O CONVÍVIO ENTRE AS OVELHAS E O PASTOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Neste tempo pascal a figura do Bom Pastor traz
sempre uma mensagem de fagueira esperança (Jo 10, 27-30). Esta perspectiva irradiante
de serenidade se baseia na certeza do imenso amor do divino Redentor para com
todos que escutam a sua voz e O acompanham. Ele ressuscitou dos mortos, após o
cruento sacrifício do Calvário e continua através de sua Igreja vivo, atuante,
protegendo e guiando suas ovelhas para paragens deslumbrantes. Deixou um
critério decisivo para distinguir os que Lhe pertencem: “Minhas ovelhas escutam
minha voz; eu as conheço e elas me seguem”! Três etapas importantíssimas, a
saber, as ovelhas distinguem a voz do Bom Pastor, o qual tem conhecimento delas
e, então, numa atitude recíproca ambos caminham juntos numa atmosfera de
confidência, de intimidade, de ternura. Davi já havia informado que este Pastor
leva para prados verdejantes, a saber, para as delícias de uma eternidade
feliz. É preciso, porém, caminhar e não perder de vista este Guia sábio,
poderoso e que deu sua vida pelas suas ovelhas. Até chegar, porém, no aprisco
definitivo cumpre total fidelidade ao Bom Pastor, Segundo São João no
Apocalipse é necessário passar “pela grande prova” (Ap 7,14). A lealdade a
Jesus se torna firme apenas para as ovelhas que não escutam as vozes das
insídias dos falsos pastores, as aliciações de um mundo materializado, as
paixões despertadas pelas forças do mal. O plano, porém, deste Pastor amoroso é
conduzir milhares de ovelhas para as
fontes das águas vivas. Na visão joanina, no Apocalipse, se trata de “uma
multidão que ninguém é capaz de contar, uma multidão de todas as nações, de
todas as raças, povos e línguas” (Ap 7,9). As ovelhas leais não se perderão por
mais árdua que tenha sido a caminhada. Eis porque o grande filósofo Henri
Bergson afirmou que entre as centenas de livros que ele tinha lido e estudado,
nada o tocava mais do que as passagens da Bíblia referentes ao Bom Pastor.
Repetia então com o salmista que nada lhe faltava, porque Cristo oferece vida,
mas uma vida em abundância. Tem razão o célebre pensador francês, porque Jesus
oferece segurança a suas ovelhas, o que é sua característica prioritária. Ele
sempre perto delas e elas se sentem amadas e abençoadas. Esta proximidade transforma a obscuridade em
claridade iluminadora. Cumpre às ovelhas serem dóceis e obedientes a este Guia
admirável. Disto resulta, como afirmou o bem-aventurado Charles de Foucauld,
uma confiança sem limites. Tudo isto explica porque a imagem do Bom Pastor é a
mais antiga representação de Jesus na iconografia cristã. Por entre as incongruências da existência
humana nesta terra Cristo, o Bom Pastor, oferece um rumo e toda proteção para
vencer os obstáculos e evitar tudo que possa comprometer o seguimento constante
nas veredas que Ele indica. O cristão, ovelha fiel de Cristo, proclama
altissonantemente com Davi: “Se eu atravesso os vales da morte nada temerei,
porque está comigo, tu me guias e confortas” (Sl 22). É que Cristo pode de fato
ajudar, proteger, Ele que afirmou: “Eu vim para que todos tenham a vida e a
tenham em abundância! (Jo, 10,10). Infelizes aqueles que O abandonam, trocando-O
por falsos guias, por gurus que se
apresentam como salvadores, mas cujas promessas iludem e levam à perdição. Felicidade,
porém, somente junto do Bom Pastor. São Paulo nos afiança:” É nele
que se ocultam todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Col 2,3). Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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