COMO ENTRAR NO REINO DO CÉU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O trecho do Evangelho de São Marcos (9,38-48) apresenta orientações preciosíssimas de Cristo que desceu a detalhes como entrar no reino do céu e evitar perder a felicidade eterna. Além de mostrar que qualquer serviço ao próximo, nele vendo sua pessoa, não ficará sem recompensa e além de condenar a agressão ética às crianças, Ele insiste na fuga corajosa das ocasiões de pecado. Nem as mãos nem os pés devem levar ao abandono dos mandamentos. Num contexto impregnado de erotismo, Ele recomenda cuidado especial com os olhos que são as janelas da alma. Certos programas televisivos, os sites pornográficos da internet, a licenciosidade estampada nas revistas e jornais exigem que o cristão saiba fechar os olhos a toda esta miséria moral. Nunca se fixam demais as palavras que estão na Bíblia Sagrada: “Quem ama o perigo nele perecerá” (Ecli 3,27). Séria advertência de São Pedro para se estar atento às insinuações do mal, porque, diz ele: “Vosso adversário, o demônio, vos rodeia como um leão que ruge, procurando a quem devorar” (1 Pd 5,8). Múltiplos são os artifícios do demônio e ai daquele que parlamenta com ele, pois será conduzido infalivelmente ao abismo do pecado como aconteceu com Adão e Eva no paraíso. O seguidor de Cristo deve se entregar corajosamente ao combate espiritual com as armas da luz. Aos Efésios assim falou claramente São Paulo: “Revesti-vos da armadura de Deus para poderdes resistir aos assaltos do diabo, porque não temos de lutar contra a carne e o sangue mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelo ar” (Ef 6,11-12). Há necessidade imperiosa do controle dos pensamentos, das palavras e das ações. O que muitas vezes se esquece é da necessidade de se combater as mínimas indolências espirituais, que levam ao afrouxamento da concentração nos esforços em busca da própria perfeição. Nada de abrir brechas para o inimigo. Para evitar as insídias diabólicas cumpre começar por corrigir as imperfeições. Jesus admoestou: “Quem não é fiel no pouco não é fiel no muito” (Lc 6,10). Trata-se de uma vigilância contínua da alma que só termina quando alguém deixa este mundo para entrar na eternidade. Por tudo isto, a questão não é sentir as incitações do inimigo, mas nelas consentir. Eis aí o segredo da existência do discípulo de Cristo. Quem combate e vence as forças do mal se torna dia a dia mais forte num progresso permanente. Por tudo isto, mister se faz um policiamento contínuo sobre os pensamentos que podem ser bons ou maus. Muitos surgem do interior do cristão, mas outros provêem do demônio que sugere a malícia. Aquele que grava lembranças ruins,vindas destas duas fontes, se torna presa fácil do maligno. Adite-se que a mesma precaução que se deve ter com as mãos, com os pés e com os olhos, é preciso ter com o que se fala. O salmista advertiu em nome de Deus: “Guarda tua língua da maldade, teu lábios das palavras enganosas; evita o mal, faz o bem, procura a paz e esforça-te por alcançá-la”. (Sl 34,14-15). A mortificação da língua é um dos meios eficazes para se chegar ao céu. Eis porque está escrito no Livro do Eclesiástico: “Quem me dera uma guarda para a minha boca e um selo prudente para os meus lábios, para que não venha a cair com eles e para que a minha língua não me leve à ruína” (Ecl 22,27). Em síntese, para colocar em prática o que Jesus preceituou sobre a fuga do pecado é necessário cuidar de todas as ações. Como alertou o Mestre divino, tudo que se faz deve ter como ponto de referência a salvação eterna. Assim, aquilo que um cristão pratica deve estar animado, vivificado e aperfeiçoado pelas boas intenções da alma sem as quais ele não seria senão um corpo morto, sem vida e sem espírito. Donde o ditame de São Paulo: “Tudo que fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças, por meio dele, a Deus Pai” (Col 3,17). Deste modo, tudo que o batizado pratica o vai conduzindo para o reino de Deus. É de bom alvitre então repetir sempre o que está no salmo 50: “Formai em mim, ó Deus, um coração puro, e infundi em mim um espírito firme”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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