O CRISTO DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Admirável a
profissão de fé do Apóstolo Pedro, quando Jesus interrogou aos discípulos quem
Ele era, pois tomando a palavra respondeu:
“O Cristo de Deus” (Lc 9,20). De fato, Ele era o Ungido de Deus, o
Messias, e, na verdade, o Messias sofredor segundo a interpretação cristológica
de Isaias (52 e 53). Aliás, logo após as palavras de Pedro, diz São Lucas que
Jesus afirmou que o Filho do homem tinha que sofrer muito, ser rejeitado e
morto. Cumpre ao cristão desejar conhecer sempre mais e melhor Aquele que veio
a este mundo como o Redentor prometido, se mobilizando num processo existencial
de conversão e de seguimento daquele que é a fonte e a plenitude da vida. Isto
foi compreendido perfeitamente por São Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo
que vive em mim” (Gl 2,20). É preciso descobrir nele a “imagem do Deus
invisível e o “primogênito de toda criação” (Cl 1,15). Na sua pessoa divina que
se fez carne se deu o encontro do mistério do divino e do humano para a
realização dos planos salvíficos da Trindade misericordiosa. Disto resulta a
necessidade de reconhecer, na prática, que Jesus é o Senhor, o Salvador de cada
um. Entretanto, ostentar os padrões desta crença na existência diária supõe
disposições que levam a ostentar uma percepção acutilante da profundidade de
tudo que Ele ensinou. O seguidor de Cristo deve manifestar ao mundo o rosto do
Mestre divino que uma fé profunda vai pintando em seu coração. Trata-se de um
comprometimento sério com aquele que é a
única tábua de salvação, o verdadeiro manancial da felicidade. A vinculação a
Cristo ocorrida no dia do batismo traz uma responsabilidade enorme e da
consciência da mesma depende cada um se fazer “luz do mundo e sal da terra”. Apenas assim se demonstra que Jesus, que foi
morto, ressuscitou e está vivo, que está
presente na existência de seu discípulo o qual, deste modo, o faz cada vez mais
conhecido e amado. Nisto consiste basicamente o anúncio do Evangelho. Aquele
que busca desta maneira a plenitude de
sua conformidade com o modelo divino está a proclamar por toda parte que Cristo vivo e vivificante preside a história humana, fecundando-a com
seu poder e glória. O verdadeiro cristão é, assim, o instrumento basilar para
que a obra redentora se prolongue através dos tempos. Jesus aparece então não
como um mero exemplar de uma religiosidade abstrata, mas como um
companheiro de jornada, “autor e
consumador da fé” de que fala a Carta aos Hebreus e que leva à conquista da
vida eterna (Hb 12,2). Para isto é necessário aceitá-lo para que Ele possa
comunicar a vida divina, segundo o seu ardente desejo: “Eu vim para que todos
tivessem a vida e a tivessem em plenitude” (Jo 10,10). Então a presença de Jesus se converte em força transformadora a
envolver todo o ser humano que a Ele adere. Ele se faz contemporâneo de cada um
e da sociedade na qual age este seu epígono. Realiza-se o contato vivo
sacramental com Cristo, fruto da identificação pessoal e da incorporação nele.
O estar nele equivale então ser Ele mesmo na realização total da célebre
definição: “O cristão é outro Cristo”. Para que este ideal seja colimado os
meios estão ao alcance de todos. A Palavra que está na Bíblia, meditada, vivida
e que, sobretudo, é apresentada em cada Missa dominical como um roteiro semanal
de raro valor espiritual. Na celebração eucarística se oferece o momento
culminante da união com Ele através da Comunhão pela qual se dá uma presença
reduplicada: Ele em nós e nós nele. Clara sua mensagem: “Quem come a minha
carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele” (Jo 6,17). Deste modo, terminada a Missa começa a missão
de levá-lo por toda parte. Brilham então os sinais do reino de Cristo e seu
discípulo se torna o fermento na massa social, impregnando-a da Boa Nova
trazida por Ele do céu a esta terra. Nisto consiste o dinamismo do autêntico
apostolado e Jesus amoroso é empaticamente acolhido, inundando a todos com
raios luminosos de sua divindade. O espírito de Cristo deve penetrar a mente de
todos aqueles com quem o cristão convive, devido a uma conaturalidade que se
torna, por assim dizer, perceptível. Por força de tanto repetida perderam sua
pujança primitiva as sentenças que diziam que o importante é o testemunho de
vida e que “palavras sem obras são tiros sem bala”, atroam, mas são sem
efeito. Nunca se tem demais convicção de
que o exemplo é que arrasta e quem sabe que Jesus é o Cristo de Deus não
deixará desta forma de ser o intermediário pelo qual Ele possa prosseguir sua
missão salvífica a bem próprio, do próximo e de todo o mundo. Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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