A GRANDE CONQUISTA DO SER HUMANO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Por entre as vicissitudes cotidianas do
ser humano, este nem sempre reflete profundamente sobre a grandeza de seu
destino, o qual é sinal insofismável de sua maravilhosa dignidade. Neste mundo conhecer a Deus através da inteligência e
poder ama-lo é uma prova da excelência da criatura racional dentro do plano do
Criador. Esta verdade é ratificada pela Bíblia desde as primeiras páginas do
Gênesis. Assim sendo, os desejos humanos
não devem estar presos aos horizontes
terrenos, impedindo que se penetre na
eternidade para a qual cada um caminha. Eis por que, quando alguém se deixa
aprisionar pelas coisas materiais, não apenas trai sua grandeza, mas também se
imerge, quer queira, quer não, na
angústia existencial. Busca nas ilusões passageiras algo que somente as
realidades espirituais podem lhe oferecer. Tudo que o cerca precisa ser
considerado em função do Ser Supremo. A grande questão é o reto uso da
liberdade, a qual necessita ser iluminada pela graça divina para que haja o
discernimento nesta travessia temporal. Uma supervalorização da posse de bens
transitórios se torna para muitos uma
obsessão que fatalmente leva à corrupção com todas as suas fatais consequências.
Estes então se esquecem de que para a outra vida nada se leva daquilo que
com tanta fadiga vai sendo inutilmente
acumulado. No momento em que há uma sujeição aos bens materiais, a própria
saúde corporal fica tantas vezes comprometida com os excessos no comer e no
beber. Adite-se que um dos erros do ser humano é também procurar nas honras, na
fama, na popularidade sua realização, buscada não em função do cumprimento do
dever, mas de uma glória efêmera. Aqueles, porém, que agem mirando uma
recompensa na Jerusalém celeste longe de abominar os sacrifícios, as cruzes de
cada dia, os esforços na prática das virtudes superam todas as lutas e se
engrandecem interiormente nas pelejas que a adesão a Deus exige. Para que este
ideal seja colimado é preciso se apartar de tudo que, ainda de longe, possa
afastar a presença deste Deus “no qual vivemos, existimos e somos”. O critério que deve nortear quem age com bom
senso é tudo que o Todo-poderoso Senhor revelou, sobretudo na plenitude de sua
revelação através do Evangelho pregado por Cristo. Este legou exemplos
esplendorosos que guiam, iluminam e fizeram e fazem os que procuram a perfeição
cristã. Apenas vivendo as normas contidas no Evangelho é que o ser humano
atinge a plenitude de sua altíssima dignidade. Toda questão se cifra em
fazer de Deus o único objeto de todos os
pensamentos, palavras e afeições. É claro que isto se realiza no plano da fidelidade pessoal, bem de acordo
com a generosidade de cada um na correspondência às inspirações divinas. A
superação constante a que o amor a Deus conduz
exige fé e coragem, uma vez que as aliciações vindas do espírito do mal
supõem uma disposição enérgica rumo ao progresso espiritual. Este estilo de
vida deve caracterizar o autêntico discípulo de Jesus e constitui o valor
essencialmente cristológico da vocação do cristão. Este. no dizer do próprio
Cristo. é “luz do mundo e sal da terra” (Mt 5, 13-14). Trata-se do cristão que age com uma convicção segura,
aprofundando suas relações com Deus com
plena consciência do plano salvífico que nele se realiza. É possível para todos
a transformação da mente e do coração, a renovação contínua de toda sua
personalidade captando sempre “qual
é a vontade de Deus, o bom, o agradável
a Ele, o perfeito” (Rm 12,2). Em síntese, como bem se expressou o notável
franciscano Roberto Zavalloni, “a
perfeição do cristão caracteriza-se pela docilidade e pela submissão a uma
vontade divina que precisa ser buscada e discernida e cujas exigências não se
pode medir de antemão”. É todo um
processo que se dá de acordo com os carismas outorgados gratuitamente por Deus
e que leva o cristão a estar sempre
firme pela fé, apartado do mal e orientado para Deus. Foi o que aconteceu com
São Paulo que asseverou; “Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no
Filho de Deus que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). Com a
graça de Deus o discípulo de Jesus vai ordenando de forma
unitária toda sua vida, voltada para o centro de unidade que é Deus em si mesmo, Ele a suma verdade e o sumo bem. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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