A MANSÃO DOS
MORTOS
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho
Professamos
no Símbolo dos Apóstolos Que Cristo “ foi crucificado, morto e sepultado, desceu a mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro
dia”.
Esta mansão dos mortos é chamada na Bíblia de
os infernos, o Sheol ou Hades (Fil 2,10;Ap 1,18; Ef 4,9).
Aí
os mortos estão privados da visão de Deus.
Este
foi o caso de todos os mortos, pecadores ou justos, aguardando o Redentor.
Sua
sorte, porém, não era idêntica como mostrou Jesus na parábola do pobre Lázaro
recebido “no seio de Abraão” ( Lc 16,22-26).
Eram
almas santas que aguardavam seu Libertador,
as quais Jesus livraria quando
“desceu à mansão dos mortos”.
Está
no Catecismo da Igreja Católica: §631 "Jesus desceu às
profundezas da terra. Aquele que desceu é também aquele que subiu" (Ef
4,9-10). O Símbolo dos Apóstolos confessa em um mesmo artigo de fé a descida de
Cristo aos Infernos e sua Ressurreição dos mortos no terceiro dia, porque em
sua Páscoa é do fundo da morte que ele fez jorrar a vida”. Jesus desceu à
“mansão dos mortos” não para livrar os
condenados, nem para destruir o inferno da condenação eterna, mas para libertar
os justos que O haviam precedido. São
Pedro asseverou:” Boa Nova foi igualmente anunciada aos mortos” (1 Pd 4,6).
A descida aos infernos foi o
cumprimento do anúncio evangélico da salvação. Foi a fase última da missão
messiânica de Jesus antes de ir, enquanto homem, para junto do Pai.
Todos os que eram justos se tornavam então participantes
de sua redenção. Cristo desceu na profundidade da morte (Mt 12,24).
Cristo ressuscitado “detinha a chave da morte
do Hades” (Ap 1,18). São Paulo dizia aos Filipenses: “Ao nome de Jesus todo
joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos” (Fil 2,10).
Na “mansão dos mortos”, antes da
ressurreição de Jesus, os justos O estavam esperando para que fosse aberta a
porta do céu e pudessem gozar da visão beatífica.
Assim sendo, a “mansão dos mortos”
referida no Símbolo dos Apóstolos nada tem a ver com o dogma do Purgatório.
A
alma ao sair deste mundo, não estando completamente purificada, deve expiar
durante algum tempo os erros cometidos antes de entrar na glória eterna.
Se ela traz algum vestígio de pecado ou porque
cometeram faltas leves e não as tenha expiado suficientemente neste mundo, bem
como no caso dos pecados mortais já perdoados e não reparados nesta trajetória
terrena, não pode entrar no céu.
Essas
almas têm a graça de Deus e, portanto, a salvação é certa para elas, mas a
justiça divina reclama a purificação no purgatório.
O dogma da comunhão dos santos mostra que se
pode, de fato, abreviar as penas dos que sofrem nesta antecâmara do céu.
Aliás,
todo o mês de novembro é dedicado às almas que lá se encontram.
Saibamos, porém, sufragá-las com nossas preces
e sacrifícios durante todo o ano, pois,
se um dia tivermos que por lá passar, Deus fará que outros se lembrem de nós.
Nunca
se lembra demais a passagem do Segundo Livro dos Macabeus: “Santo e salutar esse pensamento de
orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados" (2 Mc 12,45)
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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