terça-feira, 28 de agosto de 2012

CORAÇÃO AGRADÁVEL A D EUS

                        CORAÇÃO AGRADÁVEL A DEUS
                                   Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Mestre divino alertou: “É de dentro do coração humano que saem as más intenções” (Mc 7, 21). Como notável pedagogo, Jesus lembra que o coração é o termômetro da vida humana. Se ele está isento de maldade, dele fluem as mais belas virtudes e, sobretudo, o intenso amor para com o Deus três vezes santo. Cumpre, portanto, buscar sempre a purificação interior para não se cair em todos os terríveis deslizes que o Redentor elencou (Mc 7, 21-23). Uma viagem dentro de si mesmo se torna sempre imperiosa. A experiência da interioridade é, essencialmente, uma sublime aventura, uma caminhada de regeneração do coração.  Este, higienizado, leva à prática de tudo que enobrece o ser humano, envolvendo-o na luminosidade que deve caracterizar o verdadeiro seguidor de Cristo. Então o cristão que, dia após dia, permite que a graça divina trabalhe no mais profundo de si mesmo, se liberta de toda perversidade, possuindo um olhar de misericórdia, de compaixão. Em consequência, são banidas as imoralidades, tudo que prejudica ao próximo, a falta de discernimento. É que os julgamentos espontâneos de sua visão do mundo e dos outros se metamorfoseia inteiramente. O discípulo de Jesus ao invés de estar contaminado pelo desregramento ético  passa a se interessar apenas para o que traz benefícios para si e para os outros. A graça o vai, progressivamente, desembaraçando de tudo que corrompe, depurando os seus sentimentos, purgando seus projetos, tudo mundificando, acrisolando. Passa-se a percorrer as veredas da perfeição, tornando-se isento da malvadez. Encontra então o fiel o verdadeiro tesouro que é o amor a Deus e ao próximo. Jesus, com efeito, também afirmou que “onde está o teu tesouro, lá também estará o teu coração” (Mt 6,21). Vive-se, deste modo, em plenitude a vocação cristã. Coração a coração com o Filho de Deus, na sua presença contínua e, quem foi batizado, descobre tudo que tem de fato importância na sua vida e isto em todas as ações cotidianas. Cristo se faz então a fonte viva na qual se vai desalterar a sede da justiça, da paz, da eutimia. Entretanto, pelo fato de estar sujeito às tendências do mal, o cristão  se sente imperfeito e nunca se aparta do Médico divino que lhe proporciona em todas as circunstâncias os medicamentos espirituais para não deixar que se corrompa o seu coração. Esta situação perdurará até o momento de se deixar esta terra para o encontro beatífico com Deus na outra vida. À predileção pelas coisas terrenas, quem tem o coração purificado, opta por tudo que é nobre, digno de louvor até o instante da eterna imersão no êxtase perene na Casa do Pai. As preocupações secundárias, sem valor, já não tomam o lugar do Ser Supremo na existência do cristão, pois  a dileção divina toma conta de seu coração. Desta maneira, a debilidade humana é tonificada pelas mercês celestiais, o egoísmo é vencido, a vaidade abolida, a sensualidade dominada. Conhece então o fiel a autêntica liberdade, desembaraçado que fica do fardo dos desvios morais.  Dá-se então a presença do Transcendente na humilde realidade humana. Todo ritualismo fica eliminado, dado que a participação nos atos de piedade resta impregnada da luz que flui de dentro do coração unido a seu Criador. Eis porque Cristo denunciou a perversão mesma das práticas de uma religiosidade, que traduza somente um louvor a Deus com os lábios e não com as ações concretas. Tão somente, assim, se evita a instrumentalização perversa da religião, como acontece com tantos cristãos que não agem de acordo com o que Jesus ensinou e perdem a noção do que é puro e impuro e acabam cedendo ao espírito mundano e às aberrações estampadas continuamente nos meios de comunicação social. Jesus convida então a um sério exame de consciência que leve, de fato, à renovação interior, pois, como Ele advertiu “é de dentro do coração humano que saem as más intenções” e tudo mais que denigra a dignidade de que se diz seu sequaz. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.










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