PRECES PELOS FIÉIS FALECIDOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Em novembro preces especiais são elevadas a Deus pelos falecidos. A existência do Purgatório foi definida em dois Concílios Ecumênicos : no de Florença, no século XV, e no de Trento, no século seguinte. Deste Concílio este texto: “A Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, baseada nas Escrituras Sagradas e nas antigas tradições dos Padres, declarou nos Santos Concílios que existe um Purgatório, e que as almas nele detidas podem ser auxiliadas pelos sufrágios dos fiéis, mas principalmente pelo Sacrifício do altar”. Lemos no segundo livro dos Macabeus (2 Mac. 12,43-46 que Judas Macabeu vencera Górgias numa batalha. Ao sepultar os seus mortos encontrou em suas túnicas algumas moedas tomadas das ofertas feitas aos ídolos de Jâmnia, o que era contra a Lei (Deut. 7,25). Fez uma coleta, recolheu 12 mil dracmas de prata e enviou-as a Jerusalém, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados dos mortos. Não julgou que eles tivessem pecado mortalmente, “pois considerou que, tendo morrido piedosamente, tinham assegurado uma grande paz”. Vem então a grande diretriz bíblica: “É um santo e salutar pensamento orar pelos defuntos, a fim de que sejam livres dos seus pecados”. Havia, portanto, entre os judeus a crença num lugar de purificação na outra vida. Jesus fala de perdão de pecados “no outro mundo” (Mt. 12,32), o que se refere ao Purgatório. S. Paulo, fala de pecados leves que serão queimados pelo fogo, (1 Cor. 3,11-15); referindo-se igualmente ao Purgatório. No século terceiro. Tertuliano já falava de Missas de aniversário de defuntos: “Consagramos um dia por ano a oblações pelos mortos, como se fora dia de seu nascimento”. Santo Agostinho, no século quinto, escreve que sua mãe, Santa Mônica, lhe disse, já prestes a morrer: “Enterre este meu corpo onde quiseres, e não te incomodes mais com ele. Uma coisa te peço: onde quer que estiveres, lembra-te de mim ao altar do Senhor” (Conf., 9,27). S. Cirilo de Jerusalém (315-386) afirmou: “Rogamos por todos os que faleceram em comunhão conosco, pois cremos que suas almas recebem grande auxílio, quando oramos por elas, e principalmente quando por elas oferecemos o santo Sacrifício”. De S. João Crisóstomo (344-407) estas palavras: “Não são vãs as oblações que fazemos pelos defuntos; não são vãs as súplicas; não são vãs as esmolas”. Todas as antigas Liturgias, do Oriente como do Ocidente, contém orações pelos mortos. É que muitos morrem com pecados veniais, ou sem ter pago à divina justiça a pena temporal devida a seus pecados graves. O mês de novembro, consagrado aos fiéis defuntos, é, por tudo isto, um tempo em que se renova a crença firme na vida eterna, multiplicando-se as preces pelos que já deixaram este mundo. Deus é o Senhor da vida e da morte (Os 13, 14; Dt 32, 39; 1 Sam 2, 6). Cristo tem as chaves do reino dos mortos (Ap 1, 18; 1 Ped 4, 5-6; Ef 4, 8-10). O Redentor comunica a vida ao mundo pela Sua Ressurreição (Jo 7, 37; 10, 14; 12, 20-) e redime-nos por ela (Rm 4, 24; 10, 9; 2 Cor 5, 14-16) . A Ressurreição de Jesus é a causa da nossa ressurreição escatológica (1 Cor 15, 1 ss); batismal (Rom 6,1-11) e moral (Ef 4, 17-24). Cristo foi claro: “Eu sou a ressurreição e a vida. O que crê em mim ainda que esteja morto viverá e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente” (Jo 11,15). Donde a conclusão de São Paulo ao falar da ressurreição final: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4,17). Aconselha, porém: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo (no batismo), procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra, pois morrestes (para as coisas do mundo) e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,1). Com Paulo proclamemos então: “Onde está ó morte a tua vitória?” (1 Cor 15,55) * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
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