PESCADORES DE ALMAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A pesca milagrosa no lago de Tiberíades
oferece uma série de reflexões úteis à religiosidade do cristão. Os discípulos
que foram chamados por Jesus eram pescadores e eles melhor do que ninguém
poderiam aquilatar o significado do poder divino de Cristo. O prodígio operados
por Jesus tinha um objetivo claro que era patentear sua ressurreição e sua divindade,
estando Ele revestido de uma capacidade sobrenatural sem limites, podendo
revogar inclusive as leis naturais, exercendo uma notável faculdade sobre os
elementos físicos. Todas as criaturas estavam a Ele submetidas. São João
declarara no princípio de seu Evangelho: “Por Ele todas as coisas foram feitas”.
Pedro e seus companheiros pescavam à noite, momento propício para aquela
atividade e nada conseguira. Jesus manda- os pescar à luz do sol, em instante
nada favorável, mas com resultado surpreendente. Para a mentalidade semita,
sobretudo, o poder de mandar sobre o mar e sobre os que nele habitavam era um
sinal patente de um poderio singular, divino. Logo no início do Gênesis lemos
que “o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. Davi no salmo 92 proclamou:
“Mais poderoso que o estrondo de muitas águas, mais poderoso do que as vagas do
mar, é poderoso o Senhor nas alturas” (v 4) [...] “Senhor, nosso Dominador soberano, quão
admirável é o teu nome em toda a terra!” (v. 10). Este Deus Onipotente havia
sujeitado tudo ao homem, mas o pecado fez com que o ser racional perdesse a sua
força primitiva, como bem ressaltaria São Paulo na Carta aos Romanos (8,18-23).Pedro,
o pescador de peixes, fracassa, mas Jesus é um vitorioso, porque Ele é o
Bem-Amado do Pai, o Unigênito de Deus. Pedro confessa seu grande amor a Jesus e
aí já mostra que penetrara fundo na missão do divino Salvador que mais do que
dominar as forças da natureza viera para destruir o pecado, a miséria humana,
fazendo com que Deus reinasse nas almas dos homens. Apesar de toda fraqueza do
homem, Deus o quer associar a Sua obra redentora e Jesus então faz de Pedro,
apesar de toda sua miserabilidade, um pescador de homens e, na verdade, o chefe
de seu Rebanho. Ele, seus companheiros e seus sucessores deveriam ter sempre em
conta que o plano e o método da obra salvadora pertencem unicamente ao desígnio
de Deus. Assim como na captura dos peixes, a captura de seres humanos para o
Reino do Pai não estaria sujeita à metodologia terrena. O essencial seria o abandono
aos desígnios divinos. De fato, a obra missionária da Igreja. sob a orientação
dos Papas, sucessores de São Pedro, através dos tempos se tornou uma obra
admirável, exatamente, por causa das notáveis intervenções do Onipotente. Dirá
o Apóstolo São Paulo que Deus “escolheu as coisas fracas segundo o mundo
para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis e desprezíveis segundo
o mundo e aquelas que não são, para destruir as que são, para que nenhum homem se glorie diante dele”
(1 Cor 1, 27-29). Aí está à explicação
do fato de um pequeno número de pescadores iletrados terem transformado o
mundo. É que neles operava a graça do Alto.
Este modo de agir de Deus vale para todo e qualquer cristão. Na medida
em que cada um confia unicamente no poder divino sua vida se transforma e
outros são arrastados para junto de Jesus. O tríplice ato de amor de São Pedro
tocou o coração de Cristo. O amor é um clamor constante que atrai os favores
celestes. Confiar em Jesus e se despojar de si mesmo. Feliz do que pode dizer a
Ele: “Senhor tua graça me basta e é ela que vos imploro. Este verá as
maravilhas do poder de Deus” Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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