O ELOGIO DE JESUS AO PRECURSOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A figura de São João Batista resplandece através dos tempos, sobretudo no grandioso panegírico, laudatório feito pelo próprio Cristo, um louvor realmente maravilhoso. Ele era um modelo a ser imitado. O Mestre divino o apresenta como possuidor de caráter inflexível, que não se dobrava ao sabor do vento. Qualidade esta tão necessária no contexto atual àqueles que se dizem cristãos. Perante a agitação das idéias que são transmitidas pela mídia em geral, diante dos maus exemplos, das heresias que pululam por toda parte, muitos são aqueles que não têm a mesma energia, a idêntica intrepidez do seu Precursor. Este ostentou sempre uma vida austera, entregue a uma louvável penitência, longe do bulício do mundo, passando seus dias no deserto. Desde os tempos de João Batista até hoje o Reino dos Céus padece violência e apenas os destemidos conseguem atingi-lo. Tornam-se imunes às influências deletérias dos profetas do erro. Apenas com um salto de qualidade, superando as falsas atrações terrenas e as doutrinas falaciosas, é que se chega a um destino feliz por toda a eternidade. Aí o baricentro da existência daquele que se imerge na obra salvífica do Redentor, o centro de gravidade de todas as ações que abrirão as portas do Paraíso. Isto é tão importaste que o menor seguidor de Cristo se torna até maior do que João Batista, nas próprias palavras de Jesus. O Redentor veio, de fato, trazer ao mundo as mensagens de um Reino onde tudo é felicidade, o tesouro escondido, a pérola preciosa. Com Cristo a hora decisiva da História, anunciada por seu Precursor, que era mais do que um Profeta, já havia soado. Aceitar então Jesus seria uma condição essencial para se obter a salvação. Extraordinário o encômio que o divino Salvador fez a São João Batista, mas aparece claro que apenas com Ele, que era o Messias esperado, se realizava o tempo do cumprimento das promessas que o Precursor, como uma das mais notáveis figuras do Antigo Testamento, havia predito, mensageiro que era para preparar os caminhos do Salvador. Aliás, João, aquele que batizava e batizou o próprio Cristo, deixou clara a diferença entre as duas missões. Ele batizava com a água, mas Jesus batizaria no Espírito Santo (Mt 3,11). Isto significa que o batismo, sacramento instituído por Cristo, envolveria todo o ser humano na Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, como a água faz com o corpo na qual este é imerso. Batizar no Espírito definiu a obra essencial do Messias que veio regenerar a humanidade através de uma grande e universal efusão do Espírito de Deus. Então se compreende melhor ainda o que disse Jesus: “Em verdade vos digo que entre os nascidos de mulher não surgiu nenhum maior que João Batista, contudo o mais pequenino no reino dos céus é maior que ele”. Jesus queria dizer que a excelência de João Batista ultrapassava a de qualquer outro, mas na nova Lei, visto que esta é de uma ordem superior, o último em respeitabilidade está acima do mais excelso em dignidade da Lei antiga. Trata-se da superioridade da plenitude da graça, por força da recepção total do Espírito Santo. Que responsabilidade então a do cristão! O elogio de Jesus a São João Batista O levou a ressaltar a grandeza de pertencer a sua Igreja por meio de seu batismo que comunica o Espírito de Deus. São Tomás de Aquino, contudo, advertiu que “há uma missão invisível do Espírito cada vez que ocorre um progresso na virtude ou um aumento da graça santificante através dos outros sacramentos”. Daí a necessidade daqueles que são maiores que João Batista de invocar sempre o Espírito Santo. Jesus foi claro: “O Pai dará o Espírito Santo àqueles que O pedirem”. Então, sim, se poderá viver a realidade da fé, imitando as qualidades do Precursor, no crescimento no amor a Deus, na humildade, na austeridade, por meio dos carismas concedidos a cada um e dos frutos do Espírito. João Batista que foi chamado por Cristo como o maior dos Profetas ajudará a todo cristão de boa vontade a cumprir sua missão profética no mundo de hoje. João Batista anunciou não uma salvação futura, mais uma redenção presente, oferecida pelo Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. Participando do múnus profético de Cristo pelo batismo, o batizado a exemplo de São João Batista, ultrapassa as barreiras da infidelidade a Deus, do escândalo das paixões descontroladas, das banalidades do luxo, do desprezo para com os mais necessitados. João Batista inaugurou uma nova profecia, a dos tempos da Igreja que consiste em anunciar a redenção, a revelar a atuação de Jesus num mundo paganizado, hedonista. Para testemunhar a Cristo é preciso o espírito de profecia que havia em São João Batista, anúncio contínuo das belezas do Evangelho refletido no testemunho de vida. Que sejamos profetas do Reino, como o foi o Precursor de Jesus! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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