segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A CARIDADE FRATERNA

A CARIDADE FRATERNA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A correção fraterna abordada por Jesus é um dos temas mais delicados e mais importantes o qual precisa ser bem compreendido (Mt 8,15-20). Se em todas as relações humanas há necessidade de tato, bom senso e suma delicadeza, em se tratando da caridade entre irmãos um cuidado maior se deve ter. Há o perigo de se resvalar na rigidez insensata ou num moralismo indesejável. Isto é tanto mais complexo quando se vive num contexto paradoxal, pois de um lado há um lamentável relativismo, de outro um laxismo inteiramente condenável. Cada um quer impor sua verdade e no plano moral se lançou o slogan tendencioso: “É proibido proibir”. Este mote, embora contraditório, pois já é em si uma proibição, tende a fixar a ideia de que cada um pode proceder como quiser, sem normas morais que regulem a conduta pessoal ou social.  Os meios de comunicação social favorecem a desconstrução de toda ética. Deste modo se torna ainda mais difícil a correção fraterna preconizada por Cristo, cuja orientação traz luz preciosa para questão tão intricada. O ponto de partida para entender o que Jesus ensinou é o conselho que Ele deu ao jovem rico: “Se queres entrar na vida eterna, observa os mandamentos”. Portanto, nada de relativismo nem de laxismo. Trata-se de uma conduta que leva à salvação eterna. Há uma responsabilidade individual e coletiva para que todos atinjam a vida perene no Reino dos Céus. Existe um projeto divino que leva à felicidade perene na outra vida. É aí que entre a caridade fraterna para mostrar aos que se extraviam a importância da revisão de vida. Não se trata de julgar os outros, mas de exortar, de advertir, mostrando o caminho da perfeição cristã, da lei da santidade recomendada pelo Evangelho. Eis a ordem de Deus: “Tu advertirás de minha parte!” como se lê no Profeta Ezequiel (Ez 33,7-9). O Legislador e o Juiz é o Senhor Onipotente. Os bons cristãos são os guardas estabelecidos por Ele para orientar os irmãos e irmãs, como registrou o Profeta Isaias (Is 62,5). Conselhos oportunos e sábios para que se fuja do caminho da perdição (Sab 5,7). Esta atitude está longe de um moralismo acusador, por ser uma advertência cautelosa, precavida, reservada. .É mostrar com diplomacia ao outro que o pecado conduz à ruina e que o caminho da santidade leva à paz e ao céu. Uma ação cheia de humildade, de firmeza, de suavidade na qual resplandece o amor fraterno que deseja simplesmente ajudar. Uma conversa amigável, a sós, não na praça pública ou nos meios de comunicação social. Quem age conforme as normas estabelecidas por Cristo e traz outros para o bom caminho e com eles se põem a rezar, a promessa de Cristo é maravilhosa: “Onde estão dois ou três reunidos em meu nome eu estou no meio deles”. É que amar os irmãos é estar cioso de seu bem verdadeiro e de sua redenção, tornando-se cada um apto para entrar, após a morte, na Casa do Pai. Interessar-se pelos outros porque Deus quer agir através de seus fieis seguidores no interesse do destino feliz dos outros, pois fora da Lei divina só campeia a desilusão, o desespero e todo tipo de desgraça. Amar para Deus significa salvar. O amor a Deus e ao próximo é ter consciência do apelo da vida divina da qual todos devem participar.   Eis porque o verdadeiro amor fraterno abre as portar de uma corresponsabilidade para o bem do próximo. Isto se patenteia pela sugestão dada no momento certo, de maneira correta, conduzindo os outros ao amor verdadeiro que é o próprio Deus. Bem se diz que ninguém entrará no céu sozinho, dado que a solidariedade cristã conduz à preocupação com a salvação do próximo. Este nunca deve, é certo, ser manipulado, mas guiado, orientado com toda prudência. Qualquer intervenção só em casos específicos, tudo começando com um diálogo criterioso. Foi o que São Paulo compendiou com estas sábias palavras: “Se porventura alguém for surpreendido nalguma falta, vós os espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão; e, tu, acautela-te a ti mesmo, não venhas também a cair na tentação (Gl 6,1). Aliás, Cristo também deixou esta norma: “Tira primeiro a trave do teu olho e então verás bem para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Mt 7,5). “* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.     

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