém, simplesmente João viu e acreditou. Ele viu os sinais da ausência
e ele teve a certeza de que Jesus era o vencedor. O túmulo vazio, sim, mas
ninguém havia roubado o corpo de seu Senhor; o túmulo vazio, mas Jesus estava
vivo com seu corpo não em qualquer parte no nosso mundo, mas Ele vivo junto de
Deus. João acreditou. Na penumbra do túmulo uma luz muito suave penetrou nele e
como uma espécie de evidência feliz o submergiu: Jesus estava vivo para sempre,
fonte de vida que Ele é. Lá estão os
dois, João e Pedro, maravilhados, sós, ambos na sepulcral pedra fria, mas
jamais Jesus esteve tão presente para eles, cuja fé acabava de eclodir impetuosamente
como um grito de triunfo, um clamor que ressoava do fundo do coração, lá onde nenhuma
palavra era suficientemente bela, nem assaz verdadeira: um grito de triunfo que
sai do silêncio e que para aí volta: “O Senhor ressuscitou”! Entretanto, esta
alegria que se irradia é de tal maneira
que ela enriqueceu os corações e de Pedro e João no momento mesmo em que eles
reconhecem em Jesus ausente seu Senhor e seu Deus, descobrindo então sua missão
sublime, a saber, no coração da comunidade de Jesus, pois eles serão o
testemunho de sua presença. Entremos então neste dia de Páscoa no túmulo vazio.
Nós não nos sentimos tão estupefatos talvez porque não tenhamos mais a força,
ou o gosto, ou a coragem de procurar verdadeiramente o Senhor e de nos
regorjearmos pela sua vitória sobre a morte. Entretanto, é na pedra fria do túmulo vazio
que o júbilo da Páscoa nos aguarda como nós somos e onde nós estamos com o peso
de nossas essências, de nossas fraquezas, com os enganos de nosso coração, com
nossas lentidões e com nossas esperança tão pequenina. No entanto na mesma
pedra do túmulo a alegria da Páscoa nos aguarda tais como nós somos. A todos a alegria do divino Ressuscitado é
prometida e é Ele que este gaudio nos dá. Não se pode conceder a si mesmo o
júbilo pascal, a felicidade da vida de Deus. Não se pode depositar em si mesmo
artificialmente a alegria de Jesus Triunfante, porque ela seria ou por demais
ofuscante, ou forte demais para quem sofre. É preciso recebê-lo abrindo os
olhos, o coração, todo o ser. Este júbilo do dia da grande vitória é Jesus quem
a oferece a nós, mas para poder degustar este gozo é necessário nele se
imergir. Não é uma alegria separada de tudo mais, nem ao lado da vida real como
um parêntesis no cotidiano. É uma alegria que malgrado todo o resto, não
obstante o cotidiano que reencontramos no constato com o mundo, precisa ser o
motor de nossa existência. É uma alegria que deve preencher toda vida do cristão,
o passado e o presente, para tudo reconduzir a Deus. Isto porque alegria da
Páscoa é a única que atravessa a morte! Vivamos assim nosso júbilo pascal,
Cristo ressuscitou! Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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