SEGUIR JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Diz São João, o Evangelista, que João Batista estava com dois de seus discípulos e vendo Jesus passar disse: “Eis o Cordeiro de Deus”! Ouvindo essas palavras os dois discípulos seguiram Jesus (Jo 1, 35-37). Hoje os grandes teólogos patenteiam que o seguimento é um conceito profundamente carismático. Aliás, Jesus pôde asseverar: “Quem me segue não andará nas trevas (Jo 8,12). Seguir Jesus é estar iluminado como ficaram os discípulos do Precursor. Aí se acha a síntese de toda a existência cristã. Entretanto é de se observar que há uma identidade completa entre seguir e imitar. Foi o que o Apóstolo Paulo compreendeu perfeitamente quando ele disse aos Coríntios: “Sede meus imitadores como eu mesmo o sou de Cristo” (1 Cor 11,1). O discípulo deve fazer exatamente o que o Mestre executa, pois, do contrário, haveria um acompanhamento meramente marcado pela curiosidade e não pela transformação que as palavras e gestos devem ocasionar. Ora, Cristo é o Mestre por excelência. “Rabi” em hebraico; “Rabbuni” em aramaico, “Didáskalos” em grego são palavras que incluem, de fato, uma identificação entre aquele que ensina e seu epígono. É interessante observar que já os primeiros que seguiram o Messias foram chamados de discípulos e na aurora do cristianismo discípulo era sinônimo de cristão. Trata-se, portanto, de alguém que vive a doutrina do Mestre divino. É que a imagem fenomênica que Jesus passou é inteiramente diversa daquela vista nos mestres de Israel, nos rabinos judeus. Isto porque Ele veio ensinar uma “justiça maior que a dos escribas e fariseus (Mt 5,20). Ele exige de seus seguidores mais seriedade no cumprimento da vontade de Deus, sinceridade irradiante e notável pureza de intenção. Requer um amor com dimensões nunca dantes percebida, pois promove uma dileção que abarcaria todos os inimigos, levando a retribuir o mal com o bem. É por isto que São Marcos insiste tanto que Jesus pregava o Evangelho do Reino de Deus. Quem neste Reino entra, conhece uma nova realidade tanto mais que em Jesus o ensinamento se identifica com Ele mesmo. O cristão não aderiria nunca a uma mensagem como tal, mas sim ao próprio Mestre. É uma vinculação profunda com sua pessoa divina. Os apóstolos abandonaram tudo. Deixaram uma certeza de vida por uma incerteza, mas confiaram no Mestre. Uma característica do batizado é, de fato, esta: não se apega a nada e está disposto sempre a tudo abandonar por causa de Jesus. Daí uma estabilidade por entre a instabilidade de tudo que há neste mundo. Invejável a situação daquele que crê, pois está sempre seguro quando segue o Mestre divino. Cumpre ainda acrescentar a tudo isto o radicalismo que Jesus exige: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62). Ele quer uma decisão sem reservas, definitiva, que exclui todas as meias medidas e reticências. É certo que cada atitude pessoal fica sempre ao alvedrio de Deus que dimensiona a generosidade de cada um de acordo com as necessidades do Evangelho a ser difundido. Daí haver na Igreja uma diversidade tão grande de maneiras de seguir a Jesus. Uns chegam às raias do heroísmo como Paulo, Sebastião, Rita de Cássia e tantos outros. Muitos é no cotidiano de uma existência talvez obscura diante dos homens que estarão seguindo o grande Pastor. Todos, porém, deverão demonstrar no cotidiano do árduo trabalho específico sua adesão total ao Mestre. Disto Ele não abre mão. Foi claro: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34). Está aí toda a forma cristã de vida que tem como paradigma alguém que deu o exemplo e caminhou corajosamente até o Calvário. Seguimento é, pois, uma idéia-síntese para a comunhão com Jesus acompanhada de todas as suas implicações. Dimensão estrutural essencial de toda a existência cristã determinada pela fé no Filho de Deus, Ele modelo, fonte da salvação. Estão, deste modo, afastadas todas as normas e receitas exteriormente pré-estabelecidas, pois seguir Jesus é assumir, na realidade da própria vida, a orientação e a figura básica do Mestre. O fim é então previsível: quem O seguir estará, um dia, com Ele na Casa do Pai para uma eternidade de felicidade incomensurável. Vale, portanto, a pena seguir o Redentor! É preciso, porém, imitar André que “conduziu Simão a Jesus” e este o transformou na pedra sobre a qual edificaria sua Igreja. Um apostolado perseverante faz com que muitos passem a seguir fielmente o Mestre divino, o Cordeiro de Deus, e encontrem nele a salvação, a felicidade e a paz, tornando-se pedras vivas na construção da comunidade cristã. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
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