sábado, 30 de abril de 2016

O AMOR DEVIDO A DEUS

O AMOR DEVIDO A DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Livro do Deuteronômio está claro o que falou Moisés: “Escuta Israel, nosso Deus é o único. Tu amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda tua alma e com todo a tua força” (Dt 6,4). Que o Criador de tudo mereça uma dileção sem limites do ser racional é inquestionável.  Com efeito, Ele é a fonte de todos os bens e fora dele não se encontra felicidade. As ilusões terrenas apresentam-se como algo que possa saciar a sede de ventura inata ao homem, mas deixam sempre o amargor, um vazio tormentoso. Muito bem se expressou Santo Agostinho: “Senhor, fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em ti”. É que Deus é infinitamente perfeito, amável, fonte de todo amor. Nele, e apenas nele, se encontra salvação e dele tudo se recebe a cada instante. Ele é o princípio de todas as coisas, o fim de tudo e o centro de toda a existência humana.  Por tudo isto, o amor autêntico que a Ele se deve devotar necessita estar acima de todo interesse pessoal, tornando-se um amor desinteressado. Isto por ser Ele o único que é digno de ser amado acima de todas as coisas, de todas as outras pessoas. Cumpre então decodificar a instrução dada por Ele através de Moisés, uma vez que se acha patente como Ele deseja que todos O amem. Em primeiro lugar, de todo o coração, ou seja, todos os afetos direcionados para Ele. Em consequência, tudo que tende a afastar dele deve ser abolido.  Um coração inteiramente possuído por Ele sem o dividir com ninguém. Deste modo, quem tem fé é direcionado para uma vida séria, digna de uma criatura totalmente voltada para o seu Criador. Além disto, é preciso amar a Deus com toda sua alma, isto é, com disposição sincera de tudo imolar por Ele numa renúncia a tudo que impeça estar continuamente com Ele. Longe então fica qualquer pensamento de transgressão aos sagrados mandamentos divinos. Deus acima de tudo que o mundo possa oferecer. Tal se torna o lema do cristão: tudo perder por amor a seu Senhor Onipotente. São Bernardo no seu livro “Tratado do Amor de Deus” ensina que “a medida do amor de Deus é ama-lo sem medida”. Segundo os teólogos, há indícios para se saber se alguém ama, de fato, a Deus. Antes de tudo é necessário verificar se há inquietude, ficando a alma ansiosa com relação a sua postura perante tudo que Deus merece. Desde que se tenha a reta intenção de tudo fazer para a glória divina, excluído o amor próprio, o cristão nada tem a temer. Aquele que perscruta o íntimo de cada um sabe perfeitamente que, apesar das fragilidades inerentes a um ser contingente, quem é sincero almeja unicamente agradá-lo nas menores ações de cada hora. Adite-se que não se deve procurar uma devoção sensível, consolações ininterruptas no serviço de Deus, mas, como alerta o Pe. Grou, é necessário “perseverar no meio das tentações, dos desgostos, do abandono, porque tudo isto é prova de amor” É assim que se chega à entrega sem reservas ao Ser Supremo longe de qualquer complacência em si mesmo. Vive-se num vale de lágrimas e somente na eternidade se estará envolto completamente nas delícias que Deus preparou para os que O amaram nesta terra (Sl 15,11). O fiel neste mundo sabe que toda sua existência está em Deus presente em toda parte pela sua imanência. Ele pode ser percebido de forma  intensa por quem  nele crê e vive na sua presença. Como está em belíssima canção, baseada no salmo 139:Tu me conheces quando estou sentado / Tu me conheces quando estou de pé/ Vês claramente quando estou andando / Quando repouso tu também me vês”. Pela sua transcendência Deus não se confunde com o mundo, mas o mundo não existe sem Ele. A fidelidade a Ele é outro critério que mostra o amor para com Ele. Fidelidade a tudo que Ele revelou à humanidade e que se acha na Bíblia, fidelidade a Jesus, plenitude desta revelação divina. No Evangelho se lê o que Cristo asseverou: “Eu vim trazer fogo à terra e o que quero eu senão que ele se acenda” (Lc 12,49). Trata-se do fogo do amor divino. É preciso então oferecer-se a Ele afim de que esta chama celeste consuma o que é deste mundo e todas as impurezas da alma. Assim, cada batizado poderá iluminar o mundo. Compreende-se desta forma a veracidade da célebre sentença: “Se és cristão, tens o mundo nas mãos”. O amor impulsiona a evangelização. Ninguém pode se santificar para depois evangelizar se não for movido pelo amor a Deus e ao próximo. Foi o que ocorreu com os santos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

terça-feira, 26 de abril de 2016

CONSEQUÊNCIAS DO AMOR A JESUS

CONSEQUÊNCIAS DO AMOR A JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O amor a Jesus traz esplêndidas consequências para a vida de seu seguidor. Esta verdade se acha bem clara no texto de São João na Missa do 60 domingo da Páscoa. (Jo 14,23-29). Intrigantes as palavras de Cristo: “Se alguém me ama”. Com efeito, cumpre de plano que cada cristão se examine para verificar o grau do amor que se devota ao Divino Ressuscitado. Examinar qual a real presença dele na vida de cada um à medida que os anos vão se desenrolando.  É só averiguar se suas palavras têm sido guardadas, fielmente observadas em todos os momentos, em todas as circunstâncias numa fidelidade ininterrupta. Trata-se de uma resposta de amor refletida nas ações de cada hora. Se isto acontece, feliz é o cristão, pois afirma Jesus que “seu Pai o amarará, viremos a ele e faremos nele a nossa habitação”. A questão é saber como temos usufruído desta honrosa presença de Deus em nós. Como esta irrupção de ternura do Ser Supremo tem influenciada no modo de pensar, de agir, de ser. Quantos cristãos, infelizmente, conspurcam esta casa santa do Senhor nos vícios, nas drogas, nos crimes mais hediondos.  Não amam a Jesus, porque não guardam sua palavra. O verdadeiro discípulo do Redentor pensa sempre naquilo que Deus faz por ele, nele e com ele. Este deixa que Deus o ame tanto quanto Ele deseja ser amado. Quem assim age recebe o Espírito Santo que o Pai em consequência envia em nome do Filho bem-amado. Com suas luzes o Espírito faz compreender e viver tudo que Jesus ensinou, rememorando sempre os ensinamentos do Mestre divino. Daí resultam cristãos sábios segundo o Evangelho, pois o Paráclito dá a entender no fundo do coração a linguagem do amor. Paráclito significa literalmente o advogado, o defensor. Ele sustenta, defende, aconselha, encoraja e ensina a bem orar, penetrando fundo na doutrina de Jesus. Se isto acontece outro efeito grandioso na vida de quem ama Cristo é a paz. Ele foi claro: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz”. Aí vem outra indagação, ou seja, temos realmente usufruído esta paz? Se esta é a realidade de nossa vida, demos graças a Deus levemos a quem carece desta paz o que disse Jesus: “Vinde a mim vós que penais sob o fardo e vos darei o repouso”. É que a paz que Cristo oferece é bem diferente da paz que o mundo parece proporcionar com suas ilusões. A paz de Jesus é a plenitude da vida, a tranquilidade inebriante de uma consciência conectada com Deus que mora no fundo do coração que O ama. Não se trata simplesmente de uma disposição psicossomática, levando a uma serenidade egoística, mera resignação. Esta paz não é ilusória, frágil. Como falou São Paulo aos Filipenses “A paz de Deus excede todo entendimento" (Fil 4,7). Trata-se daquela beatitude que reina lá no íntimo da alma unida a Deus. Por isto, a harmonia sublime que possui é levada por toda parte, no lar, nos locais de trabalho, de lazer, nas Escolas, enfim para toda a sociedade. Aquele que a possui se transforma no artesão da paz, dela se fazendo o embaixador. Deus quer transformar o mundo através daqueles que recebem, vivem e curtem a paz oferecida por Jesus. Durante a participação nas Missas o fiel é lembrado inúmeras vezes sobre o este dom que é desejado pelo celebrante a todos também no final da celebração: “Ide em paz, o Senhor vos acompanhe”! Isto para que esta paz de Cristo transforme cada um, metamorfoseie toda a comunidade, irradiando-se depois pelo mundo todo. Paz que jorra do coração de Jesus, fruto do amor a Ele, difundindo-se numa esplêndida serenidade seja onde estiver um autêntico cristão. Realiza-se o que predisse o profeta Isaias a respeito de Jesus: “Seu nome é o príncipe da paz" (Is 9, 5) ou de acordo com Miquéias: “Ele (o Messias) será Paz” (Mq 5,4). Não uma paz passageira, mas a reconciliação total do ser humano com Deus e os semelhantes. Tudo isto acontece para quem verdadeiramente ama Jesus.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

COMO VENCER AS INSINUAÇÕES DIABÓLICAS

COMO VENCER AS INSINUAÇÕES DIABÓLICAS
Côn. José Geraldo V Vidigal de Carvalho*
O Salmo 62 (61) apresenta de maneira clara e objetiva o posicionamento do ser racional diante das tentações do espírito maligno. Destas invectivas satânicas ninguém está imune neste mundo. Basta percorrer a vida dos santos para se certificar desta verdade. A Virgem Maria, a cheia de graças, foi a única isenta dos assédios do demônio, por especialíssimo desígnio de Deus. São Pedro foi taxativo: “Como um leão a rugir o demônio anda em derredor de vós prestes a vos devorar. Resisti-lhe firmes na fé” (1 Pd 5,8). A própria Bíblia descreve a pugna de notáveis personagens contra as invectivas do diabo. Este até ousou tentar o próprio Filho de Deus  que nos três ataques infernais derrotou o inimigo, deixando exemplo magnífico a seus seguidores. Estes devem repetir com Davi no mencionado salmo, “jamais vacilarei”.  (Sl 62,7) É pela porta dos pecados capitais com seus desdobramentos que entram as tentações e cada um tem, o que os teólogos chamam de defeito dominante. São sete os pecados capitais: Soberba (Tg 4,6; 1 Pd 5,5): Avareza (Cor 6,10), Luxúria (idem), Inveja (Gal 5,19), Gula (Idem), Cólera ( Idem),  Preguiça( Pv 6,6). Estar disposto a não cair nas armadilhas de satanás é uma atitude interior de suma valia. O cristão deve estar cônscio de que não é “uma parede inclinada, um muro prestes a ruir” (Sl 62 4)), pois pode repetir com São Paulo: “ Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13).O objetivo da tentação é “seduzir” e, por isto com o demônio não pode haver fraqueza alguma, dado que ele, sendo espírito, é muito mais sagaz que “os filhos de Adão”, ou seja, as pessoas comuns e as pessoas letradas, inclusive os grandes teólogos ou místicos.  Nada de se iludir com a proposta diabólica: “Não ponhais nela o coração” (Sl 62,11). A razão pela qual há a certeza absoluta da vitória é que “a Deus pertence a força” (Sl 62,12)  Com a repulsa ao demônio vem a inefável paz da consciência: “Sem. Deus minha alma regozija, dele vem a minha salvação” (Sl 62,1). Ele se torna, realmente, “rocha”, “fortaleza”, “esperança”, “glória” como está neste mencionado salmo. Então este Senhor Onipotente precisa ser sempre um “abrigo (Sl 62, 8).  Nele se deve confiar em qualquer tempo Aconselha então o salmista: “Derramai vosso coração em sua  presença” (Sl 62,9). Aliás, o próprio Deus disse a Abraão: “Anda na minha presença e sê perfeito (Gn 17,1) O notável Patriarca nos momentos de solidão, de desespero se entregava ao Senhor do qual nunca se apartava. Quem assim age está blindado contra o inimigo, pois tem sempre o Todo-Poderoso diante de si e sabe que Ele devolve “a cada um conforme suas obras”. Vale a pena meditar o salmo 62 e impregnar a alma com esta sabedoria celestial como uma arma a mais que leva a grandes triunfos espirituais. Na vida espiritual o forte é quem foge das ciladas do demônio, para poder sempre viver em função da Palavra de Deus sem jamais a perverter se lançando em circunstâncias que conduzem à perda da graça santificante. O cristão, então se fortalece espiritualmente para qualquer eventualidade com o Pão do céu que é Jesus eucarístico, evitando transformar a oração em idolatria, quando se pede a Deus não o que é necessário à própria salvação, mas o supérfluo para a existência, o que é uma perversão da prece que não leva a uma conversão, mas à obsessão de tudo ter.  Para não se lançar no precipício da omissão dos deveres é mister, além do mais,  a coragem que demonstrou Jesus, repelindo logo as insinuações do maligno. Finalmente, é preciso afastar todo e qualquer equívoco, pois o combate que Cristo permitiu houvesse entre Ele e o diabo não deve se apresentar ao seu discípulo como algo impossível de ser vencido. É que imerso no mistério trinitário se pode repetir sempre com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fp 4,13). Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito Santo e, fiel à missão que Lhe fora confiada pelo Pai, derrotou o demônio. Trata-se de um combate espiritual, mas com o Espírito divino a vitória é de Cristo com o qual se identifica o cristão e o objetivo  principal é fazer em tudo a vontade do Pai. Com isto, nem a gula, nem a idolatria, nem a omissão impedem a caminhada rumo à Trindade Santa na Jerusalém celeste. Por tudo isto o cristão está  envolto na esperança fagueira de que nunca  cairá nas garras de satanás Ninguém pode escapar à prova da tentação, mas o progresso espiritual de cada um se realiza no combate. Para se conhecer a si mesmo é preciso ser provado e não pode ser coroado sem ter vencido o inimigo e suas invectiva. O  fiel, revestido de austeridade, com a graça de Deus, será sempre um vitorioso! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




terça-feira, 19 de abril de 2016

O MANDAMENTO DO AMOR

O MANDAMENTO DO AMOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho de hoje mostra como Jesus ao anunciar aos discípulos sua partida deste mundo lhes diz: ”Dou-vos um mandamento novo que vos ameis uns aos outros; como assim como eu vos amei, vós também vos ameis uns aos outros” (Jo 13,31-35). Num momento delicado no qual ele mostra aos apóstolos que estaria por pouco tempo com eles, Ele proclama seu preceito de amor. Cumpre observar que São João não diz que o Mestre divino deixou então um novo mandamento, mas, sim, um mandamento novo. É que àqueles da Lei de Moisés Ele ajunta o seu. Aliás, o mesmo São João já havia dito no Prólogo de seu Evangelho: “Porque a Lei foi dada por intermédio de Moisés, a graça e a verdade nos vierem por Jesus Cristo” (Jo 1,17). Entretanto é ainda de se observar que se trata, realmente, de uma ordem. Ora, se pode mandar que alguém obedeça, que alguém preste um serviço, mas é estranho mandar que alguém ame. É que Jesus havia acrescentado “como eu vos amei, amai-vos uns aos outros”. Portanto ele estava dando o preceito de imitá-lo. Assim sendo, só poderia alguém julgar que era seu seguidor se amasse como Ele amou. Ele tornou visível esta dileção no serviço, pois antes Ele havia lavado os pés daqueles a quem ele estava dando este mandamento. Único preceito da comunidade cristã seria um amor que se manifesta visivelmente no serviço: “Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos”. Eis a marca distintiva dos que seguem a Jesus. Não é o título de cristão, mas o amor ao próximo que se transforma em serviços que baliza o seguidor de Cristo. Neste mandamento, como observam grandes teólogos, Deus que se manifesta em Jesus não absorve as energias do cristão, mas lhe comunica suas energias espirituais que se patenteiam em obras concretas de dileção. Dilata-se assim ao máximo a generosidade, o dom o altruísmo de cada um. Disto resulta a grande alegria de viver em comunhão com Deus, nosso Pai, e com os irmãos. O mandamento de Jesus flui da fonte do amor trinitário. Ao criar o ser humano Deus confere a ele a capacidade de amar, embora dotando-o de liberdade que possibilita então toda espécie de maldade, de violência, de ódio. As guerras através da História são disto prova, além das discórdias familiares, nos locais de trabalho, de lazer, No seu íntimo, porém, o homem e a mulher percebem que é o amor e não a ira, a concórdia e não a discórdia, o perdão e não o ódio que devem prevalecer. Para incentivar o reinado da paz Jesus também lançou a célebre sentença: “O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-o a eles também vós”. Isto significa que para o Mestre divino a bondade é mais profunda que o mal por mais virulento que ele seja. Ao perdoar seus inimigos no alto de uma cruz, Ele mostrou que o amor é capaz de indultar as maiores ofensas e elevar o ser humano às paragens luminosas da compreensão, da liberalidade, da paz A seiva da fé torna o cristão o agente por excelência da harmonia, da consonância, do consenso mútuo. Deste modo o homem e a mulher ficam convencidos de que a vida não é uma questão de cálculos, de estratégias, de precauções, de desconfianças, mas a manifestação ininterrupta da a comiseração amorosa que vem lá de dentro do coração e jorra em cataratas de ondas salvíficas. Com efeito, só o amor constrói, o desamor tudo destrói. A tranquila serenidade que deve envolver a sociedade humana é um ideal possível, exequível, mas supõe um alerta contínuo contra as forças do mal que semeiam a desinteligência, a impaciência, os gestos bruscos, ríspidos e severos. Deste modo, o mandamento do amor irradia esperanças fagueiras em contrastes com todos os ímpetos destrutivos. Entretanto, cumpre se firme que para amar e irradiar o amor é preciso passar por Aquele que tanto nos amou . Não pode amar com perseverança e eficazmente sem a fé na pessoa de Cristo. Lá onde reina a guerra  entre os povos ou no meio em que se vive é porque Jesus está ausente. Este amor pregado pelo Filho Bem-amado do Pai não é mera beneficência. Esta até pode subsistir sem a fé, mas não construirá nunca a civilização do amor. As ações maravilhosas de São Damião de Molokai junto dos leprosos, de um São Vicente de Paulo, de uma Madre Teresa de Calcutá e tantos outros sempre foram privilégio daqueles que viveram e vivem em função de Jesus e, por isto mesmo, tantos projetos de paz se esboroam por não se fundamentarem no verdadeiro amor. Paz resplandecente como a aurora reina somente quando se está atento às necessidades alheias, isto, contudo, ao som dos apelos amorosos de Cristo. Apenas em Jesus e por Jesus o amor não perde consistência. Ele disse claramente: “Amai-vos, como eu vos amei”. Apenas nele e por Ele “o cumprimento da Lei é o amor” (Rm 13,10). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

NORMAS LITÚRGICAS

NORMAS LITÚRGICAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*.
                A Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia no número 30 dá esta orientação: “Para fomentar participação ativa, promovam-se as aclamações dos fiéis, as respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, bem como as ações, gestos e atitudes corporais. Não se deixar de observar-se, a seu tempo, um silêncio sagrado”.
               Trata-se do silêncio orante que permita um ambiente de piedade e fervor, de união com Deus, nos instantes nos quais inclusive não há cantos ou sons de instrumentos musicais. Ações, gestos e atitudes corporais significam o estar de pé, assentados, de joelhos por ocasião das diversas partes da Missa,
              As palmas nunca foram gestos litúrgicos. Quem percorre os países da Europa. por exemplo, jamais vê nas celebrações estas aclamações estrondosas. O Cardeal Joseph Ratzinger, o atual Papa emérito  Bento XVI, no seu texto “Introdução ao Espírito da Liturgia”, ensinou que é “totalmente absurdo, na tentativa de tornar a Liturgia “mais atraente”, recorrer a espetáculos”. Cumpre, de fato,  sempre penetrar fundo sobretudo. no significado do Santo Sacrifício da Missa.
               O Papa Francisco, dia 7 de junho último suprimiu a introdução de um canto para a paz, inexistente no Rito Romano e os deslocamentos dos fiéis para trocar paz antes do canto do “Cordeiro de Deus”. Isto exatamente para que haja um clima de piedade antecedendo o Rito da Comunhão do sacerdote e dos fiéis. Toda deturpação da Liturgia é condenável.
              Adite-se que durante a elevação da Hóstia e do Cálice, não se reza em voz alta nenhuma jaculatória ou qualquer outra prece.
              Deve-se ter sempre em conta a glória que se deve dar a Deus e que precisa fluir lá de dentro do coração. Para isto muito concorre uma correta vivência litúrgica.
            A fé deve levar a uma observância amorosa das normas da Liturgia, pois tudo precisa ser realizado para a glória divina e bens das almas, favorecendo o recolhimento interior. 
             Para isto contribuem também cânticos adequados, aprovados pela autoridade eclesiástica, bem ensaiados e executados por um coral harmonioso que prime pela arte e pelo bom gosto.  
          *Professor no Seminário Maior de Mariana durante 40 anos.



domingo, 10 de abril de 2016

O CONVÍVIO ENTRE AS OVELHAS E O PASTOR

O CONVÍVIO ENTRE AS OVELHAS E O PASTOR
 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Neste tempo pascal a figura do Bom Pastor traz sempre uma mensagem de fagueira esperança (Jo 10, 27-30). Esta perspectiva irradiante de serenidade se baseia na certeza do imenso amor do divino Redentor para com todos que escutam a sua voz e O acompanham. Ele ressuscitou dos mortos, após o cruento sacrifício do Calvário e continua através de sua Igreja vivo, atuante, protegendo e guiando suas ovelhas para paragens deslumbrantes. Deixou um critério decisivo para distinguir os que Lhe pertencem: “Minhas ovelhas escutam minha voz; eu as conheço e elas me seguem”! Três etapas importantíssimas, a saber, as ovelhas distinguem a voz do Bom Pastor, o qual tem conhecimento delas e, então, numa atitude recíproca ambos caminham juntos numa atmosfera de confidência, de intimidade, de ternura. Davi já havia informado que este Pastor leva para prados verdejantes, a saber, para as delícias de uma eternidade feliz. É preciso, porém, caminhar e não perder de vista este Guia sábio, poderoso e que deu sua vida pelas suas ovelhas. Até chegar, porém, no aprisco definitivo cumpre total fidelidade ao Bom Pastor, Segundo São João no Apocalipse é necessário passar “pela grande prova” (Ap 7,14). A lealdade a Jesus se torna firme apenas para as ovelhas que não escutam as vozes das insídias dos falsos pastores, as aliciações de um mundo materializado, as paixões despertadas pelas forças do mal. O plano, porém, deste Pastor amoroso é conduzir milhares de ovelhas  para as fontes das águas vivas. Na visão joanina, no Apocalipse, se trata de “uma multidão que ninguém é capaz de contar, uma multidão de todas as nações, de todas as raças, povos e línguas” (Ap 7,9). As ovelhas leais não se perderão por mais árdua que tenha sido a caminhada. Eis porque o grande filósofo Henri Bergson afirmou que entre as centenas de livros que ele tinha lido e estudado, nada o tocava mais do que as passagens da Bíblia referentes ao Bom Pastor. Repetia então com o salmista que nada lhe faltava, porque Cristo oferece vida, mas uma vida em abundância. Tem razão o célebre pensador francês, porque Jesus oferece segurança a suas ovelhas, o que é sua característica prioritária. Ele sempre perto delas e elas se sentem amadas e abençoadas. Esta  proximidade transforma a obscuridade em claridade iluminadora. Cumpre às ovelhas serem dóceis e obedientes a este Guia admirável. Disto resulta, como afirmou o bem-aventurado Charles de Foucauld, uma confiança sem limites. Tudo isto explica porque a imagem do Bom Pastor é a mais antiga representação de Jesus na iconografia cristã.  Por entre as incongruências da existência humana nesta terra Cristo, o Bom Pastor, oferece um rumo e toda proteção para vencer os obstáculos e evitar tudo que possa comprometer o seguimento constante nas veredas que Ele indica. O cristão, ovelha fiel de Cristo, proclama altissonantemente com Davi: “Se eu atravesso os vales da morte nada temerei, porque está comigo, tu me guias e confortas” (Sl 22). É que Cristo pode de fato ajudar, proteger, Ele que afirmou: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância! (Jo, 10,10). Infelizes aqueles que O abandonam, trocando-O por falsos guias, por  gurus que se apresentam como salvadores, mas cujas promessas iludem e levam à perdição. Felicidade, porém, somente junto do Bom Pastor. São Paulo nos afiança:” É nele que se ocultam todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Col 2,3). Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 2 de abril de 2016

PESCADORES DE ALMAS

PESCADORES DE ALMAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A pesca milagrosa no lago de Tiberíades oferece uma série de reflexões úteis à religiosidade do cristão. Os discípulos que foram chamados por Jesus eram pescadores e eles melhor do que ninguém poderiam aquilatar o significado do poder divino de Cristo. O prodígio operados por Jesus tinha um objetivo claro que era patentear sua ressurreição e sua divindade, estando Ele revestido de uma capacidade sobrenatural sem limites, podendo revogar inclusive as leis naturais, exercendo uma notável faculdade sobre os elementos físicos. Todas as criaturas estavam a Ele submetidas. São João declarara no princípio de seu Evangelho: “Por Ele todas as coisas foram feitas”. Pedro e seus companheiros pescavam à noite, momento propício para aquela atividade e nada conseguira. Jesus manda- os pescar à luz do sol, em instante nada favorável, mas com resultado surpreendente. Para a mentalidade semita, sobretudo, o poder de mandar sobre o mar e sobre os que nele habitavam era um sinal patente de um poderio singular, divino. Logo no início do Gênesis lemos que “o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. Davi no salmo 92 proclamou: “Mais poderoso que o estrondo de muitas águas, mais poderoso do que as vagas do mar, é poderoso o Senhor nas alturas” (v 4) [...]  “Senhor, nosso Dominador soberano, quão admirável é o teu nome em toda a terra!” (v. 10). Este Deus Onipotente havia sujeitado tudo ao homem, mas o pecado fez com que o ser racional perdesse a sua força primitiva, como bem ressaltaria São Paulo na Carta aos Romanos (8,18-23).Pedro, o pescador de peixes, fracassa, mas Jesus é um vitorioso, porque Ele é o Bem-Amado do Pai, o Unigênito de Deus. Pedro confessa seu grande amor a Jesus e aí já mostra que penetrara fundo na missão do divino Salvador que mais do que dominar as forças da natureza viera para destruir o pecado, a miséria humana, fazendo com que Deus reinasse nas almas dos homens. Apesar de toda fraqueza do homem, Deus o quer associar a Sua obra redentora e Jesus então faz de Pedro, apesar de toda sua miserabilidade, um pescador de homens e, na verdade, o chefe de seu Rebanho. Ele, seus companheiros e seus sucessores deveriam ter sempre em conta que o plano e o método da obra salvadora pertencem unicamente ao desígnio de Deus. Assim como na captura dos peixes, a captura de seres humanos para o Reino do Pai não estaria sujeita à metodologia terrena. O essencial seria o abandono aos desígnios divinos. De fato, a obra missionária da Igreja. sob a orientação dos Papas, sucessores de São Pedro, através dos tempos se tornou uma obra admirável, exatamente, por causa das notáveis intervenções do Onipotente. Dirá o Apóstolo São Paulo que Deus “escolheu as coisas fracas segundo o mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis e desprezíveis segundo o mundo e aquelas que não são, para destruir as que são,  para que nenhum homem se glorie diante dele” (1 Cor 1, 27-29).  Aí está à explicação do fato de um pequeno número de pescadores iletrados terem transformado o mundo. É que neles operava a graça do Alto.  Este modo de agir de Deus vale para todo e qualquer cristão. Na medida em que cada um confia unicamente no poder divino sua vida se transforma e outros são arrastados para junto de Jesus. O tríplice ato de amor de São Pedro tocou o coração de Cristo. O amor é um clamor constante que atrai os favores celestes. Confiar em Jesus e se despojar de si mesmo. Feliz do que pode dizer a Ele: “Senhor tua graça me basta e é ela que vos imploro. Este verá as maravilhas do poder de Deus” Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.