PAZ
COMPLETA DE ESPÍRITO SÓ EM DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
A
imperturbabilidade, a isenção de agitações, a serenidade diante dos naturais
problemas de um exílio terreno apenas se encontram junto de Deus através de
Jesus. Foi Ele quem afirmou: “Vinde a mim, vós todos que
estais afadigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim,
que sou manso e humilde de coração, e assim encontrareis repouso para as vossas
almas!” (Mt 11,28-29). Nenhum outro personagem da história ousou fazer tal
assertiva. Ele pôde assim se expressar porque era Deus e muito nos amou. Não
colocou restrições a sua promessa, uma vez que nesta sua declaração estão
incluídos os sofrimentos da alma, do coração e de todo o corpo, todas as
amarguras psicossomáticas. Psicólogos, psiquiatras, outros notáveis
especialistas oferecem processos científicos que visam serenar os que se acham
atormentados, inseguros, prisioneiros da fobia, e de outros males. Por vezes, suas
orientações e medicamentos não produzem efeito, porque muitos pacientes se
esquecem de que a paz interior é condição para que as técnicas humanas possam
atingir plenamente seu objetivo. Esta
paz necessária só se encontra junto do coração daquele que verdadeiramente tem
poder absoluto de oferecer uma total estabilização interior aos que se acham
atormentados. Aliás, não apenas para as doenças psíquicas, mas também para as
enfermidades corporais esta paz ajuda para a recuperação da saúde e os remédios
com mais rapidez fazem seus efeitos. Adite-se que ocorre com muitos que se sentem infelizes o fato deles buscarem a satisfação de seus mais recrescentes anelos nos bens
materiais, nos prazeres pecaminosos ou
nos louvores dos homens. No tumulto das paixões surgem as maiores
decepções, dado que elas oferecem algo enganador. Santo Agostinhos que arduamente procurou soluções
para seus conflitos interiores não as deparou no mundo exterior, conforme ele
mesmo afirmou no livro “Confissões”, uma de suas obras mais lidas através dos
tempos, Suas inquietações foram dissipadas, quando ele se converteu e se tornou
epígono de Jesus. No citado livro, que é considerado um clássico tanto da
literatura mundial, quanto da teologia e da filosofia cristãs, assim se dirigiu
ao Ser Supremo: “Vós nos haveis feito para vós, ó meu Deus, e nosso coração
está sempre agitado, até que repouse em Vós” (Conf 1,1). É que o Criador é a
fonte da quietude absoluta. Para que se atinja a paz integral é preciso, portanto,
como fizeram tantos outros santos, a entrega total, irrestrita e confiante a
Ele. Isto de tal forma que nada mais
possa abalar os alicerces do ânimo que então se torna impassível diante das
tormentas que assaltam o ser humano tão vulnerável às mesmas. Nem todos os
cristãos usufruem de uma quietação plena, constante que os torna inalteráveis,
porque deixam eles de estar totalmente sintonizados com o Pai e o Espírito
Santo através de Cristo, o verdadeiro médico que sana todas as mazelas. Aí está
o motivo pelo qual os santos usufruíram admirável serenidade em todos os
momentos e situações adversas, enfrentando as mais árduas tarefas e humilhações
com uma quietude singular. Repetiram
sempre com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”. (Fl
4,13), De fato, quem se apoia em Deus jamais sucumbirá por maiores que sejam as
aflições. O cristão que possui a graça santificante e tem consciência de sua
participação na vida divina possui a
força suficiente para repousar nas mãos do Todo-Poderoso Senhor. Sente-se
imerso na luz celestial e não entrevê trevas, mas luminosidade em torno de si.
Com santo temor de perder esta iluminação espiritual tudo faz para não
desprezar a amizade de Deus com qualquer pecado grave. Encontra, deste modo, o
mais perfeito equilíbrio emocional. Unido a Cristo, caminho para o Pai, recebe
o influxo do Espírito Santo que o faz cultivar e colher os seus frutos, entre
os quais a paz., a alegria a longanimidade (Gl 5,22-23). Deste modo o repouso
em Deus nesta vida se torna o sinal seguro da felicidade eterna junto dele na
Jerusalém celeste. Portanto, a paz, ausência de qualquer perturbação, plenitude
da felicidade, íntima tranquilidade é consequência da comunhão com Deus no
tempo e na eternidade.* Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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