terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

COMUNHÕES SACRÍLEGAS

COMUNHÕES SACRÍLEGAS
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O desejo de comungar deve conduz o cristão a viver em estado de graça, condição elementar para se receber o Corpo de Cristo.
O alerta de São Paulo serve então de diretriz: “Examine-se, pois, a si mesmo o homem e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque aquele que come e bebe indignamente será réu do corpo do Senhor” (l Coríntios 11-28).                                             Aliás,, a Didaqué, o catecismo dos primeiros cristãos, livro do 1o século, declara: “Reuni-vos no dia do Senhor, parti o pão, e celebrai a Eucaristia, depois de terdes confessados os vossos pecados a fim de que o vosso sacrifício seja puro ... Porque o Senhor assim disse: “Em todo lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura”. São Cipriano, no século 2o, chama a comunhão “bebida santificada pelo Santo do Senhor”. E numa de suas epístolas adverte para que não se dê a Eucaristia precipitadamente aos apóstatas arrependidos pois “apesar de ainda não terem feito a penitência, já são admitidos a comungar e, assim, profanam a Eucaristia, isto é, o corpo santo do Senhor”. Não se pode comungar nunca em estado de pecado grave.
 Quem cometeu um pecado mortal, deve parar de receber o Santíssimo Corpo de Cristo até que faça uma boa confissão, Precisa continuar cumprindo o dever da Missa dominical, mas não pode comungar. Procure, logo que possível, recuperar a graça santificante através de uma boa Confissão.
Comungar em pecado mortal é uma falta gravíssima.
 O comungante que cometeu uma falta grave e vai comungar, sem ter se confessado, comete um crime maior que Herodes, diz Santo Agostinho, mais assustador do que Judas, diz São João Crisóstomo, mais terrível do que o cometido pelos judeus, crucificando o Salvador, dizem outros santos.
Hoje, há, infelizmente, uma corrente de falsos teólogos que dizem bastar o ato penitencial no início da
Missa. Isto não é verdade.
 Há, sim, o arrependimento e a purificação das faltas veniais, dispondo o comungante para que faça uma fervorosa comunhão. Quem, porém, não está em estado de graça precisa primeiro passar pelo Sacramento da Penitência, fazendo uma ótima Confissão. Todo respeito é devido à Eucaristia, penhor da Vida Eterna.

Professor no Seminário de Mariana, durante 40 anos.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

BODAS DE OURO MATRIMONIAIS

BODAS DE OURO MATRIMONIAIS
 DE LUIZ CARLOS E MARIA NOÊMIA

Oração Gratulatória proferida pelo Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho dia 22 de fevereiro de 2014 no Santuário Santa Rita de Cássia em Viçosa (MG), na Missa de Ação de Graças concelebrada com cinco sacerdotes.

Cantai a Deus um hino de Ação de Graças (Col 3,16)

Este é o convite que hoje faz o grande Apóstolo Paulo.
Eis, realmente, chegado o grande dia das Bodas de Ouro Matrimoniais do Diácono Luiz Carlos Lopes e Maria Noêmia Ferreira Lopes.
É um acontecimento notável, importante: 50 anos da recepção do Sacramento do Matrimônio!
Fato comemorado na mesma Igreja, no mesmo horário, no mesmo dia da semana, na qual se acham os restos mortais do sacerdote que presidiu a cerimônia religiosa deste enlace matrimonial em 1964, o saudoso Pe. Carlos dos Reis Baeta Braga, um dos construtores deste Santuário.
 Cerimônia presidida pelo mesmo sacerdote que há 25 anos, em 1989, abençoou as Bodas de Prata deste modelar casal, que é honra de famílias ilustres, glória de uma cidade e da Universidade Federal de Viçosa.
É de se notar que alguns padrinhos deste casamento hoje aqui estão presentes: Francisco Carlos Ferreira, Flávio Couto, Lúcia Simonini, Maria da Conceição Rolim Simões e, outrossim, as Damas de Honra Ângela Moura Stock e  Beatriz Moura e o Pajem Paulo de Carvalho. A mesma ilustre pessoa, Lúcia Simonini, que ornamentou a Igreja para o casamento e as Bodas de Prata, também a ornamentou para as Bodas de Ouro!
Tantas coincidências são também sinais de que esta comemoração está repleta de significado e de mensagens preciosas.
50 anos passados, aqui estão os filhos, netos,  outros parentes, afilhados e amigos numa só prece, num só aplauso, numa só manifestação de gratidão pelos exemplos, pelo apostolado, pela irradiação da bondade que apenas a nossa Igreja proporciona.
         Júbilo incontido do Dr. Luis Carlos, notável médico; do Dr. Marco Aurélio, médico veterinário e sua esposa Bretânia, com os filhos Leonardo e Oliver; Dr. Paulo Roberto e sua consorte Eliana, notáveis odontólogos e os filhos Bruno e Diogo; Dr. Sérgio Henrique e Dr. Eduardo José, renomados otorino-laringologistas.
Dia de festa, dia de Ação de Graças!
Prezadíssimos Luiz Carlos e Maria Noêmia, todos que aqui estamos agradecemos a Deus pela vossa vida, pelas maravilhas que o Senhor tem feito por vós – mirabilia Dei.
Não vamos recordar neste momento os pormenores antológicos de uma existência admirável o que exigiria muitas e muitas horas, mas exaltemos todas as vossas vitórias, ofereçamos a Deus todas os vossos sacrifícios, todos os troféus que acumulastes através de uma trajetória luminosa, luzente, lucíflua.
Conhecemos os vossos lauréis no Brasil e nos Estados Unidos, mas só Deus sabe os pormenores e o segredo de todas estas vitórias.
Neste instante basta que nos lembremos de que muito se ufanam os Departamentos de Economia Doméstica, Nutrição e de  Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, nos quais vossas atividades atingiram o ápice da perfeição profissional. Justas as homenagens que através dos anos lhes foram prestadas por esta Universidade como está registrado na internet.
Sobretudo, porém, 50 anos ministrando uma educação primorosa aos filhos e manifestando a todos os parentes aqui residentes ou no glorioso Estado de Goiás, toda atenção, toda solidariedade.
Tudo isto porque sois cristãos profundamente convictos e exemplares.
Os filhos a herdarem tantas virtudes e a manifestarem tal inteligência que ficou célebre o dito de que quando um deles entrava no antigo Vestibular para uma vaga na Universidade no Brasil  uma delas de antemão já estava ocupada.
Hoje mostrais a toda sociedade como a força de um amor bem vivido santifica, purifica, leva a galardões no tempo e na eternidade.
Vós vos espiritualizastes na dileção mútua, porque sempre imersos no amor de Deus.
 Alegrias e dores, júbilo e trabalhos intensos, mas vividos à sombra do poder do Ser Supremo, à luz de suas bênçãos.
Hoje saudamos aqui um Diácono que tem feito um apostolado admirável quer junto dos Vicentinos, quer nos serviços da Igreja, sobretudo presidindo outros casamentos, sendo um dos ministros mais procurados para estas cerimônias.
Já se cunhou até o lema: “O Diácono Luiz Carlos Lopes é um referencial da Igreja Católica em Viçosa”!
Maria Noêmia, a artista de Deus, colocando seus dotes musicais a serviço da Liturgia, embelezando as principais solenidades, exaltando figuras do clero e da sociedade, compositora de peças consagradas, aplaudidas, sobretudo, em Viçosa e Mariana.
Estes são fatos memoráveis que neste dia se relembram mostrando a relevância desta comemoração.
Hoje lá no céu dois grandes Arcebispos de Mariana que visitaram tantas vezes este casal exemplar, D. Oscar de Oliveira e D. Luciano Mendes de Almeida, estão também se rejubilando  por este 22 de fevereiro de 2014., sendo que D. Luciano presidiu a comemoração dos 40 anos deste Casamento.
Neste dia o Sacramento do Matrimônio é, de fato, glorificado diante de um mundo que desconhece o verdadeiro amor. 
Pela vossa experiência estais a dizer a todos que o verdadeiro amor existe, mas que ele deve ser alimentado com realizações fulgurantes como estas aqui hoje recordadas.
Lançando o vosso olhar sobre 50 anos passados podeis dizer com São Paulo que o amor é paciente, serviçal, generoso, desinteressado. Que a verdadeira dileção perdura sempre.
No agradecimento especial a Deus nesta cerimônia se incluem tantas consolações como as vitórias de vosso filhos em profissões tão importantes para o Brasil e os Estados Unidos.
Continuai revestidos deste amor que vos trouxe a 50 anos atrás ao altar do Senhor, amor que foi crescendo dia a dia iluminando a sociedade e mostrando que a verdadeira dileção é possível para almas nobres que nunca fazem pactos efêmeros.
Estareis deste modo irradiando a essência, a quididade da Boa Nova que Jesus oferece a toda a humanidade.
Verdade esplêndida que São João aprofundou no seu Evangelho. Aí se patenteia que Cristo, o Salvador, é a revelação viva do amor do Pai, nele estando a plenitude deste amor eterno Ele que pôde então preceituar como seu mandamento maior “Amai-vos uns aos outros”.
Eis o segredo do dinamismo desta vida admirável que ostentais no grêmio da Igreja, na concretização do alerta do Mestre divino:”Vós sois sal da terra, luz do mundo” (Mt 5, 13 e ss).
Que então a palavra de Cristo, a pessoa de Cristo continuem habitando em vossos corações.
São Paulo aconselhava: “Cantai a Deus um hino de Ação de Graças (Col 3,16) e esta recomendação, de fato, calha peculiarmente nesta Missa gratulatória na qual se fez esta maravilhosa recapitulação de alguns dos feitos de duas  existências pautadas no amor a Deus, aos filhos, noras e netos, parentes e amigos, numa fidelidade e dedicação admiráveis ao Evangelho.
Por tudo isto deixamos junto do Altar os votos de que longa prossiga a vossa vida, bem além  das bodas de diamante, a serem
comemoradas daqui a dez anos.
Gratias agimus tibi, Domine – Nós vos damos graças ó Senhor, pelas maravilhas que realizais em Maria Noêmia e Luiz Carlos, faróis de sua família, baluartes da Igreja, fiéis epígonos de Cristo, apontando a muitos os caminhos da verdade e da virtude, porque suas vidas estão fundidas, solidificadas nos bronzes do Evangelho!
Obrigado, Senhor!




segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

SEDE PERFEITOS

SEDE PERFEITOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Esta foi a determinação dada por Cristo a seus seguidores: “ Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!” (Mt 5 ,48). Ao cristão, como, aliás, a todo ser racional, cumpre ser testemunha do Invisível e do Inefável, ícone da santidade de Deus que é a fonte e a razão de ser de toda perfeição.  A busca da santidade não um projeto utópico. Trata-se de orientar para Deus todos os movimentos e as raízes do ser humano. Tal a ordem divina no Antigo Testamento: “Sereis santo para mim, porque eu, o Senhor, sou santo” (Lev 20,26).  Jesus, exatamente, veio a este mundo para ensinar a ser santo, por ser Ele o santo por excelência, como proclamara o Profeta Isaías: “O Santo é o seu nome” (Is 57,15). O Verbo de Deus se encarnou, tomando uma alma e um corpo humanos para traçar os caminhos da perfeição, Ele o santo, o verdadeiro, como fala o Apocalipse (Ap 3,7). A Segunda Pessoa da Trindade Santa, fazendo-se carne e habitando entre nós quis, assim, santificar a natureza humana, não para se conservar isolado nessa Santidade única, mas para fazer dela participantes os seus irmãos. Os cristãos seriam santos “em Cristo Jesus”, expressão tão usada por São Paulo. Estariam incorporados Àquele que assim saudamos: “Só vós sois Santo, só Vós sois Senhor, só Vós, o Altíssimo, Jesus Cristo”. No momento do batismo se torna o fiel membro de Cristo que o faz compartilhar de Sua própria morte para, ao receber a água batismal, inseri-lo no processo de sua gloriosa ressurreição. É a vida nova de que fala São Paulo aos romanos (Rm 6,4-11). É lógico que o batismo não age como uma operação mágica que transformasse o batizado sem exigir dele seu esforço para uma transformação integral. Com efeito, incorporado ao divino Salvador, partícipe de Sua santidade, terá que viver como Cristo, ou seja, animado por Seu espírito, numa identidade total a Ele. Foi o que aconteceu com o Apóstolo: “Já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20). É preciso, então, que se tenha consciência desta união com Jesus, o que alertou São Paulo: “não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo”? (1 Cor 6, 15). Na prática, é preciso então ao cristão dominar “a carne”, ou seja não apenas as paixões lascivas do corpo, mas também os movimentos desregrados da alma. São Paulo aos Gálatas detalhou  que isto significa, ou seja, fornicação, impureza, desonestidade, luxúria, idolatria, malefícios, inimizades, contendas, ciúmes, iras, rixas, discórdias, partidos, invejas, homicídios, embriaguez, orgias e outras coisas semelhantes” e acrescentou claramente: “quem as praticarem não herdarão o reino de Deus”. Os que agem segundo o espírito de Jesus possuem a caridade, o gozo, a paz, a paciência, a continência, a castidade”.  O Apóstolo acrescentou o meio para que se evite tudo que mancha a alma e esta possa cultivar os frutos espirituais: “Os que são de Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências” (Gl 5, 15-25). Deve-se então concluir que sem o domínio do corpo não há santidade e esta não existe sem  passar pela cruz. Quem quiser ser perfeito tem que se mortificar, mas esta mortificação deve ser necessariamente fruto de um grande amor a Jesus Cristo. Isto porque a vida sem pecado, ilibada, é apenas um aspecto negativo da santidade. De fato, ações positivas só podem fluir da dileção Àquele que é o caminho, a verdade e a vida e que se imolou no Calvário levado pelo seu imenso amor pela humanidade. Foi o que lembrou São João: “Ninguém tem maior amor, do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15,13). Portanto, a perfeição consiste em amar  como Jesus amou. Amar é preferir. É sacrificar suas preferências para aderir o seu Senhor. É envolver na dileção mais profunda os irmãos. Como isto se dá no cotidiano, foi minudenciado pelo Apóstolo: “A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não se ufana, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas alegra-se com a verdade Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13,4-7). Esta deve ser a trajetória dos membros do Povo Santo de Deus e é a única maneira de se obter a salvação eterna. Não existe distinção entre ser salvo e ser santo. Tudo isto leva à edificação do Corpo Místico de Cristo, como ensina ainda São Paulo, “até que alcancemos todos  nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de homem perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4,13). Para isto  é necessário abrir a porta do coração a fim de receber Jesus, aceitando de bom grado suas advertências secretas  ou evidentes, quando desta forma  o cristão passa a realizar aquilo que deve fazer.  Jesus com ele e  ele com Jesus através da luz de sua presença, progredindo cada vez mais no desejo das coisas do alto  e deixando que Ele alimente os anseios celestes dentro de cada um. Isto supõe coragem, determinação. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

SEJA O VOSSO "!SIM'", "SIM"; O VOSSO 'NÃO", "NÃO"

SEJA O VOSSO SIM, SIM
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus ensinou: “Seja o vosso “sim”, “sim”, o vosso “não”, “não”. Ele convidou então o seu seguidor a viver na verdade em todas as ocasiões. Trata-se de se adaptarem o pensamento, atos e palavras à realidade em si. A Verdade Suprema é Deus, a Verdade Absoluta. Assim sendo, aquele que vive sua vida, conformando-a com a vontade divina, este é um ser humano autêntico. Praticar os mandamentos é manifestar coerência na existência, porque se alguém diz que tem fé no Criador e não adere ao que Ele preceituou quer a simbiose do “sim” e do “não”. É um refinado fingimento existencial. Eis porque o Papa Francisco, ao celebrar a Missa na Capela da Casa Santa Marta, dia 4 de junho de 2013 demonstrou que há uma “maneira de falar cristã”, isto é, “sem impostura”, “como uma criança, na verdade do amor”. A falsidade, segundo o Chefe da Igreja é satânica Segundo ele, a linguagem dos corruptos é uma linguagem de simulação, pois parecem pessoas dignas, mas seus atos são calamitosos para a sociedade. Verifica-se uma persuasão diabólica. Jesus sempre se indignou diante da hipocrisia e era franco perante os fariseus e os chamava claramente de hipócritas, sepulcros caiados. Aliás, escribas e fariseus execravam a Cristo exatamente porque odiavam a verdade. Eles eram embusteiros. É o que acontece com tantos políticos que se dizem defensores do bem público, mas o dilapidam, desviando verbas e aumentando o próprio patrimônio. O mesmo se diga de tantos cristãos que se mostram como pessoas piedosas, mas cometem as ações mais indignas. Não vivem o que professam crer. Testemunhar a verdade é fazer com que a vida esteja de acordo com o que Deus preceituou e Jesus veio pessoalmente ensinar. O carisma do batizado precisa transparecer nas suas ações. É  o  viver na verdade, praticando continuamente obras de justiça e de dileção a Deus e ao próximo. É ensinar a todos a serem artesãos da paz. É praticar o que Jesus falou: “Seja o vosso “sim, “sim”.  Deste modo, se pode perceber que a Verdade liberta (Jo 832). Tudo isto porque a noção da verdade não é simplesmente de ordem intelectual, mas ela precisa envolver toda a existência do ser racional. Assim sendo, há necessidade de uma identificação daquilo que se diz com aquilo que se pensa e faz. As palavras não devem ser utilizadas para seduzir o próximo, como meio para enganá-lo. A verdade deve iluminar todas as ações, fruto de uma lógica interior que esplende em todo e qualquer procedimento.  Além de tudo isto, cumpre a cada um dizer o “sim” a si mesmo e não estar a se iludir. Muitos não se conhecem e a grande máxima inclusive da filosofia greta é esta: “Conhece-te a ti mesmo”.  Aí está a razão pela qual muitos se julgam superiores aos outros ou usam de uma máscara interior  para se passarem como santos e perfeitos, embora o seu interior se pareça com uma árvore carcomida. Deste modo, para que não haja mistura do “sim” e do “não” é preciso um olhar sincero para o interior da própria consciência. Depois, cumpre um olhar profundo para Deus para que o olhar de cada um coincida com o olhar divino. Tudo que fugir disto é mentira e o pai da mentira, segundo Jesus, é satanás (Jo 8,44). O cristão para quem o “sim” é “sim” e o “não”, “não”, evita transigir com a falsidade. Unindo-se a Cristo que é “Caminho, Verdade e Vida”, o batizado vive e age na Verdade. Por tudo isto, descobrir a verdade é encontrar o autêntico segredo da vida humana coerente. Nunca se pode, portanto esquecer que a verdade  e a  vida não podem ser separadas. Não é possível viver entre o “sim” e o “não”. Muitos preferem viver no claro-escuro, sem procurar de fato a luz sobre sua própria existência. São João advertiu que aquele que é da verdade vem para a luz (Jo, 2,21). Aderir à verdade na perspectiva cristã não se limita a uma adesão expressa meramente pelos lábios, mas em ser e agir de conformidade com a mensagem do Evangelho, numa projeção sincera para Jesus, deixando-se animar pelo seu espírito. Este sacerdote, certa vez, escutou de uma pessoa engajada numa certa pastoral este absurdo: “Eu sou metade de Cristo, metade do diabo”. Quantos também têm o desplante de comungar em pecado mortal, profanando o Sacramento da Eucaristia! Estas pessoas jamais entenderam o que Jesus ensinou “Seja o vosso “sim”, “sim”; o vosso “não, “não”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

SER FIEL A DEUS

SER FIEL A DEUS
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Fidelidade a Deus significa lealdade, correção, confiança na relação inter-pessoal, porque Ele é fiel, como bem, lembrou São Paulo aos Coríntios: “Fiel é Deus que vos chamou à comunhão de seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Cor 1,9). Aos Tessalonicenses ele ensinou a mesma verdade:  “É fiel aquele que vos chama e realiza as suas promessas”  (1 Tess 5,24). O  caminho da fidelidade ao Ser Supremo de quem tudo se recebe é o caminho do amor, da confiança, da misericórdia e da humildade. Muitas vezes se esquece que cada alma é um mundo único repleto de maravilhas, dado que o Senhor Onipotente não repete suas obras primas. O mesmo Apóstolo mostrou que “uma estrela difere da outra em brilho” (1 Cor 15,41). No que tange à alma de cada um, esta realidade é ainda mais impressionante. É o que se contempla na existência dos santos, modelos de fidelidade às graças divinas. Eles escancararam as portas de seu coração à influência do Espírito Santo e maravilhas ocorreram em suas existências.  Isto continua acontecendo através dos tempos na vida de todo verdadeiro cristão.  A fidelidade, porém, não se manifesta em ações espetaculares, mas nas atividades diárias, muitas vezes despercebidas dos outros. São, entretanto, valiosíssimas diante do Senhor Onipotente. Nos mil pormenores do dia a dia é que se demonstra a lealdade para com Ele. Claras as palavras de Cristo: “Aquele que é fiel nas pequenas coisas o será também nas grandes” (Lc 19,16).  Razão tem o Mestre divino, porque no que diz respeito à perfeição que o seu discípulo deve sempre almejar, tudo tem uma importância capital. O desejo de fazer e sofrer grandes coisas é quase sempre uma ilusão do amor próprio, efeito de uma presunção condenável. As grandes coisas, as grandes ocasiões da virtude raramente se apresentam. As pequenas coisas se oferecem a cada instante.  As grandes coisas supõem  da parte de Deus graças proporcionadas, Entretanto, para merecer e obter as grandes graças, as graças especiais, é preciso ter sido antes fiel nas pequeninas tarefas cotidianas. Trata-se de viver em plenitude o momento presente.  Embora todo perfeccionismo, ou seja, tendência obsessivamente exagerada para atingir a perfeição na realização de alguma tarefa, deva ser evitado, contudo, todo esforço precisa ser empregado para bem viver cada minuto que passa, sem malbaratar o tempo precioso que Deus concede. É aí que se situa a fuga das obrigações imediatas o que ocorre sobretudo no contexto atual. Numerosos são aqueles que passam horas e horas em frente à televisão, ou nas ligações telefônicas inúteis, ou nas redes sociais da internet. Adite-se que a própria oração pode se tornar uma fuga do dever. Aqui vale bem o ditado: “Primeiro a obrigação, depois a devoção”, embora qualquer atividade feita na presença de Deus e com a reta intenção de O agradar já seja, em si, um grande  louvor ao Criador. A vida do cristão supõe coragem, determinação para a exata fidelidade exigida na ordem dada por Cristo: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito”. Não é fácil morrer a todo momento a si mesmo para seguir continuamente  a inspiração da graça e fazer cada coisa com toda a perfeição possível sem nunca relaxar. Como grande é a fragilidade humana, é preciso saber conviver com as falhas que um bom exame de consciência à noite lembra ao fiel. Uma prece humilde sobe então até Deus: “Cobri, Senhor, os abismos de minha debilidade”! Quem assim procede ganha infalivelmente o coração de Deus, atrai ainda mais sua ternura, seus favores. Tal cristão se dispõe deste modo para, quando a Providência assim o determinar, suportar grandes coisas, pois estará preparado para os atos mais heróicos num desapego total do que é efêmero, passageiro, ilusório. Desta maneira, nunca se perde a Deus de vista e a inquietude não se apossa daquele que corresponde a tudo que a inspiração divina lhe pede.  O amor de Deus quer de fato uma santa liberdade, fruto da disponibilidade de Lhe ser fiel em tudo. Aos poucos a alma forma insensivelmente um hábito de agir em tudo pelo instinto de Deus. Disto resulta então o repouso tranquilo na plenitude do momento presente, afastada agitação quer exterior, quer interior. A fidelidade se torna a respiração natural da alma e o cristão atinge aquela postura iluminada que caracteriza os que assim se entregam totalmente à ação divina. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

MODÉSTIA CRISTÃ

A MODÉSTIA CRISTÃ
 Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um dos termos relegados pela sociedade de hoje, mas tão prezado pelo cristianismo através dos tempos, por causa do bom comportamento que induz, é a modéstia. Em tempos de permissividade ela soa como algo demodé, retrógado.  Na linguagem de muitos jovens ser modesto é uma atitude “cafona”. Segundo a mentalidade altamente contestável, a quebra de tabus levou a uma liberalização que jogou por terra antigos padrões. Por força deste modo de pensar, os meios de comunicação social abriram todas as comportas da licenciosidade. Atropelam o pudor. Descaradamente apresentam as cenas mais obscenas e, ainda estes dias, uma novela apresentou uma jovem inteiramente despida. Isto, evidentemente, é pecado grave. Perdido o senso do pecado e o prudente receio das graves seqüelas do desprezo da ordem ética estabelecida pelo Ser Supremo, sem perceber, o ser racional se torna então escravo dos sentidos, súdito do prazer, servo da concupiscência da carne e dos olhos, vítima da sensualidade. As inclinações desordenadas se impõem de tal forma que a modéstia foi banida, dando lugar à idolatria do sexo. Resultado disso é a agressividade que impera, pois o recato, em si, oferece uma ocasião a menos para os crimes sexuais. Quando alguém se veste de tal forma que é para levar outros ao pecado, já cometeu uma falta grave. O  melhor modo de vestir para servir à Deus é ter consciência de que o cristão é o templo vivo da Santíssima Trindade. Quando São Paulo dava esta recomendação aos filipenses: “Que a vossa modéstia seja conhecida de todos os homens” (Fl 4,4), ele tinha uma visão abrangente, ou seja, se referia àquela postura impregnada de respeito, condizente à sisudez, à prudência, à seriedade, à gravidade de porte, a um modo de se vestir digno de um batizado, a uma mundividência peculiar do cristão. O pudor, a compostura devem ornar os discípulos de Cristo. Muitos indagam porque as mulheres não usam o véu atualmente. De plano seja dito que o Código de Direito Canônico preceituava: “Os homens, na Igreja ou fora dela, enquanto assistem aos ritos sagrados, devem trazer a cabeça descoberta, a não ser que os costumes aprovados do povo ou circunstâncias peculiares determinem de outra maneira; as mulheres, no entanto, devem trazer a cabeça coberta e estarem vestidas de forma modesta, especialmente quando se aproximarem da mesa da comunhão”. O novo Código de Direito Canônico de 1983 não contém esse preceito. Donde se pode concluir que as mulheres são livres para usarem o véu na Igreja, mas não são obrigadas a fazê-lo. É de se notar que nunca foi proibido ou abolido o uso do véu. O costume de os homens descobrirem a cabeça dentro da Igreja sempre se manteve por toda parte. Eis porque não fica bem a um jovem usar, por exemplo, boné no templo sagrado ou em qualquer cerimônia litúrgica e,muito menos, entrar de bermuda na Igreja. Além disto, fica de pé também a diretriz da modéstia para as mulheres que não devem trajar vestes inconvenientes, decotadas, sobretudo, dentro das igrejas e, muito menos, ao receberem a Comunhão. A modéstia leva o cristão a um grande respeito para com a Eucaristia e, mais do que a veste exterior decente é preciso a graça santificante, para se receber a Comunhão e jamais se pode comungar em pecado mortal (1 Cor 11, 27).  Adite-se que ao se ler o que diz São Paulo sobre o véu (1 Cor 11,4-13)  não se deve nunca confundir  princípios essenciais com costumes, pois aqueles são perenes, estes passam.  Cabe, porém, unicamente ao Magistério da Igreja interpretar a Palavra de Deus e orientar os fiéis, como está na Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Ecumênico Vaticano II  (n.10)  Não se deve nunca esquecer que a modéstia é um  dos frutos do Espírito Santo (Gl 5, 22 ss, na Vulgata). O Livro dos Provérbios exalta a modéstia “O prêmio da modéstia é o temor do Senhor, as riquezas, a glória, a vida” (Pv  22,4). São Paulo lembrava aos Coríntios a modéstia de Cristo (2 Cor 10,1). Na carta a  Timóteo assim se expressa: "Do mesmo modo, quero que as mulheres usem traje honesto, ataviando-se com modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos penteados, ouro, pérolas, vestidos de luxo" (1Tm 2,9).
São Tiago assevera  que “a sabedoria que vem do alto primeiramente é pura, depois pacífica, modesta, condescendente” (Tg 3,17). Em doze outras belíssimas passagens das Escrituras o modesto é exaltado, revelando assim o Livro Santo a importância desta postura resultante do contato com Deus. É de se notar ainda que usar óculos na cabeça é simplesmente brega. Dentro da Igreja é ainda mais ridículo.  Só é livre quem não se deixa escravizar pela imoderação, pelo descomedimento. Eis aí a sina feliz do cristão verdadeiro. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

TEMPO E ETERNIDADE

TEMPO E ETERNIDADE
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No tempo presente neste mundo cada um delineia o seu destino eterno. A vida humana se desenrola como imensa tela. Todos os acontecimentos, circunstâncias e instantes devem ser passados em função do que ocorrerá no final da trajetória terrena. Muitos, infelizmente, passam seus dias sem se preocupar com o que ocorrerá após a inevitável morte. Santo Agostinho exclamava: “Ó eternidade, ó eternidade! Quem pensa em ti e não se converte a Deus, perdeu a razão ou a fé”. Os bons cristãos, porém, procuram corresponder sempre à ação de Deus que a cada instante santifica a alma que nele confia. Tudo procuram fazer a seu alcance para crescer na santidade. Isto porque quem é prudente jamais se esquece de que Deus é o principio de seu ser e o fim de sua existência. Faz não a própria vontade, mas se adapta ao querer divino na alheta do que está na oração ensinada por Jesus na qual assim se dirige cada um ao Pai: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. Regozija-se nos instantes de lazer, mas sabe carregar a cruz de cada dia sem murmurar contra o seu Senhor. O que conta são os desígnios divinos, pois tudo está previsto e regulado pela Providência de um Pai amoroso. Alguns desavisados querem impor condições a Deus. Procuram transformá-lo num poderoso banqueiro e querem estabelecer com Ele um negócio, um contrato bilateral. Ao invés de procurar se aprimorar espiritualmente, por ver na prática da virtude em si o segredo da felicidade, cobram do Ser Supremo ajuda especial em paga da observância de seus sagrados mandamentos. Eis por que, quando  na sua sabedoria Deus envia qualquer provação, surge a revolta e a paz interior se esvai. Conquistam, porém, o coração de Deus as almas desinteressadas que nele confiam inteiramente ainda que Ele exija sacrifícios necessários para o crescimento no seu amor. Quem, contudo, acredita em Deus afasta toda pusilanimidade, caminha sem temor trilhando as rotas da perfeição cristã. Reconhece então que cada ser humano é uma obra prima que saiu das mãos poderosas do Criador. Sabe por isto valorizar tudo que dele se recebe a cada instante. Desta forma, alegrias e tristezas, êxitos e revezes, consolações e instantes de desilusões, esperanças e temores, tudo fica sobrenaturalizado. O agir divino, para santificar os cristãos de boa vontade, não conhece limites. Donde o conselho do salmista: “Confia ao Senhor os teus cuidados e ele te sustentará. Não permitirá que o justo vacile” (Sl 55,23).  Este pensamento desembaraça, liberta das ansiedades, estabelece uma santa liberdade e leva a uma tranquilidade total e se torna fonte daquela imperturbabilidade que só o justo degusta. É que a graça escoa na alma como um arroio sereno, irriga-lhe as faculdades, penetra nos sentidos, impregna todos os atos de quem está unido a Deus. Para provar a fidelidade de cada um, Ele permite que, por vezes, a alma fique sem vigor, as paixões se rebelem, a turbulência interior apavore. É o momento em que o cristão não se deixa abalar e sabe que, após a tempestade virá a bonança, e que, com o auxilio de Deus, as dificuldades serão superadas. Todos os santos conheceram estes instantes nos quais a face sorridente de Deus parece ter se ocultado, mas não desanimaram e continuaram firmes longe de tudo que pudesse conspurcar sua vida batismal. Nos instantes difíceis, contudo, há cristãos que vão se refugiar erroneamente nos programas televisivos a serviço do mal, não fugindo das ocasiões que poderiam levar ao pecado. Esquecem-se que as consolações do céu virão, mais hora, menos hora, recompensar quem teve confiança inabalável no Todo-Poderoso e não procurou ilusões terrenas.  É que, sabiamente, o autêntico  cristão não tenta sondar as profundezas do mistério divino, mas se conforma aos planos de um Pai que visa sempre o progresso de quem lhe é fiel. Com efeito, nas mãos de Deus o batizado deve ser maleável, para que os defeitos se transformem em virtudes. Deus burila cada alma dócil como se fosse a única no mundo. Reserva-lhe então os seus mais belos adornos, enriquece-a, torna-a bela e formosa no tempo presente para que possa depois fulgir na eternidade. Todas estas reflexões só têm valor para aqueles que estão realmente convencidos do que disse o Apóstolo: “Não temos aqui morada permanente, mas buscamos a futura” (Hb 13,14). Felizes, portanto, os que já procuram morar na casa da eternidade, usufruindo no tempo presente todos os dons de Deus, todas as maravilhas que Ele espalhou por toda parte, mas fazendo sempre de tudo degraus para se chegar à Casa do Pai. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




sábado, 1 de fevereiro de 2014

A alma, filosofia e a fé

Viçosa, 2 de fevereiro de 2014-02-01

Prezado Coronel Tancredo Bruno Porto,

Saudações!

Recebi a correspondência do ilustre amigo e eis as respostas? 
Jesus ressuscitou imortal e impassível após ter com sua alma estado na mansão dos mortos, dando a todos do Antigo Testamento, que foram justos, a Boa Nova de que os céus estavam abertos para os acolher por causa da Redenção do Calvário.
Após sua Ressurreição seu corpo glorioso não estava mais sujeito ás leis naturais, tanto que está no Evangelho que ele entrou onde estavam os discípulos, embora as portas estivessem fechadas (Jo 20,1931)..
O Corpo de todos os falecidos só serão de novo  unidos à alma após o Juízo Final e será um corpo espiritual, pneumático conforme bem explicou São Paulo (1 Coríntios 44-54).
A Filosofia inclusive mostra a importância disto, pois pessoa humana é um corpo informado por uma alma.
Antes do Juízo Final a alma separada do corpo não é pessoa humana, mas alma de alguém que foi pessoa humana e que tornará a ser pessoa humana no dia do Juízo final. A alma já está ou no céu, ou no purgatório ou no inferno de acordo com que a pessoa humana nesta terra fez por merecer.

Atenciosamente

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho


Post scriptum


A ALMA, FILOSOFIA E FÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A alma é o princípio de vida e vida é um movimento imanente, ou seja, independente de ação exterior. Distinguem-se três graus de vida: a vida vegetativa (plantas), a vida sensitiva (animais) e a vida racional (homens), as quais têm por princípios, respectivamente, as almas vegetativa, sensitiva e racional. O homem, porém, não possui três almas, embora tenha as potências vegetativa, sensitiva e racional, assim como os animais não possuem duas almas, vegetativa e sensitiva.A alma superior assume as funções dos graus inferiores: a alma do animal é, ao mesmo tempo, vegetativa e sensitiva; a alma humana é, ao mesmo tempo, vegetativa, sensitiva e racional. As funções vegetativas e sensitivas não ultrapassam o nível do corpo e a alma, que é seu princípio, se acha unida indissoluvelmente à matéria, Assim sendo, decomposta a matéria, tais almas desaparecem. A alma humana, contudo, é na sua existência independente do corpo e subsiste após a dissolução do organismo corporal. A alma humana é uma substância simples e espiritual. A inteligência, pelas idéias, conhece imaterialmente as coisas corporais e seu ato, que nada tem de material nem de quantitativo, não procede de uma faculdade orgânica. Os brutos não têm idéias. A alma espiritual é uma substância simples e, por isto, não se  decompõe com a morte, o que acontece com o corpo. As operações da inteligência e da vontade que são faculdades da alma humana, provam sua espiritualidade. Com efeito, a inteligência pelas idéias conhece imaterialmente a essência das coisas corporais e seu ato, nada tem de material, de quantitativo. A vontade tende ao bem imaterial e infinito, deseja os bens espirituais, anseia pela virtude. Ora, tudo isto só pode provir de uma faculdade espiritual. Um dia o corpo ressuscitará, como cremos pela fé (João capítulo 11). A Filosofia que prova, pela luz da razão, a imortalidade da alma, confirma apenas a conveniência da ressurreição, uma vez que a alma separada do corpo não é pessoa humana. Pessoa humana é um corpo informado pela alma e uma alma que informa o corpo. Segundo a fé o corpo ressuscitado terá características próprias. Eis o texto de São Paulo: “Semeia-se o corpo  (corruptível), ressuscitará incorruptível. Semeia-se na ignomínia, ressuscitará glorioso; semeia-se inerte, ressuscitará robusto; é semeado um corpo animal, ressuscitará um corpo espiritual” (1 Cor 15, 42-43). Todo o capítulo quinze da primeira Carta aos Coríntios versa sobre a ressurreição de Jesus e a de seus epígonos. A imortalidade da alma que voltará a informar um corpo glorioso consiste nisto que a alma continua a existir após a morte, conserva sua individualidade e sua sobrevivência é ilimitada. A fé exclui de plano a imortalidade panteística segundo a qual a alma humana constitui com Deus uma única e mesma substância, o que significaria o aniquilamento da personalidade. A imortalidade da alma é exigida pela justiça divina, que supõe prêmio para a virtude e punição para o vício. Há, além disto, no profundo do ser humano uma aspiração profunda pela imortalidade, contida neste desejo recrescente  de conhecer a Verdade absoluta, de possuir o Bem Supremo e uma felicidade completa.  Deus, sabedoria infinita, não iria, de fato, fraudar tal anelo, nem destruir a alma que Ele criou espiritual. Todas estas reflexões enchem de júbilo o ser racional que caminha num vale de lágrimas para uma ventura sem fim junto ao Ser Supremo. Cumpre, então, a quem tem fé, viver santamente, pois Jesus foi claro: “Entrai pela porta estreita porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” ( Mt 7.13)) * Professor no Seminário de Mariana- MG.





ENTREGAR-SE A DEUS

ENTREGAR-SE A DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A união espiritual da alma em estado de graça com Deus é sempre fruto de uma fé profunda. Surge então uma reciprocidade de amor que envolve numa imperturbabilidade absoluta, fruto de uma total entrega da criatura a seu Criador. Este, sendo a fonte do amor eterno, submerge o ser criado numa felicidade imensa, imunizando-o de todo e qualquer temor. Para se atingir este ideal cumpre, antes de tudo e sobretudo, uma completa pureza interior, segundo o que ensinou o Mestre divino, Jesus Cristo: “Bem-aventurados os puros porque eles verão a Deus”. É claro uma visão não com os olhos do corpo, mas pela contemplação do espírito. Trata-se da efusão da Santíssima Trindade que habita no íntimo do verdadeiro seguidor de Cristo: “Se alguém me ama, meu o amará, viremos a ele e faremos nele nossa morada”.  Então o fiel transforma todas as suas ações em atos de amor. Pela manhã, ao se levantar, diz na sinceridade uma prece intensa: “Senhor, tudo que eu fizer neste dia é para a vossa maior honra e glória”. Todas as ações ficam, deste modo, sobrenaturalizadas, o que não significa que não haja as provações. Estas exatamente vêm para provar a realidade do oferecimento matinal. Deus, porém, é sempre um admirável companheiro de jornada. Certa feita, por entre grandes tribulações Santa Teresa de Ávila, após as suportar, indagou a Cristo: “Onde estáveis, Senhor, enquanto eu estava submersa em angústias,  inúmeras agitações a minha volta” – Teresa, respondeu Jesus, estava bem dentro de teu coração para a ajudar a triunfar destas provações”. Todas estas reflexões mostram o que vem a ser viver na presença de Deus e como usufruir das luzes divinas, o que torna o batizado um iluminado. É preciso, contudo, ficar atento às inspirações do Divino Espírito Santo  que afasta um perigo, previne uma queda, inspira uma aversão para as ilusões terrenas.  Por vezes, Deus parece se afastar e se retira bem para o interior da alma, mas isto para que ela sinta a sua aparente ausência.  Ele quer purificar o amor de ligas estranhas. Deus deseja sempre corações vazios de si mesmos para os plenificar de seu Amor sublime, abrasando quem O ama com o fogo de sua dileção maravilhosa. Eis porque o cristão, desta maneira, foge das futilidades, temendo sempre perder a dileção divina por qualquer negligência sua. Entretanto, para ajudar o ser humano, tão envolto no sensível, o cristão tem na Eucaristia um meio para se afervorar e se imergir na fornalha de amor  infinito que é o Coração de Cristo eucarístico. Este Coração purifica, transforma e diviniza o coração humano pelo fato mesmo de aumentar a graça santificante. Assim se abrem novos espaços para a Santíssima Trindade dentro alma. A Eucaristia, além disto, fortifica e premune o fiel contra todo pecado. As ocupações diárias, as contrariedades, os sofrimentos, os menores incidentes da vida se tornam propícios para o crescimento na fidelidade a Deus. Aí está a razão pela qual uma alma sempre unida a Deus  leva o cristão a ser afável, polido, caridoso, pontual nas suas obrigações, pouco se importando o com o juízo dos homens.  Contudo, o amor desinteressado do verdadeiro cristão forma-se gradativamente. A graça tende a desenvolver, a purificar o fiel de toda mescla de amor próprio. Faz reconhecer que o caminho da virtude é árduo e são necessários anos para se atingir a meta da perfeição. Por isto mesmo, o cristão nunca se fixa nos seus defeitos, mas persevera sabedor de que somente Deus é o Ser sumamente Santo. Neste mundo todos vivem sob o véu do mistério, mas cobertos pela sombra da fé. Deus reserva a eternidade para desvendar a cada um tudo em que se acreditou neste mundo todo o bem que tenha praticado.  O que importa é cada um se dedicar com todos os ardores do coração, com toda a energia da vontade, com todas as luzes e recursos da inteligência na procura da união com Deus. É estar à disposição do Ser Supremo em qualquer lugar seja em casa, seja em outros locais de trabalho, seja nos momentos de diversão, seja na praça pública, seja onde for, levando uma vida inteiramente agradável a seu Criador. Dá-se o que falou Elisabeth Leseur: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”!  O verdadeiro cristão tem, portanto, o mundo em suas mãos!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO

SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
É de se notar que Jesus se dirigiu aos seus discípulos não dando uma ordem “sede sal da terra [...] sede luz do mundo”, mas afirmando “Vós sois o sal da terra [...] Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13 e ss). Tais palavras devem ter desconcertado pobres pescadores e demais ouvintes que O cercavam. Entretanto, a veracidade de tais assertivas, com toda a densidade da realidade que continham, vem da relação com Ele que era a verdadeira Luz do mundo. São João registrou estas palavras do Mestre divino: “Aquele que me segue não caminhará nas trevas e terá a luz que conduz à vida” (cap. 8). Adite-se que no prólogo do Evangelho joanino se lê: “Nele (o Verbo Encarnado) estava a vida. A vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam” (Jo 1,1). Não se trata da vida terrena, que conduz à morte, mas da vida mesma de Deus, da vida eterna. A vida é luz, isto é, plenitude de luminosidade em contraste com as trevas do mundo. Mundo este submetido à vaidade e privado de sentido quando deixa de refletir a presença de Deus. Tal a missão do discípulo de Cristo ser luz nas trevas desta terra, porque está sempre unido àquele que é o fulgor eterno. Através das boas obras do cristão o mundo fica iluminado, envolto em clarões celestiais. Então o Pai que está nos céus é glorificado. Entretanto, Jesus acrescentou que seu epígono é sal da terra. O contrate entre as duas imagens é muitíssimo significativa. Com efeito, quando se acende uma lâmpada, ela não é colocada debaixo de um móvel, mas num candeeiro, posto no alto. O sal, ao contrário, é escondido na terra ou misturado nos alimentos. Isto leva a refletir sobre a complexidade do testemunho dos discípulos de Cristo no mundo. De fato, Jesus também recomendou: “Guardai-vos de praticar vossa justiça aos olhos dos homens [...] Que tua esmola fique secreta” (Mt 6,1 e ss). Portanto, o batizado dever ser luz brilhante e sal que se oculta através da humildade pela qual age discretamente, mas eficientemente no contexto social. Luz e sal duas realidades que fazem a originalidade do cristão. Que responsabilidade a daquele que se diz seguidor de Cristo! Dele depende o reconhecimento da grandeza do Evangelho. Se o cristão é luz e sal da terra e emprega todas as estratégias possíveis oferecidas pelas diversas pastorais então, sim, a obra redentora se difunde por toda parte. Trata-se de se afirmar a identidade não somente cristã, mas católica, ostentando claramente a grandeza de uma Igreja que oferece os sete sacramentos; que leva à participação do Sacrifício da Cruz através da Missa, que cultua a Mãe de Jesus, os anjos e santos; que possui um magistério guiado pelo Papa, sucessor de Pedro. Eis  valores que devem ser vividos e disseminados. Para isto não precisam os católicos  confundir a missão da Igreja com um proselitismo imoderado e condenável. Muito se falou no testemunho de vida e é, exatamente, isto que é preciso seja novamente inculcado. Além disto, é necessário se tenha em conta de que neste mundo há germens de vida e de luz que são reflexos da luz de Cristo. Há por toda parte sede de justiça, de liberdade, de democracia, de paz. Cabe ao cristão liderar os movimentos humanitários na luta contra a fome, as desigualdades sociais, a pugna contra a droga, a prostituição, o aborto, a destruição da natureza. Então, um outro fator, que torna o batizado luz do mundo e sal da terra, é a vivência plena das oito bem-aventuranças, mesmo porque há uma maneira singular de chorar com os que choram; de consolar os que estão desesperançados; de perdoar em todas as circunstâncias; de ser um construtor da harmonia, da comiseração, afastando a violência; de não se procurar o próprio interesse, mas de se estar atento às dificuldades dos mais necessitados. Dá-se desta forma a realização concreta das metáforas luz do mundo e sal da terra. Deste modo, o cristão transcende sempre uma ética meramente humana, porque sua moral se acha impregnada do senso do divino. É que para o verdadeiro discípulo de Cristo a fé não atrofia nunca. O cristão compreende que ser luz do mundo e sal da terra é estar sempre junto de Jesus, sabendo encontrá-lo numa prece silenciosa,  na meditação da palavra de Deus. A chama se torna um clarão, o sal retem toda sua força salvífica. É assim que se faz a experiência da Igreja, Corpo Místico de Cristo, contagiando a todos com a força das virtudes, levando-os à pratica do bem, à fuga do mal. Ficam, assim, afastadas a indiferença, a acomodação, a indolência, pois se multiplicam as ações benéficas daqueles que são luz do mundo e sal da terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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