domingo, 22 de janeiro de 2012

A verdadeira conversão

A VERDADEIRA CONVERSÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A uma verdadeira conversão pessoal convida São João Batista de uma maneira concisa e direta: “Convertei-vos e crede no evangelho!” (Mc 1,15). O cristão deve viver num processo de contínua metamorfose, ou seja, transformação ininterrupta após o passo inicial indispensável que é a passagem do pecado à vivência no estado de graça. Trata-se da renúncia firme e sincera de uma vida longe dos preceitos divinos para uma existência nova em Cristo. Esta etapa entusiasma inteiramente o ser racional que se transporta das trevas para a luz. Foi o que ocorreu com o Apóstolo Paulo e centenas de outros santos que, num momento de correspondência luminosa ao chamado divino, decididamente, abandonaram o erro e abraçaram a verdade. Surge desta forma um coração renovado pela claridade celeste e uma vontade férrea leva o discípulo de Cristo a caminhar para frente sem jamais olhar para trás. Isto não obstante as tentações do inimigo que conjuram contra a perseverança nas trilhas do bem. Daí por diante a cada instante, numa luta persistente, cumpre avançar corajosamente nas veredas da perfeição, mesmo que, por vezes, devido à fraqueza humana se venha a perder a graça santificante que logo se pode recuperar pelo sacramento da confissão. Então o cristão se deixa guiar por Deus, buscando, numa oração pertinaz, o auxílio para se aprimorar a cada instante, vivendo na presença do Ser Supremo e Lhe sendo inteiramente fiel. Uma atitude resoluta leva ao abandono dos desejos desregrados, dos planos malévolos incitados pelo espírito do mal, dos objetivos que podem comprometer a salvação eterna. Decorre, desta forma, a substituição dos hábitos maus, por atitudes repletas de luminosidade na prática das virtudes nas quais cumpre crescer sem desfalecimentos, sendo isto fruto opimo da disposição de mudar sempre para melhor. É que a entrega total a Cristo exige a disposição de se deixar formar completamente por ele, sem levantar entraves de nenhuma espécie para tal venturosa transformação. Tal é a transcendência da vocação de quem foi batizado. Desta maneira, a autêntica conversão confere uma santa audácia de se precipitar confiadamente na pessoa do Redentor num progresso sem tréguas. Disto resulta a busca da perfeição sem perfeccionismos, pois apenas Deus é perfeito. O cristão, porém, vai crescendo no amor a Deus e ao próximo, na paciência, na obediência aos mandamentos sagrados e às inspirações do Espírito Santo, na humildade. Cada momento se torna novo, porque há uma ascensão contínua. O auto-aperfeiçoamento passa a envolver o seguidor de Cristo na paz mais profunda e das próprias fraquezas se tiram lições preciosas. É que num presente eterno a alma se entrega totalmente a Deus e percebe a capacidade de sempre recomeçar, nunca desanimando. O desalento, o esmorecimento podem aflorar, mas se repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). A vida do cristão, apesar das lutas diárias contra a inclinação para o mal, se passa na imperturbabilidade, sem tensões de um esforço desproporcionado, dado que a renovação do firme propósito de se realizar na virtude cria um hábito que faz o transcurso dos dias se tornarem um dom no amor a Deus e ao próximo e isto leva ao aprimoramento próprio, resultado da sinceridade do coração que encontrou de fato o seu Senhor e lhe deu uma adesão sem restrições. O cristão se faz maleável à atuação divina que opera nele maravilhas. Surge uma consciência modificada pela revolução interior. Não se opera uma conversão sobre-humana,mas se passa a viver uma vida plenamente humana, usufruindo de todos os bens que Deus coloca à disposição de cada um, mas tudo dentro de um equilíbrio admirável que impede o naufrágio nos vícios que degradam e obstam o bem viver. É aceitar o amor do Ser Supremo, se sentir por Ele amado e se deixar amar por Ele. Compreende-se então o que disse São João: “Nisto consiste o amor, não somos nós que amamos primeiro a Deus, mas foi Ele quem nos amou” (1 Jo 4,10). A verdadeira conversão atinge assim as profundezas do ser humano e o imerge na ventura mais inebriante. Este programa de vida não é fácil porque num contexto hedonista, materialista, trabalhado pelas forças do mal é preciso uma batalha cotidiana para não se deixar envolver no mundo que valoriza o que é material e não as coisas espirituais. É possível, porém, estar firme nos caminhos da perfeição cristã, porque quem realmente se converteu crê firmemente tudo que Jesus ensinou, segundo o conselho do Precursor: “ Convertei-vos e crede no Evangelho” Esta fé é sempre o escudo e a força para uma caminhada sem desfalecimentos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
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