terça-feira, 7 de março de 2023

 

 A CURA DO CEGO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O episódio do cego de nascença está centrado na personalidade de Jesus de Nazaré e sua sublime missão (Jo 9,1-41). Esta é mal aceita pelos judeus que vieram escutá-lo no templo de Jerusalém os quais apanharam pedras para as atirarem contra Ele, mas Cristo, protegido pelos seus discípulos, ocultou-se e saiu do templo. Jesus encontra então um cego de nascença, afirmando-se como aquele que deveria vir. Como cada gesto de Jesus tem um profundo sentido, a interpretação do gesto do lodo e da saliva nos remete à cena da Criação. No Gênesis está escrito que no começo do mundo Deus havia modelado o homem à sua imagem. Entretanto, com o pecado o homem tornou-se cego e aviltou-se. Jesus agora colocando o lodo no olho do cego o turvou ainda mais, significando que sem o sopro do Espírito do Ressuscitado não se pode compreender a palavra de Deus que recria o homem cego pelo pecado original. Em seguida então uma bela catequese, ou seja a cura do cego passa por um rito de purificação. Não é o rito que cura, mas a Palavra que cura. Tal a ordem de Jesus: “Vai lavar-te na piscina de Siloé”. Ele foi e seus olhos se abriram, porque a palavra de Cristo foi posta em prática. Esta atitude causou polêmica e aqueles que conheciam o cego não o reconhecem mais e não compreendem bem o que havia ocorrido e decidem ir ver os fiadores do sentido do que estava ocorrendo, aqueles que, para eles, viam claras as coisas, a saber, as autoridades religiosas, os fariseus, que a seu turno interrogados, eles também não sabem mais o que pensar, porque seu único critério é a lei e o Templo. Jesus ultrapassara a lei do sábado e havia criticado fortemente o Templo. Eles interrogam então o cego, que fora curado e via claramente, o que ele pensava de tudo isto. O homem que fora curado simplesmente diz quem era Jesus para Ele: “É um Profeta”. Interrogaram inclusive os pais do cego curado e seus pais que constataram seu filho transformado respondem então: “Interrogai-o. Tem idade, ele próprio falará a seu respeito”. O certo é que tendo posteriormente encontrado Jesus o cego curado se prostrou diante de Cristo e o adorou, tendo dito que cria que Ele era o Filho de Deus. Bela demonstração de fé dada por ele. A fé em Cristo não é crer em promessas, mas ver claro através da fé. Nossa fé cristã é crer na ressurreição, em nossa transformação através de Cristo.  Nossa piscina de Siloé que purifica nosso olhar é nossa maneira de escutar, de ser remido pelo amor, pelo perdão, pelo respeito ao outro. Ter fé nos valores da partilha, agir por justiça e pelo interesse pelos sofredores e excluídos de todos os tipos. Então, sim, nós podemos ver e constatar que nos transformamos em autênticos cristãos e que é possível que transformemos aqueles que estão em nosso derredor. É que a fé pode iluminar as trevas   mais profundas e a as demudar em luz É o que se passou com este cego. Ele acreditou e ele viu. Daí a razão pela qual ele se inundou numa profunda alegria. Os fariseus viam com seus olhos, mas não acreditavam e só cultivavam a cólera e sua ira contra Jesus. Não criam que Jesus era o Filho de Deus e não podiam assim receber sua luz. A cura de Jesus não toca apenas o corpo, mas também o coração, o mais profundo da alma.  Ela   é libertadora. Os fariseus se julgavam justos, aplicavam suas leis, mas não percebiam até que ponto eles podiam faltar com o verdadeiro amor. Eis porque devemos colocar os olhos de nossa vida à luz de Jesus afim de reconhecer o que é treva em nós e lhe pedir que Ele as afaste, para que possamos viver de sua alegria. Como para o cego de nascença Jesus vem a nosso encontro e está sempre pronto para nos curar de todos os males Busquemos sempre junto dele uma total purificação. Cumpre, porém, saber captar nossos males e buscar confiadamente o remédio deste Médico divino. Donde a humildade para se reconhecer as necessidades espirituais, um coração contrito que possa usufruir os dons divinos. Como vimos as reações e os julgamentos dos que estavam em volta do cego curado foram sombrios e cheios de contradições.  Questões controversas que visavam descaracterizar o grande milagre de uma cura formidável. Este trecho do Evangelho está assim repleto de ironia sob o ilogismo dos que se se opunham ao bom senso e à fé em Cristo.  Depois de mais de dois mil anos Jesus, porém, continua suscitando questões controversas e tomadas diversas de posições. É o homem orgulhoso que se opõe ao mistério cristológico, transportando as reações de nossa época que impedem uma fé límpida na divindade do Filho de Deus. Por tudo isto este trecho do Evangelho deve ser para nós um alerta para que sejamos coerentes e saibamos sempre proclamar que Jesus, o Filho de Deus, é o Médico que cura e salva. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário