quarta-feira, 24 de outubro de 2012

MARIA IMACULADA, A CHEIA DE GRAÇAS

MARIA IMACULADA, A CHEIA DE GRAÇAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Ao se festejar a Imaculada Conceição de Maria, vem logo à mente a saudação do Arcanjo Gabriel àquela mulher privilegiada: “Salve, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28). O termo grego empregado por São Lucas foi kékaritomèné. A Igreja sempre viu nesta plenitude de graças um fundamento bíblico da Imaculada Conceição. Com efeito, a Mãe do Messias prometido possui a plenitude da graça que não está limitada no tempo de modo a excluir qualquer período inicial da vida de Maria. O notável teólogo Garrigou-Lagrange assim se expressou: “Se Maria tivesse contraído o pecado original, a plenitude da graça teria sido restrita neste sentido que não se estenderia a toda sua vida. A Igreja ao ler as palavras da saudação angélica à luz da Tradição e com a assistência do Espírito Santo, viu o privilégio da Imaculada Conceição, implicitamente revelado, não como o efeito na causa que pode existir sem ele, mas como uma parte no todo; a parte está atualmente no todo pelo menos implicitamente enunciado”. A genitora do Redentor não deveria estar nunca sob a jurisdição do inimigo cuja cabeça ela esmagaria, segundo o vaticínio paradisíaco: “Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça”. Foi a primeira resgatada por seu divino Filho numa única redenção antecipada, preservativa, e, em virtude, de estar intimamente ligada à obra salvadora, inserida profundamente na missão profético-pneumática de Cristo. Como assevera Suenens, outro notável mariólogo: “A santidade do Filho é a causa da santificação antecipada da Mãe, como o sol ilumina o céu antes dele mesmo aparecer no horizonte”.  Em previsão dos méritos desta redenção, ela ficou imune do pecado original. É que no mistério da Imaculada Conceição, a iniciativa de Deus de operar com a sua graça assume o valor de uma declaração programática anterior a qualquer operação humana independente. A Mãe de Jesus é resplandecente de santidade, de beleza, de graça, justamente porque  ela seria a genitora do Filho de Deus feito homem, a esposa puríssima do Espírito Santo,  sendo a filha bem-amada do Pai. Maria é a mulher perfeita, a nova Eva, aquela que Deus preparou desde toda eternidade para se tornar uma mãe digna do Salvador do mundo. Eis porque todo cristão está indiretamente implicado no mistério da Imaculada Conceição e deve a Maria o culto de hiperdulia, veneração especial devida a grandiosidade de sua missão. Aliás, na vida do discípulo de Jesus tudo é graça. Sem mérito da parte de seja quem for tudo que se tem é dom de Deus, no qual “movemos, existimos e somos” (Atos 17,28). A exemplo de Maria o cristão pode repetir: “O  Senhor fez por mim maravilhas. Santo é seu Nome” (Lc 1,49). Tudo expressão de seu amor. Disto, a exemplo de Maria, deve resultar gratidão profunda e correspondência ininterrupta à bondade do Ser Supremo.  É deste modo que se expressa a verdadeira devoção à Virgem Imaculada, imitando sua postura diante das benesses divinas. Deus quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1 Tm 2,4). Maria, como ensinou o Concílio Vaticano II, esta no coração do mistério da salvação, porque ela trouxe sempre consigo aquele que é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). É o que deve acontecer com seus filhos em todas as circunstâncias da vida. Ela está a dizer que é por Jesus que se chega ao Pai pela fé (Jo 11,6). Ele que nos torna filhos de Deus, herdeiros de Deus e seus co-herdeiros (Rm 8, 17). Eis aí a beleza da devoção a Maria, sobretudo neste mistério de sua Imaculada Conceição. Assim, sendo, Maria Imaculada imerge o seu devoto na universalidade da salvação em Cristo, sendo ela a primeira a gozar desta realidade salvífica do Redentor, numa aplicação antecipada da obra redentora. Celebrar por isto mesmo a festa da Imaculada Conceição é conhecer uma conversão pastoral, contemplando a dimensão missionária deste mistério, dado que cumpre por toda parte o senso da importância da missão salvadora de Jesus que deve alcançar a todos. Além disto, a beleza e a força que promanam do mistério da Imaculada Conceição de Maria induzem a que se projete sob seu broquel toda a vida. Se Ela estiver, de fato, a presidir existências, a farolizar anseios, a iluminar veredas, a aclarar planos, a esmaltar intentos, a fundamentar projetos, a dirigir aspirações, a ser fulcro de todo o ideal, então a santidade florescerá, o conhecimento mais profundo das verdades perenes brotará. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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