14 A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O episódio da ressurreição de Lázaro leva-nos a
refletir sobre a morte e a vida (Jo 11,1-45). Duas grandes palavras, dois
importantes enigmas. São realidades com as quais sempre nos confrontamos,
sobretudo quando a doença nos ameaça ou quando ela golpeia aqueles que nós
amamos. O referido trecho do Evangelho de São João nos leva a refletir sobre
nossos temores e nossas enfermidades. Ele nos permite olhar um instante sobre a
vida e a morte, mas nos envolvendo num horizonte de paz e esperança. Vejamos as
reações das duas irmãs e, em seguida, as respostas de Jesus. Marta e Maria possuíam temperamentos
diferentes, mas possuíam uma afeição idêntica para com seu irmão Lázaro.
Acontece, porém, que ele cai gravemente enfermo e, então, as suas irmãs enviam
um comunicado a Jesus, um apelo de admirável amizade e sensatez: “Senhor,
aquele que amas está doente”. Uma prece
sublime! Frequentemente diante do calvário das moléstias incuráveis, mormente daqueles
que nos são mais queridos, de fato, só nos resta implorar o Senhor Onipotente.
A prece das duas irmãs diz tudo, e relata muito bem, porque esta súplica toma
Jesus pelo coração: “Aquele que tu amas está doente”. Uma vez que Jesus chega a
Betânia, cada uma reage a sua maneira de ser. Marta, se dirige logo diante do
Mestre; Maria fica assentada em casa. Marta, entretanto, sentindo o peso de ter
somente ela a receber o amigo divino, vem dizer a sua irmã, num tom bem
cordial, para não aumentar seu sofrimento: “O Mestre está lá e te chama”. Uma
depois de outra dizem a Jesus esta frase, tão frequentemente usada entre elas
depois de quatro dias: “Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria
morrido”, “tu terias impedido que tal acontecesse” Elas parecem repetir cada
uma vez de cada vez: “De longe tu não podias nada fazer e “agora ele está morto,
tu não podes fazer mais nada”. Admirável como reage Jesus! Depois de algumas
semanas além do Jordão para não provocar seus inimigos, Cristo volta a
Jerusalém não obstante o perigo, mas sua atitude revela a autenticidade de sua
vida afetiva. Por duas vezes ele estremece interiormente vendo a tristeza de
Maria e dos que a acompanhavam, quando ouve então alguém dizer: “Aquele que
abriu os olhos do cego poderia ele ter impedido Lázaro morrer”. Mormente diante
do túmulo de Lázaro, Jesus chora, lágrimas humanas a tal ponto que
circunstantes dizem: “Vede como Ele o amava”. Jesus que se entregaria
livremente à sua paixão, conheceu como nós todos a tragédia da morte e da
separação. Ele, porém, olha além da morte corporal e para provar que Ele tem o
poder sobre a vida e a morte corporal, e para provar que Ele tem o poder sobre
a vida, vai conceder a seu amigo alguns anos de vida entre os seus entes
queridos. A Marta que lhe diz: “Eu sei que ele ressuscitará no último dia”,
Cristo responde, centrando tudo na sua pessoa de Filho de Deus: “Eu sou a
ressurreição e a vida e aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá e
todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês isto?” A nós que
vivemos no século XXI depois de seu nascimento, Jesus interroga também: “Crês
isto”? Ele então resume em algumas palavras o credo da vida e da ressurreição,
este credo quer é para nós portador de paz e esperança: a morte não é senão um
sonho do qual ele nos despertará; a
vida nova já está nele, já oferecida, dada àqueles que colocam nele sua fé e
esta vida atravessará a morte corporal, porque Ele, o Filho de Deus, que nos
faz viver antes, nos fará viver depois. Bem mais, nosso corpo ele mesmo, este
corpo de alegria e de miséria, terá parte naquela vida eterna, naquela
felicidade sem fim, quando Ele, o Ressuscitado, nos ressuscitará no último dia.
Nós batizado, cremos nisto? Será que acreditamos hoje que as coisas definitivas
começarão para nós quando tudo terá acabado nesta trajetória terrena? Será que cremos,
apoiados em nosso Deus, que seu projeto de vida engloba todos os que já
morreram? Cremos que Jesus, o
Ressuscitado, oferece logo um sentido à nossa morte e que isto, hoje, deve mudar
o sentido de nossa vida? Irmãos e Irmãs, reforcemos nossa fé na fé da Igreja e
digamos como Marta, com a mesma lealdade, com a mesma alegria: “Sim, Senhor, eu
creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que veio a este mundo”. Repartamos
então mais lucidamente, mais alegremente, em nossa tarefa fraternal, numa vida
de devotamente e de partilha para glória de Deus e salvação do mundo,
repartamos como Marta, junto àqueles que nós amamos nosso segredo: “Cremos que
Jesus é o Filho de Deus, Ele é nossa vida e salvação”! O Evangelho vem assim
nos interrogar sobre nossa própria fé.
Como cristãos cremos no céu e
nós esperamos todos ir para lá após nossa morte, mas o que é, de fato, a
ressurreição de Jesus em nossa vida diária? *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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