FELIZES OS QUE NÃO VIRAM E CRERAM
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No domingo da oitava de Páscoa, cada ano, a liturgia
nos apresenta o episódio da incredulidade do Apostolo Tomé. A Igreja nos propõe
este fato para nos ajudar no nosso próprio caminhamento espiritual, para firmar
nossa fé na ressurreição de Jesus dentre os mortos. Nossa fé em Cristo ressuscitado se apoia na
experiência dos apóstolos que viram e tocaram no divino vitorioso, realidade
que atravessa as gerações de cristãos que se sucedem século após século e que fundamenta
nossa crença na divindade do Filho de Deus. Celebramos além disto o domingo da misericórdia
como estabeleceu o papa João Paulo II, nos submergindo no admirável diálogo
entre Jesus e Tomé. Melhor que Tomé nós temos três pilares para apoiar nossa
fé: o testemunho e a experiência dos apóstolos, nossa própria experiência
espiritual vivida na Igreja e a luz do Evangelho que aclaram nossa vida. Nossa
fé se apoia sobre o testemunho e vivência dos apóstolos que viveram com Jesus,
viram-no morrer sobre uma cruz, depois o reviram ressuscitado. Os discípulos
contemplaram, Jesus falecido e estavam completamente desorientados e até
pensavam que tudo estava acabado. Depois no terceiro dia após seu falecimento,
eis que o túmulo estava vazio e eles também reviram com seus próprios olhos o Mestre
vivo. Aquele que eles criam morto ei-lo no meio deles, eles o podiam tocar,
partilhar com ele sua refeição. Fato surpreendente para eles e até podiam supor
que fosse uma miragem. Mais de 2023 anos depois da constatação dos primeiro
apóstolos porque crer ainda em seu testemunhos? É ele ainda verdadeiramente
crível para nós em nossos dias? Não seria ele um mito, uma reconstrução
inventada para esconder um fracasso? Duas características dos testemunhos e da
experiência dos apóstolos nos permitem afastar tal interpretação segundo a qual
a ressurreição de Cristo seria uma invenção dos discípulos. Inicialmente os
Evangelhos nos mostram que os apóstolos foram os primeiros surpreendidos pela
ressurreição de Jesus, mesmo que estivessem de uma certa maneira prevenidos
disto. As narrativas do Novo Testamento nos falam que eles tinham mal crido
nisto. Se eles tivessem por eles mesmos tido a vontade de fundar uma nova
religião e desenvolver sua própria Igreja, eles teriam exercido um belo papel, eles
teriam colocado antes de tudo não a sua incredulidade, mas sua fé e sua própria
capacidade e competência. Ora, os textos evangélicos e o Novo Testamento em
geral, nos mostram suas fraquezas e debilidades, particularmente ao ensejo da
paixão de Cristo e depois o medo que os tomou e que os fez fugir até o dia de
Pentecostes. Além do mais para fazer este pequeno grupo se transformar do medo
em ardentes apóstolos a proclamar o incrível, seria preciso que um
acontecimento extraordinário que os pudesse modificar completamente. Além
disto, em suas experiências e nas narrativas que nos transmitiram estes
apóstolos não cessaram todas de mostrar que Jesus havia ressuscitado dos
mortos. Para convencer os homens, para lhes partilhar sua fé, os apóstolos não
construíram entre eles uma narrativa unificada e harmonizada como se
construíssem um cenário entre eles para manipular os incrédulos, eles simplesmente
narraram o que cada um havia visto e vivido. Não houve tentativas visando
estabelecer a vitória de Jesus sobre a morte.
Depois as gerações dos cristãos transmitiram
fielmente as narrativas dos apóstolos para poder afirmar por sua vez que Jesus
está bem vivo hoje em dia. Cada geração cristã tem podido experimentar a
presença viva e atuante de Jesus ressuscitado no coração de nossa vida pessoal.
A ressurreição significa então assim a primazia do amor gratuito de Deus para
cada um de nós em relação a nossa capacidade pessoal visando a construção de
nossa salvação eterna, nossa felicidade graças aos nossos esforços pessoais,
baseando nosso fé no testemunho dos apóstolos, aclarando nossa vida, tudo
baseado em nossa fé na ressurreição de Jesus que garante a nossa própria
ressurreição. Isto dá sentido à nossa vida e nos leva a partilhar sua vida
divina a esperar a plena realização de suas promessas Eis aí a Boa Nova da
comemoração pascal. Todas estas considerações devem nos imergir na mais
absoluta misericórdia de quem nos deu tantas provas de amor, revelando-se, de
fato, nosso Redentor que é Deus e homem verdadeiro, aquele que morreu sobre a
cruz e ressuscito ao terceiro dia imortal e impassível. Ele a nos dizer como a
Tomé: “Bem-aventurados os que não viram e creram” * Professor no Seminário de Mariana durante 40