SEPULTAR
OS MORTOS E REZAR A DEUS PELOS VIVOS E PELOS MORTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Neste Ano
da Misericórdia é de bom alvitre recordar que uma das obras de misericórdia é enterrar os mortos
e rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos. O ser humano é criado à imagem e
semelhança de Deus e, no caso de quem foi batizado, ele se tornou o templo vivo
da Santíssima Trindade, uma vez que a alma unida ao corpo participa da própria
vida divina. Jesus foi claro: “Se alguém me ama, obedecerá à minha
Palavra; e meu Pai o amará, e nós viremos até ele e faremos nele nossa morada”
(Jo 14,23). No Antigo Testamento vemos que grande era o
respeito para com o ser humano falecido Assim, por exemplo, no Livro do Gênesis
está registrado que “Abraão expirou: morreu numa velhice
feliz, idoso e de bons anos, e foi reunido aos seus antepassados. Seus
filhos, Isaque e Ismael, o sepultaram na gruta de Macpela (Gên 25,8-9). Este livro mostra também que “Isaque
viveu cento e oitenta anos e expirou. Ele morreu e reuniu-se à sua parentela no
mundo dos mortos, idoso e farto de dias; seus filhos Esaú e Jacó cuidaram de
seu sepultamento” (Gên 35 28-29). Célebre se tornou Tobias que “com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e os que
tinham sido mortos” (Tb 1,20). Até hoje em Jerusalém se destaca o túmulo de Davi
a que faz referência o Primeiro Livro dos Reis no versículo décimo. No Novo
Testamento um dos túmulos mais venerados e visitados é o do próprio Cristo o
qual, como rezamos no Símbolo dos Apóstolos ”foi crucificado, morto e
sepultado”. Os cemitérios cristãos continuaram também este significativo
costume bíblico. Todos nós inúmeras vezes visitamos as sepulturas de nossos
parentes e amigos e, sobretudo, no dia 2 de novembro rendemos aos mortos
especiais homenagens. Além disto, rezamos sempre pelos falecidos Daí a importância da oração pelas almas do
purgatório. A alma ao sair deste mundo, não estando completamente purificada,
deve expiar durante algum tempo os erros cometidos antes de entrar na glória
eterna. Se ela traz algum vestígio de pecado ou porque cometeram faltas leves e
não as tenha expiado suficientemente neste mundo, bem como no caso dos pecados
mortais já perdoados e não reparados nesta trajetória terrena, não pode entrar
no céu. Essas almas têm a graça de Deus e, portanto, a salvação é certa para
elas, mas a justiça divina reclama a purificação no purgatório. O dogma da
comunhão dos santos mostra que se pode, de fato, abreviar as penas dos que
sofrem nesta antecâmara do céu. Aliás, todo o mês de novembro é dedicado às
almas que lá se encontram. Saibamos, porém, sufragá-las com nossas preces e
sacrifícios durante todo o ano, pois, se
um dia tivermos que por lá passar, Deus fará que outros se lembrem de nós. Nunca
se lembra demais a passagem do Segundo Livro dos Macabeus: “Santo e salutar esse pensamento de
orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados" (12, 45).
É preciso , porém, rezar também pelos vivos. A oração do cristão é uma voz poderosa
que penetra até o céu e abre os tesouros divinos. Tal a promessa explícita de
Jesus: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e se vos abrirá, porque
aquele que pede recebe e o que procura acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt
7,7). Aliás, o divino Redentor não deixou dúvida alguma sobre esta sua
assertiva, dado que também disse: “Tudo que pedirdes em meu nome, fá-lo-ei,
para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14,13). Desta forma, Cristo
empenhou sua palavra e se obrigou na pessoa do Pai a tudo conceder a quem
piedosamente orasse. Nunca se reflete demais sobre a importância das preces do
pai e da mãe. Num mundo conturbado como o de hoje, mais do que nunca, os pais
precisam ter confiança plena, total, absoluta no valor de suas orações pelos
filhos na certeza de que são, de fato, os representantes de Deus, responsáveis
pela felicidade daqueles que trouxeram a este mundo. Os filhos também devem
rezar pelos pais, atraindo a proteção de Deus, sobretudo quando surgem os
problema. Quantos filhos e filhas pelas preces têm tirado o pai da bebida ou de
outros erros e conseguido de Deus graças sem número para suas mães. Todos
devemos rezar, outrossim, pela conversão dos pecadores, tendo consciência
do valor imenso do apostolado da oração.
Orar pelos missionários, pela Igreja, pelo Papa, pelo êxito das obras pastorais
sobretudo da comunidade na qual se vive. Santa Teresinha do Menino Jesus
afirmou no seu Livro História de uma Alma: “Ah! A oração eis aí o segredo de
toda a minha força, eis aí as minhas armas invencíveis; mais eficazmente que as
palavras, sei-o por experiência, tem elas o poder de conquistar os corações”. Com
suas preces ela conquistou centenas de conversões e muito ajudou os missionários na
obra da evangelização. Pela sua entrega total ao amor Misericordioso de
Deus, pela sua constante ânsia em que ardia por "salvar almas", pelos
laços de fraternidade espiritual que cultivou com alguns missionários no campo
de missão, ela foi escolhida como Padroeira das Missões. No Carmelo de Lisieux,
Prisioneira por amor e do Amor, desejou ardentemente percorrer o mundo inteiro
para levar a Cruz de Cristo por toda parte. Isto ela, porém, muito fez pelo
poder de sua oração. Creiamos
no valor da veneração dos mortos, rezemos com fé e piedade pelas almas do
purgatório e por todas as nossas necessidades espirituais e corporais e pelas
de nosso próximo e coisas maravilhosas acontecerão em nossas vidas! * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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