O
SÁBIO RIGOR DO EVANGELHO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
O
rigor do Evangelho, sempre foi contrário ao endeusamento das realidades
materiais o qual se contrapõe ao aprimoramento espiritual do cristão. São Paulo
sintetizou esta verdade ao afirmar: “O mundo está crucificado para mim e eu estou
crucificado para o mundo" (1 Gal 6,14). Maravilhosos são os dons com os
quais Deus mimoseia o ser humano na sua trajetória terena rumo à eternidade. As
dádivas divinas devem ser valorizadas e cumpre aproveitar tudo de bom que há em
derredor de cada um. Entretanto, o espírito do mal leva a muitos a deturpar a
finalidade dos bens oferecidos pelo Criador. É preciso usar de tal modo os bens
que passam, para que se possa abraçar os que não passam. Do contrário, se dá
uma inversão de valores. Isto constitui o mundo pecado com todas as suas
ilusões que confrontam com as diretrizes legadas pelo Mestre Divino. Então o
desejo desenfreado de riquezas materiais ou o seu acúmulo, a procura de
prazeres contrários aos preceitos divinos se tornam o essencial da vida daquele
que tem um destino eterno, uma
felicidade perene a ser conquistada pelo uso correto de sua liberdade. Daí resulta a corrução e a dissolução dos
costumes, o espírito mundano. Este é diametralmente, oposto ao espírito de
Cristo e de seu Evangelho. É neste sentido que o verdadeiro cristão deve estar
numa luta contínua contra o mundo no qual reina satanás e seus comparsas. Nem
todo o batizado possui um reto discernimento e acaba aprovando, aberta ou sutilmente,
o erro. Este se espalha insidiosamente nos meios de comunicação social muitos
dos quais fazem abertamente a apologia de =uma moralidade inteiramente
antagônica aos preceitos divinos. A sedução exercida pelos profetas da imoralidade leva de roldão os que
imprudentemente se expõem a seus virulentos ataques. A exaltação do luxo, a
malícia inerente aos sites pornográficos e às novelas, o mau exemplo difundido
por aqueles que não têm o temor de Deus. Tudo isto conduz a uma verdadeira
desestruturação do autêntico humanismo, obstando o progresso espiritual do
epígono do Filho de Deus. Típica a triste condição dos que se entregam às
drogas e à escravidão dos piores vícios. Um dia Jesus foi crucificado lá no
Calvário, mas o mundo dominado pela diabo O crucifica todos os dias Felizmente,
contudo são milhares os cristãos que, lembrados das promessas batismais, as
cumprem com firmeza, renunciando a tudo que conspurca a dignidade do batizado.
Estes não hesitam e se tornam os para-raios da humanidade, Examinam suas
disposições interiores e não cedem às invectivas mundanas e a suas
dissimulações ardilosas. Entre Jesus e o mundo não há para eles dubiedades, pois
Cristo neles vive. Nunca se desencorajam e, confiantes no poder da graça, são
vitoriosos. Sabem que não se pode vacilar um momento, pois as armadilhas
mundanas são temíveis. Nas suas tertúlias com Deus se preparam para o grande
combate de todas as horas. Têm sempre em vista a garantia dada apelo Mestre
divino: “Tende fé e coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33). Esta emancipação
humana das misérias suscitadas pelo maligno se realiza com os recursos que a
Igreja proporciona a seus fiéis e nela se realiza o verdadeiro humanismo. Eis
por que através dos tempos florescem os santos nos mais variados contextos
sociais. Cada cristão no seu setor próprio é chamado à mesma santidade numa
ruptura ininterrupta com o espírito mundano. Os bispos e sacerdotes como
instrumentos das graças sacramentais e orientadores das comunidades; os esposos
cultivando amor humano aberto às dimensões da caridade de Cristo; os
profissionais nas mais diversas atividades; o cidadão responsável, colaborando na construção de uma sociedade
digna; os religiosos das mais variadas congregações prefigurando na alegria e
na liberdade de espírito a transformação total em Cristo. Dentro desta
perspectiva realista, se compreende como as crianças são bem formadas para
entrar neste exército sagrado que combate as mazelas do mundo divorciado da
prática das virtudes, passando por uma juventude sadia, todos preparados para
servir a Igreja e a Pátria. Deste modo,
o sábio rigor do Evangelho faz desabrochar todas as qualidades humanas, levando
o cristão a desfrutar tudo de bom que Deus lhe oferece nesta terra, vencendo o
mal, deixando por toda parte um rastilho de luz, irradiando paz e vencendo o
mundo tenebroso do mal. * Professor no
Seminário de Mariana, durante 40 anos.
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