quinta-feira, 9 de março de 2023

 

14 A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O episódio da ressurreição de Lázaro leva-nos a refletir sobre a morte e a vida (Jo 11,1-45). Duas grandes palavras, dois importantes enigmas. São realidades com as quais sempre nos confrontamos, sobretudo quando a doença nos ameaça ou quando ela golpeia aqueles que nós amamos. O referido trecho do Evangelho de São João nos leva a refletir sobre nossos temores e nossas enfermidades. Ele nos permite olhar um instante sobre a vida e a morte, mas nos envolvendo num horizonte de paz e esperança. Vejamos as reações das duas irmãs e, em seguida, as respostas de Jesus.  Marta e Maria possuíam temperamentos diferentes, mas possuíam uma afeição idêntica para com seu irmão Lázaro. Acontece, porém, que ele cai gravemente enfermo e, então, as suas irmãs enviam um comunicado a Jesus, um apelo de admirável amizade e sensatez: “Senhor, aquele que amas está doente”.  Uma prece sublime! Frequentemente diante do calvário das moléstias incuráveis, mormente daqueles que nos são mais queridos, de fato, só nos resta implorar o Senhor Onipotente. A prece das duas irmãs diz tudo, e relata muito bem, porque esta súplica toma Jesus pelo coração: “Aquele que tu amas está doente”. Uma vez que Jesus chega a Betânia, cada uma reage a sua maneira de ser. Marta, se dirige logo diante do Mestre; Maria fica assentada em casa. Marta, entretanto, sentindo o peso de ter somente ela a receber o amigo divino, vem dizer a sua irmã, num tom bem cordial, para não aumentar seu sofrimento: “O Mestre está lá e te chama”. Uma depois de outra dizem a Jesus esta frase, tão frequentemente usada entre elas depois de quatro dias: “Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido”, “tu terias impedido que tal acontecesse” Elas parecem repetir cada uma vez de cada vez: “De longe tu não podias nada fazer e “agora ele está morto, tu não podes fazer mais nada”. Admirável como reage Jesus! Depois de algumas semanas além do Jordão para não provocar seus inimigos, Cristo volta a Jerusalém não obstante o perigo, mas sua atitude revela a autenticidade de sua vida afetiva. Por duas vezes ele estremece interiormente vendo a tristeza de Maria e dos que a acompanhavam, quando ouve então alguém dizer: “Aquele que abriu os olhos do cego poderia ele ter impedido Lázaro morrer”. Mormente diante do túmulo de Lázaro, Jesus chora, lágrimas humanas a tal ponto que circunstantes dizem: “Vede como Ele o amava”. Jesus que se entregaria livremente à sua paixão, conheceu como nós todos a tragédia da morte e da separação. Ele, porém, olha além da morte corporal e para provar que Ele tem o poder sobre a vida e a morte corporal, e para provar que Ele tem o poder sobre a vida, vai conceder a seu amigo alguns anos de vida entre os seus entes queridos. A Marta que lhe diz: “Eu sei que ele ressuscitará no último dia”, Cristo responde, centrando tudo na sua pessoa de Filho de Deus: “Eu sou a ressurreição e a vida e aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês isto?” A nós que vivemos no século XXI depois de seu nascimento, Jesus interroga também: “Crês isto”? Ele então resume em algumas palavras o credo da vida e da ressurreição, este credo quer é para nós portador de paz e esperança: a morte não é senão um sonho   do qual ele nos despertará; a vida nova já está nele, já oferecida, dada àqueles que colocam nele sua fé e esta vida atravessará a morte corporal, porque Ele, o Filho de Deus, que nos faz viver antes, nos fará viver depois. Bem mais, nosso corpo ele mesmo, este corpo de alegria e de miséria, terá parte naquela vida eterna, naquela felicidade sem fim, quando Ele, o Ressuscitado, nos ressuscitará no último dia. Nós batizado, cremos nisto? Será que acreditamos hoje que as coisas definitivas começarão para nós quando tudo terá acabado nesta trajetória terrena? Será que cremos, apoiados em nosso Deus, que seu projeto de vida engloba todos os que já morreram?  Cremos que Jesus, o Ressuscitado, oferece logo um sentido à nossa morte e que isto, hoje, deve mudar o sentido de nossa vida? Irmãos e Irmãs, reforcemos nossa fé na fé da Igreja e digamos como Marta, com a mesma lealdade, com a mesma alegria: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que veio a este mundo”. Repartamos então mais lucidamente, mais alegremente, em nossa tarefa fraternal, numa vida de devotamente e de partilha para glória de Deus e salvação do mundo, repartamos como Marta, junto àqueles que nós amamos nosso segredo: “Cremos que Jesus é o Filho de Deus, Ele é nossa vida e salvação”! O Evangelho vem assim nos interrogar sobre nossa própria fé.  Como cristãos cremos no      céu e nós esperamos todos ir para lá após nossa morte, mas o que é, de fato, a ressurreição de Jesus em nossa vida diária? * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

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