JESUS TENTADO POR SATANÁS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quem estuda a Bíblia com atenção percebe que o Livro Santo mostra a tentação não tanto como um estímulo para a prática do mal, incitação que vem de fora do ser racional, mas como uma disposição interior para o desprezo de algum dos dez mandamentos. A atitudes eticamente condenáveis é levada a criatura humana que cede a tais impulsos, sendo que eles propiciam a atuação do Maligno. Tiago falou claramente: “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência” (Tg 1,14). A Sagrada Escritura, portanto, focaliza a tentação mais através de suas causas e ocasiões externas, deixando de lado o aspecto da sedução que é uma conseqüência da falta de controle interno. São testes pelos quais Deus faz passar o homem. Assim a queda de Adão e Eva no paraíso (Gn 3,1-19); a provação de Abraão (Gn 22,1-19); o sofrimento por que passou Jó. É certo que, segundo a narrativa bíblica, o Criador permitiu a Satanás atribular o célebre Patriarca da Induméia, mas o Adversário atuou como um instrumento do Todo-Poderoso para provar a paciência daquele Justo, como aconteceu no Paraíso para testar a fidelidade de nossos primeiros pais. É interessante ressaltar que no Antigo Testamento o Povo Eleito tentava o Ser Supremo, sempre paciente diante das infidelidades humanas ( Dt 6, 16; 9,22; 1 Cor 10,9). No Novo Testamento aparece mais acentuada a atuação externa do demônio para levar ao pecado. Ele é um aproveitador das circunstâncias menos favoráveis ao crente para o fazer se afastar do Ser Supremo. Os que desejam ser fiéis ao Senhor do Universo são vítimas do Inimigo. Paulo advertiu os Tessalonisenses: “Pois, quando ainda estávamos convosco, vos predizíamos que havíamos de padecer tribulações, como com efeito aconteceu: e vós o sabeis. Por isso, não podendo eu sofrer mais demora, enviei a reconhecer a vossa fé, temendo que o tentador vos tenha tentado; e que se torne inútil o nosso trabalho” (1 Ts, 3,4-5). O que insiste, porém, a Bíblia é que o verdadeiro manancial das tentações é a concupiscência que está enraizada no interior do homem. Por isto Paulo mostra que “os que são de Cristo crucificaram a sua própria carne com os vícios e concupiscências” (1 Gl 5,24). Pedro fala naqueles que “vão atrás da carne na imunda concupiscência” (2 Pd 2,10). Portanto, cumpre, ao cristão, antes de tudo, ter o autocontrole de suas más tendências, pois do contrário cairá fatalmente nas garras satânicas. Aí entra a liberdade humana ao aderir, ou não, à graça de Deus que nunca falta a quem quer triunfar do mal. O Novo Testamento mostra que nunca Deus permite que tentação acima das possibilidades do fiel, mas este tem que corresponder ao influxo divino. Este trecho paulino é luminoso: “Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças, antes, fará que tireis ainda vantagens da mesma tentação, para a poderdes suportar” (1 Cor 10,13). Por tudo isto se compreende como Jesus pôde com facilidade, enquanto homem, vencer as tentações do demônio no deserto (Mc 1,12-15). Como desceu a detalhes Mateus (Mt 4,1-11), Satanás queria provar os poderes messiânicos do Salvador da humanidade com fins muito materiais como matar a fome, mudando pedras em pães, vanglória ou enorme imprudência, lançando-se do pináculo do templo e o anseio de dominação, possuindo os reinos terrenos. Cristo venceu o tentador e demonstrou peremptoriamente que o seu Reino não era deste mundo. Nunca ele colocaria os seus poderes divinos no plano material, mas unicamente a favor da Boa Nova que veio trazer a este mundo. Ele jamais trairia sua missão salvífica. O que importava era o Reino de Deus. Assim age também o seu verdadeiro epígono que sabe se mortificar, pois diz João na sua primeira carta que “tudo quanto há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida” (1 Jo 2,16). Quem não é continente abre as portas ao Demônio. Cumpre, pois, garrotar, sufocar interiormente os maus pensamentos que excitam desejos perigosos, os quais Satanás sabe trabalhar com rara perspicácia. A quaresma é tempo propício para isto. O desapego dos bens terrenos, objetivando um novo milênio sem exclusões; o interesse pela dignidade humana; o esforço para que a saúde se difunda por toda a terra como proclama o lema da Campanha da Fraternidade; e a difusão da paz por toda parte são meios para que haja uma real preparação para a Páscoa. Cumpre, como Jesus, vencer o demônio e suas aliciações. *Professor do Seminário de Mariana, durante 40 anos.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
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