segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A ESTRELA DOS MAGOS

A ESTRELA DOS MAGOS E A FÉ
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade da Epifania vem lembrar que a caminhada dos Magos foi uma caminhada da fé. A fé é como uma estrela, não o sol, é uma pequena luz que guia ao encontre de Jesus. A condição é que coloque na rota para Ele, que se deixe atrair para Ele, se dispondo a procurá-lo como fizeram aqueles sábios (Mt 2,1-12). Em Jerusalém os especialistas da Palavra de Deus e os sumos sacerdotes não foram até o divino Infante porque seus interesses eram outros. Isto os impediria sempre de reconhecer em Cristo o Messias prometido. A fé simbolizada na estrela vista pelos Magos conduz até Jesus, mas é importante fixar que tal encontro muda a vida daquele que O achar. É de se observar que o Evangelista mostrou como, depois de homenagear o Menino Deus, aqueles Reis ficaram cheios de alegria e não eram mais os mesmos. Tanto isto é verdade que eles tomaram um outro caminho de volta para sua terra. Não seguiram a ordem de Herodes para lhe indicarem onde estava Jesus, não cediam ao poder terreno, não pensavam como o rei deste mundo, pois tinham contemplado o soberano celeste. De plano, esta festa da Epifania convida a todos os fiéis no início deste novo ano a reencontrar Jesus, cortando os laços de tudo que é ilusório, perverso neste mundo conspurcado pelo pecado e que quer a morte de Deus e daí todas as desgraças humanas. Deus, contudo, se deixa localizar por todos aqueles que sinceramente O buscam, O desejam. Ele então vem até aqueles que Lhe abrem seu coração. Uma condição se impõe, qual seja, que se faça tudo que estiver ao alcance de cada um, como fizeram os Magos.  Estes em Jerusalém indagaram, procuraram se informar sobre onde estava o Rei dos Judeus que acabara de nascer. Fizeram de sua parte e foram recompensados. A manifestação de Jesus aos Magos era bem o indício de que Ele viera para salvar todos os povos e a cada um ao qual Ele se manifesta incumbe o dever de ser também estrela a mostrar que Ele deve viver na existência de todos os homens e mulheres, na sociedade toda e que apenas nele se depara a verdadeira felicidade. Esta é uma tarefa de cada dia, de cada momento. Jesus dirá que seus seguidores são luz do mundo e sal da terra. Cumpre mostrar a todos que, de fato, Jesus é Rei, como bem simbolizou o ouro ofertado pelos Magos. Ele é Deus, indicado pelo incenso. Ele é o Redentor que se sacrificaria pela humanidade, como bem assinalou a mirra que Lhe foi ofertada. Epifania é bem uma festa de Jesus, a plena manifestação do que Ele é. Os Magos, que não tinham artrose nem física nem espiritual, se ajoelharam perante a imensidade do Mistério de Jesus. Tomaram a postura de suplicantes, a postura daquele que reconhece a superioridade do Filho de Deus. Muito antes de Pascal no século XVII, os Magos já mostravam que perante Deus, diante do divino Redentor, o ser racional só é grande quando se ajoelha. Ajoelhados, os sábios vindos do Oriente ofereceram seus presentes, mas antes já haviam aberto seus corações ao Astro do Alto que viera visitar o planeta terra, fazendo-se homem no meio dos homens. Quantos cristãos, contudo, continuam adorando os falsos deuses apresentados por uma sociedade de consumo, criados pelas ilusões da mídia! Esquecem eles do ensinamento de São Paulo, afirmando que somente ao Nome de Jesus “todo joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos” (Fl 2,9).  Jesus, o Filho de Deus, deste Deus perante o qual se ajoelharam Abraão, Moisés, Davi, personagens ilustres do Antigo Testamento. Todo cuidado é pouco para não se adorar falsas divindades. O Filósofo Americano Peter Kreeft alertou: “Uma das mentiras das mais destrutivas de Satanás é afirmar que se ajoelhar numa igreja adorando Cristo é inútil, supérfluo e que isto afasta das necessidades vitais, dos deveres cotidianos [...] No entanto a adoração é mais poderosa do que uma bomba atômica para destruir o mal. Porque se o ser racional com sua inteligência pode construir uma arma tão poderosa como a bomba atômica, quanto mais poderoso será o Amor increado de Jesus no Santíssimo Sacramento para estabelecer a Paz eterna neste mundo”! É preciso imitar os Magos e saber adorar Jesus. São Leonardo clamava que é necessário repartir Cristo por toda parte, tendo-O no centro do coração para colocá-lo no centro da História, no meio de todo o universo.  Jesus deve ser nosso referencial supremo. Ou Ele, ou nada! Como os Magos caminhemos em 2014 por outros caminhos de apostolado sincero a começar pela renovação do próprio coração para que se possa levar a mensagem de Jesus por toda parte. Para isto que cada um se deixe guiar pela estrela da fé e estará ajudando a salvação do mundo inteiro, renovando a face da terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

sábado, 28 de dezembro de 2013

OBSERVÂNCIA DA LEI

OBSERVÂNCIA DA LEI
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*, da Academia Mineira de Letras.
Cumpre que se respeite a lei em todas as ocorrências, até mesmo naquelas em que ela é mais rígida e rigorosa. Por mais duras que sejam as normas elas devem ser observadas. “Rui Barbosa assim se expressou: “Debaixo da lei devem todos estar, e, sobre todos, sobre todos os poderes, aquele donde deve residir o soberano manancial donde ela procede”, Luis Vives, notável humanista, advertia:” Nenhuma lei há, por mais reta que seja, que o homem não tente de torcê-la para satisfazer seus apetites!”. O  objetivo da lei é impor à sociedade a ordem moral. Este princípio precisa ser tanto mais inculcado quando,  dois clubes de futebol colocaram em campo jogadores que estavam legalmente suspensos e um clamor generalizado se dá contra  o Superior Tribunal de Justiça Desportiva que penalizou uma agremiação paulista e outra carioca. Embora torcedor do Flamengo desde 1942 este articulista, lamenta, mas aplaude a decisão de se tirar quatro pontos no campeonato brasileiro de um clube que não respeitou as regras vigentes da competição. Vale mais uma vez o conhecido dito jurídico dos romanos: Dura lex, sed lex – A  lei é dura, mas é lei. O que os clubes de futebol precisam fazer é ter uma estrutura jurídica sólida para que não venham a cometer erros tão primários. Cumpre sempre ir fundo ao significado dos regulamentos, pois do contrário imperará o caos. Quando a lei não pode punir, não pode incentivar o seu cumprimento e a desordem se instaura. A lei é a alma de uma sociedade bem organizada. O acerto das penalidades, mais do que sua severidade é o que consagra a força das leis. Dizia o sábio filósofo grego Aristóteles: “As leis são devem ser como as teias de aranha que apanham os mosquitos, mas que deixam passar as aves de rapina.! Eis porque o bom advogado mostra a todos sem exceção como fazer e o que se deve fazer perante a legislação em vigor. Isto porque a lei tem duas bases: a equidade e a utilidade pública e estas não devem ser separadas. Não se deve esquecer que todas as atividades humanas são reguladas de uma maneira ou de outra por regras, inclusive, nos clubes sociais, nos esportes, no trabalho. Mostram as ações que são permitidas ou não. As leis visam controlar o comportamento humano. Quem vive numa sociedade organizada precisa conhecer as normas e observá-las.

domingo, 22 de dezembro de 2013

DETRATORES DE PLANTÃO

DETRATORES DE PLANTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um dos preceitos importantes da Bíblia é este: “Não caluniarás o teu próximo” (Lv 1913). No Salmo 139 está a condenação dos detratores de plantão: “Aguçaram as suas línguas como a de serpente; veneno de áspides têm debaixo de seus lábios! (Sl 139,4). Entretanto, quando tais pessoas se apresentam com vestes de cordeiro, mas são lobos vorazes, se tornam mais perigosas, pois se lê no Livro dos Provérbios: “As palavras do homem (e da mulher) de língua dissimulada parecem singelas, mas elas penetram até ao íntimo das entranhas” (Prov 18,8). Tal, contudo, a advertência do Profeta Isaías:  “Põe-te longe da calúnia” (Is 54,14). A ele faz eco São Pedro: “ Despojai-vos de todo o espírito de maledicência” (1 Pd 2,1). Muitos se esquecem do que disse São Tiago: “Se alguém se tem em conta de piedoso e não refreia a sua língua, mas ilude o seu coração, é vã a piedade desse tal” (Tg 1, 26). No tribunal de Deus contas darão todos aqueles que atacam a honra alheia com falsidades e mentiras. É que, segundo São Basílio, “ o delator com a calúnia danifica três pessoas: ofende a quem calunia, àquele diante do qual maldiz e a si mesmo” (Epístola LXXV ad Neocaesar»). É aquele ou aquela que semeiam a falsidade, muitas vezes para tirar disto proveito em causa própria. Segundo os melhores moralistas esta atitude é contra a caridade, a justiça, pecado grave que furta a reputação do próximo. Aliás, Santo Tomás de Aquino chamava os caluniadores de homicidas. De acordo com São Bernardo o detrator leva consigo o diabo nos lábios.(De consideratione, lib.II). A um cuteleiro se perguntou um dia, enquanto aguçava um cutelo, se era de fato agudo aquele instrumento. A resposta foi esta: “Sim, mas não tão agudo e nocivo quanto o é a maledicência”. Esta, realmente, revela sempre um espírito mau. Quem anda murmurando contra o próximo desconhece que a  maledicência é como uma torrente que recebe sempre os maus cheiros dos canais por que passa. Um provérbio indiano diz acertadamente que “o escorregar da língua é pior do que o escorregar do pé”. Todo e qualquer aleive é como o carvão o qual ou  queima ou mancha.   O cristão ou a cristã, porém, ama a verdade que é filha legítima da justiça. Explica  o Pe. Vieira: que “a justiça dá a cada um o que é seu e isto é o que faz e o que diz a verdade ao contrário da mentira”.  Encerrando estas considerações nada melhor do que o preceito do Mestre divino, Jesus Cristo: “Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós. (Mateus, 7 1-2) * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos



quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A FAMILIA DE NAZARÉ

A FAMÍLIA DE NAZARÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade da Sagrada Família vem lembrar que ao longo do Antigo Testamento, mas sobretudo nos Profetas, Oséias em particular, o amor conjugal é apresentado como a imagem por excelência das relações entre Deus e seu povo.Aliás,modelo de toda comunhão entre as pessoas humanas. No Novo Testamento este mesmo amor conjugal se torna a imagem viva da relação entre Cristo e sua Igreja. O protótipo, inclusive, de toda comunhão no grêmio da Igreja. É de se notar que, criando o homem a sua imagem e semelhança, o Ser Supremo havia feito deles seres racionais voltados para uma união comum. Quando sesta união encontra um fruto na vinda a este mundo de uma criança os esposos reproduzem na terra o mistério da Santíssima Trindade na qual o Espírito Santo procede do amor que une o Pai e o Filho. Este, vindo ao mundo para salvar a humanidade rebelada contra seu Criador, concebido do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, fez questão de viver dentro de uma Família humana, tendo como pai legal São José. A Família de Nazaré  se constituiu num exemplo de todas as famílias e comunidades cristãs. Por entre a dramaticidade da existência num vale de lágrimas, a Família de Nazaré conheceu momentos difíceis, superados com as virtudes de pais extraordinários como ocorreu com a fuga para o Egito, quando Herodes intentava matar o divino Infante. Maria se apoiava em São José e este, pai amoroso, neste mundo tudo fazia para a defesa daquele que o Pai celeste lhe havia confiado e na proteção daquela que era a esposa do Espírito Santo. Esta ida dolorosa para um país estranho vem recordar a todos os esposos, àqueles que se amam dentro das diversas comunidades, que seus destinos são comuns e, por entre as incongruências da vida, o amor tudo supera. O afeto mútuo é que sustenta a família  e qualquer comunidade, por entre as dificuldades que surgem e é esta mesma dileção que faz, então,  reluzir as comunidades cristãs unidas no amor ao próximo e a Deus. Quer na comunidade familiar, quer na comunidade eclesial o que acontece a cada um deve interessar a todos. O outro precisa sempre ser tomado em consideração. Desde que Deus comunicou a São José que ele deveria receber Maria como sua esposa diante da lei a vida de ambos mudaram inteiramente, Vão juntos a Belém para se inscrever no recenseamento, assistem o nascimento de Jesus e vão  juntos para o exílio. Os problemas de um eram os problemas do outro e agora até  questões envolvendo o Filho de Deus encarnado.  Nunca se pode esquecer que a célula familiar, bem como as diversas comunidades humanas,  compreendem pessoas interdependentes em tudo. José e Maria com Jesus após o Egito não voltam para a Judéia, mas para a Galiléia se ajustam sempre aos planos de Deus. Em Nazaré passaria a viver a família modelar. José no seu trabalho humilde, Maria a cuidar da casa e ambos inteiramente vivendo em função de Jesus. Ele sofreram as condições dos pobres e dos oprimidos se identificando com eles. As figuras que surgem antes da ida para Nazaré foram emblemáticas. Os Magos que estiveram em Belém eram o símbolo de uma humanidade inquieta e que procura, apesar dos pesares, a salvação, mas sábios que reconheceram Deus num menino inerme. Herodes e seu filho Arquelau representavam bem o poder explorador e opressor, invejoso de uma possível hegemonia do filho de José e Maria, temerosos de perder seus privilégios e daí a intenção de O matar. Neste história, porém, os personagens dignos de louvor eram Jesus, Maria e José, a Sagrada Família. Esta família na sua existência movimentada se tornou  realmente um modelo concreto de toda família humana. São Paulo na sua Carta aos Colossenses desceu a detalhes de como deve viver uma família harmoniosa. O leitmotiv do Apóstolo é a caridade, que o vínculo da perfeição. Para isto a oração é imprescindível para unir esposos e filhos num mesmo ideal. Tudo fazendo para o Senhor Onipotente e não para os homens. Dentro desta perspectiva se pode dizer com toda certeza que a família nunca esteve em crise. As pessoas que a compõem podem, muitas vezes, se verem  em situações complexas, esquecidas da herança eterna que aguarda lá no céu os que cumprirem plenamente seus deveres na comunidade familiar e na sociedade humana como autênticos cristãos. Porque todos somos bem-amados do Pai devemos nos revestir de ternura, bondade, compreensão, perdão cordial a cada passo na vida. Onde reina o verdadeiro amor há paz, harmonia e um por todos, todos por um marcham felizes para a Casa da Eternidade sob os olhares de Jesus, Maria e José. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

DEUS ENTRA NA HISTÓRIA HUMANA

DEUS ENTRA NA HISTÓRIA HUMANA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Próximos do Natal o Evangelho de hoje nos lança diretamente na História de Jesus (Mt, 1,18-24). Aí surgem as figuras de José e Maria. Percebe-se então a origem da ação de Deus que entra e age nas vidas humanas. É bem a imagem da maneira como o Ser Supremo vem ao encontro dos seres racionais, criados à Sua imagem e semelhança. Através de um anjo Ele deixa seu recado pessoal ao esposo de Maria: “José, filho de Davi, não temas receber contigo Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito Santo”. Conhecedor das virtudes, da pureza de Maria, São José não duvidara de sua santidade, mas a gravidez de sua esposa estava envolta em mistério. A concepção virginal, porém, lhe foi revelada pelo mensageiro divino. Dissiparam-se as nuvens na mente de São José, que seria o pai adotivo de Jesus perante a Lei. É assim que Deus age sempre na vida de suas criaturas, mas é preciso a exemplo de São José estar atentos a seus recados divinos lá no íntimo da consciência de cada um. Respeitando sempre a liberdade humana, Ele envia sua Palavra através dos acontecimentos, das pessoas, de suas inspirações. A correspondência à vontade de Deus se revela na fidelidade à mesma que é portadora de frutos magníficos. É preciso deixar que o Onipotente fale, aja e os resultados são maravilhosos como aconteceu com José e Maria. Diz o Evangelista que “José fez como lhe ordenara o anjo do Senhor; recebeu sua esposa a qual, sem que ele a conhecesse, deu à luz um filho, ao qual ele pôs o nome se Jesus”. O ser humano é que deve se adaptar a Deus e não este ao homem. No Antigo Testamento Deus se serviu por vezes de esposos estéreis para realizar o seu plano, mas seguindo os processos ordinários da natureza. Não assim no caso de José e Maria e Ele tem suas razões cujos detalhes o Evangelista a eles não desceu. Tudo era iniciativa do Ser Supremo. Entretanto São Mateus esclareceu teologicamente os fatos. Estão claras duas questões: Jesus veio ao mundo na linhagem de Davi, respondendo assim à expectativa do povo e o fez por intermédio de José, que o adotou legalmente como filho. No que concerne a Jesus Ele pertenceu à grande família de Abraão e de Davi e era, realmente, o Messias prometido. Desde os primórdios do cristianismo se reconheceu em  Jesus, nascido de Maria, o Messias esperado prometido por Isaias como devendo nascer de uma virgem. O Messias, isto é, o Eleito de Deus, repleto do Espírito Santo para realizar uma missão sublime no meio dos homens. O nome que recebeu este menino está pleno de significado. No Antigo Testamento, frequentemente, o nome indica o que é e devia fazer alguém nos desígnios divinos. Jesus será “o Senhor que salva”, será aquele que libertará seu povo de seus pecados. Libertação de ordem moral e espiritual e toda libertação que viria de Cristo iria promover esta restauração nas relações entre Deus e o homem. Libertação universal, que se dirige não somente ao povo da Antiga Aliança, mas a todos os que pela fé se tornariam filhos de Abraão. O título de Emanuel, Deus conosco, veio complementar a fisionomia teológica do Filho de Maria. Era um programa sublime , uma missão extraordinária: Deus presente na História dos homens, Deus tomando realmente a causa da salvação humana. Deus caminhando com os homens para reconciliá-los com Ele. Jesus dirá mais tarde: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim dos tempos”. Admirável então o papel exercido por São José e Maria no cumprimento do projeto salvífico de Deus. José era um homem justo. Justo no sentido bíblico, isto é, aquele que acreditou na Palavra de Deus, era coerente com sua fé, estava sempre disposto a atender o que Deus queria dele. Era santo porque ajustado ao querer divino. Antes, ele havia arquitetado uma maneira para salvar a honra de Maria, uma solução discreta, mas Deus era muito mais sábio do que Ele e tinha a solução perfeita que o tranqüilizou e alegrou Maria. Nunca se deve atropelar o que Deus quer, pois é dele que vem o que há de melhor para cada um. São José acolheu a iniciativa de Deus e se cumpriram as Escrituras. É necessário saber vencer as reticências humanas e não querer nunca manipular a Deus. Deus não é um satélite colocado a nosso serviço, mas, sim, o Sol que ilumina todo homem que vem a este mundo. Nenhum temor, portanto, quando Deus age na vida de cada um! Diante dos problemas pessoais, sociais, eclesiais nada de pânico, de perturbações inúteis, de agressividade, de intransigência, mas rezar e confiar em Deus! O caminho do Evangelho é árduo e supõe luta, perseverança e discernimento. É preciso assimilar o estilo de São José, aguardando a hora de Deus. Nada de tensões e apreensões, de medo, de fobia na vida pessoal. Jesus veio para salvar a todos e nele se pode confiar!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

SIGNIFICADO DO NATAL

O SIGNIFICADO DO NATAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Academia Mineira de Letras
Comemora-se mais um  Natal de um  Salvador  que nasceu pobre e humilde.
O contexto consumista atual distrai muitos cristãos do sublime mistério que se celebra no dia 25 de dezembro. Muita preocupação com aquilo que não é o essencial deste fato maravilhoso. Cumpre, então,  uma reflexão sobre  o amor infinito de um Deus que se fez homem para redenção da humanidade. Contemplá-lo num Presépio, cátedra de onde Ele nos ensina humildade e desapego dos bens transitórios deste mundo e isto com uma eloqüência maravilhosa. Numa linguagem não verbal o divino Infante está a pregar, desde sua chegada a esta terra, virtudes que devem ser o ornamento seus epígonos. Mensagens austeras, mas que trazem felicidade, imperturbabilidade, honradez. Jesus, Rei do céu e da terra, nasce num estábulo na mais total privação para nos ensinar total desambição, dedicação aos pobres e a fuga de toda arrogância e vaidade. Ele é a luz do mundo e o que o segue não anda nas trevas (Jo 8,12). Para sermos iluminados por Ele é preciso caminhar nos seus passos. Lembremo-nos sempre que os seus primeiros adoradores foram pobres pastores. Apenas depois é que Ele, Soberano que é do Universo, receberá os  Magos que lhe trarão suas ofertas, mostrando aos ricos deste mundo que devem ser generosos, honrando-O na figura dos menos favorecidos. Os pastores eram pessoas simples, obscuras, mas devotados a seu humilde trabalho, guardando durante a noite o seu rebanho. Eis por que o anjo lhes aparece e lhes diz: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria para todo o povo. Nasceu-vos hoje na cidade de Davi um Salvador que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura”.  As preferências divinas não mudam nunca, pois Deus se revela aos pequenos e humildes de coração. Na verdade, estes são capazes de atinar com as veredas que o Espírito Santo apresenta para se encontrar sempre o Redentor a oferecer  suas graças e sua felicidade. Os segredos do Ser Supremo Ele os reserva para quem reconhece sua grandeza e transcendência e está disposto a se adaptar a Ele. Aliás, o próprio Jesus, enquanto homem,  assim se lançará sua prece: “Eu vos rendo graças, ó Pai, porque escondestes estas coisas aos sábios e prudentes e as revelastes aos pequeninos e humildes” (Mt 11,23). Nada, portanto, mais necessários diante do Presépio do que um desapego dos bens materiais e passageiros deste mundo e o reconhecimento ontológico da dependência  que se tem com relação ao Ser Necessário e Infinito. Nada honra tanto a criatura humana do que se curvar ante a Majestade daquele que é o Criador de tudo O orgulho, a empáfia impedem tão sábias atitudes, pois leva muitos a se entregarem ao luxo ou à aquisição do que é o supérfluo e a não se inclinarem perante a grandeza divina.

sábado, 14 de dezembro de 2013

PASTORAL DA JUVENTUDE

PASTORAL DA JUVENTUDE – 62ª. JORNADA DE CONSCIENTIZAÇÃO CRISTÃ

Coroando suas admiráveis atividades no ano de 2013, o Grupo Jovens Seguidores de Cristo da Paróquia de Santa Rita de Cássia, em Viçosa (MG)  promoveu a 62a  Jornada de Conscientização Cristã nos dias 13 a 15 de dezembro. Cerca de 70 jovens da região se reuniram para refletir, rezar e se tornarem ainda mais perfeitos discípulos de Jesus Cristo. Preparado, também este Encontro, pelos Dirigentes do JSC, com várias reuniões, preces e Missas, atingiu o mesmo notável êxito espiritual. As palestras foram proferidas pelos antigos membros do JSC, pelo Diretor Espiritual e palestristas atuantes em outros movimentos pastorais. O neo-sacerdote Edir ajudou nas Confissões. Na Missa de encerramento o Côn. José Geraldo mostrou aos jovens que, participando do múnus profético de Cristo pelo batismo, o seguidor de Cristo, a exemplo de São João Batista, ultrapassa as barreiras da infidelidade a Deus, do escândalo das paixões descontroladas, das banalidades do luxo, do desprezo para com os mais necessitados. É que, explicou o Cônego, João Batista inaugurou uma nova profecia, a dos tempos da Igreja que consiste em anunciar a redenção, a revelar a atuação de Jesus num mundo paganizado, hedonista. As reuniões do JSC se dão aos sábados às 17 horas no Salão Paroquial após a Missa aí celebrada, da qual participam também os Adolescentes Seguidores de Cristo (ASC). Pedem-se preces pela perseverança destes jovens idealistas

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

ENTREVISTA

    ENTREVISTA CONCEDIDA AO JORNAL “ANGELUS”, DO GRUPO JOVENS SEGUIDORES DE CRISTO DA PARÓQUIA DE SANTA RITA DE CÁSSIA EM VIÇOSA- mg

  1) Senhor Cônego, como e quando foi o chamado a vida sacerdotal?
Desde criança dizia que queria ser padre como o Pe. Álvaro Correia Borges, Pároco de Viçosa. Meu pai, que foi médico em Viçosa durante mais de 40anos, muitas vezes ao passar perto da antiga Igreja Matriz de Santa Rita então me falava: “Se você quer mesmo ser padre, sobe até junto do altar e pede esta graça a Jesus”. Terminado o Curso Primário na Escola de Profa. Argina Silvino Ferreira fui para o Seminário.
 2) Sabemos que são muitos, mas poderia nos dizer um fato que foi de grande importância em sua vida sacerdotal?
Ter sido 40 anos professor no Seminário de Mariana  e ter morado com Dom Oscar de Oliveira durante seu episcopado em Mariana, tendo dirigido por 35 anos o jornal O ARQUIDIOCESANO.
      3) O senhor que “dirige” um grupo de jovens, qual foi o sentimento   ao se encontrar com a “papa da juventude”, o nosso amado beato João Paulo II?
O encontro com o bem-aventurado João Paulo II, por ocasião de um Congresso em Roma, no qual fiz uma palestra sobre a Imprensa Católica no Brasil, foi um momento de grande emoção, por estar na presença de um santo, sucessor de São Pedro no governo da Igreja.
      4) Como o senhor se sente, com relação à sua missão enquanto padre, após completar 80 anos de vida?
Muito feliz por ter trabalhado sempre na evangelização em Mariana e em Viçosa..
      5) O senhor encontra ou já encontrou alguma dificuldade em ser o Diretor Espiritual do JSC?
Antes do JSC tivemos o GGJ (Grupo de Gente Jovem) e o primeiro grupo juvenil de Viçosa, o GJV (Grupo Jovem de Viçosa), e agora o JSC e só tem havido júbilo por ver o desejo dos jovens em serem outros Cristos, realizando um apostolado admirável junto da juventude viçosense.
     6) Senhor Cônego, fale para nós sobre o significado do JSC em sua vida.
Se alguém quer ser sempre jovem, viva entre jovens idealistas. No JSC se bebe o elixir da eterna juventude, porque lá estão Jovens Seguidores de Cristo e Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida! Não foram comemorados 80 anos, mas 20 anos vividos 4 vezes.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

UM NOTÁVEL PROJETO

UM NOTÁVEL PROJETO
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A preservação da memória histórica de Minas Gerais é um dos mais louváveis esforços que estão recendo apoio de mestres abalizados e de entidades culturais. Ainda agora a Dra. Karla Denise Martins, do Departamento de História da Universidade Federal de Viçosa  teve um projeto aprovado pelo MEC/PROEXT para inventariar objetos, documentos e materiais diversos dos missionários da Congregação da Missão no século XIX, com ênfase na figura de D. Viçoso. Tudo será organizado no Santuário do Caraça, um dos ícones da religiosidade mineira. A historiadora  Professora Karla Denise Martins tem duas teses defendidas na Unicamp e, entre outras atividades, se preocupa com os problemas de restauro e perda da memória histórica em nosso país. Viçosa honra Dom Viçoso com seu significativo topônimo. Monsenhor Raimundo Trindade, notável Historiador Mineiro, no seu livro Instituições  de Igrejas no Bispado de Mariana, publicação número 13 do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, editado pelo então Ministério da Educação e Saúde no ano de 1945, à página 277, tem o seguinte registro: “ Santa Rita do Turvo. Capela filial do Pomba elevada a freguesia pelo decreto de 14 de julho de 1832 com as filiais São José do Barroso e Conceição do Turvo. – Instituída canonicamente por provisão episcopal de 31 de agosto de 1833. Primeiro vigário (encomendado) Agostinho Isidoro do Rosário, promovido a colado por  Carta da Presidência da Província de 23 de fevereiro de 1837, colado a 1 de abril; Manuel Filipe Neri, apresentado por Carta Imperial de 16 de agosto de 1861 e colado a 11 do mês seguinte. É a cidade de Viçosa, nome que lhe foi dado me homenagem ao Bispo  Dom Antônio Ferreira Viçoso”.  A Evangelização em Minas Gerais no século XIX empreendida por D. Viçoso foi feita à luz do ultramontanismo e desencadeou um processo de reforma durante três décadas, a qual produziu frutos opimos. O que se deu foi uma reforma necessária da  vida do povo cristão, deformada por força  da ausência de uma constante orientação da hierarquia da Igreja, cuja presença se fazia urgente na vasta província, de modo sistemático e contínuo, o que ocorreu graças ao empenho de D.Viçoso. A renovação que D. Viçoso procedeu fustigou uma religião rotineira, frouxa e implantou uma nova mentalidade cristã de vivência plena do Evangelho. Cristianizou a romaria popular do Bom Jesus de Matozinhos de Congonhas, orientando os romeiros para uma manifestação de uma fé mais vigorosa.  A Igreja mineira da segunda metade do século XIX estava comprometida com os pobres e lutou também contra as formas de opressão presentes no sistema escravocrata. D. Viçoso esteve sempre ao lado dos excluídos. Grande o seu esforço coroado de êxito, no sentido de afastar a defasagem entre o prescrito no Evangelho e o vivido no cotidiano pelos que se diziam cristãos. A grande operosidade desdobrada pelos missionários na formação da índole mineira renovou o espírito evangélico nesta vasta região. As pregações dos missionários orientados por D. Viçoso visaram uma autêntica conversão que foi se dando lenta, mas progressivamente. O cristianismo começou a ser vivido mais profundamente, fazendo a evangelização dar passos firmes rumo ao amadurecimento da fé. Tanto isto é verdade que D. Silvério Gomes Pimenta sucessor imediato de D. Viçoso com precisão pôde assim sintetizar a atuação fecunda do Apóstolo de Minas: “Batalhou trinta e um anos, arrostou dificuldades bastantes a desalentar os mais ousados e sem tumulto, sem abalos estrondosos, obrando mais do que falando, a humildade de D. Viçoso executou uma transformação assombrosa” Legou uma “Minas moralizada e católica” a seus sucessores. Encontrou apenas um seminarista, mas graças ao seu empenho evangelizador, D. Viçoso ordenou cerca de trezentos sacerdotes imbuídos do vero espírito evangélico, que missionaram Minas e outras regiões do país com desvelo incomparável, notável ardor apostólico e excelentes resultados. As metas prioritárias do plano pastoral da Igreja mineira foram inteiramente atingidas até o final do século, graças ao modelo missionário traçado por D. Viçoso. Este objetivava sobretudo a nova encarnação de Cristo no espírito e nas realizações vitais dos mineiros. Por bem captar a dimensão da religiosidade brasileira, D. Viçoso pôde estruturá-la em bases sólidas, donde resultou os mais salutares efeitos. Por tudo isto aplausos à iniciativa da Professora Karla Denise Martins e todos que puderem intervenham para o êxito de seu nobre objetivo da criação de um Museu de D. Viçoso no Caraça. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



sábado, 7 de dezembro de 2013

O ELOGIO DE JESUS AO PRECURSOR


O ELOGIO DE JESUS AO PRECURSOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A figura de São João Batista resplandece através dos tempos, sobretudo no grandioso panegírico, laudatório feito pelo próprio Cristo, um louvor realmente maravilhoso. Ele era um modelo a ser imitado.  O Mestre divino o apresenta como possuidor de caráter inflexível, que não se dobrava ao sabor do vento. Qualidade esta tão necessária no contexto atual àqueles que se dizem cristãos. Perante a agitação das idéias que são transmitidas pela mídia em geral, diante dos maus exemplos, das heresias que pululam por toda parte, muitos são aqueles que não têm a mesma energia, a idêntica intrepidez do seu Precursor. Este ostentou sempre uma vida austera, entregue a uma louvável penitência, longe do bulício do mundo, passando seus dias no deserto. Desde os tempos de João Batista até hoje o Reino dos Céus padece violência e apenas os destemidos conseguem atingi-lo. Tornam-se imunes às influências deletérias dos profetas do erro. Apenas com um salto de qualidade, superando as falsas atrações terrenas e as doutrinas falaciosas, é que se chega a um destino feliz por toda a eternidade. Aí o baricentro da existência daquele que se imerge na obra salvífica do Redentor, o centro de gravidade de todas as ações que abrirão as portas do Paraíso. Isto é tão importaste que o menor seguidor de Cristo se torna até maior do que João Batista, nas próprias palavras de Jesus. O Redentor veio, de fato, trazer ao mundo as mensagens de um Reino onde tudo é felicidade, o tesouro escondido, a pérola preciosa. Com Cristo a hora decisiva da História, anunciada por seu Precursor, que era mais do que um Profeta, já havia soado. Aceitar então Jesus seria uma condição essencial para se obter a salvação. Extraordinário o encômio que o divino Salvador fez a São João Batista, mas aparece claro que apenas com Ele, que era o Messias esperado, se realizava o tempo do cumprimento das promessas que o Precursor, como uma das mais notáveis figuras do Antigo Testamento, havia predito, mensageiro que era para preparar os caminhos do Salvador. Aliás, João, aquele que batizava e batizou o próprio Cristo, deixou clara a diferença entre as duas missões. Ele batizava com a água, mas Jesus batizaria no Espírito Santo (Mt 3,11). Isto significa que o batismo, sacramento instituído por Cristo, envolveria todo o ser humano na Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, como a água faz com o corpo na qual este é imerso. Batizar no Espírito definiu a obra essencial do Messias que veio regenerar a humanidade através de uma grande e universal efusão do Espírito de Deus. Então se compreende melhor ainda o que disse Jesus: “Em verdade vos digo que entre os nascidos de mulher não surgiu nenhum maior que João Batista, contudo o mais pequenino no reino dos céus é maior que ele”. Jesus queria dizer que a excelência de João Batista ultrapassava a de qualquer outro, mas na nova Lei, visto que esta é de uma ordem superior, o último em respeitabilidade está acima do mais excelso em dignidade da Lei antiga. Trata-se da superioridade da plenitude da graça, por força da recepção total do Espírito Santo. Que responsabilidade então a do cristão! O elogio de Jesus a São João Batista O levou a ressaltar a grandeza de pertencer a sua Igreja por meio de seu batismo que comunica o Espírito de Deus. São Tomás de Aquino, contudo, advertiu que “há uma missão invisível do Espírito cada vez que ocorre um progresso na virtude ou um aumento da graça santificante através dos outros sacramentos”. Daí a necessidade daqueles que são maiores que João Batista de invocar sempre o Espírito Santo.  Jesus foi claro: “O Pai dará o Espírito Santo àqueles que O pedirem”. Então, sim, se poderá viver a realidade da fé, imitando as qualidades do Precursor, no crescimento no amor a Deus, na humildade, na austeridade, por meio dos carismas concedidos a cada um e dos frutos do Espírito. João Batista que foi chamado por Cristo como o maior dos Profetas ajudará a todo cristão de boa vontade a cumprir sua missão profética no mundo de hoje. João Batista anunciou não uma salvação futura, mais uma redenção presente, oferecida pelo Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. Participando do múnus profético de Cristo pelo batismo, o batizado a exemplo de São João Batista, ultrapassa as barreiras da infidelidade a Deus, do escândalo das paixões descontroladas, das banalidades do luxo, do desprezo para com os mais necessitados. João Batista inaugurou uma nova profecia, a dos tempos da Igreja que consiste em anunciar a redenção, a revelar a atuação de Jesus num mundo paganizado, hedonista. Para testemunhar a Cristo é preciso o espírito de profecia que havia em São João Batista, anúncio contínuo das belezas do Evangelho refletido no testemunho de vida. Que sejamos profetas do Reino, como o foi o Precursor de Jesus! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA

A IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Mensagem especial lança a Virgem Imaculada no recesso de todos os corações no dia oito de dezembro. Ela, apenas ela, surgiu pura e ilibada desde o primeiro momento de suas existência e se levantou sobre as ruínas da humanidade, restaurando a dignidade da espécie humana. Tal a sina de todo homem que vem a este mundo: nasce com a mancha do pecado original. Este é um dos dogmas fundamentais da fé. Nele se acha a explicação do contraste terrível que existe no mais profundo de cada ser racional, manancial inditoso da ininterrupta luta do homem consigo mesmo. Aí está a gênese de todas as lágrimas, a fonte de todos os atos heróicos que enchem as estatísticas do bem, mas também a nascente de todas as misérias que rutilam nas crônicas do mal. Decadência de nossa natureza, fora dos planos divinos, o pecado original faz da travessia terrena arena de combate e torna a virtude uma conquista, a nobreza uma vitória, a moralidade um êxito brilhante. Torna o bem mérito; o mérito, glória; a glória, felicidade perene para os que impõem em sua existência o primado dos valores espirituais, sobre as tendências inferiores que, desgovernadas, materializam. A grandeza moral que no pensamento de Deus devia ser antes fruto espontâneo da natureza passou a ser beatificante, mas  se tornou árdua conquista de uma vida de esforços e lutas. Clamava Petrarca: “Vejo o melhor e ao pior me apego”. Antes dele Ovídio lamentava: “Vejo o que é melhor, provo isto, mas sigo o pior”, o que, na linguagem famosa de São Paulo, significa: “Sinto em meus membros uma lei que contraria a lei do meu espírito, pela qual me sinto inclinado a fazer o mal que não quero e não faço o bem que desejo" (Rm 7,23). São precisamente os clarões luminosos da magno triunfo sobre a desordem interior instaurada pelo pecado original que fizeram os grandes heróis e as vidas gloriosas dos santos que sob o ideal celestial, que é Maria Imaculada, realizaram a seu exemplo toda bondade, toda grandeza que Deus espera de cada um. Os santos tiveram que enfrentar grandes batalhas espirituais. No recesso do claustro São Bernardo, o poeta de Maria, sentia a fascinação terrível do mal. Santa Teresa, a preclara carmelita, percebia o encanto profundo das vaidades no fundo de seu convento. Na solidão do deserto Santo Antão jogava-se contra os espinheiros para se mortificar. Requintes de heroísmo surgem na vida de um São Francisco de Assis a se lançar contra a neve em pleno inverno, de um São Luis Gonzaga entre as mais rudes penitências, de um São Bento a multiplicar cilícios, porque os mais terríveis impulsos os queriam arrastar ao mal. Simão estilita, anacoreta que vivia longe do convívio social, para cantar o hino do triunfo, tinha a sua cela no cimo de colunas em ruínas, orando dia e noite. Santa Clara, na austeridade de vida, no rigor de mortificações assombrosas, ascendia à montanha da perfeição. Santa Azela, virgem em Roma e dentro de Roma e quando Roma era o maior teatro das delícias e vaidades do mundo fez da populosa cidade ermo, para espiritualizar-se na virtude. Na vida de todos os santos chamem-se eles Ambrosio ou Cipriano, Luzia ou Inês, Rita de Cássia ou Antônio de Pádua, na arena de seus corações houve sempre o magno combate. Hoje ostentam palmas e coroas, porque, lutando, fizeram a grande opção pela virtude, pelo bem, pela felicidade autêntica, pela grandeza genuína, ideais que contemplaram em Maria Imaculada. Com São Paulo puderam repetir no fim de suas vidas: “Combati o bom combate, guardei a fé, agora só me resta esperar a coroa que o justo Juiz me reserva” (2 Tm 4,7).Tudo isto alerta da Mãe celeste, pois a ascensão moral é tarefa árdua que só com a morte cessa. No épico combate cantam tais e tantas vitórias, conhecem tamanhos e tão nobres triunfos os que inspirados por ela se sobrepõem às aliciações da matéria e voam às alcantiladas regiões do espírito, através da renúncia e do sacrifício, atraídos e fascinados pela magnificência de sua celestial pureza. Tudo isto convite da Virgem Imaculada a que se imitem como tais santos sua santidade gloriosa e isto tanto mais se impõe ao cristão de hoje, quanto mais a humanidade se deixa empolgar pelas atrações terrenas. Propagar o reinado de Maria Imaculada na sociedade e nos lares, nas ruas e lugares de diversão, empolgar a todos pelo ideal da virtude, afastar a muitos da frivolidade indigna de almas imortais, fazendo surgir eflorescências de atos inspirados por Ela, é empreender uma cruzada, por excelência, evangelizadora. É uma obra  que leva à serenidade, à paz, à tranqüilidade, ao bem estar comum. É o mais nobre, o mais importante ideal que pode estadear-se para os filhos da Mãe Imaculada, pois significa prosperar a família e a nação e espiritualizar os indivíduos e a sociedade toda. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

        


AGRADECIMENTOS

A TODOS QUE ENVIARAM CUMPRIMENTOS PELOS 80 ANOS DE VIDA, 80 ANOS DE BATIZADO, 57 ANOS DE SACERDÓCIO, 51 ANOS DE CANONICATO, DATAS DO INÍCIO DE DEZEMBRO MIL AGRADECIMENTOS E COLOQUEI ESTES DIAS INTENÇÃO ESPECIAL POR TODOS. DEUS LHES PAGUE POR TANTO APOIO A ESTE HUMILDE SERVO DO JESUS CRISTO.
QUEM AGE E OPERA É A GRAÇA DE DEUS DA QUAL SE É POBRE INSTRUMENTO.
Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho

terça-feira, 26 de novembro de 2013

AGRADECIMENTO AO JORNALISTA JOSÉ MARIO RANGEL

Prezado  notabilíssimo Jornalista José Mário Rangel,
Entre as supresas que os 80 anos me tem reservado muito honrou a este sacerdote o seu artigo sobre o fato em tela.
Num momento como este, apesar de nossas divergências históricas sobre o glorioso 30 de setembro, quando em 1871 Santa Rita do Turvo foi elevada a Vila, início indiscutível de sua organização jurídica que a levaria a se tornar um das mais gloriosas cidades do Brasil e do mundo, data que tem sido  sempre festejada com pompa e circunstância pelos viçosenses, envio-lhe  meus sinceros  agradecimentos pela homenagem a este seu admirador.
 
Em todas as etapas de uma vida já longa tenho sempre em mente o que disse o Mestre divino: "Depois de terdes feito tudo que fizestes, dizei, somos SERVOS INÚTEIS ( Lc 17,10) . Na verdade, porém,nem sempre fizemos tudo que deveríamos fazer!
Louvo-lhe o interesse pelas datas cívicas de Viçosa, apesar de sua idiossincrasia pelo memorável 30 de setembro.
 
Amigos, amigos, opiniões à parte.
Com todo apreço e gratidão
 
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho 

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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

UMA FÉ ESCLARECIDA

UMA FÉ ESCLARECIDA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Eis a questão que foi apresentada a este articulista, solicitando  um posicionamento: "Vez ou outra encontramos algumas correntes, ou seja, papel ou estampas de santos, dizendo para rezarmos determinada oração, tirar cópias e repassar para frente. Algumas vezes até dizendo que a corrente não pode ser quebrada, inclusive anunciando desgraças para quem interrompe tal corrente de preces”.  Em primeiro lugar, cumpre saber que é necessária sempre uma fé esclarecida. Esta repele de plano qualquer tipo de superstição. Jesus foi claro: “Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá” (Lc 11, 9-10). Quem então se dirige a Deus tem fé no seu poder e confiança na sua bondade. Jesus é o único mediador entre o Ser Supremo e os homens, mas a intercessão dos anjos, de Maria e dos santos, por causa dos merecimentos infinitos do divino Redentor, é valiosíssima e por meio deles graças extraordinárias são obtidas. Um erro teológico seria fazer promessas diretamente a Deus, a Cristo e a estes intercessores, porque não se pode transformar a religião num balcão de negócios. É logo que o orante deve se colocar em condições de receber as graças solicitadas e isto, antes de tudo e sobretudo, examinando se está ou não observando os mandamentos, tendo, assim, um procedimento correto. Uma vez, porém, obtida a graça é imprescindível o agradecimento que abre a porta para novos favores celestiais.  Muitas pessoas civilizadas e inteligentes do século XXI ainda se deixam porém, paradoxalmente, levar por inúmeras manifestações supersticiosas. O termo superstição vem do latim superstitio que significa o que sobrevive de épocas passadas. Acreditam muitos, de fato, ingenuamente, nas formas primitivas de interpretação dos eventos da existência neste planeta, próprios tais modos de ver de povos incultos que não conheceram o desenvolvimento social. A experiência científica avançou consideravelmente, mas crendices ainda povoam mentes que se infantilizam diante dos desafios da vida. Ainda se fala também em dias faustosos e aziagos, em pressentimentos tenebrosos, em forças ocultas que agem através de certos ritos inteiramente desconexos com a realidade dos fatos. O fatalismo impera em certas mentes que tudo atribuem a um determinismo que contradiz a reta Filosofia e a sã Teologia. É preciso ser invulnerável às atitudes destituídas de fundamento lógico ou bíblico. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




sábado, 23 de novembro de 2013

Vigilância, uma atitude fundamental

VIGILÂNCIA, UMA ATITUDE FUNDAMENTAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável o alerta de Jesus a seus seguidores: “Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor”! (Mt, 24,42). A vigilância é uma atitude fundamental na vida do cristão. Ela envolve na esperança do reencontro com o divino Redentor. Esta expectativa não conduz a um futuro incerto, mas leva a uma atitude no momento presente dada a iminência constante da chegada de Cristo. O fato é certo, a hora é que se torna incerta e, por isto mesmo, coloca o cristão em estado de precaução. Não se trata simplesmente de estar acordado, mas, sim, preparado, pois quem pode chegar é Aquele que deseja introduzir o seu fiel discípulo numa felicidade perene. Envolto nos dons divinos, o cristão precisa então colocar sempre sua liberdade a serviço da graça, da fé, do amor e da comunhão fraterna. Quem não está vigilante, malbarata os favores recebidos de Deus, não cresce na fé e o amor vai se extinguindo. É que o batizado vela para que o mundo não se esqueça nunca de Deus se engolfando nas paixões desregradas que serão severamente condenadas quando o Filho do homem voltar. Deste modo, a vigilância tem um significado concreto, profundo. Orienta o desejo humano para além do tempo, pois no reencontro com seu Senhor principiará a eternidade. Eis porque a vigilância pregada por Cristo vai além da mera precaução humana diante das evoluções sociais e tecnológicas cada vez mais rápidas no contexto atual. Se a precaução é necessária a quem vive na sociedade atual tão rica de possibilidades, mas tão complexa, a vigilância leva quem tem fé a não perder de vista o fim último que é a salvação eterna. No meio de uma série de solicitações, proposições e atividades profissionais, familiares, sociais a precaução conduz a um bom gerenciamento do tempo e de tudo que se possui, antecipando problemas. Prever é uma das palavras chaves da sociedade de consumo. Esta prevenção que é importante não deve, contudo, impedir o cristão de estar voltado para realidades mais sublimes. O Evangelho deixou claro que as pessoas entregues apenas aos afazeres materiais foram levadas pelas águas do dilúvio (Mt 24, 39). A grande questão, portanto, é saber conciliar o viver num mundo de atividades sócio-econômicas com a atenção à glória que há de raiar com a chegada de Cristo. Entretanto, a própria aceleração da história que caracteriza os tempos hodiernos é um alerta a mais para se estar vigilante, porque mais do nunca o ser racional percebe a passagem rápida dos dias, meses e anos. A mundialização econômica e cultural, a rapidez das transformações tecnológicas faz com que o tempo passe com uma rapidez impressionante e ai daqueles que não cuidarem em bem se preparar para a vinda de Cristo. A vigilância evangélica não consiste em imaginar o que virá, mas é uma disposição ininterrupta de acolhimento de uma Pessoa que chegará para recompensar pelo bem praticado, pela boa administração das dádivas divinas, pelas virtudes praticadas. Há hoje, assim, uma maneira diferente pela qual se deve estar vigilante. Mais do que nunca cumpre um engajamento radical e uma renúncia a tudo que embarga a chegada Reino de Deus. Este reino exige um investimento de todo o ser que não se deixa prender ao efêmero. Sabe, contudo, o cristão que o estar preparado para a volta de Cristo é obra de Deus, pois o mundo novo é fruto da pura misericórdia divina. A vigilância exige então um controle maior da própria liberdade e isto com uma exigência sem limites. Trata-se da consciência de uma responsabilidade pessoal no que tange à própria vida na eternidade. Responsabilidade concreta na espera da hora final de uma trajetória nesta terra. Esta vigilância, não obstante as fraquezas humanas, imerge na confiança total em Deus, apesar dos riscos que cada um corre na sua caminhada por este mundo. A vigilância, porém, torna o cristão audaz, corajoso, porque ele se abandona à prece e se dispõe continuamente a estar atento ao serviço da justiça do Reino de Deus. Como dizia São Paulo, este é o momento de se sair do sono, para se entregar a uma esperança dinâmica. A prevenção incita, deste modo, a se despojar do que é secundário para melhor acolher o Reino de Deus. Aquilo que é o agora, não deve ofuscar o que ainda será, quando Deus fará todas as coisas novas. Daí, a advertência de Jesus: “O Filho do Homem virá na hora em que não pensais”. Se o cristão vigilante não pode prever o dia e a hora, pode, contudo viver o presente com um coração aberto para a novidade de Deus. Isto não é inútil, mas, sim, essencial, de vital importância. Fruto da confiança em Deus que é maior do que os projetos humanos, a vigilância aceita o imprevisível como marca da liberdade e do amor. Ela dá sentido aos acontecimentos e até se robustece por vezes das rupturas dolorosas da existência. É deste modo que o primeiro domingo do Advento ajuda cada um a se preparar para o Natal, novo encontro com Cristo, aguardando o reencontro final com Ele no ocaso da vida de cada um. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO

O PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Decisiva a declaração de Jesus: “Quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado” (Mc 2,22-30). Blasfemar contra a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o amor eterno entre o Pai e o Filho, fonte do amor imenso deste Deus Uno e Trino é desprezar o amor. É duvidar da salvação oferecida pelo Ser Supremo. Consiste em desesperar da misericórdia divina. É uma paranóia no alto grau. Tudo junto de Deus pode ser perdoado exceto a recusa do perdão, a desconfiança do amor, a ausência radical do afeto que tudo destroem e nada constroem, nada reparam e tudo perdem. O requinte desta atitude sumamente condenável leva inclusive a não querer a dileção oferecida pelo Criador, rejeitando seus dons num gesto ignóbil, insensato. Deus ama e perdoa, mas não destrói a liberdade do ser racional de recusá-lo, apesar de todas as provas de Sua ternura infinita. Deste modo, surge um pecado sem remissão pela natureza intrínseca do mesmo. Não se trata de ofender com palavras o Espírito Santo, de contristá-lo, mas se trata de recusar a receber a salvação que o Pai ofereça ao ser racional pelo Espírito em virtude do sacrifício da Cruz.   Deus não tem um limite para sua misericórdia que é infinita.  Entretanto, a recusa desta misericórdia, do perdão de Deus impossibilita o Senhor a conceder a perdoar este pecador renitente. Deus não pode perdoar o ser racional à força. É preciso que seu perdão seja acolhido, que se aceite a luz divina. Quem recusa a salvação e se fecha no seu pecado coloca uma barreira intransponível para o mundo sobrenatural, impedindo inteiramente a ação do Espírito Santo. Bloqueia assim totalmente a entrada no reino do céu. Adite-se que o Espírito Santo não é Deus que se manifesta numa carne humana, mas Deus que vem habitar no interior mesmo do coração do batizado. É Deus que se revela no interior do cristão. O Espírito Santo é a luz que faz ver o mistério de Deus. Quem não quer esta realidade sublime passa para a outra margem da vida de onde todo retorno se torna impossível. É aquele que não deseja ser amado pelo seu Criador. Então Deus não pode nada mais fazer diante de tanta insensatez e inclusive Ele fica impedido de entrar no íntimo deste coração empedernido. Deus não força a liberdade humana. Neste caso não é Ele que rejeita o homem, mas este que se colocar fora do Reino, rejeitando a manifestação suprema de seu amor que é o perdão que Ele oferece a quem se arrepende. Dá-se desta forma a maior desgraça que pode acontece a alguém que volta suas costas ao Onipotente, ao Todo-poderoso. É o próprio homem que torna assim o seu pecado imperdoável por ser uma atitude inteiramente descabida, a negativa afrontosa da dileção divina. Blasfêmia profunda porque nega o essencial mesmo de Deus que é o seu amor.  Todas estas reflexões devem então alertar o cristão, para que por suas infidelidades não chegue a cair em tão profundo abismo. Cumpre rezar sempre pelos que se desesperam da misericórdia divina e àqueles que se acham em tal estado é preciso levar uma palavra e encorajamento, de abertura para o Absoluto. Deus está sempre de braços abertos para receber quem se arrepende e se corrige. O Filho pródigo encontrou a porta aberta do coração de se pai, porque ele voltou, ele se arrependeu. Estava morto e começou a novamente viver. Além disto, é preciso saber escutar o Espírito Santo. Todo cuidado é pouco, dado que  a mensagem divina esclarece, o milagre aponta uma rota, mas nem a palavra nem o milagre podem aprisionar o homem em sua lógica e arrebatar-lhe a liberdade de ser irredutível à evidência. Se assim não fosse, não haveria nem a ventura suprema da opção, nem o valor da virtude livremente praticada. O Espírito Santo é admirável advogado de todos os homens e apela sem cessar junto de cada coração: “Volta de novo para o teu Senhor que muito te ama”! Entretanto o pecado grave da desesperança bloqueia a percepção de um tal apelo. O  ser racional se torna então obtuso para o plano espiritual. É necessário portanto estar cada um atento, porque as distrações mundanas podem blindar a vida interior, o apego às coisas terrenas pode absorver de tal modo o ser humano que este se torna impermeável às mensagens divinas. Os divertimentos malsãos, os programas televisivos, as paixões terrenas acabam impedindo o diálogo com Deus. Aquele que se fecha a esta tertúlia vai aos poucos dando as costas ao Ser Supremo. Entretanto, aquele que cai em si e se esforça para se aproximar das realidades espirituais logo conhece a alegria interior vinda do alto. Há então a experiência do perdão de Deus e uma imersão no seu amor.Assim longe de qualquer blasfêmia contra o Espírito Santo passa a reinar a paz.  Esta permite vencer a inércia e os temores. Brilha a fidelidade à Verdade e a presença do Espírito Santo inflama a coragem e afasta toda e qualquer blasfêmia. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 16 de novembro de 2013

CARACTERÍSTICAS DO REINADO DE CRISTO

CARACTERÍSTICAS DO REINADO DE CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O trecho do Evangelho de São Lucas leva a bem conceituar o reinado de Cristo (Lc 23, 35-43). A essência deste reinado diferencia-se profundamente das concepções que normalmente se tem da realeza. Os reis que aparecem na História se apresentam como um onipotente senhor, muito acima de seus súditos. Chefe de um poderoso exército, possui terras, palácios, numerosos servos às suas ordens. Vivem no luxo, cercados das mais extravagantes mordomias. Em síntese, um privilegiado, muitas vezes passando seus dias numa corte mundana e submissa a seus caprichos. Hoje, porém, o rei que é festejado se apresenta no alto de uma cruz, objeto de injustos insultos, vítima de uma grosseria inominável advindos do povo e dos seus dirigentes. Não está ali um Rei coberto de ouro, porque não seria o ouro que o faria um soberano. Nem mesmo a legião dos anjos lhe vem salvá-lo naquela hora, dado que não seria isto que o tornaria um monarca. Apresenta-se marchetado de feridas, ironizado sob todos os aspectos, condenado a uma morte ignóbil. Ele não se salva a si mesmo, porque viera para redimir todo o mundo. Não escapa voluntariamente da cruz, uma vez que ela seria salvação de toda a humanidade, a paga pelos pecados dos homens, a garantia da reconciliação com o Ser Supremo. Antes de estar no altar de uma terrível imolação pelos seus vassalos ele havia demonstrado que sua realeza tinha características peculiares, pois ele se ajoelhara diante de seus discípulos e lhes lavara os pés, Ele que nascera numa manjedoura, vivera numa pobre carpintaria e pôde então afirmar que seu império não era deste mundo. Ele, o Verbo Eterno de Deus que se encarnara para conduzir seus seguidores para seu reino de justiça e de felicidade, de amor e de paz, proclamava assim o pouco valor dos poderes meramente humanos. A marca fundamental de sua soberania era o amor que o levara àquele martírio para abrir para quantos O aceitassem as portas do Reino dos céus. Eis porque, consumado seu sacrifício, morto, sepultado, ressuscitando pelo seu próprio poder seria aclamado Rei imortal dos séculos por milhares de homens e mulheres tocados pela vibração deste amor incomensurável. O grande monumento deixado nesta terra por este Rei, seria sua Cruz, mas esta indicaria para todos que O aceitassem o caminho para a entrada nos deslumbrantes palácios da eternidade. Enquanto os todo-poderosos deste mundo haveriam de continuar a se impor através da propaganda, de suas estratégias para se manter no mando, este Rei prosseguiria pelos tempos afora a recomendar: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”, Ele que viera “não para ser servido, mas para servir”. Viera realmente numa missão de amor, para testemunhar e atestar que Deus ama suas criaturas racionais. Por isto ele tocaria fundo os corações generosos e seu reinado se distinguiria pelos novas relações dos homens entre si e de todos com Deus.  Verdadeiro Rei que dá às pessoas que se submetem a Ele força para lutar contra todas as formas de injustiças que desfiguram a humanidade. Aos vivos e mortos que O têm como soberano ele os  envolve na luz de sua ressurreição e garante: “Quem crê em mim, viverá eternamente”. Este Rei, porém, não é um dominador como os potentados deste mundo. Ele continua pela história afora a passar na vida dos seres humanos, batendo à porta dos corações, correndo o risco de ser novamente rejeitado como acontece com tantos arraigados nos seus erros e paixões, mas conquistando milhares que aderem à Verdade e ao Bem. Isto porque pertencer à Verdade é escutar seus ensinamentos, perceber sua voz e conformar a vida pessoal, familiar e profissional com seus desígnios sublimes. Pertencer à Verdade é se entregar a Ele imbuído de seu Espírito, retificando sempre a conduta sem se deixar influenciar pelo Príncipe das Trevas. Ele, contudo, conta com seus súditos fiéis para levarem por toda parte sua mensagem salvífica, seu olhar de amor e de ternura. Ele espera de seus autênticos epígonos que anunciem que o mal não terá jamais a última palavra, que seu amor de Rei triunfante é que vencerá. Cumpre difundir sempre “seu reino de vida e de verdade, de graça e santidade, de justiça de amor de paz”. Um dia este Rei voltará para estabelecer para sempre o reino divino. Por isto, seus súditos que caminham nesta terra vivem num processo de conversão, sem se deixar seduzir pela falsa lógica do mundo. É preciso trazer os que se acham longe deste Rei para o acatamento de sua Pessoa. Eis porque se repete tantas vezes na oração que Ele ensinou “que o teu reino venha a nós”. Isto leva à submissão a seu coração de misericórdia e de amor. Grande a responsabilidade do cristão em testemunhar o reino de Cristo. Que se contemple então a Cruz na qual a realeza de Jesus se revela em toda sua amplitude cósmica, oferecendo a todos o seu Reino de luz, de paz, de  ventura por toda a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 9 de novembro de 2013

Perseverança e salvação

PERSEVERANÇA E SALVAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Admirável o alerta de Cristo: “Pela vossa perseverança ganhareis as vossas almas” (Lc 2,19). Sentença breve e incisiva, frase contundente dado que o Mestre divino alia a constância do cristão à sua salvação eterna. Do exercício desta virtude depende a entrada no Reino eterno de Deus. É que a conquista do céu supõe coragem e determinação por entre as incongruências da vida. Exige uma luta sem tréguas contra os inimigos da alma e, sem bravura esta batalha que caracteriza da vida cristão não pode ser ganha. A vereda que conduz à Casa do Pai apresenta dificuldades e sem a fortaleza interior as boas intenções se tornam estéreis, infrutíferas. Cristo alertou seus seguidores sobre as contradições que teriam no mundo. Num contexto materializado, avesso à prática das virtudes, no qual os maiores absurdos morais são apresentados na mídia como se fossem atitudes naturais a seres racionais ou o discípulo de Cristo se fortalece continuamente ou acaba vendo comprometida por toda a eternidade sua alma. A perseverança no seu mais alto grau esplendeu no alto de uma Cruz. Foi fruto de um grande amor. Eis porque a constância nas rotas de bom oferece a oportunidade de uma atitude repleta de dileção para com quem tanto se sacrificou pela redenção de cada um. O ingrediente máximo da perseverança é o amor a Cristo que oferece o cada um a paciência e aceitação jubilosa da vontade de Deus e leva a repudiar tudo que afronta seus preceitos sagrados. Então a energia transbordante da tenacidade age e faz compreender a ciência difícil da cruz. Desta forma, afastada mera resignação o cristão caminha após Jesus que preceituou a seus epígonos a renúncia a si mesmo. Seu seguidor nunca é um estóico que endeusa o sofrimento, mas alguém que dá uma aplicação transcendental à luta diária nunca desanimando. Para muitos a fidelidade total a tudo que Jesus ensinou se torna impossível, exatamente porque para perseverar é preciso a fortaleza da graça que é obtida pela prece sincera repleta do desejo de não voltar atrás, trilhando caminhos trevosos da infidelidade a Deus. Num universo relativista os preceitos do Criador são questionados, as verdades obnubiladas. Isto explica a deserção de tantos batizados que deixam a Igreja para aderir a uma multiplicidade de seitas ou a doutrinas espúrias inteiramente contrárias ao Evangelho. Falta a convicção na fé. Ao invés de um engajamento firme, inabalável, se passa a preferir idéas subjetivas ou se deixa guiar pelas mensagens errôneas transmitidas pelos meios de comunicação social que passam a fazer a cabeça do cristão desavisado. Muitos até pensam que a perseverança é um entrave à liberdade, engessando o indivíduo numa conduta da qual quer se libertar. Donde ser mais do que nunca atual a advertência de Cristo: “Pela vossa perseverança ganhareis as vossas almas”. Esta virtude é possível, porque é um dom de Deus. O Ser Supremo conhece seus filhos e sabe quais são suas fragilidades, seus limites. Jesus havia orado ao Pai pelos seus seguidores: “Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os rejeitou, porque não são do mundo, como eu não sou do mundo. Não te peço que os tires do mundo. mas que os guardes do Maligno; Eles não são do mundo,como eu não sou do mundo. Consagra-os na verdade a tua palavra é verdade. Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo.Eu me consagro por eles,a fim de que eles também sejam consagrados na verdade” ( Jô, 17, 14-19). Há, portanto, uma dicotomia entre o mundo alheio ao Evangelho e o posicionamento do batizado, como, aliás, bem retrata o Evangelho de hoje. O pedido de Jesus de que o Pai consagre seus epígonos na verdade, significa na fidelidade total, na perseverança sem limites. É por isto que o cristão recebe o Espírito Santo no Sacramento da Crisma para que possa perseverar não obstante tantas dificuldades, não se deixando nunca esmorecer. É o Espírito Santo que comunica a todos os batizados a força, o fogo e o gosto da perseverança, desde que se corresponda a suas inspirações. Quem se precata contra o Maligno não se afasta da fonte da água viva e guarda a Palavra de Deus por árdua que seja a batalha contra a inconstância. A fidelidade com relação a Deus não é uma crispação heróica da vontade nem uma decisão tomada a golpes violentos, mas resulta do sereno autodomínio sob o influxo da graça. Deste modo a perseverança conduz a uma obra criadora que se vive no presente voltando toda a vida de cristão para um futuro reluzente. Trata-se de uma atitude continuamente atualizada na vida de cada um. Ela oferece respostas novas aos diversos desafios que surgem nas etapas da vida do batizado. Aí está a santidade do cotidiano. Desta forma o cristão pode repetir com São Paulo: “Nada nos poderá separar do amor de Deus que está em Jesus Cristo nosso Senhor” (Rm 8,39). Dá-se então o que Jesus recomendou: “Pela vossa perseverança ganhareis as vossas almas”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Mês das almas do Purgatório

MÊS DAS ALMAS DO PURGATORIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O mês de novembro é especialmente consagrado às almas do Purgatório e leva os cristãos a se lembrarem ainda mais do que acontece além da sepultura. Muitas vezes se esquece de que a trajetória terrena é uma preparação para o que vai ocorrer a cada um além morte. A alma espiritual, indestrutível, no momento de deixar este mundo como a borboleta que ao sair da crisálida desdobra as suas asas, deixa esta alma o corpo para começar uma outra etapa da existência inteiramente espiritual, aguardando a ressurreição. Naquele instante da morte comparece o ser racional diante de Deus par por Ele julgado conforme se tenha feito o bem ou o mal segundo os mandamentos do Criador. É o instante do juízo particular. Entre a eternidade bem-aventurada e a desventurada, há um estado passageiro de sofrimento e de expiação pelo qual devem passar aqueles que, destinados ao Céu, ainda não estão, para nele poder entrar desde logo, suficientemente purificados dos seus pecados.  É o Purgatório. Baseados na Bíblia vários concílios definiram como dogma de fé a existência deste lugar de purificação. Grandes teólogos atestam esta verdade com argumentos irrefutáveis. Através do Sacramento da Penitência os pecados são perdoados, mas cumpre que se restabeleça a ordem violada e esta ou é reparada neste mundo através dos sacrifícios reparadores ou pelas indulgências devidamente recebidas. Caso contrário, a alma deverá passar pelo Purgatório antes de entrar no Céu. Aí haverá a quitação completa da dívida para com Deus. As almas que estão no Purgatório estão misteriosamente contentes e ao mesmo tempo atormentadas.  Há a certeza da felicidade eterna que as aguarda.  Sua salvação está garantida.  Não podem mais pecar porque amam a Deus com todas as suas potencialidades.  Como o ouro se apura no crisol, assim se purificam as almas antes de entrarem para a visão beatifica. Desaparece a ferrugem, os vestígios do pecado.  Deus concilia então os direitos de sua justiça com os de sua bondade. . Com razão Tertuliano, fazendo alusão aos sofrimentos do Purgatório, os chama de “tomentos da misericórdia divina”.  Diz o Pe. Faber que o Purgatório onde se sofre para expiar é o último excesso do amor infinito do Ser Supremo para com sua criatura. Quem, contudo, está ainda na terra pode ajudar as almas do Purgatório abreviando-lhes o tempo que lhes falta para ir para junto de Deus A ajuda às almas do Purgatório pode ser feita através das Missas oferecidas e participadas nas suas intenções. Depois a esmola bem direcionada é uma reparação para as próprias faltas e pode ser aplicada também para as almas do Purgatório. Além disto, as orações feitas nas intenções destas almas são valiosíssimas. Entre estas preces sobressai o terço ou um dos seus mistérios oferecidos nas intenções dos falecidos.  Através da oração o cristão como que se reveste da onipotência divina. Aditem-se as indulgências que se podem ganhar pelas almas do Purgatório.  São Francisco Xavier não deixava passar um dia sem orar pelos mortos. Como ele, muitos outros santos que acreditavam na onipotência das preces feitas com fervor. Cristo ensinou: “Pedi e recebereis, buscai e achareis”, para mostrar que tudo é possível àquele que ora. Portanto, nada mais louvável do que interceder por aqueles que breve estarão lá no Céu, onde serão intercessores dos que deles se lembraram neste mundo. Além do mais, a quem socorreu as almas do Purgatório, certamente Deus fará com que outros depois se lembrem também de orar por aquele que foi tão caridoso com seus irmãos falecidos. Nunca se recordam demais as palavras do Livro dos Macabeus: “Santo e piedoso pensamento é rezar pelos mortos para que se libertem de seus pecados” (2Mc 12, 43-46). Lembra o teólogo John O’ Brien que um dos relatos mais tocantes que nos foram trans­mitidos sobre este assunto nos escritos dos Padres da Igreja, vem-nos de S. Agostinho, no princípio do séc V. O sábio bispo conta que sua mãe, chegada a hora da morte, lhe fez este último pedido: «Sepulta o meu corpo em qualquer lugar, não importa onde; não te preocupes com ele. Mas peço-te somente que, onde quer que estejas, te lembres de mim no altar do Senhor». A lembrança deste pedido inspirou ao fi­lho esta ardente prece: «Por isso Te imploro, ó Deus do meu coração, pelos pecados da minha mãe. Que ela repouse em paz com o seu marido [... ] E inspira, Senhor, aos teus servos meus irmãos, que eu sirvo pela palavra, pelo coração e pela escrita, a todos os que lerem estas linhas, que lembrem no Teu altar, a Tua serva Mónica».* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


sábado, 26 de outubro de 2013

MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

MÊS DAS ALMAS DO PURGATORIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O mês de novembro é especialmente consagrado às almas do Purgatório e leva os cristãos a se lembrarem ainda mais do que acontece além da sepultura. Muitas vezes se esquece de que a trajetória terrena é uma preparação para o que vai ocorrer a cada um além morte. A alma espiritual, indestrutível, no momento de deixar este mundo como a borboleta que ao sair da crisálida desdobra as suas asas, deixa esta alma o corpo para começar uma outra etapa da existência inteiramente espiritual, aguardando a ressurreição. Naquele instante da morte comparece o ser racional diante de Deus par por Ele julgado conforme se tenha feito o bem ou o mal segundo os mandamentos do Criador. É o instante do juízo particular. Entre a eternidade bem-aventurada e a desventurada, há um estado passageiro de sofrimento e de expiação pelo qual devem passar aqueles que, destinados ao Céu, ainda não estão, para nele poder entrar desde logo, suficientemente purificados dos seus pecados.  É o Purgatório. Baseados na Bíblia vários concílios definiram como dogma de fé a existência deste lugar de purificação. Grandes teólogos atestam esta verdade com argumentos irrefutáveis. Através do Sacramento da Penitência os pecados são perdoados, mas cumpre que se restabeleça a ordem violada e esta ou é reparada neste mundo através dos sacrifícios reparadores ou pelas indulgências devidamente recebidas. Caso contrário, a alma deverá passar pelo Purgatório antes de entrar no Céu. Aí haverá a quitação completa da dívida para com Deus. As almas que estão no Purgatório estão misteriosamente contentes e ao mesmo tempo atormentadas.  Há a certeza da felicidade eterna que as aguarda.  Sua salvação está garantida.  Não podem mais pecar porque amam a Deus com todas as suas potencialidades.  Como o ouro se apura no crisol, assim se purificam as almas antes de entrarem para a visão beatifica. Desaparece a ferrugem, os vestígios do pecado.  Deus concilia então os direitos de sua justiça com os de sua bondade. . Com razão Tertuliano, fazendo alusão aos sofrimentos do Purgatório, os chama de “tomentos da misericórdia divina”.  Diz o Pe. Faber que o Purgatório onde se sofre para expiar é o último excesso do amor infinito do Ser Supremo para com sua criatura. Quem, contudo, está ainda na terra pode ajudar as almas do Purgatório abreviando-lhes o tempo que lhes falta para ir para junto de Deus A ajuda às almas do Purgatório pode ser feita através das Missas oferecidas e participadas nas suas intenções. Depois a esmola bem direcionada é uma reparação para as próprias faltas e pode ser aplicada também para as almas do Purgatório. Além disto as orações feitos nas intenções destas almas são valiosíssimas. Entre estas preces sobressai o terço ou um dos seus mistérios oferecidos nas intenções dos falecidos.  Através da oração o cristão como que se reveste da onipotência divina. Aditem-se as indulgências que se podem ganhar pelas almas do Purgatório.  São Francisco Xavier não deixava passar um dia sem orar pelos mortos. Como ele, muitos outros santos que acreditavam na onipotência das preces feitas com fervor. Cristo ensinou: “Pedi e recebereis, buscai e achareis”, para mostrar que tudo é possível àquele que ora. Portanto, nada mais louvável do que interceder por aqueles que breve estarão lá no Céu, onde serão intercessores dos que deles se lembraram neste mundo. Além do mais, a quem socorreu as almas do Purgatório, certamente Deus fará com que outros depois se lembrem também de orar por aquele que foi tão caridoso com seus irmãos falecidos. Nunca se recordam demais as palavras do Livro dos Macabeus: “Santo e piedoso pensamento é rezar pelos mortos para que se libertem de seus pecados” (2Mc 12, 43-46). Lembra o teólogo John O’ Brien que um dos relatos mais tocantes que nos foram trans­mitidos sobre este assunto nos escritos dos Padres da Igreja, vem-nos de S. Agostinho, no princípio do séc V. O sábio bispo conta que sua mãe, chegada a hora da morte, lhe fez este último pedido: «Sepulta o meu corpo em qualquer lugar, não importa onde; não te preocupes com ele. Mas peço-te somente que, onde quer que estejas, te lembres de mim no altar do Senhor». A lembrança deste pedido inspirou ao fi­lho esta ardente prece: «Por isso Te imploro, ó Deus do meu coração, pelos pecados da minha mãe. Que ela repouse em paz com o seu marido [... ] E inspira, Senhor, aos teus servos meus irmãos, que eu sirvo pela palavra, pelo coração e pela escrita, a todos os que lerem estas linhas, que lembrem no Teu altar, a Tua serva Mónica».* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


A VOCAÇÃO DO CRISTÃO É SER SANTO


A VOCAÇÃO DO CRISTÃO É SER SANTO
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A ordem de Cristo foi esta: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). No Antigo Testamento Deus havia declarado: “Sede santos, porque eu sou santo” (Lev 11,44-45). Jesus através das bem-aventuranças traçou o caminho para se atingir a meta que se contempla na existência daqueles que já estão na beatitude do céu, todos os santos e santas. São os que colocaram seus passos nos passos do divino Redentor. Fizeram então fulgir nas suas existência raios do esplendor da santidade divina. Todos são chamados a se tornar semelhantes àqueles e àquelas que hoje são homenageados na liturgia deste domingo. Tarefa possível apesar das luzes e sombras, fidelidades e infidelidades que surgem a cada passo devido às limitações humanas. Com a graça divina tudo é possível e as criaturas racionais que Ele criou livres podem e devem aspirar a possuir a vida eterna na visão beatífica. É o que Ele oferece a todos os homens com um amor incomensurável. Há apenas algo que poderia frustrar seu plano, ou seja, a recusa infeliz, plenamente voluntária e obstinada de não querer tal ventura, se opondo aos caminhos que Ele traçou nos Mandamentos. Com o concurso da liberdade de cada um Ele quer que sejam santos os que Ele aguarda na outra margem da vida. São inumeráveis, ou seja, uma massa imensa que São João contemplou no Apocalipse, “de todas as nações, raças, povos e línguas”. De fato, as bem-aventuranças, que viveram intensa e exemplarmente os santos e santas os quais povoam o calendário litúrgico, devem ser o cerne da felicidade de todos que são fiéis ao Ser Supremo. Por vezes, a muitos já é dado degustar por instantes neste mundo um pouco da alegria sem fim do paraíso, Isto foi muito comum para os grandes místicos, mas é acessível a todo cristão que se imerge na contemplação das verdades perenes. Podem perceber como que uma antecipação do gozo eterno por entre o claro-escuro deste caminhar num exílio. São João alertou: “Já somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que seremos. Sabemos que, quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele, e o veremos como ele é”  (I Jo 3,2). Entretanto, para que tal realidade possa acontecer, cumpre se tornar santo. Para isto é que é oferecida esta vida tão breve que se tem neste planeta Terra. Felizes os que deram sua infância, sua juventude, sua idade madura a Deus ou aqueles que, convertidos já na velhice, abominam erros passados e se dispõem a nunca perderem a veste nupcial da graça santificante recuperada no Sacramento da Confissão. Com efeito, pode ser que para muitos na primavera da vida as paixões, as influências deletérias da mídia, as preocupações com os estudos e trabalhos, o apego às coisas transitórias tenham sido óbice à procura da santidade, mas nunca é tarde para se endireitar os caminhos da existência pessoal. Deus oferece sempre tempo para que se possa despojar das ilusões terrenas e fazer com que tudo que não é felicidade autêntica, venturas  falsas etiquetadas pelo diabo, sejam como folhas mortas levadas pelo vento, dada uma mudança radical e sábia de atitudes. Em qualquer etapa da vida, porém, sejam problemas de saúde, sejam os contratempos os mais variados, se tornam um alerta do céu e propiciam sempre a caminhada nas vias da perfeição traçada por Cristo. Muitíssimos através das preces dos pais, parentes e amigos deixam os caminhos trevosos do erro. Foi o que se deu com Santo Agostinho que na pujança de seus 33 anos se tornou um dos grandes convertidos da História e assim se dirigiu ao Criador: “Tarde eu te amei, ó Beleza tão antiga e, entretanto tão nova, tarde eu te amei”! Trata-se de um salto para uma lucidez que só a misericórdia de Deus explica e se depara então a total realização de si mesmo. O coração fica liberto de suas estreitezas e se ajusta aos desígnios de Deus, purificando-se na penitência e no domínio de si mesmo. O importante na vida de cada um é deixar sempre brechas, uma porta aberta para a ação divina que transfigura e conduz às vias da santidade. Nelas, liberto de seus egoísmos, de seu inércia espiritual, de seus desenganos o ser humano pode atingir as paragens luminosas da plena realização cristã. Para tanto os que já estão lá numa eternidade feliz são aptos para encher os viandantes terrenos de esperanças para que não percam o caminho do céu. Em síntese. a chave da santidade é a confiança colocada em Jesus, não obstante as fraquezas humanas. É o abandono à misericórdia divina sob o influxo do Espírito Santo que com apelos inenarráveis a todos chama para viverem de tal modo que se esteja sempre apto para a entrada na Cidade dos Santos, na Jerusalém celeste, para um gáudio sem fim. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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