HOMENAGEM A TODOS OS SANTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade de Todos os Santos leva a refletir sobre a razão dos louvores aos santos, os cânticos jubilosos comemorando sua glória. Como bem explicou São Bernardo, eles não têm necessidade alguma de serem aclamados pelos homens, uma vez que o Pai, realizando as promessas do Filho, os cumula ele mesmo de toda honra. É aos fiéis que interessa este louvor e não a eles. De fato, o culto aos santos estimula o desejo de um dia estar com eles na Casa do Pai para uma felicidade sem fim. Cumpre a cada batizado trabalhar para ser concidadão e companheiro deles lá na Jerusalém celeste. Eles lá nos aguardam no final da jornada terrena. Eis porque cresce o anseio de estar com Cristo para sempre sem o perigo de jamais O perder, uma vez que no céu os membros do Corpo Místico estarão configurados Ele para sempre. Adite-se que a ajuda e a intercessão dos santos junto do trono de Deus é imprescindível para que não se perca o rumo do paraíso. Na vida eterna os que foram fiéis a Cristo durante a vida mortal contemplarão com os olhos da inteligência a glória fulgurante de Deus e todo esplendor da corte celeste. Além do mais, no último dia, no julgamento final com todos os demais santos todos os corpos ressuscitarão brilhantes como o sol, transparentes como o cristal. Todos a cantarem o mesmo cântico num júbilo sem fim, êxtase perene da visão beatífica já então de corpo e de alma. Por tudo isto a festa de todos os santos vem então também lembrar a importância da santidade. Afinal de contas cumpre saber o que é, realmente, um santo, mesmo porque à santidade são chamados todos os que têm fé. No sentido estrito da palavra somente Deus é santo. Ele mesmo decretou: “Sede santos, porque eu sou santo”. Jesus foi claro:”Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito”. São Paulo mostrou como “Deus nos educa para nos comunicar sua santidade”. Se pela fé e pelo amor se entra em comunicação com o Deus três vezes santo, será na medida em que se cresce nesta fé e nesse amor que o fiel vai se tornando semelhante a Ele. Quanto mais alguém se deixa possuir pelo Espírito de Deus, mais progride na santidade, se tornando justo e agradável ao seu Senhor. É que a fé é um dinamismo de amor, envolvendo toda a conduta pessoal e social. Todo combate e toda iniciativa que faz sair da mediocridade leva a um crescimento espiritual maravilhoso. Significa uma união sempre maior com o Pai em Cristo sob o influxo do Divino Espírito Santo. Eis porque não há uma forma única de santidade, ou seja, o mesmo tipo de união com o Ser Supremo, nem a mesma plenitude da vida cristã, ou da mesma dileção para com Deus. É, realmente, santo ou santa, aquele ou aquela que, nos limites de suas características próprias, de suas qualidade, de seu perfil caracterológico, de suas circunstâncias pessoais se adere à Boa Nova e se conforma com Cristo. É isto que faz a beleza da hagiografia e tanto encanta na vida dos bem-aventurados canonizados por Deus. Aí está também a razão pela qual lá no céu estão tantos amigos, tantos parentes cuja existência se pautou pelos mandamentos sagrados, pela vivência do Evangelho, por uma caridade sem limites, por uma dedicação ilimitada no cumprimento de seus deveres específicos. Na verdade, não há uma diferença essencial entre a santidade heróica e a santidade comum. Uns viveram ou vivem em plenitudes as bem-aventuranças e chegam às raias da generosidade no serviço divino, outros se esforçaram ou se esforçam no dia a dia para serem sempre fiéis ao amor a Deus e ao próximo, mas sempre procurando fazer a vontade de Deus. Isto significa que se vive no meio de muitos santos já aqui na terra, isto é, todos que têm o senso dos valores transmitidos pela revelação divina. É de se notar ainda que é partilhando a Palavra e o Pão na celebração eucarística que todos se constituem num povo santo, irradiando depois na sociedade a espiritualidade que haurem no contacto com Deus. É uma felicidade pertencer à imensa família de homens e mulheres que viveram e vivem de acordo com os desígnios de Deus, aceitando as provações que o Senhor envia como meios de purificação. Carregaram ou carregam nessa terra os santos a cruz de cada dia sem esmorecer no combate pelo bem, pelo progresso espiritual. Cumpre, realmente que cada cristão seja uma luz, pequenina ou refulgente como a dos grandes santos, mas luz que ilumine o mundo e diminua as trevas do mal. Eis aí a missão de todo batizado, chamado a ser santo como o Deus que o criou e salvou. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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