COMO VENCER O EGOÍSMO
Côn. José
Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os mestres da espiritualidade são unânimes em
ensinar que o egoísmo é fonte de muitos pecados e o inimigo do amor a Deus e ao
próximo. Trata-se do amor próprio excessivo. O próprio Cristo preceituou que se
deve amar os outros como se ama a si mesmo
Mt 22,39, ou seja, fazer ao outro o que cada um faria a
si e desejar-lhe o que cada um almeja
para si. O egoísta, porém, só leva em consideração suas opiniões pessoais, seus
interesses e necessidades, desprezando os outros. É um exclusivismo que faz o
indivíduo referir tudo a si mesmo. Isto gera o detestável orgulho, uma
deletéria presunção e causa desuniões. Daí enraíza o estado de egocentrismo com
todas as suas outras terríveis consequências como o ciúme e a intolerância. É
“o eu como centro” de tudo, foco de todas as atenções. A egolatria torna
impossível qualquer empatia, isto é, impede a sintonia com o outro. Leva muitas
vezes também ao narcisismo que se transforma em patologia, ou seja, a pessoa pode
passar do estado normal para o doentio, entrando em conflito com ideias
culturais e éticas, dificultando suas relações normais no meio social. Tudo isto
é um empecilho para a prática da virtude da caridade. Donde a injustiça nos
julgamentos, a crítica perversa, a parcialidade nas palavras e no modo de ser,
a hostilidade, o rancor. O egoísmo infecciona as afeições e torna o convívio
insuportável, pois o egocêntrico é incapaz de compreender o ponto de vista
alheio e disto pode resultar o isolamento e o medo, uma vez que não é capaz de
irradiar simpatia. Cumpre, portanto, superar o egoísmo Em primeiro lugar, se
dispor a receber uma luz sobrenatural para saber discernir com sabedoria o
relacionamento com os outros, não se julgado melhor do que eles. Deste modo, se
evitam as ilusões criadas pelo egoísmo. É preciso, também, saber sacrificar os
interesses próprios aos alheios sob a luminosidade do amor mútuo. É necessário eliminar
as inclinações e aversões naturais, o que é possível com a graça divina, que
ajuda a afastar os ressentimentos e todo tipo de malignidade. Com a proteção de
Deus impera então a generosidade, a brandura. Aos poucos, com a superação do
egocentrismo, se abre o caminho para a participação dos frutos do próprio trabalho
e das próprias experiências espirituais. O cristão se torna agente da concórdia
no lar, no trabalho, nos lugares de diversão, enfim, por toda parte. Passa a
imperar a compreensão e se verifica uma maneira de ser mais consequente com o
amor mútuo. Vencido o egoísmo, o fiel não enquadra os outros nos seus moldes
mentais, impondo seu julgamento, tantas vezes precipitado. Desaparecem as objurgações
e o cristão procura nunca cair na
defensiva. Analisa o que os outros dizem a seu respeito e, se eles têm razão,
procura se corrigir se não tem fundamento suas assertivas não discutam, mas,
humildemente, esquecem inclusive qualquer modalidade de possível ofensa Andrea Meeatali, ensina que ao vencer o egoísmo o discípulo de Cristo se
torna disponível. Isto porque, não vê o outro como objeto opositor, sim como
verdadeiro sujeito digno de respeito. Lembra este professor de ciências da
educação, que “o outro é um Tu, isto é, uma presença unido aos outros pela
esperança comum, pela fidelidade à pessoa absoluta, Deus”. De fato, quanto menor
o egoísmo, maior o altruísmo e o bom
entendimento dentro de uma comunidade. Raia a benevolência, a solidariedade,
acentuando o vínculo fraterno por força do respeito à personalidade dos outros.
Trata-se da capacidade de captar os aspectos positivos que há nas pessoas com
as quais se convive, abolindo-se a malevolência que induz a ressaltar os defeitos alheios e impede uma
maneira cristã de ajudar os outros a se corrigirem. Com todas estas considerações se entende
melhor o que escreveu São Paulo aos Coríntios: “A caridade é paciente, é
benigna; a caridade não é ciumenta, não é orgulhosa, não é indecorosa; não é
interesseira, não se irrita, não guarda rancor; não folga com a injustiça, mas
alegra-se com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, sofre, a caridade
não acaba jamais. (I Cor. 13,4-8). O egoísta jamais atinge este fastígio da
perfeição cristã, porque somente os grandes corações têm a dita de conhecer a
ventura de possuir a bondade. Com efeito, para quem não é egoísta a felicidade
alheira, a alegria dos outros causam deliciosa satisfação. Em síntese, se pode
afirmar que o egoísta se torna vítima de suas fragilidades e vulnerabilidades,
dado que vive enclausurado em si mesmo. Não aceita as críticas construtivas do
próximo. Julga-se merecedor de tudo e, por isto, despreza o outro. Ao se julgar
dono da verdade não enxerga nunca seus defeitos. A crítica é uma de suas
peculiaridades mais detestáveis. Por lhe faltar humildade o egoísta
supervaloriza seus sucessos e cai numa lamentável ilusão. Eis por que vencer o
amor próprio excessivo é sempre um belo ideal a ser colimado. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos
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