LOUVORES A TODOS OS SANTOS
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho*
Na solenidade dedicada a todos os santos
elevam-se os pensamentos até à pátria celeste para festejar a multidão dos
batizados de todas as raças, de todas as línguas e de todas as nações, os quais
já gozam da visão beatífica. Apenas Deus a todos eles conhece. Louvores,
portanto, não apenas àqueles que foram canonizados, muitos merecedores de
especial devoção dos fiéis, mas também tantos parentes e amigos que viveram
intensamente as bem-aventuranças (Mt 5, 1-12). Por sua fidelidade ao Evangelho
e à Igreja foram nesta terra testemunhas de Cristo. Pelos seus exemplos despertaram
onde estiveram a vontade da santidade, porque estiveram sempre em união com
Deus no qual se encontra a plenitude da santificação humana, Ele a fonte de
toda perfeição. Honrando todos os santos é deste modo, a Deus que se está
prestando louvor. Além disto, ao se considerar a glória dos bem-aventurados
pulsa nos corações dos que ainda caminham para a Jerusalém do alto o desejo de
estar lá um dia na companhia dos que souberam optar pelo Reino de Deus. Com
efeito, se homens e mulheres mortais, apesar de todas as dificuldades e
sofrimentos, souberam conquistar o prêmio eterno, também os que ainda militam
neste mundo não podem nem devem perder tal recompensa reservada aos
conquistadores de um lugar na Casa do Pai. Se eles puderam, nós também
conseguiremos um dia estar na companhia deles para glorificar o Senhor por toda
a eternidade. Os santos se fizeram exemplos a serem seguidos e os devemos
imitar, desprezando bens terrenos e almejando as beatitudes que realmente
elevam e dignificam os seguidores de Cristo. Os santos no céu se regozijam
pelos que se esforçam por viver santamente. Estes precisam levar outros a não
perderem a felicidade eterna. Jesus foi claro: “Haverá mais alegria no Céu por
um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não necessitam
de conversão” (Lc 15,7). Entretanto, todos os fiéis têm condições espirituais
para serem santos e obedecer às ordens de Deus: “Sede santos, porque eu sou
santo”, com está no Livro do Levítico (Le 1, 44-45), O termômetro e a essência
desta santidade é o próprio Deus. Cristo foi também taxativo: “Sede perfeitos
como o vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5,48). Nas bem-aventuranças
desceu a detalhes sobre quem são aqueles que trilham este caminho que leva à
verdadeira felicidade. Bem-aventurados
quanto à esperança que não permite haja desânimo na trajetória até a pátria
definitiva. Felizes na virtude e na imperturbabilidade já degustadas nesta
terra e que terá sua consumação na outra margem da vida. O escritor romano
Cícero afirmou que ser feliz é, sem padecer mal algum, possuir o conjunto de
todos os bens. Contudo o mundo e os filósofos e escritores pagãos colocaram a
felicidade na opulência e não na pobreza, nos prazeres terrenos e não na pureza
da consciência, no orgulho e não na mansidão. Falavam naqueles que choram pela
perda de riquezas passageiras e não deplorando a perda dos bens espirituais,
lágrimas santas que se opõem aos que riem e se alegram com prosperidades
mundanas, Não souberam penetrar o sentido da misericórdia que vai ao encontro
dos que sofrem. Não entenderam que a paz verdadeira flui da união da alma com
Deus e se estende ao próximo e a toda sociedade, na concórdia total com os
inimigos. Exaltavam os que tinham fome e sede da justiça humana e não poderiam
compreende que ter fome e sede de justiça é misticamente ter fome e sede de
Deus a quem se deve unir-se com todo amor. Não admitiam a paciência e, assim
não podiam entender porque Jesus afirmou serem felizes os que padecem
perseguição. Esta vem dos inimigos da verdade e dos naturais padecimentos do
exílio terreno. Eis porque foi dito que obrar coisas difíceis era próprio dos
romanos, mas padecer coisas árduas será sempre distintivo do verdadeiro cristão.
Os santos que hoje são festejados viveram em plenitude as oito bem-aventuranças
e foram sempre exemplo para todos que estavam em seu derredor. Agora juntos de
Deus são nossos intercessores, pois mediante seus sufrágios chegam a nós os benefícios
de Deus. A alguns foi dado patrocinar causas especiais e a eles mais
assiduamente se elevam as preces. Todos, porém, que se acham no céu protegem
nesta terra seus parentes e amigos que os invocam com confiança e persistência.
A providência divina mostra sua sabedoria ao constituir os santos como nossos
protetores. Como, porém, estão eles no céu mais unidos à vontade santíssima de
Deus, os santos corrigem nossas preces, conformando-as aos desígnios divinos,
dado que nem sempre rogamos o que realmente é o melhor para nós. Por tudo isto
a devoção aos santos e as homenagens a eles dirigidas animam a não perder
jamais o rumo do céu. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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