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Livros da
autoria do Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho
IDEOLOGIA E RAÍZES SOCIAIS DO
CLERO DA CONJURAÇÃO - SÉCULO XVIII - MINAS GERAIS, Viçosa, Imprensa
Universitária da Universidade Federal de Viçosa,1978, 86 p
TEMAS
HISTÓRICOS, Belo Horizonte, Edições Júpiter, 1980, 147 p.
TEMAS ORATÓRIOS, Belo Horizonte, Edições Júpiter,
1981, 137 p. TEMAS SOCIAIS, Ouro Preto, Imprensa Universitária da UFOP, 1982,
100 p. TEMAS FILOSÓFICOS, Ouro Preto, Imprensa Universitária da UFOP, 1982,
99 p. – Filosofia – História da
Filosofia - -
TEMAS MARIANOS, Viçosa, Editora Folha de Viçosa
Ltda., 1984, 139 p.
A IGREJA E A ESCRAVIDÃO: UMA ANÁLISE DOCUMENTAL, Rio
de Janeiro, INL/Presença Edições, 1985, 215 p.
A ESCRAVIDÃO: DIVERGÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS, Viçosa,
Editora Folha de viçosa Ltda., 1988, 117 p.
TEMAS DE HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL, Viçosa,
Editora Folha de Viçosa Ltda., 1994, 110 p.
TEMAS BÍBLICOS, Viçosa, Editora Folha de Viçosa
Ltda., 1995, 244
DOM OSCAR DE OLIVEIRA: UM APÓSTOLO ADMIRÁVEL,
Viçosa, Editora Folha de Viçosa Ltda, 1999, 169 p.
SEMANA
SANTA, Viçosa, Editora Folha de Viçosa, s.d, 297 p. Teologia – Hermenêutica - Oratória
TEMAS FINAIS, Viçosa, Editora Folha de Viçosa Ltda.,
2003. 518 p.
REFLEXÕES FILOSÓFICAS, Viçosa, Editora Folha de
Viçosa Ltda., 2006, 293 p. ,
JESUS
CRISTO, O SALVADOR, PEDAGOGO
INIGUALÁVEL. Viçosa, Editora Folha de Viçosa, 2016. 489 p.
Será
publicado em 1918: DOM HELVÉCIO GOMES DE OLIVEIRA, - UM NOTÁVEL ARCEBISPO,
Viçosa, Editora Artes Gráficas Ltda.,
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terça-feira, 14 de novembro de 2017
LIVROS PUBLICADOS PELO Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho
A MANSÃO DOS MORTOS
A MANSÃO DOS
MORTOS
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho
Professamos
no Símbolo dos Apóstolos Que Cristo “ foi crucificado, morto e sepultado, desceu a mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro
dia”.
Esta mansão dos mortos é chamada na Bíblia de
os infernos, o Sheol ou Hades (Fil 2,10;Ap 1,18; Ef 4,9).
Aí
os mortos estão privados da visão de Deus.
Este
foi o caso de todos os mortos, pecadores ou justos, aguardando o Redentor.
Sua
sorte, porém, não era idêntica como mostrou Jesus na parábola do pobre Lázaro
recebido “no seio de Abraão” ( Lc 16,22-26).
Eram
almas santas que aguardavam seu Libertador,
as quais Jesus livraria quando
“desceu à mansão dos mortos”.
Está
no Catecismo da Igreja Católica: §631 "Jesus desceu às
profundezas da terra. Aquele que desceu é também aquele que subiu" (Ef
4,9-10). O Símbolo dos Apóstolos confessa em um mesmo artigo de fé a descida de
Cristo aos Infernos e sua Ressurreição dos mortos no terceiro dia, porque em
sua Páscoa é do fundo da morte que ele fez jorrar a vida”. Jesus desceu à
“mansão dos mortos” não para livrar os
condenados, nem para destruir o inferno da condenação eterna, mas para libertar
os justos que O haviam precedido. São
Pedro asseverou:” Boa Nova foi igualmente anunciada aos mortos” (1 Pd 4,6).
A descida aos infernos foi o
cumprimento do anúncio evangélico da salvação. Foi a fase última da missão
messiânica de Jesus antes de ir, enquanto homem, para junto do Pai.
Todos os que eram justos se tornavam então participantes
de sua redenção. Cristo desceu na profundidade da morte (Mt 12,24).
Cristo ressuscitado “detinha a chave da morte
do Hades” (Ap 1,18). São Paulo dizia aos Filipenses: “Ao nome de Jesus todo
joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos” (Fil 2,10).
Na “mansão dos mortos”, antes da
ressurreição de Jesus, os justos O estavam esperando para que fosse aberta a
porta do céu e pudessem gozar da visão beatífica.
Assim sendo, a “mansão dos mortos”
referida no Símbolo dos Apóstolos nada tem a ver com o dogma do Purgatório.
A
alma ao sair deste mundo, não estando completamente purificada, deve expiar
durante algum tempo os erros cometidos antes de entrar na glória eterna.
Se ela traz algum vestígio de pecado ou porque
cometeram faltas leves e não as tenha expiado suficientemente neste mundo, bem
como no caso dos pecados mortais já perdoados e não reparados nesta trajetória
terrena, não pode entrar no céu.
Essas
almas têm a graça de Deus e, portanto, a salvação é certa para elas, mas a
justiça divina reclama a purificação no purgatório.
O dogma da comunhão dos santos mostra que se
pode, de fato, abreviar as penas dos que sofrem nesta antecâmara do céu.
Aliás,
todo o mês de novembro é dedicado às almas que lá se encontram.
Saibamos, porém, sufragá-las com nossas preces
e sacrifícios durante todo o ano, pois,
se um dia tivermos que por lá passar, Deus fará que outros se lembrem de nós.
Nunca
se lembra demais a passagem do Segundo Livro dos Macabeus: “Santo e salutar esse pensamento de
orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados" (2 Mc 12,45)
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 7 de novembro de 2017
VIGILÂNCIA IMPRESCINDÍVEL
VIGILÂNCIA IMPRESCINDÍVEL
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A
Parábola das dez virgens oferece importantes reflexões as quais afloram dos
diversos detalhes da narrativa proposta por Cristo (Mt 25,1-13). Cumpre atinar
com o significado do óleo e também aprofundar o tema da vantagem de não se
saber a hora precisa na qual o ser humano deixará este mundo, entrando na
ultravida. Disto resulta o sábio emprego do tempo, tendo em vista a salvação
eterna, para não se ficar excluído do banquete nupcial. O fato das virgens prudentes não poderem
ajudar as imprevidentes mostra bem que à chegada do esposo divino há certo
isolamento metafísico, dado que a partilha do óleo não é uma simples questão de
quantidade, mas de um amor que ultrapassou limites materiais. Não se pode então
amar no lugar do outro. Há um momento no qual cada um deverá demonstrar até
onde foi seu empenho para poder ingressar no festim eterno. Durante a
trajetória neste mundo a ajuda mútua é sumamente necessária, mas finaliza no
instante no qual começa a decisão individual última concernente à comunidade
dos eleitos. O tempo de preparação é concedido e nele a ajuda mútua é decisiva,
mas na hora da morte cada um estará sozinho com sua esperança, seu amor, suas
boas obras acumuladas no seu cotidiano. O zelo pela salvação dos outros leva
exatamente a fazer crescer em cada um a expectativa de um lugar perene no reino
de Cristo, a uma dileção sempre crescente do que resultam os frutos opimos para
uma recompensa definitiva. Tudo isto exigindo uma vigilância contínua, mesmo
porque toda desatenção poderá ser fatal. A preparação para o encontro final com
Cristo, Deus que se fez homem, não deve ser superficial. Toda a vida do
verdadeiro cristão é, deste modo, uma preparação para o ingresso no banquete
preparado para os que forem dignos. O tempo presente é um dos dons mais
preciosos oferecidos pelo Criador. Uma vez perdido, não se pode recuperá-lo. O
momento da chegada do esposo é decisivo e a hora derradeira é o resumo de todas
as horas vividas até o instante da morte. Daí o motivo porque a
imprevisibilidade deste fato, o mais importante da existência humana, oferece
oportunidade para que cada um esteja de prontidão, alerta à espera de seu
Senhor Cada ato de fé, de amor a Deus e ao próximo, cada esforço para fazer em
tudo a vontade divina estabelece uma relação íntima com Deus. Conhecê-lo mais,
dia a dia, vivendo sob o radar do olhar divino é garantir a entrada na
felicidade sem fim. Será uma tragédia alguém bater na porta do céu, pedir que
ela lhe seja aberta e escutar a resposta de um Deus justo e que fora tão
misericordioso: “Eu não vos conheço”! Ele reconhecerá apenas aquele cujo
coração transformado pela água do batismo, continuamente arrependido de suas
faltas, esteve imerso numa dileção sem limites para com Ele e para com o próximo.
Eis aí o que significa o óleo desta parábola, isto é, representa as boas obras
praticadas envoltas no afeto a Deus e aos semelhantes. Quem as tiver feito
entrará no banquete nupcial e verídico é o refrão: “Tal vida, tal fim”. A vida deve ser uma preparação
consciente para a morte. Aqueles que se apartaram renitentemente do Pai, no
final de sua carreira, não entrarão no reino do céu, cuja porta lhes estará
fechada.
A morte para os que não
seguiram a Cristo e não possuírem o óleo das virtudes é terrível, pois é uma
vida que se acaba e uma eternidade infeliz que se inicia! Que aflição, que
angústia para quem não correspondeu aos desígnios divinos e não cumpriu sua
missão neste mundo! No momento da morte o que vai dar desgosto a cada um é o
que ele buscou por seu próprio gosto e, muitas vezes, com tanto sacrifício
inútil em busca de gozos passageiros e ilusórios Quantos gostariam de voltar no
tempo para refazer seus atos, mas já é tarde. Só então se compreenderá como inutilizou
a existência nesta terra, perdendo a felicidade perene. Entretanto, para quem
cumpriu o seu dever, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de
serviço ao próximo, fechar-se-á a porta do
tempo e logo se abrirão os as portas do céu. O que causou pena, mas foi
suportado com afeto a Deus é que dará aquela alegria que tiveram as virgens
prudentes da parábola de hoje. Toda vigilância é pouca para garantir a salvação
eterna. * Professor no Seminário de
Marina durante 40 anos.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
LOUVORES A TODOS OS SANTOS
LOUVORES A TODOS OS SANTOS
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho*
Na solenidade dedicada a todos os santos
elevam-se os pensamentos até à pátria celeste para festejar a multidão dos
batizados de todas as raças, de todas as línguas e de todas as nações, os quais
já gozam da visão beatífica. Apenas Deus a todos eles conhece. Louvores,
portanto, não apenas àqueles que foram canonizados, muitos merecedores de
especial devoção dos fiéis, mas também tantos parentes e amigos que viveram
intensamente as bem-aventuranças (Mt 5, 1-12). Por sua fidelidade ao Evangelho
e à Igreja foram nesta terra testemunhas de Cristo. Pelos seus exemplos despertaram
onde estiveram a vontade da santidade, porque estiveram sempre em união com
Deus no qual se encontra a plenitude da santificação humana, Ele a fonte de
toda perfeição. Honrando todos os santos é deste modo, a Deus que se está
prestando louvor. Além disto, ao se considerar a glória dos bem-aventurados
pulsa nos corações dos que ainda caminham para a Jerusalém do alto o desejo de
estar lá um dia na companhia dos que souberam optar pelo Reino de Deus. Com
efeito, se homens e mulheres mortais, apesar de todas as dificuldades e
sofrimentos, souberam conquistar o prêmio eterno, também os que ainda militam
neste mundo não podem nem devem perder tal recompensa reservada aos
conquistadores de um lugar na Casa do Pai. Se eles puderam, nós também
conseguiremos um dia estar na companhia deles para glorificar o Senhor por toda
a eternidade. Os santos se fizeram exemplos a serem seguidos e os devemos
imitar, desprezando bens terrenos e almejando as beatitudes que realmente
elevam e dignificam os seguidores de Cristo. Os santos no céu se regozijam
pelos que se esforçam por viver santamente. Estes precisam levar outros a não
perderem a felicidade eterna. Jesus foi claro: “Haverá mais alegria no Céu por
um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não necessitam
de conversão” (Lc 15,7). Entretanto, todos os fiéis têm condições espirituais
para serem santos e obedecer às ordens de Deus: “Sede santos, porque eu sou
santo”, com está no Livro do Levítico (Le 1, 44-45), O termômetro e a essência
desta santidade é o próprio Deus. Cristo foi também taxativo: “Sede perfeitos
como o vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5,48). Nas bem-aventuranças
desceu a detalhes sobre quem são aqueles que trilham este caminho que leva à
verdadeira felicidade. Bem-aventurados
quanto à esperança que não permite haja desânimo na trajetória até a pátria
definitiva. Felizes na virtude e na imperturbabilidade já degustadas nesta
terra e que terá sua consumação na outra margem da vida. O escritor romano
Cícero afirmou que ser feliz é, sem padecer mal algum, possuir o conjunto de
todos os bens. Contudo o mundo e os filósofos e escritores pagãos colocaram a
felicidade na opulência e não na pobreza, nos prazeres terrenos e não na pureza
da consciência, no orgulho e não na mansidão. Falavam naqueles que choram pela
perda de riquezas passageiras e não deplorando a perda dos bens espirituais,
lágrimas santas que se opõem aos que riem e se alegram com prosperidades
mundanas, Não souberam penetrar o sentido da misericórdia que vai ao encontro
dos que sofrem. Não entenderam que a paz verdadeira flui da união da alma com
Deus e se estende ao próximo e a toda sociedade, na concórdia total com os
inimigos. Exaltavam os que tinham fome e sede da justiça humana e não poderiam
compreende que ter fome e sede de justiça é misticamente ter fome e sede de
Deus a quem se deve unir-se com todo amor. Não admitiam a paciência e, assim
não podiam entender porque Jesus afirmou serem felizes os que padecem
perseguição. Esta vem dos inimigos da verdade e dos naturais padecimentos do
exílio terreno. Eis porque foi dito que obrar coisas difíceis era próprio dos
romanos, mas padecer coisas árduas será sempre distintivo do verdadeiro cristão.
Os santos que hoje são festejados viveram em plenitude as oito bem-aventuranças
e foram sempre exemplo para todos que estavam em seu derredor. Agora juntos de
Deus são nossos intercessores, pois mediante seus sufrágios chegam a nós os benefícios
de Deus. A alguns foi dado patrocinar causas especiais e a eles mais
assiduamente se elevam as preces. Todos, porém, que se acham no céu protegem
nesta terra seus parentes e amigos que os invocam com confiança e persistência.
A providência divina mostra sua sabedoria ao constituir os santos como nossos
protetores. Como, porém, estão eles no céu mais unidos à vontade santíssima de
Deus, os santos corrigem nossas preces, conformando-as aos desígnios divinos,
dado que nem sempre rogamos o que realmente é o melhor para nós. Por tudo isto
a devoção aos santos e as homenagens a eles dirigidas animam a não perder
jamais o rumo do céu. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
O MAIOR MANDAMENTO
O MAIOR
MANDAMENTO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus, após vencer os saduceus
que haviam proposto uma questão sobre a ressurreição (Mt 22, 23-33), foi abordado pelos fariseus e um deles,
capciosamente, indagou: “Mestre, qual é o maior mensamente da lei” (Mt,22
34-40). Entre os judeus esse assunto era de suma relevância, dada a
multiplicidade dos preceitos da lei. Contavam-se no Torá ou Lei de Moisés
seiscentos e treze numa complexidade que levava a mesclar normas principais com
outras suplementares. Não havia desse modo no judaísmo uma visão objetiva sobre
o princípio fundamental de toda a Lei. Tratava-se de elucidar o cerne mesmo da
exigência moral e a razão última de sua motivação. No fundo era preciso estabelecer
qual era o essencial de tudo que Deus havia preceituado. Conforme a resposta de
Cristo, seus inimigos poderiam depois checar sua conduta, a veracidade de sua
doutrina. Para evitar debates inúteis Jesus foi direto à elucidação da
pergunta: “Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e
com todo o teu entendimento”. Era o que constava no Deuteronômio, texto
recitado duas vezes por dia pelos bons israelitas (Deut 6,4-5). Cristo, porém,
sabiamente, une a este preceito o mandamento do amor ao próximo, inseparável do
amor de Deus e que estava proclamado no Livro do Levítico (Lev 19,18). Com sua
sabedoria de Mestre Ele ligava deste modo o amor ao semelhante e o amor de
Deus, estabelecendo uma lógica hierarquia, pois o amor de Deus estava em
primeiro lugar, estando o amor ao próximo em segundo lugar como norma
semelhante à primeira. Ficava evidente que o inverso não era verídico. Havia,
deste modo, uma relação profunda entre os dois mandamentos, certa equivalência,
porque o amor devido ao Ser Supremo, infinitamente bom e misericordioso, devia
ser estendido através da bondade e da clemência a todo o semelhante. São João
dirá na sua primeira carta: “Em verdade, quem não ama o seu irmão, que vê, não
pode amar a Deus que não vê e este mandamento recebemo-lo dele: quem ama a Deus
ame também o seu irmão” (1 Jo 4). Os dois mandamentos são semelhantes, a saber,
amar a Deus, o Criador e o Redentor, e amar o próximo, criado à imagem e
semelhança de Deus, remido pelo mesmo sangue divino. Não há oposição entre
estes dois preceitos que são integrantes. Acontece, porém, que na teoria logo
são admitidas estas verdades, mas na prática é necessário sempre um autoexame
para se verificar se não ocorre o desprezo de um deles. É que o verdadeiro
seguidor de Cristo se abre a uma prática que visa as duas realidades, ou seja,
um amor do próximo que seja prolongamento da intimidade pessoal com o Deus
Altíssimo. O amor a este Deus estendido no encontro fraternal com os outros.
Jesus condensou de uma maneira peremptória toda fé de Israel e de todos os seus
discípulos conjugando o amor de Deus com o amor do irmão. Enunciou um princípio
espiritual de ação, uma atitude que devia ajudar cada um a caminhar no sentido
da verdadeira vida humana em toda e qualquer situação. Jesus mostrou que um
amor a Deus que não se expande no amor sincero aos outros não atinge sua
verdadeira dimensão. Por entre as tarefas importantes da existência de cada um,
demandando atenção, tempo e energia, muitos ficam sem saber o que é realmente
prioritário. Jesus oferece um critério supremo: É preciso sempre realizar
aquilo que convém para provar amor a Deus e ao semelhante., não aquilo que a
pessoa julga boa para si mesma de uma maneira egoística. Jesus deixou uma
fórmula simples para discernir o que é verdadeiramente importante entre tantos
valores que se apresentam ao ser humano, isto é, o duplo amor que necessita
impregnar todas as obras. O ícone deste programa de vida é a cruz. Nela Ele deu
a prova suprema do amor de Deus para com a criatura humana que O deve amar na
mesma proporção. Ele foi também claro ao dizer: “Este é o meu mandamento que
vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que o
daquele que dá a vida pelos amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu
vos ordenei” (Jo 15,13-14). A Cruz indica tudo isto, a saber, a travessa
vertical apontando. para o Alto, para o amor a Deus e a travessa horizontal,
indicando o abraço fraternal envolvendo todos os irmãos num amor sem limites. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
sábado, 21 de outubro de 2017
DAR A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR
DAR A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR, A DEUS O
QUE É DE DEUS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A
resposta que Jesus deu aos fariseus e herodianos é uma das sentenças mais
conhecidas dos cristãos: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é Deus” (Mt
22,15-21). Este ensinamento impregnou o pensamento dos cristãos, tornando-se
até popular. É preciso, contudo, penetrar fundo nesta lição do Mestre divino.
Seu objetivo não foi simplesmente colocar um divisor entre o temporal e o
espiritual. Não foi também seu objetivo justificar os que erroneamente querem
colocar as práticas religiosas apenas na esfera privada, pessoal. O que Jesus
disse deve ser interpretado num contexto bíblico mais amplo para se pinçar e
compreender o seu significado profundo. Levantaram uma questão para tentar
colocar Jesus numa situação embaraçosa, mas a eles não interessava a verdade e
foram, por isto mesmo, chamados por Cristo de hipócritas. Pagar o imposto
romano já era em si reconhecer, de certo modo, a legitimidade de uma ocupação invasora
e para a fé judaica a única aplicável em Israel devia ser a lei de Deus. Assim
sendo, se Jesus lhes respondesse que era preciso pagar o imposto a César Ele se
fazia colaborador dos romanos. Se Ele respondesse que não era preciso pagar o
importo, os fariseus poderiam denunciá-lo por rebelião contra as autoridades
que dominavam o país. Jesus estaria inclusive impulsionando os judeus à
revolta. Aliás, mais tarde diante de Pilatos para complicar Cristo no
julgamento haveriam de dizer que Jesus era inimigo do Imperador. Deste modo, ao
interrogar Jesus pensaram em colocá-lo numa cilada sem saída. Com sua sabedoria
Cristo lhes manda que mostrem uma peça do dinheiro romano, sinal por excelência
do poder político do dominador. Portanto, ao pagar o imposto os judeus
aceitavam o jogo econômico de Roma. Isto era uma visível incoerência, mas não
tinham como escapar do domínio ao qual estavam submetidos. Eis porque Jesus
lhes disse “Dai a César o que é de César”. Entretanto, o Mestre divino foi mais
longe ao acrescentar “Dai a Deus o que é de Deus”. Ele focalizava uma dimensão
espiritual e lançava uma lição. Ele
perguntou de quem era a imagem que estava na moeda. Era de César, assim dê a ele
o que lhe pertence. Ao se referir, porém, naquele momento também a Deus, Cristo
lembrava outra imagem. Esta se achava no
livro do Gênesis: “Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, e
criou-os homem e mulher” (Gên 1,27). Jesus sabiamente levou seus interlocutores
a outra realidade, mas importante do que o dinheiro de César, qual seja a
vivência da imagem de Deus na vida de cada um, a submissão total ao Criador.
Era um ensinamento universal. O homem, é certo, tem que se adaptar aos fatos
materiais e políticos para poder viver em sociedade. Entretanto, não pode o ser
racional descurar as exigências de sua vida espiritual. Precisa dar a Deus o
que é de Deus cuja autoridade é bem mais doce e suportável do que a dos homens.
O próprio Jesus afirmou: “O meu jugo é suave, o meu fardo é leve” (Mt 11,30).
Muitas vezes se esquece facilmente da presença discreta e amável de Deus que
habita nos corações dos que O amam e respeitam, Dar a Deus o que é de Deus é
estar sempre intimamente unido a Ele a quem se deve total submissão na vida
cotidiana. Criados à imagem e semelhança de Deus o homem e a mulher devem ser
uma oferenda contínua a Ele pelas preces e pelo empenho na evangelização. Os
fariseus e herodianos traziam à baila a questão material do imposto a ser pago
ao Imperador, mas Jesus lhes lembra algo
muito mais importante que é o aspecto espiritual que engrandece a criatura
perante seu Criador. Como cidadãos temos que cumprir os nossos deveres para com
o Estado. Como criaturas devemos estar
sempre cônscios de nossas obrigações para com Deus. Ao poder civil a cada
instante cada um paga taxas altíssimas, dinheiro quase sempre mal empregado por
muitos políticos. Deus, porém, não procura nada a não ser uma amizade real e sincera
com Ele através de orações fervorosas. Além dito, quando o cristão se coloca ao
serviço do próximo na família ou na sua comunidade é a Deus que ele está
servindo, a Ele que a cada um,
continuamente, cumula com tantas graças e benefícios. Cumpre assim uma imersão
total no mistério de Deus. O dinamismo cultural da fé cristã leva discípulo de
Jesus a lidar com as coisas materiais, priorizando, porém, as realidades
espirituais.* Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
Céu, inferno e purgatório
CÉU, INFERNO E PURGATÓRIO.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Este tema faz parte
dos NOVÍSSIMOS DO HOMEM: Morte, Juízo,
Inferno e Paraíso.
Após o Juízo a alma
vai para o céu, para o inferno ou para o purgatório, que é onde se expiam os
pecados não reparados neste mundo.
Livro
do Eclesiástico contém um conselho fundamental : “Em todas as tuas
obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás (Ecl. 7, 40).
MORTE
“Considerai que
sois pó, e que em pó vos haveis de tornar” (Gên 3,19).
“Por isso, vigiai, porquanto não sabeis em que dia virá o
vosso Senhor” (.Mateus
24:42-44)
Ensina o Catecismo
da Igreja Católica (CIC):
§1006 "É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu
ponto mais alto." Em certo sentido, a morte corporal é natural; mas para a
fé ela é na realidade "salário do pecado" (Rm 6,23). E, para os que
morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de
poder participar também de sua Ressurreição.
§1007 A morte é o termo da vida terrestre. Nossas vidas são medidas pelo
tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece
com todos os seres vivos da terra, a morte aparece como o fim normal da vida.
Este aspecto da morte marca nossas vidas com um caráter de urgência: a
lembrança de nossa mortalidade serve também para recordar-nos de que temos um
tempo limitado para realizar nossa vida:
Lembra-te de teu Criador nos dias de tua mocidade (...) antes que o pó
volte à terra donde veio, e o sopro volte a Deus, que o concedeu (Ecl 12,1.7).
§1008 A morte é consequência do pecado. Intérprete autêntico das
afirmações da Sagrada Escritura e da tradição, o magistério da Igreja ensina
que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem. Embora o homem
tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava a não morrer. A morte foi,
portanto, contrária aos desígnios de Deus criador e entrou no mundo como consequência
do pecado. "A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído se não
tivesse pecado", é assim "o último inimigo" do homem a ser
vencido (1 Cor 15,26).
§1009 A morte é transformada por Cristo. Jesus, o Filho de Deus sofreu
também Ele a morte, própria da condição humana. Todavia, apesar de seu pavor
diante dela, assumiu-a em um ato de submissão total e livre à vontade de seu
Pai. A obediência de Jesus transformou a maldição da morte em bênção.
§1010 Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. "Para
mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro" (Fl 1,21). "Fiel é esta
palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos" (2Tm 1,11). A novidade
essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está
sacramentalmente "morto com Cristo", para Viver de uma vida nova; e,
se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este "morrer com
Cristo" e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor:
É bom para mim morrer em Cristo
Jesus, melhor do que reinar até as extremidades da terra. É a Ele que procuro,
Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que ressus
JUÍZO
O Catecismo da Igreja Católica ensina que «a
morte põe termo à vida do homem, enquanto tempo aberto à aceitação ou à
rejeição da graça divina, manifestada em Jesus Cristo» «Ao morrer, cada homem
recebe na sua alma imortal a retribuição eterna, num juízo particular que põe a
sua vida em referência a Cristo, quer através de uma purificação, quer para
entrar imediatamente na felicidade do céu, quer para se condenar imediatamente
para sempre».
.Haverá então dois livros: o Evangelho e a Consciência. No Evangelho
ler-se-á o que o culpado devia fazer; na Consciência, o que tiver feito. Na
balança da divina justiça não se pesarão as riquezas, nem a dignidade, nem a
nobreza das pessoas, mas sim, somente as obras. “Não é ouro nem o poder do rei
que está na balança, mas unicamente as obras boas ou más”
Esta no CIC §1848 Como afirma S. Paulo: "Onde avultou o pecado, a
graça superabundou" (Rm 5,20). Mas, para realizar seu trabalho, deve a
graça descobrir o pecado, a fim de converter nosso coração e nos conferir
"a justiça para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, nosso
Senhor" (Rm 5,21). Como o médico que examina a ferida antes de curá-la,
assim Deus, por sua palavra e por seu Espírito, projeta uma luz viva sobre o pecado.
Após o juízo seguem-se o purgatório, o inferno, ou o céu
PURGATÓRIO
Jesus foi claro: “Há
pecados que não são perdoados nem neste nem no outro mundo” ((Mt
12,32)
Ensina o CIC §1030 Os que morrem
na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora
tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma
purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do
Céu.
§1031 A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos,
que é completamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a
doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de
Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura, a tradição da Igreja
fala de um fogo purificador:No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer
que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que
é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o
Espírito Santo, não lhe será perdoada nem presente século nem no século futuro
(Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser
perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro”.
§1032 Este ensinamento apoia-se também na prática da oração pelos
defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala: "Eis por que ele [Judas
Macabeu) mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a
fim de que fossem absolvidos de seu pecado" (2Mc 12,46). Desde os
primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em
seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados,
eles possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as
esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos:
Levemos-lhes socorro e celebremos sua memória. Se os filhos de Jó foram
purificados pelo sacrifício de seu pai que deveríamos duvidar de que nossas
oferendas em favor dos mortos lhes levem alguma consolação? Não hesitemos em
socorrer os que partiram e em oferecer nossas orações por eles.§1472
AS PENAS DO PECADO Para compreender esta doutrina e esta prática da
Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla consequência. O pecado
grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos toma incapazes da
vida eterna; esta privação se chama "pena eterna" do pecado. Por
outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às
criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no
estado chamado "purgatório". Esta purificação liberta da chamada
"pena temporal" do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas
como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como
uma consequência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de
uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo
que não haja mais nenhuma pena.
O INFERNO
Jesus fala muitas vezes da
"Geena", do "fogo que não se apaga", reservado aos que
recusam até o fim de sua vida crer e converter-se, e no qual se pode perder ao
mesmo tempo a alma e o corpo. Jesus anuncia em termos graves que "enviar
seus anjos, e eles erradicarão de seu Reino todos os escândalos e os que
praticam a iniquidade, e os lançarão na fornalha ardente" (Mt 13,41-42), e
que pronunciar a condenação: "Afastai-vos de mim malditos, para o fogo
eterno!" (Mt 25,41).
Doutrina da Igreja sobre o inferno no CIC:
§1036 As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja
acerca do Inferno são um chamado à responsabilidade com a qual o homem deve
usar de sua liberdade em vista de seu destino eterno. Constituem também um
apelo insistente à conversão: "Entrai pela porta estreita, porque largo e
espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele.
Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. E poucos são
os que o encontram" (Mt 7,13-14): Como desconhecemos o dia e a hora,
conforme a advertência do Senhor, vigiemos constantemente para que, terminado o
único curso de nossa vida terrestre, possamos entrar com ele para as bodas e
mereçamos ser contados entre os benditos, e não sejamos, como servos maus e
preguiçosos, obrigados a ir para o fogo eterno, para as trevas exteriores, onde
haverá choro e ranger de dentes.
Inferno e aversão livre e
voluntária de Deus
§1037 Deus não predestina ninguém para o Inferno; para isso é preciso uma
aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim. Na
Liturgia Eucarística e nas orações cotidianas de seus fiéis, a Igreja implora a
misericórdia de Deus, que quer "que ninguém se perca, mas que todos venham
a converter-se" (2Pd 3,9): Recebei, ó Pai, com bondade, a oferenda de
vossos servos e de toda a vossa família; dai-nos sempre a vossa paz, livrai-nos
da condenação e acolhei-nos entre os vossos eleitos. 7
Inferno É consequência da rejeição eterna de
Deus É o pecado mortal que causa a morte eterna
Ensina o CIC §1861 O pecado mortal é uma possibilidade radical da
liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a
privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Se este estado não
for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão
do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, já que nossa liberdade tem o
poder de fazer opções para sempre, sem regresso. No entanto, mesmo podendo
julgar que um ato é em si falta grave, devemos confiar o julgamento sobre as
pessoas à justiça e à misericórdia de Deus.
A Separação eterna de Deus principal pena do inferno.
CÉU
“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em
coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam." (1
Coríntios 2:9)
“E verão o seu rosto, e nas suas frontes estará o seu nome.
E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre”.
(Apocalipse 22,4-5).
E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre”.
(Apocalipse 22,4-5).
Lemos no Catecismo
da Igreja Católica: n. 1023 Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que
estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre
semelhantes a Deus, porque o vêem "tal como ele é" (1Jo 3,2), face a
face (1Cor 13,12).
No céu, todos, em grau e modo diverso, participamos da mesma
caridade de Deus e do próximo e cantamos o mesmo hino de glória a nosso Deus.
Pois todos quantos são de Cristo, tendo o seu Espírito, congregam-se em uma só
Igreja e nele estão unidos entre si.
Depois de entrar na
felicidade de Deus, a alma não terá mais nada a sofrer. No paraíso não há
doenças, nem pobreza, nem incômodos. Deixam de existir as vicissitudes dos dias
e das noites, do frio e do calor; é um dia perpétuo, sempre sereno, primavera
perpétua, sempre deliciosa. Não há perseguições nem ciúmes; neste reino de
amor, todos os seus habitantes se amam mútua e ternamente, e cada qual é tão
feliz da ventura dos outros como da própria. Não há receios, porque a alma,
confirmada na graça, já não pode pecar nem perder a Deus. Tudo é novo, tudo
consola, tudo satisfaz.
No céu se terá é a
reunião de todos os gozos que se podem desejar.
O bem, que se terá no
paraíso, é o Bem supremo, que é Deus
.
CONCLUSÕES
. Se o mundo anda tão mal, é porque
pouco se medita ou mesmo não se cogita seriamente sobre os Novíssimos.
O justo experimenta, ao
morrer, um prelibar da alegria celestial
Que consolação não
darão então no dia do juízo as orações,
o desprendimento dos bens terrestres e tudo o que se tiver feito de acordo com os
Mandamentos na práticas das Virtudes!
Aquele que oferece a Deus a sua morte pratica
para com Ele o ato de amor mais perfeito possível, pois que, abraçando de bom
coração esta morte que agrada a Deus, no tempo e do modo que Deus quer, se
pratica o que se reza no Pai Nosso: “Seja feita a vossa vontade”.
. O inferno é um
lugar de tormentos (Lc 16, 28), como lhe chama o mau rico que a ele foi
condenado: lugar de tormentos, onde todos os sentidos e todas as faculdades do
condenado devem ter o seu tormento próprio, e quanto mais se tiver ofendido a
Deus com algum dos sentidos, tanto mais terá a sofrer este mesmo sentido.
No inferno a vista
será atormentada pelas trevas. De quanta compaixão nos possuiríamos se
soubéssemos que existia um infeliz encerrado em escuro cárcere por toda a vida,
ou por quarenta ou cinquenta anos! O inferno é um abismo fechado de toda a
parte, onde nunca penetrará raio de sol
Razão tem Santo Agostinho: "Interroga a beleza da terra, interroga a
beleza do mar, interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga a
beleza do céu... interroga todas estas realidades. Todas elas te respondem:
olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor. Essas belezas sujeitas à
mudança, quem as fez senão o Belo, não sujeito à mudança?"
Nunca
se reflete demais no que disse São Paulo: “ A nossa cidadania, porém, está nos
céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo
poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele
transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo
glorioso.(Filipenses
3:20-21).
* Professor no Seminário de Mariana
durante 40 anos.
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
OS VINHATEIROS
PERVERSOS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na
parábola dos vinhateiros perversos Jesus sintetiza a história da Aliança de
Deus com a humanidade (Mt 21,33-43). Para sua vinha de predileção, o país de
Israel Ele mandou os profetas que não foram bem recebidos e, até, mal tratados.
Na plenitude dos tempos numa derradeira manifestação de misericórdia Ele enviou
o seu próprio Filho, o verdadeiro herdeiro das promessas feitas a Abraão.
Cristo foi rejeitado, crucificado fora da Cidade e seus inimigos o mataram.
Entretanto. “a pedra que os construtores rejeitaram se tornou a pedra angular”.
O Reino de Deus se estenderia por toda a terra, pois esta pedra angular que é o
Messias, desprezado pelos chefes de Israel, uniria e sustentaria os membros do
edifício divino através dos tempos. Séculos afora, porém, novos maus
vinhateiros surgiriam, falsos profetas, arautos do erro que, deliberadamente
por malícia ou por ignorância, combateriam Jesus Cristo e sua obra redentora.
Revolta contra sua Igreja e as exigências do Evangelho e repugnância à
observância integral e verídica dos mandamentos sagrados. Todos os meios seriam
usados para enfraquecer sua doutrina, desqualificando seus seguidores, armando
campanhas caluniosas. Tentativas para denegrir os católicos, as legítimas
autoridades eclesiásticas, num uso satânico dos meios de comunicação social.
Tudo isto num desejo malévolo de marginalizar Jesus e seus fiéis seguidores.
Entretanto, a obra salvadora do Filho de Deus não ruiria por terra, pois o
Enviado do Pai afirmou que as portas do inferno não prevaleceriam contra sua
Igreja. É que há da parte de Deus um permanente desejo de salvar os seres
humanos, apesar da atuação das forças malignas desencadeadas por satanás. Este
se empenha em desestabilizar a fé no coração dos fiéis seguidores de Jesus, mas
a vitória será sempre daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. A obra
salvadora de Deus é imbatível, surpreendente, uma maravilha aos olhos dos que
têm fé e andam nas veredas da virtude e sabem que a esperança nas promessas
divinas não decepciona. Deus, porém, não isenta os justos da luta contra o
espírito do mal, mas lhes confere firmeza. Conta assim com os de boa vontade para
a construção de um mundo conforme os parâmetros do Evangelho e, através deles, demonstra
sempre os sinais de seu poder. É deste modo que os cristãos verdadeiros não
desfalecem e dão frutos para o Reino de Deus. O Vinhateiro divino conta, século
após séculos, com milhares de autênticos discípulos de Jesus a espalhar por
toda parte a mensagem da salvação eterna, ampliando o grande edifício edificado
sobre a Pedra Angular, Cristo Redentor, pedra sempre sólida por entre os
turbilhões da perversidade desencadeada por aqueles em cujo coração reina o
ódio contra Ele. Como bem salientou o notável teólogo Frei Jean-Christian
Lévêque “coragem nos vem para entrar nós
mesmos, na construção da casa de Deus”. Para que haja sempre esta fidelidade à
Pedra Angular pairam as palavras animadoras de Jesus: ”Procurai o Reino de Deus
e tudo mais vos será dado em acréscimo” (Mt 6,33), Deste modo, as ilusões
terrenas não impedem aos autênticos cristãos de serem pedras vivas unidas à
Pedra Angular e acontecimentos admiráveis ocorrem nesta terra. É porque há
milhares de bons vinhateiros, cristãos fervorosos por toda parte que o Reino de
Deus se mostra como uma edificação sólida É um lamentável erro o que diz certa
música ao afirmar que “hoje, se a vida, é tão ferida, deve-se a culpa, a
indiferença dos cristãos (sic).São inúmeros os bons cristãos que existem por toda
parte com pensamento elevados sempre para Deus com um coração ardente e uma
alma livre, almejando ser um vinhateiro fiel a seu Deus e Senhor. São aqueles
que cumprem o seu dever e suas boas obras os transforma em pedras luminosas no
edifício da Igreja seja onde estiverem. Há maus vinhateiros, mas, em
compensação, numerosos os que trabalham fielmente para o Reino de Deus. Sejamos
sempre de suas fileiras para glória de Deus e bem das almas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
A PARÁBOLA DOS DOIS IRMÃOS
A
PARÁBOLA DOS DOIS IRMÃOS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Dois irmãos diferentes e duas atitudes que merecem
reflexão é o que Jesus apresenta numa de suas parábolas, todas elas tão ricas
de ensinamentos (Mt 21,28-32. Um dos filhos a quem o pai mandou trabalhar na
vinha disse que não queria ir, mas mudou de opinião e obedeceu à ordem
recebida. Na atitude humana diante de
Deus há sempre ocasião de uma conversão, ou seja, uma metanoia, um arrependimento.
Aí está um dos temas centrais de todo o Evangelho. Para todos os seres humanos há um tempo para mudar de mentalidade e fazer
a vontade divina e não a própria pretensão. Num momento de reflexão é possível
vislumbrar uma perspectiva diversa do próprio egoísmo que barra a adesão ao que
Deus quer. Os recados do Senhor de tudo estão sempre envoltos em amabilidade,
ternura. Como o Pai da parábola, ele diz suavemente;: “Filho, vai trabalhar na
vinha”. Esta é uma realidade sublime ser filho predileto do Ser Supremo. São
João proclamou magnificamente: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de
sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus” (1 Jo
3,1); Se assim é, cumpre agir em consequência, pois tal pai nunca ordena algo
que vá prejudicar aquele que ele ama tão ternamente. É necessário sempre uma
filiação responsável que conduza inclusive a uma mudança de atitude errônea. A
ordem de Deus é dirigida individualmente,
como se pode notar nesta parábola, na
qual o Pai se dirige a cada um dos dois filhos. Havia premência na obediência à
determinação dada: “Vai hoje trabalhar na vinha”. .Há urgência no trabalho na
vinha do Senhor, ou seja, na evangelização, na divulgação das mensagens
deixadas por Cristo, visando a conversão dos que se acham longe dele. A vinha
na Bíblia é a humanidade e cada um individualmente. Deus quer que haja empenho
na construção do ser humano para que este se envolva na paz, na alegria estando
apto a possuir a vida divina. É levar a
esperança àquele que está desesperando, infeliz por andar em caminhos tortuosos.
Todos são chamados para o Reino de Deus, mas é preciso haja quem trabalhe na vinha do Senhor, como
fez o jovem da parábola que pensou e atendeu a decisão do pai. O outro filho
disse que ia trabalhar e não foi. Deste procedimento fluem também lições
preciosas. Diante do bem a ser feito é mais fácil querer do que fazer, falar do
que agir. Este segundo filho desejou ir, mas não obedeceu ao pai. Deu um sim e
não atuou de acordo com o que dissera. .
Queria praticar o bem, obedecendo, mas o mal estava junto dele e ele desobedeceu
ao pai. Não basta na vida do cristão a boa vontade e isto é uma dificuldade bem
real. São os que não contemplam claramente a felicidade de seguir em tudo a
vontade de Deus e são, por vezes, agitados, tentados por uma legião de demônios. É dramático não
acatar os desígnios de Deus, dizendo a Ele na prática um não definitivo que é a porta aberta para perda da felicidade eterna.
Trata-se de uma situação crítica que pode se tornar irreversível. É
verdadeiramente problemático quando alguém recusa o elã de vida que Deus
propõe. Nesta parábola o filho que disse não e se arrependeu foi trabalhar na vinha e isto sem outras
intenções egoísticas. O trabalho na vinha do Senhor não pode ser motivado por temor,
mas precisa ser fruto do amor de quem é chamado de filho bem amado do pai. A
recompensa, a eternidade feliz, é uma consequência e não a razão última da
obediência à lei de Deus. É preciso sempre total coerência na existência do
cristão que não deve viver de aparências.
A fé interior de cada um não pode ser guiada por interesses pessoais,
mas por um profundo amor ao Pai celeste. Não basta parecer cristão, mas sim ser
verdadeiramente cristão. Deus não pede nunca o impossível. Na imagem do filho
que pensou, voltou atrás e foi trabalhar na vinha Deus mostra que o retorno é possível. Ele não fecha nunca a porta para as
almas, mesmo num momento de rebeldia. Se alguém quer retornar a Deus e mudar de vida pode fazê-lo e Deus o acolhera sempre de braços abertos.
Somos o que praticamos. Deste modo, modo nosso amor se mostra de acordo com o
cumprimento de sua vontade santíssima. É isto que a cada instante define e
retrata seu verdadeiro filho. É arrepender-se e se esforçar por fazer esta sua
vontade sapiente de Deus. O obediente sempre cantará vitórias” * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE VIÇOSA
DISCURSO DO CÔNEGO JOSÉ GERALDO
VIDIGAL DE CARVALHO, PRESIDENTE HONORÁRIO DO IHGV NA SESSÃO SOLENE DA
INSTALAÇÃO DESTE INSTITUTO DIA 21 DE SETEMBRO DE 2017.
Excelentíssimo
Senhor Prefeito Municipal de Viçosa, Ângelo Chequer, demais ilustres membros
desta Mesa, prezados amigos e amigas, cuja presença prestigia imensamente esta
cerimônia.
Gratias
agimus Deum - Damos graças ao Senhor
21 de setembro, dia marcante para
a História de Viçosa, data fulgente da instalação oficial de seu Instituto
Histórico e Geográfico, “Casa de Alexandre de Alencar”. Fundado dia 10 de
novembro de 2016, este Instituto tem por objetivo cuidar da preservação da
História desta cidade universitária, dar incentivo a novos estudos de natureza
histórica e geográfica, bem como a organização de documentos relacionados à
origem e desenvolvimento de uma das mais importantes cidades do Brasil.
Acabamos de diplomar o primeiro Presidente deste Instituto, o historiador Dr.
Henrique Cruz Neto, que vai empossar os demais 26 membros efetivos,
considerados fundadores. Serão também homenageados os sócios honorários e
beneméritos, num total de 40 baluartes desta novel Instituição. Dia primeiro
deste glorioso mês de setembro tivemos o prazer de receber na Casa da Praça do Rosário
dois idealizadores deste Instituto, o sábio e incansável batalhador da cultura
viçosense, José Mário Rangel; o consagrado Professor Dr. Vicente de Paula de
Souza Castro, que o apoiou desde o início nos trabalhos de organização desta
Instituição e o notável historiador Dr. Henrique Cruz Neto, já empossado como o
primeiro Presidente. Fizeram-me então a comunicação de que este historiador e
professor seria o Presidente Honorário deste Instituto. Título sumamente
honorífico recebido com gratidão e profunda emoção por quem já pertence ao
Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e ao Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro. Cabe a todos
os membros do Instituto Histórico e Geográfico de Viçosa mostrar os valores
que, através dos tempos, tem feito desta cidade a pioneira na concretização dos
mais vibrantes ideais cívicos, graças às atuações dos que aqui já viveram e
atualmente vivem. Instituto Histórico e Geográfico, porque embora a História
esteja relacionada com todas as demais ciências sociais, sua ligação com a
Geografia é ainda maior. Com efeito, deste os tempos de Hecateu de Mileto e de
Heródoto, este considerado o Pai da História, se associou a Geografia a esta
ciência dos atos humanos do passado e dos fatores que neles influenciaram vistos
na sua sucessão temporal. Chegou-se até a pretender englobar definitivamente a
geografia humana à história, ficando a geografia física como um estudo à parte.
Seja dito inclusive que Lucien Lebvre no seu livro La terre et l`évolution humaine traçou com muita pertinência a
linha mestra de uma história geográfica. Ressalte-se que
um Instituto como este, hoje aqui instalado, visa também incrementar o
patriotismo a começar da cidade na qual se vive. Na verdade, a seiva desta
terra viçosense circula em nossas veias, o granito de sua história compõe o nosso caráter, a beleza de sua
natureza resplende em nosso modo de ser,
suas entranhas irrompem em nossa existência, nela mergulha a raiz de nossa
consciência cívica e religiosa. Com razão Byron lançou esta interrogação que
nesta hora solene entusiasticamente repetimos:
“Não fazem estes céus, águas e serras, / Uma parte de mim e eu
parte delas”? Eis porque cumpre
cultivar cada vez mais tudo que a esta urbe diz respeito, ou seja, sua origem,
suas tradições, seu contributo para o progresso do Brasil, porque tudo isto nos
repassa até o fundo de nossas vidas. Aliás, com todas as características do
mineiro, criado geograficamente entre decantadas montanhas o que o torna um ser
que pensa profundamente, assimilando o que é justo e verdadeiro, irradiando por
toda parte sua peculiar iluminadora mundividência. A instalação deste Instituto
Histórico e Geográfico de Viçosa é, portanto, um ato de amor a esta querida
cidade e fará ainda mais exaltados seus heróis, os seus poetas, os seus sábios,
porque eles traduziram e traduzem em seus feitos e em suas obras algo mais
excelso que o gênio e a glória pessoal, dado que traduzem e sintetizam o gênio
e glória de uma urbe que deu ao Brasil o melhor Presidente da República de
todos os tempos, como foi a figura impoluta de Arthur da Silva Bernardes. Quer para a História, quer para a Geografia há necessidade, entretanto,
de uma documentação adequada, organizada por um arquivista competente. O
historiador tem sempre em mente o princípio basilar pas de document, pas d`histoire
- não há documento não há história.
Donde a importância do
Arquivo Histórico Municipal “Prof. Arduíno Bolivar”, bem com os documentos do
Legislativo Municipal que se acham numa das dependências do prédio à Rua Arthur
Bernardes, 95. Note-se ainda que há todo um trâmite sobre os Documentos do
judiciário que se encontram no Fórum, dependendo do convênio com a Universidade
Federal de Viçosa, onde funciona um dos
mais conceituados Cursos de História de todo o país. De acordo com a
metodologia todos os documentos passam pela crítica interna e externa, sendo
que a base do espírito histórico é caracterizado pela crítica metódica. Cabe ao
historiador julgar o valor de cada documento. Não se pode depositar uma
confiança ingênua em textos mal embasados. A crítica externa a verificar a
origem do documento e a forma na qual se apresenta o que, é claro, obvia o
perigo das falsificações. A crítica interna conduz à análise do conteúdo do
documento. O historiador se torna então um hermeneuta para chegar a uma
interpretação adequada do que é relatado. Por certo este Instituto Histórico e
Geográfico de Viçosa batalhará para que técnicas ultramodernas estejam sendo
empregadas pelos organizadores dos referidos arquivos. Perante uma documentação segura, o Historiador erudito, tudo situando
num contexto geográfico, econômico e sociológico, poderá contribuir
cientificamente para um conhecimento que ele trará a lume através dos recursos
da tecnologia da informação. O grande objetivo dos historiadores se
torna então possível e eles podem captar os fatos históricos, sabendo que um
fato é histórico quando possui, conjuntamente, as qualidades de um evento
passado, sendo portador de consequências. É que o fato histórico corresponde,
incontestavelmente, à matéria-prima da História. Ele é o objeto intelectual da pesquisa. Os
fatos passados pertencem de modo especial à História, dado que oferecem ao historiador o recuo na escala do tempo. Para
conseguir, entretanto, escapar da insídia da seleção errônea dos documentos, a
fim de se esquivar do perigo da falsidade e da manipulação das informações a
que tem acesso, enfim para fazer uma apropriada e válida História, o
historiador deve sair de si mesmo, necessita se tornar acessível, indo ao
encontro da realidade. Este esforço histórico só é possível se há neste
cientista social o desejo de atingir a verdade, de estar disponível a captar o
que os documentos têm, de fato, a revelar, evitando projetar sobre eles idéias
preconcebidas ou teorias preestabelecidas, eivadas de um subjetivismo
deletério. O passado pode nos locupletar apenas se o procurarmos livres de
qualquer tipo de posicionamento preconceituoso. Então,
com uma boa documentação em mãos, bem trabalhada, o expert da ciência histórica
é capaz de discernir os acontecimentos importantes e suas reais implicações.
Revela-se desta forma um historiador abalizado. Desta
maneira, se justifica e se torna até necessária a publicação de textos
redigidos por parte dos membros deste Instituto, cuja produção histórica deverá
chegar aos interessados inclusive através do site desta agremiação. Parte-se do
princípio de que não basta que um fato tenha verdadeiramente existido numa
época anterior para que sua existência seja histórica.
É preciso que tal existência tenha sido manifestada. Daí ser imprescindível sua
divulgação. Grande importância terão no site deste
Instituto os boletins mensais relatando as pesquisas em andamento, textos bem
elaborados, incentivando novos estudos. Caberá ao Presidente empossado, Dr.
Henrique Cruz Neto, providenciar na web a hospedagem e o domínio do site deste
Instituto o que será possível com o apoio e prestígio do Chefe do Departamento Municipal de Cultura de Viçosa e
secretário-geral do Conselho Municipal de Política Cultural, José Mário Rangel.
Crescerá deste modo
o apreço à História em todos os seus aspectos e um destes aspectos é o que o
referido Presidente deste Instituto, Dr. Henrique Cruz Neto, trabalha com rara
sabedoria e perseverança que é a genealogia da família Lopes Carvalho e suas
ramificações. Eis aí algumas reflexões metodológicas que a Instalação deste
Instituto traz à baila. Adite-se a tudo isto que neste 21 de setembro se
festeja também um grande historiador, ou seja, o Evangelista Mateus que nos
legou lances maravilhosos e bem fundamentados da História de Jesus de Nazaré, o
maior personagem de todos os tempos e lugares. Dentre os textos deste
Evangelista se destaque o registro que ele fez do Sermão da Montanha. Este sermão é a carta magna da nova ordem
fundada por Cristo. Proferido por Jesus numa colina próxima a Cafarnaum, entre
a segunda Páscoa e o Pentecostes seguinte, tem como tema central a verdadeira
justiça, ou seja, a perfeição ética, indispensável ao verdadeiro cidadão. Como
bom historiador São Mateus também não inventa episódios como os escritos
apócrifos que violam a realidade histórica com ficções literárias, no intuito
de alimentar a fantasia de seus leitores. Mostra um personagem cujo ensinamento
supera de muito a ciência dos filósofos e sábios deste mundo, porque suas
palavras são espírito e vida jamais esgotados pela inteligência humana. É que
Cristo e o homem são como a pergunta e a resposta, o problema e a sua solução.
Quem acha nele a resposta de suas indagações e a solução de seus problemas está
salvo e será um cidadão prestante. São Mateus e Jesus Cristo,
haverão eles, também, de iluminar os
trabalhos deste Instituto. Além disto, hoje se comemora o Dia da árvore.
Frondosas árvores nos lembram, igualmente, o caminho arborizado até à
Universidade Federal de Viçosa que possui decantados bosques com seus ambientes
silenciosos e aconchegantes. Pois
bem, nesta cidade está sendo hoje plantada outra árvore frondejante que é esse
Instituto. Frutos históricos há de dar
esta árvore, frutos opimos para a cultura viçosense cuja história bem estudada
se constituirá um farol para as futuras gerações. Se plantar uma nova árvore
significa produzir mais oxigênio, grande a responsabilidade dos integrantes
deste Instituto cuja missão é também oxigenar, clarear, revigorar ainda mais a
cultura histórica viçosense. Que esta árvore indique uma passagem segura para
as regiões iluminadas do amor à História e à Geografia desta gloriosa Cidade de
Viçosa. A exemplo do que se diz da
histórica cidade de Mariana, também se pode afirmar “Viçosa docet” – Viçosa ensina e este Instituto
Histórico e Geográfico estará confirmando ainda mais esta assertiva. Por tudo
isto gratias agimus Deum – damos
graças a Deus. Dixi in fide sacerdotis et magistri
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
O VALOR DO SER HUMANO
O VALOR DO SER HUMANO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma leitura superficial da Bíblia pode levar a uma
visão errônea da pessoa humana. O homem e a mulher, realmente, nascem com o
pecado original, inclinados para o mal. Entretanto, quando se penetra fundo nos
desígnios de Deus, pelas Sagradas Escrituras, se pode perceber a suma dignidade
daqueles que foram criados à imagem e semelhança divina, possuidores de uma
alma espiritual, destinados à vida eterna, remidos que foram pelo sangue
precioso do Filho de Deus. Este se encarnou para a todos redimir. O homem e a
mulher dotados de inteligência possuem a faculdade de conhecer seu Criador,
fonte inexaurível de todo o bem. A Ele, pela vontade iluminada pela fé, podem
se unir de uma maneira inefável. Recebida no batismo a graça santificante,
passam a ser o templo vivo do Espírito Santo, participantes da mesma vida divina.
Podem aspirar então a estar mais intensamente sempre na presença do Ser
soberano, infinito, único capaz de oferecer a verdadeira felicidade. Pulsa o
coração humano com desejos recrescentes que somente no Senhor Todo-poderoso encontram
resposta, jamais deparada longe dele. A alma, que é espiritual e imortal, tende
para Aquele que existe desde toda eternidade e só nele encontra solução para
todos os problemas inerentes à caminhada neste mundo, Adite-se, porém, que,
quando alguém entra dentro de si mesmo e percebe o anseio por uma ventura sem
fim, intui claramente que há condições para se chegar a tal beatitude. Com
efeito, o reto uso da liberdade, tendo como referencial o Decálogo, é
imprescindível para se estar unido a Deus. Este precisa ser servido e amado sobre
todas as coisas para que se possa gozar, já neste mundo, de paz e total
imperturbabilidade. Por tudo isto, fica clara a importância do ser humano que
tem possibilidade de alçar voos para a mais alta espiritualidade, se
desprendendo das ilusões terrenas, não se deixando aprisionar na materialidade.
A graça divina leva à vitória sobre as insinuações do espírito do mal. Então
aquele que corresponde às inspirações que lhe vêm do céu nunca se deixa
escravizar pelas paixões que degradam quem é chamado a possuir Deus neste mundo
e por toda a eternidade. O cristão é um cidadão da pátria celeste e deve corresponder
a sua sublime vocação. Ao meditar nos sofrimentos do Redentor, Deus e homem
verdadeiro, é capaz de captar o quanto é terrível o pecado cuja reparação
exigiu o sacrifício de Bem-amado do Pai. Além disto, em consequência, se
percebe o valor incomensurável de uma alma. Ela mereceu que o Filho de Deus se
humilhasse, se sacrificasse para a fazer eternamente feliz. Daí a luta
constante contra o mal para não tornar inútil a dolorosa paixão e morte de
Jesus. A perversidade dos ímpios é, portanto, de uma gravidade sem limites. O
preço da salvação pago pelo divino Salvador da humanidade deve levar a todo
aquele que reflete a valorizar o tesouro inestimável de uma redenção que conduz
à glória eterna. O mau uso da liberdade leva por isto mesmo a horripilas consequências.
Entretanto, o verdadeiro cristão confiado na graça divina nada terá a temer e marcha,
perseverantemente, para a casa do Pai. Ai o aguarda a bem-aventurança eterna. A
grandeza do ser humano é manifestada em inúmeras páginas da Bíblia. O salmo 138,
por exemplo, Davi assim se dirige a Deus: “Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós
me tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso.
Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis até o fundo a minha alma (Sl
138, 13-14). São
João deste modo se expressou: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo que
lhe deu seu Filho único para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a
vida eterna". Pois Deu não enviou o seu Filho ao mundo para condená-lo,
mas para que o mundo seja salvo por ele (Jo 3, 16-18). Donde o clamor de São
Leão Magno: “Reconhece,
ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza
divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembra-te
de que cabeça e de que corpo és membro. Não te esqueças de que foste libertado
do poder das trevas e transferido para a luz e para o Reino de Deus".
É sempre necessário pensar em todas estas verdades. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
OPERÁRIOS DA VINHA
OPERÁRIOS
DA VINHA
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Trabalhadores
contratados em diferentes horas para o mesmo serviço recebem do patrão da vinha
o mesmo salário (Mt 20,1-16). Isto suscita reclamações e o contratante tem que
se explicar, mostrando que pagava a cada um o que havia prometido, ou seja, um
dinheiro por dia. Este estipêndio representa a vida eterna, dom precioso que
Deus reserva para todos. Quando os últimos aceitam o convite para o trabalho
oferecido, eles se tornam os primeiros, enquanto os primeiros corriam o risco
de se tornar os últimos. Dentre as lições desta parábola aparece claro que o patrão
não tolera a inatividade. Ele quer todos engajados no serviço. Magnífica a
oportunidade dada aos primeiros, pois lhes era facultado trabalhar na vinha do
senhor e se colocar a seu serviço colaborando com sua obra. Isto já era em si
uma recompensa, não obstante todos os esforços. Entretanto, no que tange a
vinha de Deus somente aquele que O ama e a seu reino compreende tal atitude.
Quem é interesseiro e apenas quer servir a Deus pelo salário em si, jamais
compreenderá o valor do chamado divino. a lógica de Deus é diferente da dos
homens. Pelo profeta Isaias Ele já dissera: “Vossos pensamentos não são os meus
pensamentos e meus caminhos não são os vossos caminhos (Is 55,8)”. Notável o
que aconteceu com São Paulo que depois dizia que era a graça de Deus que agiu
nele. Esta graça o transformou de perseguidor da Igreja em apóstolo das nações.
Ele compreendeu que trabalhar para o Senhor é de si uma recompensa. O
importante, portanto é saber sempre escutsar e atender os apelos do Senhor e
poder perceber a felicidade de trabalhar generosamente para o Reino dos Céus.
Muitos que são chamados por último, por vezes, são mais eficientes e realizam
uma obra mais admirável do que aqueles que por mais tempo laboram na seara de
Deus, A iniciativa do chamado ao Senhor pertence. Através dos tempos Ele sai à
procura de operários, de profetas, que queiram se colocar à sua disposição.
Trata-se da instauração da mensagem do Evangelho no mundo, no coração dos
homens. Isto para o bem de toda a humanidade. Ele quer generosidade e o fato de
O servir já é um grande prêmio. Os notáveis missionários de todos os tempos
enfrentaram a fadiga, o calor, o sofrimento, mas com olhos fixos na glória
eterna e não em bens terrenos. É lá no céu que cada um, de acordo com o empenho
na evangelização, perceberá o valor de sua disposição em se entregar a um
apostolado consciente e eficiente O principal é deixar o julgamento de qualquer
atividade evangelizadora ao Senhor. Trata-se de uma questão de absoluta
confiança nele. Ele é o proprietário da vinha que espera a cooperação de cada
batizado que precisa lhe dar o que tiver de melhor a seu alcance. Primeiros ou
últimos todos somos iguais diante de Deus, mesmo porque o salário a que se
refere a parábola é a salvação eterna. Esta pode ser obtida até na última hora
como aconteceu com o Bom Ladrão lá no Calvário. Muitas vezes há um grave
equívoco no que tange o viver mal e se converter no fim da vida, porque quem
por mais tempo vive de acordo com os preceitos divinos e pratica as virtudes já
degusta nesta terra uma porção da felicidade perene do céu. Aquele que está
imerso no pecado não é nunca feliz e amarga uma existência sem a paz da consciência.
Prazeres mundanos, orgias nunca trazem a verdadeira ventura para o coração.
Deste modo, os operários da primeira hora já são recompensados por estarem a
serviço do Reino de Deus. Trata-se de uma questão de fé e não de compromisso
meramente social de um contrato de trabalho. Deste modo, o velho princípio
grego não é infligido, pois “a cada um é dado segundo seu procedimento”. Muito
merecimento há em si mesmo no serviço de Deus.. Numa parábola se deve,
portanto, ir ao significado mais profundo da mesma e ao que ela quer ensinar.
Além de tudo que foi dito, muito lamentável foi a atitude egoísta dos que
reclamaram do seu patrão, mostrando que a solidariedade não estava em seus
corações. Toda inveja necessita ser banida, porque o amor afasta sempre qualquer
inveja. O amor fraterno é sem limites e exige muita generosidade. No caso desta
parábola o dono da vinha não fez nada de ilegal, mas cumpriu o que prometera a
cada um. Deus dá a todos oportunidade para atender o seu chamado e sabe
recompensar.* Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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