sábado, 30 de abril de 2016

O AMOR DEVIDO A DEUS

O AMOR DEVIDO A DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Livro do Deuteronômio está claro o que falou Moisés: “Escuta Israel, nosso Deus é o único. Tu amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda tua alma e com todo a tua força” (Dt 6,4). Que o Criador de tudo mereça uma dileção sem limites do ser racional é inquestionável.  Com efeito, Ele é a fonte de todos os bens e fora dele não se encontra felicidade. As ilusões terrenas apresentam-se como algo que possa saciar a sede de ventura inata ao homem, mas deixam sempre o amargor, um vazio tormentoso. Muito bem se expressou Santo Agostinho: “Senhor, fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em ti”. É que Deus é infinitamente perfeito, amável, fonte de todo amor. Nele, e apenas nele, se encontra salvação e dele tudo se recebe a cada instante. Ele é o princípio de todas as coisas, o fim de tudo e o centro de toda a existência humana.  Por tudo isto, o amor autêntico que a Ele se deve devotar necessita estar acima de todo interesse pessoal, tornando-se um amor desinteressado. Isto por ser Ele o único que é digno de ser amado acima de todas as coisas, de todas as outras pessoas. Cumpre então decodificar a instrução dada por Ele através de Moisés, uma vez que se acha patente como Ele deseja que todos O amem. Em primeiro lugar, de todo o coração, ou seja, todos os afetos direcionados para Ele. Em consequência, tudo que tende a afastar dele deve ser abolido.  Um coração inteiramente possuído por Ele sem o dividir com ninguém. Deste modo, quem tem fé é direcionado para uma vida séria, digna de uma criatura totalmente voltada para o seu Criador. Além disto, é preciso amar a Deus com toda sua alma, isto é, com disposição sincera de tudo imolar por Ele numa renúncia a tudo que impeça estar continuamente com Ele. Longe então fica qualquer pensamento de transgressão aos sagrados mandamentos divinos. Deus acima de tudo que o mundo possa oferecer. Tal se torna o lema do cristão: tudo perder por amor a seu Senhor Onipotente. São Bernardo no seu livro “Tratado do Amor de Deus” ensina que “a medida do amor de Deus é ama-lo sem medida”. Segundo os teólogos, há indícios para se saber se alguém ama, de fato, a Deus. Antes de tudo é necessário verificar se há inquietude, ficando a alma ansiosa com relação a sua postura perante tudo que Deus merece. Desde que se tenha a reta intenção de tudo fazer para a glória divina, excluído o amor próprio, o cristão nada tem a temer. Aquele que perscruta o íntimo de cada um sabe perfeitamente que, apesar das fragilidades inerentes a um ser contingente, quem é sincero almeja unicamente agradá-lo nas menores ações de cada hora. Adite-se que não se deve procurar uma devoção sensível, consolações ininterruptas no serviço de Deus, mas, como alerta o Pe. Grou, é necessário “perseverar no meio das tentações, dos desgostos, do abandono, porque tudo isto é prova de amor” É assim que se chega à entrega sem reservas ao Ser Supremo longe de qualquer complacência em si mesmo. Vive-se num vale de lágrimas e somente na eternidade se estará envolto completamente nas delícias que Deus preparou para os que O amaram nesta terra (Sl 15,11). O fiel neste mundo sabe que toda sua existência está em Deus presente em toda parte pela sua imanência. Ele pode ser percebido de forma  intensa por quem  nele crê e vive na sua presença. Como está em belíssima canção, baseada no salmo 139:Tu me conheces quando estou sentado / Tu me conheces quando estou de pé/ Vês claramente quando estou andando / Quando repouso tu também me vês”. Pela sua transcendência Deus não se confunde com o mundo, mas o mundo não existe sem Ele. A fidelidade a Ele é outro critério que mostra o amor para com Ele. Fidelidade a tudo que Ele revelou à humanidade e que se acha na Bíblia, fidelidade a Jesus, plenitude desta revelação divina. No Evangelho se lê o que Cristo asseverou: “Eu vim trazer fogo à terra e o que quero eu senão que ele se acenda” (Lc 12,49). Trata-se do fogo do amor divino. É preciso então oferecer-se a Ele afim de que esta chama celeste consuma o que é deste mundo e todas as impurezas da alma. Assim, cada batizado poderá iluminar o mundo. Compreende-se desta forma a veracidade da célebre sentença: “Se és cristão, tens o mundo nas mãos”. O amor impulsiona a evangelização. Ninguém pode se santificar para depois evangelizar se não for movido pelo amor a Deus e ao próximo. Foi o que ocorreu com os santos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

Nenhum comentário:

Postar um comentário