O
MANDAMENTO DO AMOR
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho*
O Evangelho de hoje mostra como
Jesus ao anunciar aos discípulos sua partida deste mundo lhes diz: ”Dou-vos um mandamento
novo que vos ameis uns aos outros; como assim como eu vos amei, vós também vos
ameis uns aos outros” (Jo 13,31-35). Num momento delicado no qual ele mostra
aos apóstolos que estaria por pouco tempo com eles, Ele proclama seu preceito
de amor. Cumpre observar que São João não diz que o Mestre divino deixou então
um novo mandamento, mas, sim, um mandamento novo. É que àqueles da Lei de
Moisés Ele ajunta o seu. Aliás, o mesmo São João já havia dito no Prólogo de
seu Evangelho: “Porque a Lei foi dada por intermédio de Moisés, a graça e a
verdade nos vierem por Jesus Cristo” (Jo 1,17). Entretanto é ainda de se
observar que se trata, realmente, de uma ordem. Ora, se pode mandar que alguém obedeça,
que alguém preste um serviço, mas é estranho mandar que alguém ame. É que Jesus
havia acrescentado “como eu vos amei, amai-vos uns aos outros”. Portanto ele
estava dando o preceito de imitá-lo. Assim sendo, só poderia alguém julgar que
era seu seguidor se amasse como Ele amou. Ele tornou visível esta dileção no
serviço, pois antes Ele havia lavado os pés daqueles a quem ele estava dando este
mandamento. Único preceito da comunidade cristã seria um amor que se manifesta
visivelmente no serviço: “Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos”.
Eis a marca distintiva dos que seguem a Jesus. Não é o título de cristão, mas o
amor ao próximo que se transforma em serviços que baliza o seguidor de Cristo.
Neste mandamento, como observam grandes teólogos, Deus que se manifesta em
Jesus não absorve as energias do cristão, mas lhe comunica suas energias
espirituais que se patenteiam em obras concretas de dileção. Dilata-se assim ao
máximo a generosidade, o dom o altruísmo de cada um. Disto resulta a grande
alegria de viver em comunhão com Deus, nosso Pai, e com os irmãos. O mandamento
de Jesus flui da fonte do amor trinitário. Ao criar o ser humano Deus confere a
ele a capacidade de amar, embora dotando-o de liberdade que possibilita então
toda espécie de maldade, de violência, de ódio. As guerras através da História
são disto prova, além das discórdias familiares, nos locais de trabalho, de
lazer, No seu íntimo, porém, o homem e a mulher percebem que é o amor e não a
ira, a concórdia e não a discórdia, o perdão e não o ódio que devem prevalecer.
Para incentivar o reinado da paz Jesus também lançou a célebre sentença: “O que
quiserdes que os outros vos façam, fazei-o a eles também vós”. Isto significa
que para o Mestre divino a bondade é mais profunda que o mal por mais virulento
que ele seja. Ao perdoar seus inimigos no alto de uma cruz, Ele mostrou que o
amor é capaz de indultar as maiores ofensas e elevar o ser humano às paragens
luminosas da compreensão, da liberalidade, da paz A seiva da fé torna o cristão
o agente por excelência da harmonia, da consonância, do consenso mútuo. Deste
modo o homem e a mulher ficam convencidos de que a vida não é uma questão de
cálculos, de estratégias, de precauções, de desconfianças, mas a manifestação
ininterrupta da a comiseração amorosa que vem lá de dentro do coração e jorra em
cataratas de ondas salvíficas. Com efeito, só o amor constrói, o desamor tudo
destrói. A tranquila serenidade que deve envolver a sociedade humana é um ideal
possível, exequível, mas supõe um alerta contínuo contra as forças do mal que
semeiam a desinteligência, a impaciência, os gestos bruscos, ríspidos e
severos. Deste modo, o mandamento do amor irradia esperanças fagueiras em
contrastes com todos os ímpetos destrutivos. Entretanto, cumpre se firme que
para amar e irradiar o amor é preciso passar por Aquele que tanto nos amou .
Não pode amar com perseverança e eficazmente sem a fé na pessoa de Cristo. Lá
onde reina a guerra entre os povos ou no
meio em que se vive é porque Jesus está ausente. Este amor pregado pelo Filho
Bem-amado do Pai não é mera beneficência. Esta até pode subsistir sem a fé, mas
não construirá nunca a civilização do amor. As ações maravilhosas de São Damião
de Molokai junto dos leprosos, de um São Vicente de Paulo, de uma Madre Teresa
de Calcutá e tantos outros sempre foram privilégio daqueles que viveram e vivem
em função de Jesus e, por isto mesmo, tantos projetos de paz se esboroam por
não se fundamentarem no verdadeiro amor. Paz resplandecente como a aurora reina
somente quando se está atento às necessidades alheias, isto, contudo, ao som
dos apelos amorosos de Cristo. Apenas em Jesus e por Jesus o amor não perde
consistência. Ele disse claramente: “Amai-vos, como eu vos amei”. Apenas nele e
por Ele “o cumprimento da Lei é o amor” (Rm 13,10). * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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