UM NOTÁVEL PROJETO
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A preservação da memória histórica de Minas Gerais é um dos mais louváveis esforços que estão recendo apoio de mestres abalizados e de entidades culturais. Ainda agora a Dra. Karla Denise Martins, do Departamento de História da Universidade Federal de Viçosa teve um projeto aprovado pelo MEC/PROEXT para inventariar objetos, documentos e materiais diversos dos missionários da Congregação da Missão no século XIX, com ênfase na figura de D. Viçoso. Tudo será organizado no Santuário do Caraça, um dos ícones da religiosidade mineira. A historiadora Professora Karla Denise Martins tem duas teses defendidas na Unicamp e, entre outras atividades, se preocupa com os problemas de restauro e perda da memória histórica em nosso país. Viçosa honra Dom Viçoso com seu significativo topônimo. Monsenhor Raimundo Trindade, notável Historiador Mineiro, no seu livro Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana, publicação número 13 do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, editado pelo então Ministério da Educação e Saúde no ano de 1945, à página 277, tem o seguinte registro: “ Santa Rita do Turvo. Capela filial do Pomba elevada a freguesia pelo decreto de 14 de julho de 1832 com as filiais São José do Barroso e Conceição do Turvo. – Instituída canonicamente por provisão episcopal de 31 de agosto de 1833. Primeiro vigário (encomendado) Agostinho Isidoro do Rosário, promovido a colado por Carta da Presidência da Província de 23 de fevereiro de 1837, colado a 1 de abril; Manuel Filipe Neri, apresentado por Carta Imperial de 16 de agosto de 1861 e colado a 11 do mês seguinte. É a cidade de Viçosa, nome que lhe foi dado me homenagem ao Bispo Dom Antônio Ferreira Viçoso”. A Evangelização em Minas Gerais no século XIX empreendida por D. Viçoso foi feita à luz do ultramontanismo e desencadeou um processo de reforma durante três décadas, a qual produziu frutos opimos. O que se deu foi uma reforma necessária da vida do povo cristão, deformada por força da ausência de uma constante orientação da hierarquia da Igreja, cuja presença se fazia urgente na vasta província, de modo sistemático e contínuo, o que ocorreu graças ao empenho de D.Viçoso. A renovação que D. Viçoso procedeu fustigou uma religião rotineira, frouxa e implantou uma nova mentalidade cristã de vivência plena do Evangelho. Cristianizou a romaria popular do Bom Jesus de Matozinhos de Congonhas, orientando os romeiros para uma manifestação de uma fé mais vigorosa. A Igreja mineira da segunda metade do século XIX estava comprometida com os pobres e lutou também contra as formas de opressão presentes no sistema escravocrata. D. Viçoso esteve sempre ao lado dos excluídos. Grande o seu esforço coroado de êxito, no sentido de afastar a defasagem entre o prescrito no Evangelho e o vivido no cotidiano pelos que se diziam cristãos. A grande operosidade desdobrada pelos missionários na formação da índole mineira renovou o espírito evangélico nesta vasta região. As pregações dos missionários orientados por D. Viçoso visaram uma autêntica conversão que foi se dando lenta, mas progressivamente. O cristianismo começou a ser vivido mais profundamente, fazendo a evangelização dar passos firmes rumo ao amadurecimento da fé. Tanto isto é verdade que D. Silvério Gomes Pimenta sucessor imediato de D. Viçoso com precisão pôde assim sintetizar a atuação fecunda do Apóstolo de Minas: “Batalhou trinta e um anos, arrostou dificuldades bastantes a desalentar os mais ousados e sem tumulto, sem abalos estrondosos, obrando mais do que falando, a humildade de D. Viçoso executou uma transformação assombrosa” Legou uma “Minas moralizada e católica” a seus sucessores. Encontrou apenas um seminarista, mas graças ao seu empenho evangelizador, D. Viçoso ordenou cerca de trezentos sacerdotes imbuídos do vero espírito evangélico, que missionaram Minas e outras regiões do país com desvelo incomparável, notável ardor apostólico e excelentes resultados. As metas prioritárias do plano pastoral da Igreja mineira foram inteiramente atingidas até o final do século, graças ao modelo missionário traçado por D. Viçoso. Este objetivava sobretudo a nova encarnação de Cristo no espírito e nas realizações vitais dos mineiros. Por bem captar a dimensão da religiosidade brasileira, D. Viçoso pôde estruturá-la em bases sólidas, donde resultou os mais salutares efeitos. Por tudo isto aplausos à iniciativa da Professora Karla Denise Martins e todos que puderem intervenham para o êxito de seu nobre objetivo da criação de um Museu de D. Viçoso no Caraça. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Amável cônego Geraldo Vidigal, ainda tenho sonho de erguer o tão sonhado Museu de D. Viçoso, porém, sem financiamento, não tenho sucesso. À época do saudoso Pe. Belony, Superior do Santuário do Caraça, infelizmente não pode ver aquilo que queria muito erguer, veremos se Deus nos conduz nesse intento.
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