A FONTE DA VERDADEIRA PAZ
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Quem
deseja haurir a total imperturbabilidade interior, além de observar fielmente
os mandamentos da lei de
Deus e as inspirações advindas o Espírito Santo, deve, em tudo, agir tocado por
um profundo amor a Deus. A dileção ao Senhor de tudo é que impede o temor da
punição pela infração de qualquer determinação do Decálogo ou o medo de não
mais receber luzes do Paráclito devido
as imperfeições humanas. É óbvio
que o pensamento da condenação eterna e o anseio de estar um dia lá no céu ajudam e muito o fiel a trilhar o caminho da
perfeição cristã. Entretanto, a plena
paz é consequência de um ingrediente a
mais, ou seja, a disposição enérgica de tudo fazer por ser Deus quem Ele é, merecedor de todo o
afeto do ser racional . Trata-se de uma submissão amorosa em tudo aos desígnios
do Ser Supremo. O lema do cristão é
então a completa realização do que ele reza na oração que Jesus ensinou quando
alguém se dirige ao Pai: “Seja feita a
vossa vontade”. Nem todos assim procedem e muitos são aqueles que até ousam chamar a Deus a seu tribunal,
recriminando o Senhor diante dos percalços inerentes às vicissitudes terrenas.
São os que não procuram diagnosticar as
causas de seus transtornos, muitos dos quais tendo origem no mau uso da
liberdade. Outros se revoltam contra Deus porque querem neste mundo aquela
felicidade que só será conhecida dos eleitos lá na Casa do Pai numa eternidade
beatífica sem limites. É de se notar, porém, que a quietude interior não
significa a ausência das preocupações e
dores naturais a esta passagem nesta terra, mas é fruto do desapego a tudo que
é transitório. A consciência de que Deus é Pai misericordioso oferece todos os
elementos para uma caminhada segura por entre as dificuldades desta trajetória
neste mundo. Deste modo, o cristão a
cada instante obra com simplicidade, fazendo tudo que está a seu alcance e
corrige imediatamente todo desvio
causado pela debilidade humana. O que vale
á reta intenção de em todas as circunstâncias agradar a Deus. O autêntico temor
é o respeito que cumpre se tenha para com o seu Senhor e as coisas sagradas.
Não é jamais o medo doentio de não se atingir
a perfeiçoo naquilo que se faz. O
essencial é não se acomodar e não passar recibo às faltas veniais. Passos firmes tentando melhorar sempre. A
fobia não vem de Deus, mas do espírito maligno. Inúmeros procuram a paz
interior e não desejam cair nas garras de satanás, mas não fogem das ocasiões
de pecado. Nunca se fixa demais a orientação bíblica: “Quem ama o perigo nele
perecerá” (Ecl 3,27). É até ridícula a postura daquele que almeja não ofender a
Deus, porém se expõe às tentações
satânicas na televisão, nos sites imorais e não evita
ininterruptamente as influências
infernais. A força sobrenatural na luta contra as invectivas do maligno é dada
somente aos corações sinceros, leais, daqueles que trilham as veredas do bem.
Sem muita oração, sem a leitura meditada da Bíblia, sem mortificação, é
impossível alcançar a serenidade da
alma. Esta supõe sempre a firmeza em colocar em prática as moções do Espírito Santo com a certeza de que Ele
indica o caminho do autêntico equilíbrio
do qual flui a paz, este preciosíssimo
dom de Deus. A centelha de amor a este Deus vai se tornando vivíssima. Sabe
então o cristão viver na unidade simples do único bem autêntico. Pode mostrar
de forma concreta “quão suave é o Senhor” (Sl 33,1). É claro que dentro de cada estado de vida há
modalidades diferentes da união permanente com Deus. Como lembra o teólogo Tulo
Goffi, “a tarefa de cada um se desenrola dentro da própria família, da própria
profissão, exercendo uma atividade social especifica. O cristão tem que testemunhar com o seus atos que, o
que antes de tudo e sobretudo interessa,
é completar a criação humanizando o universo, fazendo da convivência humana
expressão de liberdade, irmanando-se com
os marginalizados, potencializando tudo o que contribua para uma vida serena de
todos”. É exteriormente o testemunho de
vida que faz com que o fiel aborreça tudo que contradiga sua dignidade de
batizado, participante do múnus régio e sacerdotal de Cristo. Assim procedendo, o verdadeiro discípulo de Cristo
conhece a verdadeira paz. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário