sábado, 16 de julho de 2016

A FONTE DA VERDADEIRA PAZ

A FONTE DA VERDADEIRA PAZ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quem deseja haurir a total imperturbabilidade interior, além de observar fielmente os mandamentos  da  lei  de Deus e as inspirações advindas o Espírito Santo, deve, em tudo, agir tocado por um profundo amor a Deus. A dileção ao Senhor de tudo é que impede o temor da punição pela infração de qualquer determinação do Decálogo ou o medo de não mais receber luzes do Paráclito devido  as imperfeições humanas.  É óbvio que o pensamento da condenação eterna e o anseio de estar um dia lá no céu  ajudam e muito o fiel a trilhar o caminho da perfeição cristã. Entretanto, a  plena paz é consequência de um ingrediente  a mais, ou seja, a disposição enérgica de tudo fazer  por ser Deus quem Ele é, merecedor de todo o afeto do ser racional . Trata-se de uma submissão amorosa em tudo aos desígnios do Ser Supremo.  O lema do cristão é então a completa realização do que ele reza na oração que Jesus ensinou quando alguém se dirige ao Pai: “Seja feita a  vossa vontade”. Nem todos assim procedem e muitos são aqueles que  até ousam chamar a Deus a seu tribunal, recriminando o Senhor diante dos percalços inerentes às vicissitudes terrenas. São os que não procuram diagnosticar  as causas de seus transtornos, muitos dos quais tendo origem no mau uso da liberdade. Outros se revoltam contra Deus porque querem neste mundo aquela felicidade que só será conhecida dos eleitos lá na Casa do Pai numa eternidade beatífica sem limites. É de se notar, porém, que a quietude interior não significa a ausência  das preocupações e dores naturais a esta passagem nesta terra, mas é fruto do desapego a tudo que é transitório. A consciência de que Deus é Pai misericordioso oferece todos os elementos para uma caminhada segura por entre as dificuldades desta trajetória neste mundo.  Deste modo, o cristão a cada instante obra com simplicidade, fazendo tudo que está a seu alcance e corrige imediatamente  todo desvio causado pela debilidade humana.  O que vale á reta intenção de em todas as circunstâncias agradar a Deus. O autêntico temor é o respeito que cumpre se tenha para com o seu Senhor e as coisas sagradas. Não é jamais o medo doentio de não se atingir  a perfeiçoo  naquilo que se faz. O essencial é não se acomodar e não passar recibo às faltas veniais.  Passos firmes tentando melhorar sempre. A fobia não vem de Deus, mas do espírito maligno. Inúmeros procuram a paz interior e não desejam cair nas garras de satanás, mas não fogem das ocasiões de pecado. Nunca se fixa demais a orientação bíblica: “Quem ama o perigo nele perecerá” (Ecl 3,27). É até ridícula a postura daquele que almeja não ofender a Deus, porém se expõe às tentações  satânicas na televisão, nos sites imorais e não evita ininterruptamente  as influências infernais. A força sobrenatural na luta contra as invectivas do maligno é dada somente aos corações sinceros, leais, daqueles que trilham as veredas do bem. Sem muita oração, sem a leitura meditada da Bíblia, sem mortificação, é impossível alcançar a serenidade  da alma. Esta supõe sempre a firmeza em colocar em prática as moções  do Espírito Santo com a certeza de que Ele indica o caminho do  autêntico equilíbrio do qual flui a paz, este  preciosíssimo dom de Deus. A centelha de amor a este Deus vai se tornando vivíssima. Sabe então o cristão viver na unidade simples do único bem autêntico. Pode mostrar de forma concreta “quão suave é o Senhor” (Sl 33,1).  É claro que dentro de cada estado de vida há modalidades diferentes da união permanente com Deus. Como lembra o teólogo Tulo Goffi, “a tarefa de cada um se desenrola dentro da própria família, da própria profissão, exercendo uma atividade social especifica. O cristão  tem que testemunhar com o seus atos que, o que  antes de tudo e sobretudo interessa, é completar a criação humanizando o universo, fazendo da convivência humana expressão de liberdade, irmanando-se  com os marginalizados, potencializando tudo o que contribua para uma vida serena de todos”.  É exteriormente o testemunho de vida que faz com que o fiel aborreça tudo que contradiga sua dignidade de batizado, participante do múnus régio e sacerdotal de Cristo. Assim  procedendo, o verdadeiro discípulo de Cristo conhece a verdadeira paz. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário