PERSERVERANÇA E CONFIANÇA NA ORAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Jesus
ensinou como se deve orar (Lc 11,1-13). Os pedidos ao Pai do Céu devem ser
feitos com perseverança e confiança. Claríssimo seu ensinamento: “Pedi e
dar-se-vos-á; procurai e achareis; batei e se vos abrirá”. Ilustrou este
princípio com a parábola do vizinho impertinente e do pai que atende o filho,
jamais lhe dando algo prejudicial. É que a oração feita a Deus exige uma
intensa esperança que habita o coração de quem crê na bondade divina. A
criatura estende as mãos para seu Deus e confia que dele receberá resposta a
sua súplica. Como bem se expressou Santa Teresa de Ávila, “a oração não é outra
coisa senão um comércio íntimo de amizade, no qual nos o entretemos
frequentemente a sós com Aquele que sabemos muito nos amar [...] Ele quer que
nós nos dirijamos a Ele”. Deste modo a prece do cristão é um caminho luminoso
de total certeza da bondade misericordiosa do Senhor Onipotente, vereda de
sinceridade e de verdade da parte do ser humano. A mesma Santa Teresa dizia,
porém, que “suplicava ao Senhor para vir em sua ajuda, mas tinha medo de não
colocar toda sua confiança na sua Majestade infinita e receava não desconfiar
de si mesma”. É que Deus exige, de fato, uma fé radical no seu poderio e na sua
bondade e muita humildade da parte daquele que a Ele se dirige. Não se pode
nunca duvidar de sua comiseração. A referida doutora da Igreja garante que “se
nos voltamos para Ele com um humilde conhecimento de nós mesmos, Ele esquece
nossas ingratidões e não se fatiga nunca de nos mimosear com seus dons”.
Acrescentou que “este Rei com o qual falamos nunca nega alguma graça aos que
não duvidam de sua complacência”. Esta Santa decodificou com proficiência a
doutrina de Jesus sobre a oração, a qual é uma porta aberta a todos. O que não
se pode, contudo, esquecer é que a prece, como o amor, passa pela prova da
insistência como ocorreu com o amigo inoportuno da parábola. Aliás, Jesus
disse: “pedi, procurai, batei”. A pior atitude do seu seguidor seria não
perseverar. O tempo de Deus não é o tempo dos homens e, além do mais, ele sonda
o íntimo do coração de cada um. Ele sabe o que é melhor para quem O suplica e
se, na sua onisciência, Ele sabe que aquilo que se pede não será útil para a
salvação própria ou dos outros, Ele, fatalmente, porém, dará uma graça muito
maior do que aquela que foi solicitada pela mente humana. É que a prece deve
estar de acordo com os planos de salvação por Ele traçados e o hoje do homem,
pode não coincidir com o amanhã da sabedoria eterna. Entretanto, é certo que
qualquer oração dirigida a Deus afasta as dúvidas e traz paz e serenidade ao
coração. De fato, o fruto da oração
confiante é o reconforto, a calma, a alegria de viver, a intuição da sabedoria
divina. São Gregório de Nisssa, numa de suas homilias ,mostrou quando o ser
humano corre para Deus se torna maior e mais alto do que é em sua própria pequenez, pois graças superabundantes
jorram para aquele que sabe orar com
confiança e perseverança. Está no livro
de Habacuc: “O justo viverá pela sua fidelidade” (Hab 2,3). Esta tudo obtém do
Todo-Poderoso Senhor. Ele, porém, como lembra o Pe. Yannik
Bonnet ”não é um mero distribuidor
de graças e a prece não tem um caráter mágico”. O critério divino é aquilo que
convém à vida eterna de cada um. Com efeito, Jesus afirmou que “o Pai celeste dará
o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem”. É este Espírito Divino que leva á
adesão à vontade de Deus que quer a salvação daquele que a Ele se dirige. Jesus
na língua aramaica significa “Deus salva” e tudo que se solicita ao céu deve
estar de acordo com este plano salvífico. Dentro deste projeto ressoem sempre
as palavras do divino Salvador: “Pedi e recebereis”. Donde a conclusão de São
Paulo “Aproximemo-nos, pois,
confiadamente, do trono da graça para alcançarmos misericórdia e graça, no
tempo oportuno” (Hb 4,126). Aos colossenses este Apóstolo aconselhou: “Sede
perseverantes na oração, unindo-lhe a
vigilância e a ação de graças”. Isto porque como asseverou Santo Agostinho: “A prece representa a onipotência do homem e a
fraqueza de Deus”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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