OPERÁRIOS
DA VINHA
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Trabalhadores
contratados em diferentes horas para o mesmo serviço recebem do patrão da vinha
o mesmo salário (Mt 20,1-16). Isto suscita reclamações e o contratante tem que
se explicar, mostrando que pagava a cada um o que havia prometido, ou seja, um
dinheiro por dia. Este estipêndio representa a vida eterna, dom precioso que
Deus reserva para todos. Quando os últimos aceitam o convite para o trabalho
oferecido, eles se tornam os primeiros, enquanto os primeiros corriam o risco
de se tornar os últimos. Dentre as lições desta parábola aparece claro que o patrão
não tolera a inatividade. Ele quer todos engajados no serviço. Magnífica a
oportunidade dada aos primeiros, pois lhes era facultado trabalhar na vinha do
senhor e se colocar a seu serviço colaborando com sua obra. Isto já era em si
uma recompensa, não obstante todos os esforços. Entretanto, no que tange a
vinha de Deus somente aquele que O ama e a seu reino compreende tal atitude.
Quem é interesseiro e apenas quer servir a Deus pelo salário em si, jamais
compreenderá o valor do chamado divino. a lógica de Deus é diferente da dos
homens. Pelo profeta Isaias Ele já dissera: “Vossos pensamentos não são os meus
pensamentos e meus caminhos não são os vossos caminhos (Is 55,8)”. Notável o
que aconteceu com São Paulo que depois dizia que era a graça de Deus que agiu
nele. Esta graça o transformou de perseguidor da Igreja em apóstolo das nações.
Ele compreendeu que trabalhar para o Senhor é de si uma recompensa. O
importante, portanto é saber sempre escutsar e atender os apelos do Senhor e
poder perceber a felicidade de trabalhar generosamente para o Reino dos Céus.
Muitos que são chamados por último, por vezes, são mais eficientes e realizam
uma obra mais admirável do que aqueles que por mais tempo laboram na seara de
Deus, A iniciativa do chamado ao Senhor pertence. Através dos tempos Ele sai à
procura de operários, de profetas, que queiram se colocar à sua disposição.
Trata-se da instauração da mensagem do Evangelho no mundo, no coração dos
homens. Isto para o bem de toda a humanidade. Ele quer generosidade e o fato de
O servir já é um grande prêmio. Os notáveis missionários de todos os tempos
enfrentaram a fadiga, o calor, o sofrimento, mas com olhos fixos na glória
eterna e não em bens terrenos. É lá no céu que cada um, de acordo com o empenho
na evangelização, perceberá o valor de sua disposição em se entregar a um
apostolado consciente e eficiente O principal é deixar o julgamento de qualquer
atividade evangelizadora ao Senhor. Trata-se de uma questão de absoluta
confiança nele. Ele é o proprietário da vinha que espera a cooperação de cada
batizado que precisa lhe dar o que tiver de melhor a seu alcance. Primeiros ou
últimos todos somos iguais diante de Deus, mesmo porque o salário a que se
refere a parábola é a salvação eterna. Esta pode ser obtida até na última hora
como aconteceu com o Bom Ladrão lá no Calvário. Muitas vezes há um grave
equívoco no que tange o viver mal e se converter no fim da vida, porque quem
por mais tempo vive de acordo com os preceitos divinos e pratica as virtudes já
degusta nesta terra uma porção da felicidade perene do céu. Aquele que está
imerso no pecado não é nunca feliz e amarga uma existência sem a paz da consciência.
Prazeres mundanos, orgias nunca trazem a verdadeira ventura para o coração.
Deste modo, os operários da primeira hora já são recompensados por estarem a
serviço do Reino de Deus. Trata-se de uma questão de fé e não de compromisso
meramente social de um contrato de trabalho. Deste modo, o velho princípio
grego não é infligido, pois “a cada um é dado segundo seu procedimento”. Muito
merecimento há em si mesmo no serviço de Deus.. Numa parábola se deve,
portanto, ir ao significado mais profundo da mesma e ao que ela quer ensinar.
Além de tudo que foi dito, muito lamentável foi a atitude egoísta dos que
reclamaram do seu patrão, mostrando que a solidariedade não estava em seus
corações. Toda inveja necessita ser banida, porque o amor afasta sempre qualquer
inveja. O amor fraterno é sem limites e exige muita generosidade. No caso desta
parábola o dono da vinha não fez nada de ilegal, mas cumpriu o que prometera a
cada um. Deus dá a todos oportunidade para atender o seu chamado e sabe
recompensar.* Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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